terça-feira, 2 de maio de 2017

Maioria dos brasileiros quer "estar espiritualmente em paz" nos últimos anos de vida, diz pesquisa

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Depois de sofrer um derrame, o pai de Maria não falava mais. Mas, com a filha dizendo as palavras a seu lado, ele conseguia rezar. Seus últimos dias foram de muita dor, mas Maria acha que, no final, quando o pai apertou sua mão, ele estava em paz. Pensando em suas próprias prioridades para a morte, ela diz que “estar espiritualmente em paz” é o que mais importa. 

O sentimento é compartilhado por muitos outros brasileiros, segundo levantamento realizado por The Economist em parceria com a Kaiser Family Foundation, ONG americana que atua no setor de saúde. Nada menos que 88% dos entrevistados no Brasil acham que estar espiritualmente em paz é “extremamente” ou “muito importante”.

Nos EUA e no Japão, a prioridade é não sobrecarregar a família com os gastos com médicos e hospitais, preocupação mencionada, respectivamente, por 54% e 59% dos entrevistados. (No caso dos japoneses, a preocupação talvez inclua também os custos com o enterro, que podem facilmente chegar a US$ 27 mil.) Um terço dos italianos gostaria de ter seus entes queridos a sua volta. O Brasil é o único país em que, para a maioria das pessoas, prolongar a vida é mais importante do que morrer sem dor e sofrimento.

Algumas dessas diferenças se explicam pela religião. O Brasil é o país com o maior número de católicos do mundo. Muitos desses indivíduos devem ser influenciados pela visão da Igreja, segundo a qual a vida deve ser prolongada sempre que possível, até mesmo com medidas heroicas.

Em disputas judiciais, nos EUA e em outros países, a Igreja sempre se posicionou contrariamente à vontade de familiares que desejavam desligar os aparelhos de suporte vital de pacientes em estado vegetativo persistente (embora atualmente a instituição condene apenas os procedimentos que buscam ativamente acelerar a morte, e não os pacientes que rejeitam tratamento ou a utilização de medicamentos que, ao aliviar a dor, acabam precipitando a morte).

No Brasil, 83% dos entrevistados dizem que a religião desempenha “papel fundamental” na maneira como eles pensam sobre os cuidados de fim de vida, contra 50% dos americanos e 46% dos italianos. No Japão, só 13% dizem que a religião tem papel decisivo em sua visão sobre o que é mais importante no fim da vida. Em outros levantamentos, a maioria dos japoneses se diz ateia ou afirma não estar formalmente ligada a nenhuma religião. Apesar disso, a ideia de “paz espiritual” tem destaque no Japão, onde ocupa a segunda posição entre as questões que mais importam quando a morte se aproxima. 

Os pesos relativos que as pessoas atribuem ao prolongamento da vida e ao alívio do sofrimento na hora da morte também são impactados pela qualidade dos cuidados disponíveis, assim como pela expectativa que as pessoas têm em relação ao tratamento que receberão quando estiverem morrendo. No Brasil, para 90% dos entrevistados o sistema de saúde do país é “razoável/ruim”, ao passo que nos três outros países essa proporção fica entre 54% e 61%. Embora sua Constituição assegure o acesso universal e gratuito à saúde, os brasileiros sabem que a realidade não é bem assim.

Mesmo antes da profunda recessão econômica, que já se estende por três anos, os serviços de saúde do país eram, de forma geral, precários. Mais recentemente, com os hospitais de grandes cidades, como Rio de Janeiro, passando dificuldades financeiras, pacientes têm morrido nos corredores.

Nos EUA, na Itália e no Japão, os entrevistados com ensino superior são os que mais tendem a concordar com a afirmação de que os médicos deveriam se preocupar mais em aliviar o sofrimento do que em prolongar a vida dos pacientes terminais. Indivíduos com escolaridade mais elevada também acham que os pacientes e seus familiares deveriam ter participação mais determinante nas decisões sobre cuidados de fim de vida. 

Quase metade dos americanos negros, e proporção só um pouco menor de latinos, diz que o sistema de saúde dos EUA não se esforça tanto quanto deveria para prevenir a morte. A opinião é compartilhada por apenas 28% dos americanos brancos. Outras pesquisas mostram que os americanos que pertencem a minorias correm mais risco de morrer no hospital do que seus concidadãos brancos. Entre os americanos mais ricos é mais comum morrer em casa ou em asilos do que entre os de renda mais baixa. Isso revela uma amarga ironia: nos EUA, os que mais precisam de cuidados hospitalares são justamente aqueles que geralmente só os recebem quando é tarde demais.

Fonte: Estadão

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