O
capítulo 12 inicia uma nova parte do Apocalipse.
Antes de começar esta lição, devemos
relembrar, resumidamente, o que já
passou. O primeiro capítulo serve de
introdução ao livro, apresentando
Jesus Cristo como a fonte desta revelação
e como o Senhor eterno e poderoso. Os
capítulos 2 e 3 contêm as cartas às
sete igrejas da Ásia. Capítulos 4 a 11
mostram a revelação, por etapas, do
plano de Deus para com os povos.
Especialmente apresentam o Pai e o Filho
no céu, recebendo a adoração de todas
as suas criaturas (capítulos 4 e 5), os
sete selos (capítulos 6 a 8, com o
intervalo de consolo no capítulo 7), e
as sete trombetas (capítulos 8 a 11,
com o intervalo nos capítulos 10 e 11).
A sétima trombeta encerra a revelação
do mistério de Deus (10:7) com a grande
celebração da vitória dos servos do
Senhor. O resto do livro é uma
apresentação ampliada dos detalhes
dessa vitória. Não apresenta uma nova
seqüência de acontecimentos, e sim uma
vista mais próxima do que já fora
revelado nos capítulos anteriores. O
capítulo 12 mostra o poder dos servos
de Deus sobre o diabo. Ele tenta de várias
maneiras derrotar os fiéis, mas não
consegue.
O
Dragão Tenta Destruir o Filho (12:1-5)
12:1
– Viu-se grande sinal no céu, a
saber, uma mulher vestida do sol com a
lua debaixo dos pés e uma coroa de doze
estrelas na cabeça,
Viu-se
grande sinal no céu: Entramos
agora nesta nova parte do livro, e ainda
encontramos visões das batalhas
espirituais ou celestiais. O que
acontece na Terra é resultado das
batalhas espirituais.
Uma
mulher vestida do sol com a lua debaixo
dos pés e uma coroa de doze estrelas na
cabeça: Quem é esta mulher?
Pelo fato que ela dará à luz o filho
que se torna rei (12:5), ou seja, Jesus,
alguns sugerem que esta figura
representa a própria Maria, mãe de
Jesus. Mas é uma visão celestial, e a
figura aqui é maior do que Maria. Esta
mulher representa o povo de Deus, como
podemos perceber pela descrição dela.
Ela é vestida
do sol e tem a
lua debaixo dos pés. O sol e a
lua são os dois luzeiros principais
dados por Deus para iluminar a Terra. O
povo de Deus serve como luz no mundo de
trevas (Mateus 5:14-16), revelando ao
mundo a luz da revelação divina.
Vários
outros fatos apóiam esse entendimento.
A coroa de doze estrelas junta um símbolo
de vitória (a coroa, ou stephanos)
com um número (doze) simbólico do povo
de Deus. É totalmente consistente com a
linguagem do Velho Testamento pensar no
povo de Deus dando à luz. Miquéias
disse:
“Apoderou-se de ti a dor como da que
está para dar à luz? Sofre dores e
esforça-te, ó filha de Sião, como a
que está para dar à luz, porque,
agora, sairás da cidade, e habitarás
no campo, e virás até à Babilônia;
ali, porém, serás libertada; ali, te
remirá o SENHOR das mãos dos teus
inimigos.... E tu, Belém-Efrata,
pequena demais para figurar como grupo
de milhares de Judá, de ti me sairá o
que há de reinar em Israel, e cujas
origens são desde os tempos antigos,
desde os dias da eternidade”
(Miquéias 4:9-10; 5:2; veja Isaías
54:1). Não é apenas o povo físico de
Israel, nem apenas o remanescente
israelita do cativeiro, pois os
descendentes desta mulher são as
pessoas obedientes em Jesus (Apocalipse
12:17).
12:2
– que, achando-se grávida, grita com
as dores de parto, sofrendo tormentos
para dar à luz.
Achando-se
grávida, grita com as dores de parto,
sofrendo tormentos para dar à luz:
O povo fiel esperou durante muito tempo,
ansioso para a vinda do Messias. Da
primeira promessa messiânica, em Gênesis
3:15, às promessas a Abraão, Isaque e
Jacó, às profecias nos últimos anos
do Antigo Testamento, até a expectativa
de fiéis como Simeão e Ana (Lucas
2:25-38), a esperança da chegada do
Cristo crescia em Israel.
12:3
– Viu-se, também, outro sinal no céu,
e eis um dragão, grande, vermelho, com
sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças,
sete diademas.
Eis
um dragão: O segundo sinal desta
cena é de um dragão. Esta é a
primeira de doze vezes que a palavra
dragão aparece no Apocalipse. Não
há dúvida sobre a identidade do dragão
(12:9). Observemos o significado de suas
características.
