quarta-feira, 6 de julho de 2016

A Escolha dos Diáconos .

O numero de discípulos em Jerusalém (compreendidos aqui todos os que se convertiam a Cristo) cresceu muito naqueles dias, e com isso a movimentação de recursos financeiros que passavam dos mais prósperos para os mais necessitados através dos apóstolos (capítulo 2:45, 4:32,34,35) se tornou bastante volumosa.
Entre os mais necessitados se encontravam as viúvas sem arrimo. Surgiu uma reclamação dos judeus “helenistas”, ou seja, aqueles que habitualmente falavam na língua grega, geralmente originários de outros países e que usavam esse idioma internacional da época.
Segundo disseram, na distribuição de recursos às viúvas, as dos “helenistas” estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Era uma questão de ordem administrativa, sem dúvida importante, mas que exigiria muito tempo e esforço para resolver satisfatoriamente, em vista da quantidade de pessoas envolvidas.
Os apóstolos então convocaram uma assembléia da multidão de discípulos, declararam que não era razoável ter que deixar o seu ministério de pregação e exposição da Palavra de Deus para “servir às mesas”. Este era um verbo grego “diakoneo” que significava servir ou administrar em várias maneiras, sendo aqui a de fazer distribuição de alimentos e outros recursos nas mesas usadas para esse fim.
Duas outras palavras com igual significado são “diakonia” (administração) traduzida como “distribuição” no versículo 1, e “diakonos” (servos, ministros), aportuguesada como “diácono” em Filipenses 1:1 e 1 Timóteo 3:8-13. Os apóstolos mandaram que os discípulos escolhessem dentre eles sete homens a quem pudessem encarregar desse serviço. Seriam, portanto, os primeiros diáconos da igreja.
Os apóstolos definiram em seguida as qualificações necessárias:
  • Conceituados – “de boa reputação
  • Espirituais – “cheios do Espírito Santo
  • Sábios – “cheios de sabedoria
Mais tarde, o apóstolo Paulo repetiu mais detalhadamente: que sejam sérios, sinceros, não dados a muito vinho nem gananciosos, cumpridores da Palavra de Deus, achados irrepreensíveis após experiência, monógamos, pais competentes e bons administradores de seus próprios bens (1 Timóteo 3:8-13).
Os apóstolos, feita a escolha, iriam perseverar na oração e no ministério da Palavra. Notemos que a oração é mencionada em primeiro lugar.
Dos que foram escolhidos, curiosamente a maioria tinha nomes gregos, e eram portanto, provavelmente, helenistas como os que estavam se queixando. Assim sendo, não poderia haver mais reclamação de favoritismo. Os apóstolos oraram e lhes impuseram as mãos, o que apenas indicava que recebiam o seu apoio.
Livres do encargo, os apóstolos puderam desenvolver com mais intensidade a sua missão. A palavra de Deus era divulgada, com o resultado profícuo de se alcançar multiplicação do número de discípulos em Jerusalém e a conversão de muitos sacerdotes.
Um dos homens escolhidos para serem diáconos era Estêvão (“coroa”), cheio de graça e poder de Deus, a tal ponto que fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. Ele é o primeiro homem, fora dos apóstolos, de quem lemos que Deus usou para fazer tais coisas.
Desta vez a oposição começou com alguns homens de uma sinagoga, chamada Sinagoga dos Libertos: mesmo em Jerusalém havia sinagogas freqüentadas por diferentes grupos que se reuniam aos sábados para o estudo das Escrituras. Os “libertos” seriam judeus que haviam sido libertos da escravidão pelos romanos, e vinham de diferentes localidades do império romano.
O próprio Estêvão era provavelmente um helenista, o que explicaria a razão porque a oposição ao seu ministério poderoso partiu dessa sinagoga. Os que ali se reuniam se opuseram ao Evangelho que ele anunciava e discutiram calorosamente com ele, mas não puderam resistir à sua sabedoria, isto é, à sua melhor compreensão e conhecimento e ao Espírito com que falava (conforme prometido pelo Senhor Jesus em Mateus 10:19,20).
Vencidos em seus argumentos, eles provocaram uma sessão do Sinédrio mediante o uso do mesmo método que fora usado para condenar o Senhor Jesus: o suborno de duas testemunhas para acusá-lo de dizer palavras blasfematórias contra Moisés e contra Deus e de declarar que Jesus, o nazareno, haveria de destruir aquele lugar (o templo) e mudar os costumes que Moisés lhes transmitira.
Na verdade Estêvão não havia blasfemado, mas eles haviam pervertido as suas palavras. Destruir o templo e mudar os costumes de Moisés era, no entender deles, suplantar o judaísmo e terminar com a nacionalidade judaica. Insinuar que, ao dizer estas coisas, ele havia negado a origem divina e o caráter do templo e da lei mosaica era uma falsidade.
