Arão apresentará os levitas ao Senhor
como oferta ritualmente movida da parte dos israelitas: eles serão
dedicados ao trabalho do Senhor.
[
Números 8:11]
Dessa maneira você separará os levitas
do meio dos israelitas, e os levitas serão meus. Depois que você
purificar os levitas e os apresentar como oferta movida, eles entrarão
na Tenda do Encontro para ministrar. Eles são os israelitas que deverão
ser inteiramente dedicados a mim. Eu os separei para serem meus em lugar
dos primogênitos, do primeiro filho homem de cada mulher israelita.
[Números 8:14-16]
Dentre todos os israelitas, dediquei
os levitas como dádivas a Arão e aos seus filhos; eles ministrarão na
Tenda do Encontro em nome dos israelitas e farão propiciação por eles,
para que nenhuma praga atinja os israelitas quando se aproximarem do
santuário”.
[Números 8:19]
Existe uma mentalidade em nossas igrejas
hoje, no Brasil, de que pessoas que são chamadas para trabalhar com
ministério de música são “levitas”. E por conta disso e da atual
explosão da música gospel nas mídias e nos cultos, não é difícil
encontrarmos estudos bíblicos para levitas, encontro de levitas, enfim,
visando suprir as necessidades dessa classe que dizemos existir.
Quem eram os levitas e quais eram as suas responsabilidades?
Os levitas eram uma tribo dentre as 12
do povo de Israel, descendentes de Levi, filho de Israel (Jacó). E como
os versículos acima mostram, Deus ordenou a Moisés, que inclusive era
levita (Números 26:59), para separar toda essa tribo para servir ao
Senhor no tabernáculo.
Isso significava que os levitas seriam
os músicos do tabernáculo? NÃO! Você pode se perguntar, “Mas quem eram
os músicos do tabernáculo?” Ninguém, é a resposta. No tabernáculo de
Moisés, se você ler os relatos do Pentateuco e dos livros históricos,
você vai descobrir que não tinha música envolvida nas cerimônias
religiosas que ocorriam no tabernáculo de Moisés. A música com certeza
era utilizada pras festividades e em momentos marcantes da vida do povo
de Israel, mas não nas solenidades sagradas. A música só começa a fazer
parte do momento de “culto” no tabernáculo de Davi, quando este separa
algumas famílias da tribo de Levi e os coloca como músicos, para
ministrarem com música diante da Arca do Senhor (1 Crônicas 16:4).
Então, o que os levitas faziam? Eles
desmontavam todo o aparato que envolvia o tabernáculo quando a nuvem se
movia, durante a peregrinação no deserto, e montavam tudo de novo,
quando a nuvem estacionava. Você já pensou em quanto sangue era
derramado no altar? Os levitas é que higienizavam tudo, limpando,
mantendo tudo em ordem. Eram eles que carregavam os utensílios do
tabernáculo pelo deserto. Sim, depois que Davi os designou, algumas
famílias de Levi atuavam como músicos, ministrando ao Senhor diante da
arca. Portanto, já vemos que seria incorreto dizer que os levitas são os
que são chamados para a área da música na igreja. Se queremos ser
bíblicos, deveríamos chamar de levitas a equipe de limpeza e também os
porteiros e diáconos. Mas não é somente essa questão que precisa ser
analisada quando falamos da existência de uma classe levítica na igreja.