Grande:
Ele é poderoso. Não tem poder
absoluto, igual ao poder de Deus, como
ficará evidente ainda neste capítulo.
Mas, não devemos subestimar a força do
Adversário.
Vermelho:
Tem a cor de sangue, porque é o
original homicida (João 8:44).
Com
sete cabeças: Com a cabeça
associamos a inteligência. O diabo é
inteligente, capaz de seduzir e enganar.
A primeira vez que aparece na Bíblia,
é representada como uma serpente “mais
sagaz que todos os animais selváticos”
(Gênesis 3:1). A mesma astúcia
continua ameaçando os servos de Deus no
Novo Testamento (2 Coríntios 11:3).
Dez
chifres: Os chifres reforçam a
idéia de sua força. Animais usam seus
chifres para lutar, e os chifres
representam o poder militar de homens e
nações (Daniel 8:3-8).
Nas
cabeças, sete diademas: Diademas
são adornos de realeza. A palavra
aparece apenas três vezes no Novo
Testamento, todas no Apocalipse.
Aqui, são os diademas do dragão. Em
13:1, são os diademas da besta do mar.
Em 19:12, são os muitos diademas do
verdadeiro Rei dos reis e Senhor dos
senhores, Jesus.
12:4
– A sua cauda arrastava a terça parte
das estrelas do céu, as quais lançou
para a terra; e o dragão se deteve em
frente da mulher que estava para dar à
luz, a fim de lhe devorar o filho quando
nascesse.
A
sua cauda arrastava a terça parte das
estrelas do céu, as quais lançou para
a terra: O Destruidor mostra o
seu poder, lançando para a terra um terço
das estrelas do céu. Certamente
enfatiza o poder do dragão;
possivelmente sugere seu poder para
afligir e perseguir os fiéis. Uma
profecia de Daniel emprega linguagem
semelhante para mostrar o poder de um
inimigo sobre os servos de Deus (Daniel
8:10,24). O dragão neste contexto
perseguirá os fiéis. Mas, no momento,
o interesse dele é direcionado ao filho
que nascerá.
O
dragão se deteve em frente da
mulher...a fim de lhe devorar o filho
quando nascesse: João nos
apresenta com a imagem do dragão forte
e faminto, olhando para a mulher grávida
com um desejo enorme de matar e devorar
o filho. Jeremias descreveu o rei da
Babilônia como um monstro que devorou o
povo santo (Jeremias 51:33-35). Mas
aqui, encontramos algo mais profundo
ainda. O diabo espera o nascimento de
Jesus para devorá-lo. A encarnação de
Jesus trouxe a batalha à Terra. Jesus
assumiu a forma humana, com as suas
fraquezas, para enfrentar o Adversário.
Este fato torna Jesus unicamente
qualificado para servir como nosso sumo
sacerdote: “Porque
não temos sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas;
antes, foi ele tentado em todas as
coisas, à nossa semelhança, mas sem
pecado” (Hebreus 4:15). Ele
voluntariamente se submeteu à vontade
do Pai, e “a
si mesmo se esvaziou, assumindo a forma
de servo, tornando-se em semelhança de
homens; e, reconhecido em figura humana,
a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente até à morte e morte de
cruz” (Filipenses 2:7-8). O
diabo fez de tudo para derrotar Jesus
durante este período de
vulnerabilidade. Não somente durante 40
dias de provação no deserto, mas
durante toda a vida terrestre de Jesus,
até à morte na cruz, Satanás tentou
vencer o Filho de Deus. Ele viu a sua
chance quando Jesus se fez carne, e
esperava a chegada do Cristo com a
vontade de devorá-lo. Ele não queria
somente ferir o calcanhar (Gênesis
3:15). Ele queria dominar e destruir
Deus na carne.
12:5
– Nasceu-lhe, pois, um filho varão,
que há de reger todas as nações com
cetro de ferro. E o seu filho foi
arrebatado para Deus até ao seu trono.
Nasceu-lhe,
pois, um filho varão, que há de reger
todas as nações com cetro de ferro:
O filho é Jesus. Conforme diversas
profecias do Velho Testamento, ele veio
para reinar sobre as nações com o
cetro de ferro. Salmo 2 é a passagem
mais específica que fornece a linguagem
deste versículo. É a profecia que
confortou os cristãos perseguidos em
Jerusalém (Atos 4:23-31). É uma das
grandes profecias que alimentavam a
esperança de Israel durante séculos
antes do nascimento de Jesus. O propósito
da vinda de Jesus focaliza o ponto de
conflito com o diabo. Satanás aparece
com suas cabeças, chifres e diademas,
querendo se mostrar o verdadeiro rei do
mundo. Mas ele sabe que a sua posição
como rei nunca será estabelecida se ele
não vencer o Messias. Toda a esperança
diabólica de uma vitória do mal
depende desta luta contra o filho que
nasceu. Se ele conseguir devorar o
Messias, o dragão se estabelecerá como
o monarca dos reinos da terra.
