Porque o Evangelho não conquista
o Mundo?
A
amputação é sempre um drama. Fomos feitos para ter todos os membros em ordem,
funcionando unidos ao corpo. A falta de um deles, por menor que seja é logo
sentida e provoca desequilíbrio.
Basta falar com quem perdeu um simples dedo,
mesmo o considerado mais insignificante para descobrirmos o quanto ele faz
falta.
A Igreja Cristã tem se tornado, ao longo da história, uma igreja
amputada na med
ida em que tem perdido membros preciosos e é hoje uma verdadeira
colcha de retalhos. Lembro das colchas de retalhos em casa de minha avó.
Eram
até bonitas, mas não tinham padrão, não tinham unidade e depois de um tempo
cansavam a vista.
A Igreja cristã moderna é uma grande colcha de milhares de
retalhos e isso ajuda a entender porque não conquistamos o mundo.
Temos
hoje muitas vantagens ao nosso lado para ganhar o mundo para Cristo.
Para
começar nunca fomos tantos no planeta.
mesmo as estimativas mais baixas colocam
os cristãos evangélicos em várias centenas de milhões no mundo.
Nunca tivemos
tantos recursos para missões como hoje.
Basta olhar a opulência de muitos
templos e ministérios para vermos que não nos falta o dinheiro para o envio e
sustento de missionários.
Temos gente disponível para o serviço.
Missionários de todos os tipos se apresentam para a obra diariamente e
voluntários enchem nossos templos prontos a fazer o trabalho de evangelização e
alcance necessário. Temos o conhecimento necessário sobre missões e sobre os
povos para mapear o mundo e alcançar os que ainda precisam ouvir.
A informática
ao serviço da igreja nos dá esses recursos.
Temos a graça maravilhosa de Deus que supre
as necessidades e complementa as vidas e obra dos missionários e suas
lideranças.
A graça e a ação do Espírito são fundamentais e são visíveis e
presentes hoje na igreja. Não há falta de unção.
Então porque não conquistamos o
mundo? Porque há outros grupos como o islamismo radical que cresce mais que nós
apesar de sua mensagem de violência? Porque marcamos passo se podíamos avançar
depressa e fazer a diferença no mundo?
Ouso apresentar três razões e uma
sugestão para esse quadro atual.
Talvez me chamem de utópico ou sonhador, mas é
preferível sonhar que simplesmente me acomodar.
Pensemos então nas causas da
nossa falha em conquistar o mundo (ou mesmo só o Brasil por ex.)
1) Orgulho
Temos um ridículo
orgulho que nos impede de progredir. Ridículo porque no fundo todo orgulho é
ridículo, é vaidade, é tolice e falta de bom senso. Orgulhoso é aquele que não
tem espelho, que não olha no espelho, que não percebe ou não quer perceber a
realidade sobre si mesmo. Nós temos nos enchido de orgulho e isso nos
paralisa.
Temos orgulho denominacional. Isso é geral e ninguém pode
apontar o dedo. Cada denominação se orgulha de algo e com isso despreza as
outras se achando melhor, mais espirituais. Muitos grupos chegam a ponto de
achar que os outros nem sequer são salvos e brincam chamando os demais de primos
e não de irmãos. Essa "brincadeira" é maligna porque revela um orgulho maligno
que cega e separa. É a igreja amputada. Se tivéssemos sido fiéis ao Senhor ao
longo da história não teríamos denominações hoje e causaríamos bem menos
confusão ao povo. Ao invés disso, competimos uns com os outros e impedimos o
Espírito de fazer a obra. Chegamos a nos alegrar quando um líder de outro grupo
cai ou seu ministério despenca. Ainda teremos que dar contas por
isso...
Temos orgulho local. Temos igrejas cheias de vaidades próprias
ligadas a certos ministérios ou ao simples fato de terem mais tempo de
existência que outras. É bonito ver uma igreja com cem anos. Mas é preciso ter
cuidado para que uma igreja centenária não se torne uma igreja secular... Esse
tipo de orgulho fala por exemplo de igrejas que se envaidecem porque tem boa
musica, ou um certo pregador, ou instalações privilegiadas e há até os que se
orgulham de sua pobreza. "Somos melhores porque somos pobres e humildes".
