Depois do anúncio dos Correios do fim do e-Sedex, as pequenas empresas que vendem seus produtos pela internet estão fazendo as contas. Sem o serviço que dava desconto para as empresas nas tarifas de entrega, o receio delas é de que os valores de frete subam e cheguem a impactar nas vendas.
Esse é o caso de Jun Moreira, proprietário de uma loja virtual de itens para estética automotiva, a Mastercleaner. Ele conta que, já nos primeiros dias após o anúncio, a empresa sentiu os efeitos da medida. “De uma maneira geral, houve um aumento de cerca de 40% no frete”, afirma o empresário. Segundo ele, as vendas esfriaram com a alta do frete.
“Acaba afetando o volume de vendas porque o cliente final tem um custo maior, principalmente se o local for mais distante. O que a gente já percebe é uma queda no faturamento geral”, aponta Moreira, sem falar em números.
Luan Gabellini, sócio da plataforma digital para pequenos lojistas virtuais Betalabs, diz que é possível que os valores de cobrados pelo frete nas lojas virtuais subam cerca de 30%. Ele afirma que o fim do e-Sedex atinge especialmente empresas menores, que pelo volume comercializado não têm acesso a serviços de grandes transportadoras. “Ficou um hiato que pode prejudicar o consumidor final”, aponta.
Jun Moreira confirma: "a gente oferece outros tipos de entrega, como motoboy e transportadora, mas essas opções sempre foram mais caras que os Correios". Ele não sabe dizer se os clientes habituados aos valores do frete por e-Sedex estarão dispostos a pagar pela entrega por Sedex, o serviço de entrega expressa dos correios.
“A gente não percebeu que tipo de migração vai ocorrer. Muita gente está optando pelo PAC, mas o consumidor acaba prejudicado porque demora bem mais”, diz o comerciante, referindo-se ao serviço de encomenda da linha econômica dos Correios para o envio exclusivo de mercadoria, mais barato.
Já o vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio eletrônico (ABComm), Rodrigo Bandeira, afirma que o preço final para o consumidor não deve necessariamente subir por causa do fim do e-Sedex.
“Provavelmente vai ter um aumento [no custo de transporte]. O consumidor vai pagar essa conta? Não necessariamente. Esse custo pode ser assumido pelo empresário, que não quer ter suas vendas reduzidas”, avalia, acrescentando que os valores não devem subir em todas as localidades, pois dependem da distância.
“O fim do e-Sedex não é o fim do mercado, não vamos entrar em colapso”, diz Bandeira.
A associação não mudou sua previsão de crescimento do setor de comercio eletrônico para este ano, de 11% a 12%. “A gente está bem otimista. Ainda temos datas fortes pela frente, como o Dia dos Pais, Dia das Crianças, Natal, que certamente vão colaborar.”
Correios prometem outro serviço
O anúncio da descontinuidade do e-Sedex foi feito em meio às tentativas dos Correios de reequilibrar as finanças da empresa, que enfrentam fortes dificuldades. O produto, lançado em 2000, era o serviço de encomenda expressa para produtos adquiridos pela internet e com até 15 quilos, com preços diferenciados para as lojas online que contratassem essa modalidade. Segundo os Correios, o e-Sedex atendia apenas 250 cidades pelo Brasil.
“A proposta do e-Sedex é que fosse 20% mais barato do que o Sedex, com a mesma agilidade”, explica Bandeira, da ABComm. A ideia é que a entrega fosse feita em até 3 dias. No entanto, as reclamações de comerciantes e clientes sobre atraso não eram raras. “A gente percebe um movimento dos Correios de investir em tecnologia para diminuir essa fama de problemas com atrasos. Agora, a gente espera que isso se concretize”, diz Bandeira.
Agora, as empresas de comércio eletrônico passam a contar com os outros serviços existentes de entrega dos Correios – o PAC e o Sedex. Ainda de acordo com os Correios, esses serviços atendem a todos os 5.570 municípios do país.
A estatal anunciou a implementação de um novo produto voltado às empresas de comércio eletrônico, o Correios – Log (ou e-Fulfillment). Segundo a empresa, o novo serviço vai possibilitar “à loja virtual ter toda a sua operação de armazenamento, preparação de pedido, postagem, entrega e pós-venda completamente realizada pelos Correios, com otimizações operacionais e de custos para os clientes”. Questionada pelo G1, a empresa não informou quando o novo serviço deve entrar em operação.
Segundo o vice-presidente da ABComm, 60% da carga transportada pelos Correios se refere a entregas do e-commerce. Questionada sobre esse dado, a estatal disse apenas que é “líder no comércio eletrônico”. “Esse sempre foi e continua sendo o principal segmento para nossos serviços de encomendas”, dizem os Correios em nota. “A empresa confirma a parceria com os players do e-commerce e firma compromisso de prestar serviços de encomendas e logística para esse mercado de forma contínua e sustentável.”
Bandeira aponta que o serviço criado pelos Correios em 2000 não acompanhou o crescimento do comércio eletrônico. “O e-Sedex foi criado para atender o mercado de comércio eletrônico quando ele ainda era uma promessa. Com o crescimento, não houve mudança no modelo. Agora, os Correios fazem esse ajuste, [...] e encerraram o que era considerado um projeto piloto.”
Transportadoras tentam aproveitar o vácuo
Com a lacuna deixada pelo e-Sedex, empresas privadas de transporte de mercadorias podem aproveitar para tentar ganhar mercado. A ABComm não tem um levantamento do tamanho da fatia das empresas de comercio eletrônico que trabalha com empresas privadas, mas Bandeira aponta que essa é uma opção “considerável” que pode ganhar força agora. “É uma estratégia natural de mercado. Eles têm uma boa chance.”
“Tem várias empresas fazendo divulgação em cima desse momento novo. Tem uma oportunidade grande para esses operadores logísticos absorverem essa demanda”, concorda Gabellini, da Betalabs.
Uma das empresas que pegou carona nesse momento é a Mandaê. “Em abril, lançamos um novo serviço focado no médio e-commerce, dependente do e-Sedex. Tem sido um grande sucesso, vem mais que dobrando no mês a mês”, conta Douglas Carvalho, diretor de operações da empresa. “Parte desse crescimento vem porque o mercado já vinha buscando alternativas, já sabendo que o e-Sedex tinha data para acabar.”
Fundada há apenas 3 anos, a Mandaê tem como público alvo os pequenos e médios empresários do comércio eletrônico da grande São Paulo, mas com entrega para todos os estados. O serviço inclui a busca do produto na sede do lojista, processo de embalagem e etiquetagem e encaminhamento do pacote a uma transportadora. “A gente usa uma rede de entregas mas competitiva, mas ampla”, diz Carvalho.
A preparação para o novo modelo de transporte também é um nicho que pode ser aproveitado pelas empresas privadas. Gabellini, da Betalabs, empresa que desenvolve lojas virtuais para comerciantes, oferece também o serviço de cotação de transportadoras com diferentes opções de preços e preparação de etiquetagem.
“Quando muda de operador, mudam os prazos, as etiquetas, os processos operacionais. Pode ser que os transportadores exijam embalagens diferentes, por exemplo. Vai muito além da mudança de preços”, diz Gabellini. “Não tem como sair totalmente ileso dessa situação.”