E
o seu filho foi arrebatado para Deus até
ao seu trono: Quem espera os
detalhes do drama, com cada estratégia
dos adversários e cada movimento de
tropas, terá que procurar em outros
lugares. Aqui, toda a vida terrestre de
Jesus é resumida em um versículo que
afirma a sua vitória absoluta. Do
nascimento até à coroação no céu,
onde Jesus atualmente senta à destra do
Pai no Santo dos Santos, a missão
bem-sucedida de Jesus é resumida neste
versículo (veja Atos 2:22-36; Hebreus
9:12). Sem entrar em pormenores, este
versículo se torna um dos mais
poderosos da Bíblia. Pela sua vida
perfeita, a sua morte sacrificial e a
sua ressurreição de entre os mortos,
Jesus é totalmente vitorioso sobre o
diabo! Antes de entrar em mais detalhes
sobre o dragão e seus servos, ele quer
nos lembrar que o verdadeiro Rei e
Vencedor é o Senhor Jesus Cristo.
O
Dragão Tenta Destruir a Mulher (12:6)
12:6
– A mulher, porém, fugiu para o
deserto, onde lhe havia Deus preparado
lugar para que nele a sustentem durante
mil duzentos e sessenta dias.
A
mulher, porém, fugiu para o deserto:
Ela se encontra diante do dragão
furioso e frustrado. Não conseguiu
destruir o filho. Agora, pode apenas
tentar destruir a mulher. Mas esta
tentativa, também, leva à frustração
do dragão. A mulher – o povo de Deus,
os servos de Jesus – foge para o
deserto por um período.
O
deserto! Moisés fugiu para o deserto
quando o rei do Egito queria matá-lo (Êxodo
2:15-22). O povo de Israel saiu da
opressão egípcia e foi para o mesmo
deserto (Êxodo 13:17-18). Elias fugiu
da ira de Jezabel, foi ao deserto, e foi
conduzido até Horebe (1 Reis 19:1-8).
Aqui,
a mulher fugiu para o deserto para
escapar da ira do dragão.
Onde
lhe havia Deus preparado lugar para que
nele a sustentem: Deus
providenciou a proteção da mulher.
Deus protegeu Agar e Ismael no deserto
(Gênesis 21:17-20) e sustentou Eliasdurante
o seu conflito com Acabe e Jezabel (1
Reis 17) e na sua fuga ao deserto (1
Reis 19). Aqui, Deus sustenta a mulher.
Observe que o verbo está no plural,
(“a sustentem”),
dando para entender que o Pai e o Filho
providenciam as necessidades da mulher.
Durante
mil duzentos e sessenta dias: De
novo, o período de três anos e meio
(360 dias por ano). Um tempo curto de
tribulação, mas em que o povo de Deus
se beneficia da proteção especial do
Senhor.
O
dragão não conseguiu destruir a
mulher. A sua frustração aumenta.
O
Dragão Peleja contra Miguel (12:7-12)
12:7
– Houve peleja no céu. Miguel e os
seus anjos pelejaram contra o dragão.
Também pelejaram o dragão e seus
anjos;
Houve
peleja no céu: Deus abre, mais
ainda, a cortina para mostrar a batalha
espiritual que garante a vitória dos fiéis.
Esta vitória dos servos de Deus no céu
reforça o resultado da vitória de
Jesus sobre o pecado e a morte (versículo
5), como veremos no versículo 11.
Miguel
e os seus anjos: Miguel (seu nome
significa “Quem é semelhante a Deus?)
é citado por nome cinco vezes na Bíblia,
sempre como representante de Deus nas
batalhas contra os inimigos do Senhor:
●
Contra os príncipes dos persas e dos
gregos (Daniel 10:13,20-21).
●
Como defensor do povo de Deus (Daniel
12:1).
●
Como arcanjo de Deus lutando pelo corpo
de Moisés (Judas 9).
●
Aqui, como líder do exército celestial
contra o diabo e seus anjos.