Atenção: Pobreza física nem sempre anda junto com humildade.
Temos
orgulho pessoal. Orgulho individual de lideres que julgam que a igreja é sua.
Falam de seus ministérios como se eles os tivessem edificado e não o Senhor.
Gostam de contar que no inicio não havia nada e agora são 4 mil... Devemos
valorizar os servos a quem Deus deu crescimento, mas isso nem sempre implica em
fidelidade. O ministério de Jonas conquistou toda a Nínive enquanto Jeremias
perdeu Jerusalém. Alguém ousaria dizer que Jonas era mais fiel a Deus? Orgulho
individual de lideres da igreja é um contra-senso total porque como Paulo dizia,
se somos alguma coisa é unicamente pela graça de Deus.
Esses orgulhos
têm amputado a igreja e a deixado incapaz de avançar.
O orgulho
separa, cega, desorienta e por fim mata. Muitos ministérios começaram bem para
depois murcharem ao vento quente e mórbido da vaidade. Somos culpados diante de
DEus de orgulho e a palavra é clara: Deus resiste aos vaidosos!
2) Ignorância
Temos pecado
por ignorar o restante da igreja. Que triste ver que muitas das dificuldades de
relacionamento na igreja são motivadas por puro preconceito. Pensamos que...
julgamos que... achamos que.... Ora, você gostaria de ser julgado sem ter
oportunidade de se defender? O que diria de um julgamento em que não houve
chance de resposta? Injusto? É exatamente esse tipo de julgamento que temos
feito aos outros por pura ignorância.
Temos ignorado a igreja maior e
nisso perdemos a benção da comunhão, do crescimento, da maturidade. Não sabemos
o que Deus tem feito porque nos recusamos a ver. Julgamos as experiências e
ensinos alheios como heréticos porque não nos damos ao trabalho de verificar. É
a igreja amputada pela ignorância que se recusa a crescer.
Se abríssemos
os olhos descobriríamos que em outros campos, em outras igrejas, em outros
ministérios, há respostas às nossas perguntas, orientação para nossas duvidas,
exemplos para nossas vidas, deixas para nossos trabalhos e benção para nossas
famílias.
Descobriríamos surpreendidos que é mais o que nos une que
aquilo que porventura nos separa. Veríamos a obra do Senhor de uma maneira mais
vasta entendendo que Deus não se deixa limitar pelas nossas barreiras humanas.
Não é porque nos fechamos em denominações e grupos que o Senhor vai deixar de
agir. Ele atua onde quer e sua vontade é perfeita e pura. Se ELE age em certa
igreja quem somos nós para colocarmos etiquetas nela?
A ignorância divide
e paralisa também. Ela nos deixa de olhos fechados e eterniza a escuridão em que
o mundo vive porque aqueles que deveriam ser a luz preferem se esconder por
baixo do alqueire.
3)Mágoas
Temos pecado por
guardar e alimentar mágoas que mantém a igreja dividida. No ponto anterior é
possível que alguns leitores se tenham lembrado de experiências difíceis que
tiveram com outros grupos diferentes do seu. De momentos de discriminação e
critica e mesmo de desprezo. São experiências assim que dividem a igreja e vão
criando as barreiras. O problema é que por causa delas nos fechamos aos outros e
as bênçãos.
Temos pecado porque nos justificamos com as mágoas do
passado. Usamos essas ocasiões para mantermos a distância e confirmarmos a
amputação da igreja. As mágoas do passado nos impedem de crescer em vez de
servirem de lição. Deveríamos ter avançado mas paramos no tempo e ficamos
repetindo o disco até rachar.
Davi foi um homem especial. Segundo o
coração de Deus. Uma das coisas incríveis de sua vida foi que apesar de todas as
lutas, tristezas e más experiências ele não se fechou. Apesar de tudo que passou
ele se abria a novas pessoas e a novas coisas com Deus. Lutou e sofreu mas
manteve o coração aberto e por isso foi tão abençoado. Depois de todas as
dificuldades ele se firmava em seu Deus e seguia de peito aberto. Apanhou muito?
