quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Cresce o número de judeus que abandonam a França e partem para Israel

“Minha amiga acaba de ir embora com toda a família. Agrediram o seu pai, de 80 anos, na rua, e ela disse: ‘Até aqui chegamos’”, conta ao EL PAÍS um judeu de Paris, que prefere ficar no anonimato.
Joël Mergui, presidente do Consistório Israelita da França, não duvida de que haja um antissemitismo crescente e certo ataque à liberdade religiosa, gerando dúvidas sobre o futuro na França. “Muitos consideram que este já não é seu lugar”, acrescenta Roger Cukierman, presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França. Philip Carmel, conselheiro do Congresso Judaico Europeu, relativiza: “Os que vão embora são apenas 1%. Os demais 99% acreditam que o país lhes oferece um futuro, sim”.
Na França, com a maior comunidade judaica do continente (600.000 cidadãos), a migração para Israel disparou, a ponto de este se tornar o país que mais cidadãos envia neste ano. Em 2012, apenas 2.000 judeus franceses partiram para Israel. Já em 2013, a cifra subiu para 3.280. Nos oito primeiros meses deste ano, 4.566 fizeram a aliyah (migração), segundo o ministério israelense de Integração. Isso é quase o dobro das migrações oriundas da Rússia ou dos Estados Unidos.
A última pesquisa da Agência de Direitos Fundamentais da UE, de novembro passado, mostrou que 76% dos judeus europeus acreditam que a sua situação se agravou nos últimos cinco anos. Um em cada três sofreu uma agressão física. Os insultos, a perseguição e a violência não são casos isolados. E muito menos na França.
A crise econômica é, sem dúvida, uma razão fundamental para a fuga. “O futuro é incerto e, sobretudo, os jovens procuram se desenvolver profissionalmente”, diz Zvi Tal, ministro plenipotenciário da embaixada de Israel em Paris. Em algumas reportagens televisivas feitas ultimamente pela imprensa francesa em Israel, boa parte das famílias ouvidas admite que o antissemitismo também as estimulou a partir.
O Governo de Hollande manifesta sua preocupação com o fenômeno
A internet, concordam as fontes consultadas em Paris, favoreceu a desinibição na propagação de mensagens antissemitas. O Governo francês, muito criticado recentemente por proibir dois protestos violentos nos quais houve gritos antissionistas e antissemitas, está analisando com Israel formas de controlar o fenômeno digital. Mas o maior temor tem a ver com o jihadismo e com os combatentes europeus que retornam radicalizados da Síria. Mais de 800 franceses se envolveram no conflito, e alguns já se tornaram tristemente famosos por seus atos terroristas. Mehdi Nemmouche, francês de 29 anos, supostamente matou quatro pessoas em maio no Museu Judaico de Bruxelas. Agora, sabe-se que ele foi o carcereiro de quatro jornalistas franceses que estiveram até abril como reféns do Estado Islâmico.
Nemmouche, já extraditado para a Bélgica, é, segundo seus antigos reféns, um homem muito violento e antissemita, que prometia “arrastar os judeuzinhos pelas tranças” antes de massacrá-los. Seu herói é Mohamed Merah, outro ex-combatente francês, acusado de matar sete pessoas há dois anos em Toulouse, entre eles um professor e três crianças de uma escola judaica.
A comunidade muçulmana francesa é de seis milhões de pessoas. “É uma pena que, em vez de aproveitar a convivência de comunidades tão grandes para estabelecer um diálogo na Europa, só tenha sido possível estender o conflito do Oriente Próximo para cá”, diz com pesar o rabino Rivon Krygier, de Paris.

EL PAÍS

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