Apesar
das doutrinas de alguns grupos
religiosos, a Bíblia não diz que
Miguel é Jesus. Jesus aparece neste capítulo
como o filho varão (5), Deus (cf. o
comentário sobre o verbo plural acima
– 6), o Cristo de Deus (10), o
Cordeiro (11) e Jesus (17). Nem aqui,
nem em outro lugar, encontramos alguma
prova que identifica Miguel como Jesus.
Quando chegamos à vitória de Miguel e
os seus anjos nos próximos versículos,
lembramos que é um representante de
Deus que vence o diabo. Se os servos do
Senhor têm poder para derrotar Satanás,
muito mais o próprio Senhor será
vitorioso.
Pelejaram
contra o dragão...e seus anjos:
O diabo não conseguiu devorar o filho.
A mulher escapou dele, sob a proteção
divina. Agora enfrenta o exército de
Miguel. Tem todo o apoio de seus anjos.
Como entender esta batalha? Há diversas
explicações, incluindo:
Œ
Uma batalha literal em que o diabo
tentou invadir o céu, depois da ascensão
de Cristo, para vencer o filho varão.
Se fosse literal, além de desviar da
natureza figurada do livro, apresentaria
uma nova doutrina sobre a derrota de
Satanás. A vitória sobre o diabo seria
pela força de Miguel e seus anjos, e não
pela eficácia do sangue de Jesus.
Qualquer interpretação que nega a vitória
total de Jesus deve ser rejeitada.
Uma batalha primeva em que Satanás e
seus anjos fossem derrotados e expulsos
do céu. Mas o contexto liga esta
derrota do diabo à vitória de Jesus na
cruz.
Ž
Uma batalha simbólica, da mesma forma
de outras cenas simbólicas, dando aos
fiéis a confiança da vitória sobre o
adversário. Esta explicação se
enquadra melhor no contexto do livro. A
batalha aqui seria parecida com as de
Daniel 10, símbolos espirituais para
consolar os fiéis.
12:8
– todavia, não prevaleceram; nem mais
se achou no céu o lugar deles.
Não
prevaleceram: Mais uma derrota
para o diabo. Não devorou o filho varão.
Não alcançou a mulher quando fugiu
para o deserto. E agora, perdeu a sua
batalha contra Miguel.
Nem
mais se achou no céu o lugar deles:
O resultado desta batalha é importante.
O diabo perdeu e saiu enfraquecido. O
poder dele depois da vitória de Jesus
na cruz é menor do que o poder que
tinha anteriormente. Qualquer aspiração
de Satanás de dominar os servos de
Deus, ou até de vencer o próprio
Cristo, foi negada pela vitória de
Jesus e a vitória resultante de Miguel.
Os versículos seguintes frisarão
alguns aspectos importantes desta
derrota do diabo.
12:9
– E foi expulso o grande dragão, a
antiga serpente, que se chama diabo e
Satanás, o sedutor de todo o mundo,
sim, foi atirado para a terra, e, com
ele, os seus anjos.
Foi
expulso o grande dragão...sim, foi
atirado para a terra, e, com ele, os
seus anjos: Tentou se exaltar.
Desafiou as forças do céu. Mas o dragão
perdeu e foi lançado fora. Os seus
anjos, também, perderam e foram
expulsos. Qualquer sofrimento que eles
infligem aos homens na terra será na
capacidade de perdedores, limitados pelo
poder superior dos servos de Deus.
A
antiga serpente: Desde a primeira
vez que Satanás aparece na Bíblia, ele
é descrito como uma serpente,
destacando a sua sagacidade (Gênesis
3:1). É o mesmo que tentou Eva e
continua lutando contra e seduzindo os
homens desde o princípio.
Diabo:
Do grego diabolos, significa
acusador, difamador, caluniador. A
palavra bem descreve o caráter e o
procedimento do dragão.
Satanás:
Este nome quer dizer adversário. O dragão
é o inimigo que procura derrotar e
destruir os homens e se opõe a Deus e a
todas as coisas boas e santas.
O
sedutor de todo o mundo: Satanás
seduz as pessoas ao erro. Desde a
primeira vez que ele aparece na Bíblia
(Gênesis 3), tem enganado os homens
para os induzir ao pecado (1 Timóteo
2:14). Ele procura seduzir todas as
pessoas. O mundo, aqui, se refere ao
mundo habitado, às pessoas do mundo.
Foi
atirado para a terra, e, com ele, os
seus anjos: Devido à vitória de
Jesus na morte e ressurreição, o diabo
não tem o mesmo poder de antes. Quando
chegou em Jerusalém na semana da Páscoa
para ser crucificado, Jesus disse: “Chegou
o momento de ser julgado este mundo, e
agora o seu príncipe será expulso” (João
12:31) e “o
príncipe deste mundo já está
julgado” (João 16:11).
