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O Instagram do apóstolo Estevam Hernandes, fundador da igreja Renascer em Cristo, foi superpovoado por personalidades nas últimas semanas.

Lá apareceram, em vídeo, os prefeitos João Doria (PSDB-SP) e Marcelo Crivella (PRB-RJ), o jogador Neymar, o técnico do Corinthians, Fábio Carille, o deputado Tiririca (PR-SP), os apresentadores Raul Gil e Sonia Abrão e o sambista Neguinho da Beija Flor.

Todos faziam um convite: venham à Marcha para Jesus, que acontece nesta quinta-feira (15) em São Paulo, 25 anos após ter sido idealizada por Hernandes. A convocatória sofreu um desfalque : Michel Temer também gravou um chamado ao maior evento evangélico do país, a pedido do deputado federal Marcelo Aguiar (DEM-SP), ligado à Renascer.

Mas Hernandes pediu para remover de sua rede social a filmagem em que Temer exalta o "modelo de congregação de pessoas que confessam a mesma fé [...] e especialmente confiam no Brasil". "Ele tirou depois de todas as denúncias recentes, achou melhor tirar até que elas fossem apuradas", diz a assessoria de imprensa da Renascer em Cristo.

Sob a hashtag #todalínguaconfessará, o vídeo foi publicado seis dias antes de vir à tona a notícia de que Joesley Batista gravara um áudio com o presidente. Ela continua no ar ao menos em um lugar: na página de Facebook do bispo Carlinhos Hernandes, que não é parente do apóstolo (o sobrenome é uma homenagem, já que muitos pastores veem o líder da igreja como "pai espiritual", segundo a assessoria).

A organização da Marcha para Jesus 2017 tenta blindá-la do vendaval político que assola a nação. A despeito da ebulição social, segundo o coordenador do evento, bispo Leandro Miglioli, a crise não será abordada diretamente no palco montado no Campo de Marte -ponto final da procissão de oito trios elétricos que começará às 10h, na praça da Luz (região central de SP).

"A Marcha não tem como objetivo exaltar qualquer coisa negativa acontecendo no Brasil, a não ser orar por ele. Vamos marchar, sim, para Deus abençoar nosso país", diz Miglioli, conhecido como bispo Lê, 41 –ele lidera movimentos jovens da Renascer, como um campeonato de MMA, o Ultimate Reborn Fight.

Em edições recentes, contudo, cá e lá pipocaram menções a casos de corrupção. Em 2015, cartazes contra o aborto (de praxe no evento) dividiram espaço com outros a favor da "faxina ética". No ano passado, o apóstolo Hernandes citou o medo de vaias para explicar uma Marcha esvaziada de políticos. "Muitos estão fugindo das grandes concentrações."

Para 2017, Doria finalizou o convite virtual para a Marcha com seu clássico símbolo de "acelera" (quando faz com a mão um "V" na horizontal). Foi elogiado pelos seguidores do líder da Renascer ("tomando por base o prefeito anterior, esse é top!", comentou um deles).

Mas o tucano não comparecerá em carne e osso: estará fora da cidade no dia. Seu vice, Bruno Covas, o representará.

A presença do governador Geraldo Alckmin era esperada até a tarde da véspera, mas ainda não havia sido confirmada.

A Marcha tem custo estimado em R$ 1 milhão. A Prefeitura banca parte do valor, mas a maioria da renda vem da venda de camisetas temáticas, segundo o bispo Miglioli.

E ela é de lei. Em 2009, o então presidente Lula sancionou um projeto para instituir o Dia Nacional da Marcha para Jesus (no primeiro sábado contados 60 dias após o domingo de Páscoa). Alckmin foi uma única vez ao evento, em 2013, e dois anos depois assinou lei estadual similar à federal.

A escassez de políticos, mesmo antes da crise estourar, não incomoda, afirma o coordenador da celebração gospel. "A maior autoridade do evento é Jesus Cristo."

Para o deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP), pré-candidato ao Senado, "a marcha é a conquista de um segmento que sofreu perseguição e preconceito –e ainda sofre".

O senador Magno Malta (PR-SP) e sua esposa, Lauriete, estão no line-up musical. Com as filhas Magda e Carla, Malta tem a banda de pagode gospel Tempero do Mundo. Também escaladas estão as cantoras Nãna Shara (filha de Baby do Brasil com Pepeu Gomes), pastora do Ministério Firmados na Rocha, e Eyshila.

A última aparece nas redes sociais da Marcha para Jesus. Na descrição de sua foto: "Vamos ser o maior país evangélico do mundo!". O bispo Miglioli diz que espera repetir o público de edições passadas, estimado pela organização em três milhões de pessoas. Cálculos da Polícia Militar e do Datafolha foram mais modestos, aquém de 350 mil.

Fonte: Folha de São Paulo