A levitização dos músicos
Ano passado a Rede Globo promoveu um
Festival de música gospel, transmitido em rede nacional, intitulado
“Festival Promessas”. Muito se debateu sobre a validade de tal
iniciativa, e não é meu intuito discutir isso aqui neste artigo. Estou
trazendo à tona este assunto, pois ao entrar no site do Festival, me
deparei com o slogan: “Só os levitas podem carregar a arca”, baseado no
versículo 1 Crônicas 15:2. Parece uma frase bíblica e inofensiva, mas o
que estamos dizendo com ela? Que existe uma classe de pessoas chamadas
por Deus na igreja, atualmente, denominadas “levitas”, que são os
responsáveis por “carregar a arca”, ou seja, ministrar, levar, carregar a
presença de Deus para as outras pessoas. E quem não é levita,
consequentemente, não pode carregar essa “arca” ou essa manifestação da
presença de Deus
No versículo anteriormente referido,
Davi havia estabelecido seu reino em Jerusalém e queria trazer a arca de
volta para o centro da vida de Israel. Só que Davi se esquece que
existia uma ordenança do próprio Deus que a arca tinha argolas para que
varais pudessem ser colocados, para que os levitas carregassem a arca
nos ombros. O rei coloca a arca em carros de bois, e essa falta de
cuidado com os detalhes do transporte da arca se revela um verdadeiro
desastre, culminando com a morte de Uzá. E aí pegamos este contexto que
acabei de explicar e criamos uma separação entre “levitas” e
“não-levitas” e conclui-se, então, que os não levitas não podem carregar
a presença de Deus na igreja neo-testamentária. Mas o que o Novo
Testamento tem a dizer sobre isso?
A imperfeição do ministério levítico
O livro de Hebreus trata muito
profundamente sobre a questão do ministério levítico. Aconselho que
você, leitor, após terminar a leitura deste artigo, leia os capítulos 7,
8, 9 e 10 de Hebreus. Vejamos alguns pontos importantes que são
tratados pra nossa discussão: “Se fosse possível alcançar a perfeição
por meio do sacerdócio levítico ( pois em sua vigência o povo recebeu a
lei ), por que haveria ainda necessidade de se levantar outro
sacerdote…?” (Hebreus 7:11)
Veja bem, o autor do livro de Hebreus
constata que o ministério levítico não conseguiu trazer a perfeição para
ninguém e por isso ele precisou ser substituído. Mas qual foi essa
substituição? Jesus, através da Sua morte na cruz, se coloca num papel
duplo: como sacerdote e como sacrifício, e se torna Sacerdote para
sempre. Veja o que diz a carta aos Hebreus: “Ora, daqueles sacerdotes
tem havido muitos, porque a morte os impede de continuar em seu ofício;
mas, visto que vive para sempre, Jesus tem um sacerdócio permanente.
Portanto ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio
dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles.
(Hebreus 7:23-25)
Sabemos que Jesus não era levita, pois
ele era descendente de Davi e Davi era da família de Judá. Então, se
Jesus não se tornou sacerdote pelo sacerdócio levítico, a qual ordem Ele
pertence?
A Ordem de Melquisedeque
O autor da epístola nos responde dizendo
que Jesus é sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque.
(Hebreus 6:20). Quem era esse Melquisedeque? Lemos em Gênesis 14 que
Abraão retornava de uma guerra quando Melquisedeque chega para visitá-lo
e Abraão ofereceu os dízimos dos despojos da guerra a ele. Quem era
essa pessoa? Ele só é apresentado como Rei de Salém (futuramente
Jerusalém), rei de paz, e também sacerdote do Deus altíssimo.
Veja algo interessante. Esse
Melquisedeque (sem linhagem, sem genealogia, sem apresentação prévia,
como diz Hebreus 7:3) era rei e também sacerdote. Não encontramos alguém
ocupando essas duas funções em nenhum outro lugar das Escrituras. Ou se
era rei ou se era sacerdote. Melquisedeque ocupa essas duas funções.
O autor de Hebreus é tão perspicaz e
inspirado pelo Espírito em sua explanação que ele diz que só se dava
dízimo a quem se considerava como superior. Se Abraão, o grande
patriarca de Israel e consequentemente de Levi, deu dízimo a
Melquisedeque, era porque ele considerava o rei de Salém superior a si
mesmo. Portanto, na pessoa de Abraão, Levi já era declarado menor que
Melquisedeque. Cristo também ocupa essas duas funções: Rei dos Reis e
Sumo Sacerdote para sempre, por isso Ele é sacerdote não por Levi, mas
pela ordem de Melquisedeque.
