Líderes cristãos no Paquistão receberam ameaças de morte por seu envolvimento na implantação de igrejas, levando um especialista do país a avisar que as minorias religiosas estão enfrentando condições piores a cada dia.
Javed David tem construído igrejas em comunidades pobres nos últimos dois anos, mas diz que ele está se tornando cada vez mais temeroso com relação às consequências disso, particularmente na sequência das dos ataques suicidas contra igrejas que ocorreram no mês de março, na região de Lahore, onde vive.
"Depois da tragédia em Youhanabad [um subúrbio de maioria cristã de Lahore], as circunstâncias mudaram e agora o medo aumentou", disse David à 'Asia News'.
Ele recebeu pessoalmente duas ameaças de morte desde fevereiro. Uma vez, um motociclista jogou um pedaço de papel que sua janela do carro, que trazia a inscrição: "Esta é uma nação islâmica. Não podemos permitir que o prédio da igreja seja construído. Ou você se converte ao Islã ou deixa este país. Pare com a construção de igrejas ou você vai pagar as consequências..!!".
Em um segundo incidente no dia 4 de abril, um outro motociclista lhe disse: "Nós sabemos o que você está fazendo aqui. Pare com a construção de igrejas. Converta-se ao Islã, que é a verdadeira religião. Caso contrário, vamos fazer de você, um exemplo horrível..."
Um dos colegas de Davi, Ata-ur-Rehman também recebeu ameaças. Ele disse que, embora tenha havido alguma resistência por parte de membros da comunidade muçulmana local, cristãos e muçulmanos vivem juntos, em paz, na maioria dos casos. Ele, no entanto, expressa preocupação com a "crescente intolerância religiosa".
"Minha família e eu estamos com medo e preocupados, porque eu continuo a receber ameaças", acrescentou David. "Onde podemos ir para desfrutar da liberdade religiosa? Este é o nosso país, temos vivido aqui por gerações".
"Ainda assim, eu dediquei minha vida a Cristo e eu vou continuar a servir o Seu povo, não importa o que aconteça".
O Paquistão tem sofrido muito com a discriminação contra as minorias religiosas, e um relatório divulgado em dezembro do ano passado, disse que com um "ambiente opressivo", foi tornando-se "cada vez mais difícil para muitas comunidades religiosas, viver de forma segura e livre de perigo nos lugares onde eles muitas vezes passaram a maior parte das suas vidas".
O Grupo Internacional de Direitos das Minorias e o Instituto de Política de Desenvolvimento Sustentável disseram que "ataques violentos contra minorias religiosas ocorrem num contexto de discriminação legal e social em quase todos os aspectos de suas vidas, incluindo a participação política, o casamento e a liberdade de crença". Estas instituições também apelaram para aumento das proteções a todos os cidadãos.
A Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF) pediu, duas semanas atrás, ao governo Obama que designasse o Paquistão como um "país de preocupação particular" e também culpou o governo paquistanês por não fornecer a proteção adequada aos grupos-alvo.
"O ambiente legal do Paquistão é particularmente repressivo, devido a suas disposições constitucionais religiosamente discriminatórias e a legislação, incluindo as suas leis de blasfêmia", disse o relatório anual da USCIRF.
"O governo não conseguiu proteger os cidadãos - minoria e maioria - igualmente. A violência é sectária e religiosamente motivada e as autoridades paquistanesas não têm consistentemente trazido perpetradores desta violência à justiça ou tomado medidas contra os atores sociais que incitam estes crimes".
As leis de blasfêmia, em particular, têm sido responsabilizadoras por crescentes tensões inter-religiosas em todo o país. Grupos de direitos humanos dizem que as leis são freqüentemente mal utilizadas por extremistas e falsas acusações são feitas contra os cristãos, afim de acertar contas pessoais ou de apreensão de bens ou empresas. Talvez o caso mais famoso seja o de Asia Bibi - uma mulher cristã, acusada de blasfêmia e que agora enfrenta a pena de morte. Seu caso ganhou as manchetes globais após dois proeminentes políticos terem assassinados por tentar ajuda-la.
Grupo dissidente do Talibã, o 'Jundullah' assumiu a responsabilidade por vários ataques de alto perfil em grupos religiosos no Paquistão. Em fevereiro de 2012, 18 muçulmanos xiitas foram mortos pelos militantes sunitas em Kohistan, e o grupo também afirmou estar por trás do ataque suicida em setembro contra a 'All Saints Church', em Peshawar que causou em 115 mortes. Foi o mais mortífero ataque contra os cristãos na história do país.
Nesta quarta-feira (13), o porta-voz do 'Jundallah', Admed Marwat disse à Reuters que o grupo foi responsável por um ataque a um ônibus na cidade de Karachi, matando pelo menos 43 pessoas.