Frustrados pelas derrotas já sofridas,
ele e seus anjos tentarão derrotar os
habitantes da terra.
Este
trecho esclarece o significado de outras
passagens que falam sobre a vitória de
Jesus sobre o diabo. Na sua morte e
ressurreição, Jesus venceu Satanás. O
autor de Hebreus diz de Jesus: “para
que, por sua morte, destruísse aquele
que tem o poder da morte, a saber, o
diabo, e livrasse todos que, pelo pavor
da morte, estavam sujeitos à escravidão
por toda a vida” (Hebreus
2:14-15). Jesus triunfou dos principados
e potestades na cruz (Colossenses 2:15).
“Para isto se manifestou o Filho de
Deus: para destruir as obras do diabo”
(1 João 3:8). Jesus já
venceu. O diabo já perdeu. Ele não tem
mais o mesmo poder de antes. Quando foi
derrotado por Miguel, como resultado da
vitória de Jesus, restou somente a
possibilidade de afligir as pessoas na
terra. Como um exército que perde e se
retira do campo da batalha, atacando com
raiva as pessoas desprotegidas que
encontram no caminho para casa, o diabo
e seus anjos são expulsos do céu e
conseguem apenas afligir os que habitam
na terra (versículo 12). O fato de o
diabo ainda agir na terra não nega a
vitória total de Jesus. Satanás foi
derrotado, e jamais terá a vitória.
12:10
– Então, ouvi grande voz do céu,
proclamando: Agora, veio a salvação, o
poder, o reino do nosso Deus e a
autoridade do seu Cristo, pois foi
expulso o acusador de nossos irmãos, o
mesmo que os acusa de dia e de noite,
diante do nosso Deus.
Ouvi
grande voz do céu: O anúncio da
vitória ressoa pelo céu.
Agora,
veio a salvação, o poder, o reino do
nosso Deus e a autoridade do seu Cristo:
Como observamos no 11:15, não devemos
distorcer versículos como este para
sugerir que Deus não possuía a salvação,
o poder, o reino ou a autoridade. As
pelejas apresentadas neste capítulo
representam as lutas entre os fiéis e
os servos do diabo que vêm acontecendo
desde o princípio. A vitória de Jesus
é absoluta e eterna. Deus revelou estas
coisas a João, e ele as transmitiu a nós,
para oferecer o consolo que os servos na
Terra precisam.
Pois
foi expulso o acusador de nossos irmãos,
o mesmo que os acusa de dia e de noite,
diante do nosso Deus: O diabo e
seus servos – sejam reis ou sejam nações
inteiras – podem atacar, afligir e até
matar os discípulos do Senhor, mas
nunca podem vencer as pessoas que
realmente confiam em Deus. Jesus vence.
A mulher é protegida. Miguel e seus
anjos vencem. O diabo não possui
autoridade, pois todo o poder pertence a
Deus. Satanás foi expulso do céu. O
ponto aqui não é de explicar ou
desenvolver alguma doutrina elaborada
sobre o diabo, o que ele fazia no céu,
exatamente quando ou como foi expulso,
etc. O ponto é que os servos de Deus têm
a vitória sobre o Adversário! Devido
à vitória de Jesus sobre o pecado e a
morte, o poder do diabo ficou mais
restrito. Ele acusava os irmãos diante
de Deus (cf. Jó 1:1 - 2:7). As vitórias
sobre os demônios durante o ministério
de Jesus e dos seus discípulos
demonstravam o poder divino para vencer
o próprio diabo (Lucas 11:20-23;
10:17-18). Como profetizado milhares de
anos antes, Jesus pisou na cabeça da
serpente (Gênesis 3:15).
12:11
– Eles, pois, o venceram por causa do
sangue do Cordeiro e por causa da
palavra do testemunho que deram e, mesmo
em face da morte, não amaram a própria
vida.
Eles,
pois, o venceram por causa do sangue do
Cordeiro: A salvação vem pela
graça mediante a fé (Efésios 2:8),
mostrando a obra divina e a resposta
humana. A vitória sobre o diabo e seus
anjos também depende da obra divina e
da resposta dos servos. O sangue do
Cordeiro é absolutamente fundamental à
vitória. Nenhuma doutrina que omite a
cruz nos leva ao galardão preparado por
Deus. O único caminho é Jesus (João
14:6), o único evangelho é a mensagem
de “Jesus
Cristo e este crucificado” (1
Coríntios 2:2), e o único meio pelo
qual obtemos a redenção é o sangue do
Filho Amado (Efésios 1:6-7).