O Sacerdócio de Todos os Santos
Qual é a implicação prática disso tudo
para nós? Cristo inaugurou uma Nova Aliança, um novo tratado, uma nova
forma de nos aproximarmos de Deus. “Chamando “nova” esta aliança, ele
tornou antiquada a primeira; e o que se torna antiquado e envelhecido,
está a ponto de desaparecer.” (Hebreus 8:13)
A Nova Aliança tornou a Antiga Aliança
obsoleta. Não estou dizendo que ela se tornou sem valor, mas sim que
precisamos reavaliar os preceitos da Antiga Aliança pelos “óculos” da
Nova. Nesta Nova Aliança, o apóstolo Pedro diz que em Cristo, nós, Seu
povo, somos “geração eleita e SACERDÓCIO REAL, nação santa, povo
exclusivo de Deus. (1 Pedro 2:9) Veja, em Cristo nós também somos feitos
reis e sacerdotes, ou seja, também não pertencemos a linhagem de Levi ,
mesmo porque, de forma geral, nem mesmo somos judeus, e o sacerdócio de
Levi era transmitido pela descendência humana, genética. Já a linhagem
de Melquisedeque é espiritual, e aí sim, podemos ser feitos sacerdotes
segundo esta ordem.
Quem faz parte desta linhagem? Só os
músicos, ou seja, cantores, instrumentistas? NÃO! Todo nascido de novo,
TODA a Igreja é feita sacerdote na linhagem de Melquisedeque. Ou seja,
não temos uma classe escolhida, ungida, separada de “levitas” que faz
com que a igreja se sinta “plateia” em um culto, enquanto os “levitas”
são os ministros. Não podemos criar essa mentalidade em nossas igrejas!
Isso é anti-bíblico e extremamente nocivo para nossos cultos
comunitários e para nossa vida cristã diária. Quando a igreja se reúne,
temos alguns que estão ali liderando, mas toda a igreja se reúne,
espiritualmente, diante do trono do Cordeiro e se apresenta como
sacerdotes, e todos podem se achegar diante da presença d´Ele.
Achegando ao trono da graça
Na Nova Aliança, não são só os levitas
que podem carregar a “arca”. Na Nova Aliança, cada nascido de novo se
torna “arca” e também sacerdote, ou seja, tem livre acesso a presença de
Deus. Então, em nossos cultos, os membros da igreja não são plateia! Só
existe uma plateia em nosso culto: o próprio Deus! Nós todos temos a
responsabilidade de ministrar à presença de Deus. Portanto, ao dizer que
somos “levitas” nos colocamos como intermediários entre o povo e Deus,
que é exatamente o que faziam os filhos de Levi. Isso é uma afronta ao
sacrifício de Cristo na cruz que rasgou o véu, para que todos os
nascidos de novo tivessem livre acesso ao Pai. (Hebreus 10:19-20)
Algumas vezes agimos com boas intenções,
mas acabamos “recosturando o véu que a cruz já rasgou”, como diz João
Alexandre, em sua “É Proibido Pensar”. Irmãos, o que precisamos ensinar é
que TODOS os nascidos de novo podem se achegar diretamente a Deus, sem
intermediários. Quantos pastores querem “fidelizar” “suas”
ovelhas, e por isso não trazem ensinamento, por medo de perder rebanho!
Quantos ministros de louvor se sentem “importantes” quando ocupam essa
posição de intermediários e tem medo de perder seu status ao ensinar que
as pessoas tem igual acesso ao trono da graça! Isso precisa cair por
terra. A verdade é que nos liberta pra vivermos a vida de Deus pra nós.
Conclusão
Temos muitos princípios interessantes
sobre os levitas que podem ser aplicados a nossa vida de forma bem
interessante, mas a aplicação do sacerdócio levítico aos crentes da Nova
Aliança é um ensinamento extremamente nocivo a médio e longo prazo,
como expus neste estudo. Como ministros, precisamos ter um embasamento
teológico de qualidade para não levarmos as pessoas de nossa congregação
a uma posição de engano. Precisamos, sim, conscientizar as pessoas da
realidade da Nova Aliança e de como elas podem se aproximar por elas
mesmas de Deus, sem precisar de intermediários.
FONTE . http://www.apoioministerial.com