Segundo dados divulgados pelo Vaticano em 2010 existem 88,3% de católicos em Portugal. Contudo, cada vez mais igrejas evangélicas se instalam na cidade do Porto.
Segundo reportagem do site português JPN durante a história de Portugal é difícil encontrar um período em que a religião católica não tenha influenciado, de uma ou outra maneira, a sociedade portuguesa. Porém, atualmente, há cada vez mais espaço para outras religiões e uma delas é o protestantismo que já tem, pelo menos, um representante há quase cem anos no país.
Em Portugal, a comunidade evangélica tem quase um século, período em que a Assembleia de Deus se instalou no Porto. O pastor português Alexandre Samuel faz questão de dizer que “a liderança da Assembleia de Deus é toda portuguesa já há largos anos”. O pastor preside a congregação há 16 anos e fala de diferentes gerações evangélicas que frequentam a igreja e da sua presença em toda a área metropolitana do Porto.
Outra denominação de origem brasileira instalada no país é a Igreja Novo Dia, existente no Brasil há 56 anos. Com origem na cidade de Brasília a igreja fixou-se em Portugal em 1989. De acordo com o pastor Márcio Albuquerque, “foi enviado um casal de missionários para a cidade de Amarante e lá começaram o trabalho”.
No Porto, a Igreja Novo Dia tem dois anos e meio e estabeleceu-se da mesma forma que a igreja em Amarante. “Reunimos alguns irmãos e algumas pessoas, arrendamos uma loja e iniciamos o trabalho aqui”, explica o pastor Márcio. No que diz respeito ao apoio social, esta igreja tenta, na medida do possível, apoiar os mais necessitados. “Além da parte espiritual, trabalhamos também na busca das necessidades físicas, ajudas e alimentos”, diz o pastor.
Já a Igreja Internacional da Graça de Deus, que conta com mais de três mil igrejas no Brasil, está em Lisboa há onze anos e na cidade do Porto há cinco anos, e conta com cerca de 100 fiéis. A principal razão de se fixarem no norte do país é o propósito de começarem a ter igrejas em todas as cidades.
Helena Vilaça leciona Sociologia das Religiões na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e confirma que a implantação de novas igrejas protestantes em países europeus não é novidade. No entanto, de acordo com a professora, “esse fenômeno é novo em países onde existiu um quase monolitismo religioso, ou seja, uma única igreja”.
De acordo com a professora, a expansão do protestantismo deve-se ao fato desta religião ser fragmentada e, como “religião também é cultura, os crentes procuram reunir-se na igreja com a qual se identificam”, levando a sua fé para outros lugares.
Aceitação
Quando se trata de falar sobre a aceitação dos portugueses sobre o surgimento de novas igrejas, os pastores tem o mesmo parecer. Há quem não aceite e “é muito difícil chegar às pessoas”, porque Portugal “é um país muito católico”, esclarece o pastor Valdir, da Igreja Internacional da Graça de Deus. Contudo, adianta que “o povo está mais flexível”.
O pastor Márcio, da Igreja Novo Dia, vai mais longe e fala numa mudança de atitude por parte das autoridades. “Em dez anos há uma diferença muito significativa em termos de abertura, em termos de facilidade para as próprias câmaras municipais nos cederem espaços e em aceitar a programação de eventos”, garante.
A ideia de que milagres acontecem diariamente nestas igrejas é a que mais gera controvérsia na sociedade. Ainda assim, isto não é impedimento para a expansão do Evangelho pelo país. “Mesmo que não haja um grupo de irmãos identificados” numa determinada zona, diz um pastor, como “o objetivo é evangelizar todas as pessoas”, a igreja envia missionários para todos os locais.
Segundo o JPN, a sociedade portuguesa está mudando e fiéis portugueses já são maioria nas igrejas evangélicas de Portugal, que, inicialmente, acolhiam mais brasileiros.
A professora Helena Vilaça explica este fato afirmando que a sociedade portuguesa está “mais permeável”. “Vivemos num mundo onde há sociedades mais individualistas, onde se acha que questões como a religião devem ser o resultado de uma decisão pessoal e menos de uma herança”, acrescenta.
Reais motivações
O perfil do pastor também parece ser determinante para a composição do grupo. Os jovens estão mais atentos a esta realidade, mas a presença deles nos cultos depende muito do pastor.
André Magalhães, jovem estudante da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) e seguidor da Igreja Novo Dia, afirma que só depois de ter tornado pública a sua crença evangélica é que percebeu o vasto universo de jovens protestantes que havia à sua volta. “A igreja evangélica não se encaixa em nenhum estereótipo em que uma pessoa a quer encaixar”, diz.
De qualquer forma a representação da sociedade nas igrejas evangélicas tem se mostrado positiva. “A igreja é composta por várias classes sociais, vários níveis econômicos e cada pessoa tem uma realidade”, diz o pastor Márcio, ao mesmo tempo que explica que são as mulheres quem normalmente fazem a primeira visita à igreja, porque tendem a perceber mais rapidamente que precisam de ajuda. “Os portugueses consideram-se autossuficientes mas, num período de crise e desemprego, as pessoas ficam mais sensíveis”, explica.
Assim, o recente desemprego pode ser um fator que leva mais pessoas à procura de igrejas evangélicas, porém os pastores rejeitam que seja o único motivo. No caso de André Magalhães, o contato com a igreja foi feito por meio de amigos e familiares e, tal como outros evangélicos, diz que as transformações positivas na sua vida foram evidentes.
Fonte: JPN