E
por causa da palavra do testemunho que
deram e, mesmo em face da morte, não
amaram a própria vida: A
resposta dos servos, os irmãos (versículo
10), envolve uma dedicação total ao
Senhor. Nesta descrição da obediência
dos fiéis, encontramos as exigências básicas
do discipulado dadas por Jesus em Marcos
8:34:
Œ
“A
si mesmo se negue” – “não
amaram a própria vida”.
“Tome
a sua cruz” – “mesmo
em face da morte”.
Ž
“E
siga-me” – “por
causa da palavra do testemunho que
deram”.
Nas
batalhas espirituais, a vitória exige
sacrifícios – o sacrifício de Jesus
e os sacrifícios feitos pelos
seguidores dele. Como Jesus acrescentou
em Marcos 8:35, “Quem
quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á;
e quem perder a vida por causa de mim e
do evangelho salvá-la-á.”
Os vencedores no Apocalipse 12 são
aqueles que mantinham a sua fé e
confessaram o seu Senhor independente de
perigos, perseguições e ameaças de
morte. Não procuraram a morte. Não
amaram a morte. Mas não amaram as suas
vidas. Entregaram-se totalmente ao
Senhor, e deixaram Deus usá-los – na
vida ou na morte – conforme seu propósito.
Nesta atitude encontramos verdadeira fé
e plena confiança no Senhor.
“Porque nos temos tornado
participantes de Cristo, se, de fato,
guardarmos firme, até ao fim, a confiança
que, desde o princípio, tivemos” (Hebreus
3:14; cf. 10:23). Esta é a confiança
que supera o fogo de provações sem
vacilar, e recebe a salvação preparada
(1 Pedro 1:3-9).
Este
trecho oferece confiança a todos os fiéis,
e deve nos ajudar nas nossas batalhas
contra o pecado. Jesus venceu! O diabo
perdeu. Nós podemos e devemos ter
confiança da nossa salvação: “Estas
coisas vos escrevi, a fim de saberdes
que tendes a vida eterna, a vós outros
que credes em o nome do Filho de Deus”
(1 João 5:13). Se não temos
esta confiança, devemos olhar bem para
os nossos próprios corações e
responder algumas perguntas críticas:
Realmente cremos em o nome do Filho de
Deus? Negamos a nós mesmos? Seguimos
Jesus conforme a palavra dele, até a
morte? Ele é fiel para cumprir as suas
promessas e nos guardar até o fim.
Somos fiéis em seguí-lo?
12:12
– Por isso, festejai, ó céus, e vós,
os que neles habitais. Ai da terra e do
mar, pois o diabo desceu até vós,
cheio de grande cólera, sabendo que
pouco tempo lhe resta.
Por
isso, festejai, ó céus: Outra
festa, bem diferente da festa no
intervalo do capítulo 11. Quando a
besta “venceu” as testemunhas, todos
os povos da terra fizeram sua festa. Mas
a sua vitória durou apenas três dias e
meio, e a sua festa acabou. Na batalha
eterna, os servos do Senhor vencem e
participam de uma festa no céu. Esta
vitória é eterna, e a festa, também.
A
festa no capítulo 11 acabou porque as
testemunhas subiram. A festa aqui começa
porque o diabo desce – ele foi lançado
para a terra. Depois da subida das
testemunhas, houve alegria no céu. Mas
a descida de Satanás não traz alegria
aos que habitam na terra. Ele só traz
dor e sofrimento.
Ai
da terra e do mar, pois o diabo desceu
até vós, cheio de grande cólera:
A terra e o mar representam a sociedade
humana, a esfera de ação do diabo. É
do mar e da terra que subirão as
bestas, os principais servos de Satanás,
no próximo capítulo. Os homens que
vivem na terra sofrerão devido à
grande ira do diabo derrotado. Já
encontramos uma cena da dor infligida
pelo diabo e seus servos na quinta
trombeta (9:1-12). Como naquele caso, os
homens na terra sofrem dano.
Sabendo
que pouco tempo lhe resta: Ele já
perdeu a batalha principal, e agora vai
perdendo as batalhas conseqüentes.
Qualquer poder que o diabo possui é
limitado. O tempo para exercer seu poder
é, também, limitado. Tudo está
chegando ao fim, quando não terá mais
condições de derramar a sua cólera
sobre os homens na terra.
Antes
de prosseguir, vamos observar o placar
até este ponto no capítulo 12. O diabo
foi contra o filho varão e perdeu.
Queria pegar a mulher, e não conseguiu.
Pelejou contra Miguel e perdeu. Já
perdeu três vezes, e o capítulo não
acabou ainda!