Sim mas foi também o maior rei que Israel conheceu.
Manter as mágoas e
alimentá-las é tolice. É como ter uma víbora por animal de estimação. Não dá
certo. Vivemos com medo, sempre de sobreaviso, na retaguarda. Um dia a víbora
ainda vai nos picar e então vai doer e muito. Temos pregado sobre o perdão e a
luta com as mágoas mas temos mantido o coração fechado.
Nosso orgulho,
ignorância e nossas mágoas têm amputado a igreja. Tem permitido que sejamos essa
colcha de retalhos que não tem força para ganhar o mundo. Num país como o Brasil
em que os evangélicos são tantos só isso explica porque temos ruas com 8 igrejas
no Rio de Janeiro e em outras regiões há municípios inteiros sem o evangelho. Só
a vaidade de abrir mais um templo "nosso", a ignorância quanto ao trabalho que
já esta sendo realizado por outros e as mágoas para com este e aquele grupo
explicam fenômenos como esse.
Já que fomos tão sonhadores até aqui, que
continuemos assim até o fim. Ousaria fazer sugestões simples e ao mesmo tempo
revolucionárias para que o evangelho conquiste o mundo:
1- Deixemos de lado nossos orgulhos tolos e
reconheçamos que há outros grupos, ministérios e lideres tão bons e melhores que
nós. Há igrejas, homens e mulheres de Deus fazendo trabalhos fantásticos sob a
direção do Espírito Santo e que podem nos ensinar muito. Vamos nos abrir à
direção do Espírito e com discernimento do alto aprender com aqueles que tem
vivido para DEus e visto a glória do Senhor brilhar.
2- Vamos sentar e conversar sobre nossos
sonhos e visões e deixar que as chamas que Deus acendeu num coração contagiem
outros. Não precisamos imitar ninguém. Apenas ver, reconhecer, aprender,
valorizar e crescer. Não seria bonito ver lideres de uma denominação
freqüentando congressos de outra? Não seria bonito ver lideres compartilhando
púlpitos e levando crescimento aos rebanhos uns dos outros?
3- Vamos no sentar e conversar sobre o
desafio que o mundo representa. Imaginemos o Brasil, por exemplo. Líderes
denominacionais compartilhando o seu trabalho, não em orgulho, mas em alegria do
espírito. Um mapeamento da realidade do país à frente. Verificariam onde há
verdadeira necessidade de obreiros e igrejas. Estabeleceriam prioridades quanto
a locais a serem alcançados e então verificariam qual grupo ou denominação
estaria mais vocacionado para aquela região. Que grupo já tem trabalho forte por
perto? Que grupo tem vocação para aquele tipo de população? Quem teria recursos
e pessoal disponível para chegar lá mais rápido e melhor? As decisões seriam
baseadas nisso e não na cor ou bandeira denominacional.
Utopia? Por quê?
Não somos capazes de conversar? A proposta é sem sentido ou ridícula? Creio que
não! Só os já mencionados: orgulho, ignorância e mágoa, podem nos impedir de
fazer isso acontecer. Se isso fosse feito, não veríamos igrejas se degladiando
na mesma rua. Não teríamos que combinar horário de culto com a outra igreja que
fica na mesma esquina para o som de uma não atrapalhar a
outra.
Se fizéssemos isso
correríamos o risco de ganhar o Brasil para
Jesus!
Nenhuma denominação ou grupo isolado vai ganhar o
mundo! A Igreja amputada é isso mesmo, amputada, limitada, incapaz. Só na união
do Senhor podemos fazê-lo!
Este não é um apelo tolo ao ecumenismo. Quem lê,
interprete,e e veja que falamos da Igreja de Jesus, daqueles que creem na
Palavra, na salvação pela fé e na ação do Espírito Santo. Unidos poderíamos...
separados continuaremos a capengar.
Utopia?
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