O
Dragão Persegue a Mulher (12:13-16)
12:13
– Quando, pois, o dragão se viu
atirado para a terra, perseguiu a mulher
que dera à luz o filho varão
Quando,
pois, o dragão se viu atirado para a
terra, perseguiu a mulher que dera à
luz o filho varão: Pode ser uma
nova fase de perseguição da igreja, ou
pode ser que João continua o relato do
aspecto terrestre da batalha onde parou
no versículo 6. De qualquer forma, a
mensagem é a mesma. Ele persegue a
mulher, o povo de Deus.
12:14
– e foram dadas à mulher as duas asas
da grande águia, para que voasse até
ao deserto, ao seu lugar, aí onde é
sustentada durante um tempo, tempos e
metade de um tempo, fora da vista da
serpente
Foram
dadas à mulher as duas asas da grande
águia, para que voasse até ao deserto:
Esta figura da proteção do povo da
perseguição pelo diabo vem diretamente
de Êxodo 19:4, onde Deus falou com Moisés
sobre a libertação dos israelitas: “Tendes
visto o que fiz aos egípcios, como vos
levei sobre asas de águia e vos cheguei
a mim”. Isaías empregou a
mesma figura para consolar os fiéis de
Judá: “mas
os que esperam no SENHOR renovam as suas
forças, sobem com asas como águias,
correm e não se cansam, caminham e não
se fatigam” (Isaías
40:31).
Onde
é sustentada durante um tempo, tempos e
metade de um tempo, fora da vista da
serpente: O deserto representa o
lugar onde o povo encontra proteção.
Os israelitas foram protegidos, longe do
alcance dos egípcios, no deserto de
Sinai. Deus os sustentou, e aqui promete
sustentar a mulher quando esta foge do
diabo. O período é da mesma duração
citada no versículo 6, um tempo
limitado de angústia. Confiando no
Senhor, estes servos fiéis se escondem
em Deus: “...a
vossa vida está oculta juntamente com
Cristo, em Deus” (Colossenses
3:3).
12:15
– Então, a serpente arrojou da sua
boca, atrás da mulher, água como um
rio, a fim de fazer com que ela fosse
arrebatada pelo rio.
A
serpente arrojou da sua boca, atrás da
mulher, água como um rio: O
diabo não alcança a mulher e, em
desespero, ele lança água da sua boca
atrás dela. A figura de enchentes para
representar ameaças, perseguições e
castigos é comum no Velho Testamento.
Isaías falou sobre
“o dilúvio do açoite” (28:15,18).
Ele descreveu a ameaça da Assíria
inundando Judá (8:7-8). Jeremias 47:2
emprega a mesma figura para descrever o
castigo da Filístia. Daniel profetizou
sobre a destruição de Jerusalém,
dizendo que “o
seu fim será num dilúvio” (9:26).
Naum usou a mesma linguagem quando falou
da destruição de Nínive (1:8).
A
imagem deste rio de água saindo da boca
da serpente reforça a idéia da destruição
que vem como resultado das mentiras,
acusações e falsas doutrinas que o
diabo profere. O que sai da boca de
Satanás, desde a primeira vez que nós
o encontramos nas Escrituras, tem o propósito
de destruir as pessoas que o ouvem.
Muitas
passagens falam da segurança dos fiéis,
mesmo quando os rios transbordam e os
ameaçam. Davi bem expressou o sentido
desta confiança quando disse: “Sendo
assim, todo homem piedoso te fará súplicas
em tempo de poder encontrar-te. Com
efeito, quando transbordarem muitas águas,
não o atingirão. Tu és o meu
esconderijo; tu me preservas da tribulação
e me cercas de alegres cantos de
livramento” (Salmo 32:6-7).
Jesus fez um contraste entre a casa dos
insensatos e a dos prudentes. As duas
enfrentam a mesma ameaça de rios
transbordantes, mas somente as casas dos
prudentes resistem (Mateus 7:24-27).
A
fim de fazer com que ela fosse
arrebatada pelo rio: O diabo
arroja as águas de um rio atrás do
povo de Deus, tentando destruí-lo.
12:16
– A terra, porém, socorreu a mulher;
e a terra abriu a boca e engoliu o rio
que o dragão tinha arrojado de sua
boca.
A
terra, porém, socorreu a mulher, e a
terra abriu a boca e engoliu o rio que o
dragão tinha arrojado de sua boca:
Da mesma maneira que terra seca absorve
a água de um rio (Jó 6:15-20), a terra
absorve a ira e o engano da serpente,
lançados atrás da mulher. Entendendo a
terra como o mundo, ou seja, os ímpios,
encontramos aqui uma figura interessante
e realista. O diabo tenta atingir a
igreja com a água da sua boca, mas
acaba prejudicando os perversos, os incrédulos
que não servem a Deus. Ele gostaria de
enganar os servos de Deus, mas são os
servos do próprio diabo que engolem as
suas mentiras. Os servos de Deus podem
sofrer diante da ira da serpente, mas
recebem a proteção e as bênçãos do
Senhor. Os servos do diabo podem achar
algum prazer passageiro no pecado, mas
absorvem a ira dele e acabam sem nenhum
benefício real. Todos nós devemos
refletir bem nesse contraste. Satanás
pode oferecer “prazeres
transitórios do pecado”,
mas Deus oferece o verdadeiro galardão
(Hebreus 11:25-26).
O
Dragão Persegue os Descendentes da
Mulher (12:17)
12:17
– Irou-se o dragão contra a mulher e
foi pelejar com os restantes da sua
descendência, os que guardam os
mandamentos de Deus e têm o testemunho
de Jesus; e se pôs em pé sobre a areia
do mar.
Irou-se
o dragão contra a mulher: A
frustração do diabo aumenta! Não
conseguiu devorar Jesus. Perdeu na
batalha contra Miguel e foi expulso do céu.
Não conseguiu destruir o povo de Deus
como um todo. Que frustração!
Foi
pelejar com os restantes da sua descendência:
Agora, resta somente a possibilidade de
vencer, individualmente, os descendentes
dela. Jesus é “o
primogênito entre muitos irmãos” (Romanos
8:29; cf. Hebreus 2:11). Estes
descendentes são bem identificados nas
descrições dadas aqui:
Œ
Os que
guardam os mandamentos de Deus:
Os servos fiéis e obedientes. Para ter
comunhão com o Senhor, é necessário
ser obediente (João 14:15,23-24; 1 João
2:3-6).
E têm o
testemunho de Jesus: Os
verdadeiros descendentes da mulher e irmãos
de Jesus são aqueles que mantêm a
palavra do Senhor, mesmo diante das
perseguições (2:13). Jesus chamou os
apóstolos para servirem de testemunho
no meio de suas perseguições: “...por
minha causa sereis levados à presença
de governadores e de reis, para lhes
servir de testemunho, a eles e aos
gentios” (Mateus 10:18; cf.
Lucas 21:12-13; Atos 23:11). Os fiéis não
se envergonham do testemunho de Jesus (2
Timóteo 1:8). A mensagem é simples mas
essencial para a salvação dos homens: “E
o testemunho é este: que Deus nos deu a
vida eterna; e esta vida está no seu
Filho” (1 João 5:11).
Este
versículo não revela a conclusão da
batalha. O dragão é um perdedor em
todas as batalhas anteriores – contra
o Filho, contra Miguel e contra o povo
coletivo de Deus. Agora ele vai contra
os indivíduos. Cada cristão pode
resistir e vencer (1 Pedro 5:8-9; Tiago
4:7-8), mas o resultado destas batalhas
individuais não é garantido. Cada
servo enfrenta sua própria batalha, com
todo o apoio de Deus (Romanos 8:31,37),
mas a vitória de cada um depende de sua
própria obediência e fidelidade. Que
desafio!
Como
seria a batalha contra os cristãos
daquela época? É isso que os próximos
capítulos revelam. O dragão lutará
com toda a sua força, contando com a
ajuda dos seus aliados. Somente aqueles
que continuarem fiéis até a morte terão
a vitória (2:10-11).
E
se pôs em pé sobre a areia do mar:
Este comentário prepara o palco para a
próxima etapa do trabalho do dragão.
Na peleja com os fiéis, ele vai trazer
os seus servos maus, o primeiro sendo a
besta do mar que emerge no início do
capítulo 13. Ele está pronto,
posicionando-se na beira do mar para
receber a besta.
Conclusão
O
capítulo 12 inicia a parte do livro que
explica o cumprimento do mistério de
Deus, que encerrou-se na sua forma
resumida com a sétima trombeta. O diabo
aparece, ansioso para vencer Jesus e
todos os seus discípulos, tanto no céu
como na terra. Mas, batalha após
batalha, ele sofre derrotas. Não vence
o Filho de Deus; não destrói o povo de
Deus; perde na peleja com Miguel e é
lançado à terra frustrado e irado.
Resta somente a possibilidade de ele
vencer, individualmente, alguns dos discípulos
de Cristo. Nos capítulos seguintes, ele
chamará os seus aliados para tentar
destruir os cristãos, mas estes têm o
consolo da presença do Senhor
dando-lhes força para vencer.
VIA GRITOS DE ALERTA