Estêvão apenas estaria ensinando que o templo e a lei mosaica eram de natureza transitória, servindo a um propósito provisório, até a chegada do Messias Jesus (de quem eram figuras).
O Sinédrio se reuniu para fazer o julgamento de Estêvão, e quando ele compareceu, todos “viram o seu rosto como de um anjo”. Entendemos que, como um anjo é o mensageiro de Deus, contrastado com aqueles religiosos fanáticos e maus, podia se ver no rosto dele uma manifestação da sua sinceridade e pureza de caráter.
Diante da pergunta do sumo sacerdote “Porventura são assim estas coisas?” Estêvão fez o seu discurso, um modelo de oratória, em que defendeu não só a si próprio como, mais ainda, toda a causa do Evangelho, historiando o relacionamento entre Deus e o judaísmo através do tempo, sob o prisma da rejeição de Deus pelo povo. Começou pelo “O Deus da glória” e parou ao ver a glória de Deus.
O seu discurso manifesta o progresso da revelação divina que culmina em Jesus de Nazaré, que não veio destruir a lei ou os profetas, mas cumprir (Mateus 5:17). Seu propósito foi revelar aos seus inquisidores o verdadeiro significado da história israelita em relação aos fatos recentemente ocorridos, de forma que pudessem compreender melhor e julgar a atualidade, e corrigir a sua conduta. O conhecimento que iriam adquirir da sua história e religião sob esse novo prisma os obrigaria a inocentá-lo da acusação de falso mestre e blasfemador.
Resumimos os seus argumentos principais como segue:
1.   A manifestação de Deus a Israel foi gradativa e começou muito antes de Moisés e do templo. Assim sendo, não se completou com Moisés, tendo ele mesmo dito “Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta como eu” (v. 7 a 37).
2.   Em toda a sua história o povo de Israel se caracterizou pela desobediência. Custando a crer e compreender as revelações de Deus, ele O rejeitou e inclinou-se vez após vez à idolatria, e perseguiu e matou os profetas (v. 38 a 53).
3.   Deus não habita em templos construídos por mãos humanas. O povo, em sua idolatria, carregou o tabernáculo de Moloque, mas Deus lhe deu o tabernáculo do testemunho até os dias de Davi, e Salomão lhe edificou uma casa (v. 43 a 48). Mas o profeta Isaías escreveu: “O céu é meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual o lugar do meu repouso? Não fez, porventura, a minha mão todas estas coisas?” (Isaías 66:1,2).
Estêvão terminou acusando os membros do Sinédrio, que representavam o povo de Israel ali, de serem “homens de dura cerviz, incircumcisos de coração e ouvido, resistentes ao Espírito Santo, traidores e homicidas do Justo, não tendo guardado a lei”.
Enfurecidos, e ouvindo Estêvão descrever a sua visão do “Filho do homem” (como Jesus se declarava) no céu, os do Sinédrio o lançaram fora da cidade e o apedrejaram. Ainda assim, ele se ajoelhou e, antes de morrer, clamou bem alto pedindo ao Senhor que não os culpasse.
Não sabemos quem eram os homens piedosos que sepultaram Estêvão, mas é possível que tenham sido membros da igreja ou mesmo judeus piedosos que o conheciam, ou haviam se beneficiado das suas curas.
Fizeram por ele grande lamentação, pois além de tê-lo em grande estima por causa do seu caráter, sabiam que iriam sentir muito a sua falta.
Saulo, mais tarde feito apóstolo Paulo, via e consentia na sua morte.
No mesmo dia em que Estêvão foi apedrejado, levantou-se grande perseguição à igreja. O povo havia sido agitado pelos membros da sinagoga no dia anterior, quando acusaram Estêvão injustamente de blasfêmia. Ao ser, em seguida, condenado pelo Sinédrio, começaram a perseguir todos os da igreja de Cristo, da qual ele era diácono.
Os fariseus desta vez haviam se juntado aos saduceus na condenação, e entre eles figurava o jovem Saulo, que havia assistido e aprovado com prazer a execução de Estêvão. Ele agora liderava a perseguição da igreja, levado pelo seu zelo para com Deus (Filipenses 3:6), algemando e metendo em prisões tanto homens quanto mulheres (cap. 22:3,4).
Paulo lamentou ter feito tal coisa, depois que percebeu o terrível engano que havia cometido (1 Coríntios 15:9), mas a morte de Estêvão, e a perseguição que se seguiu, desencadeou o movimento que espalhou a igreja pelas regiões da Judéia e de Samaria e "os que foram dispersos iam por toda parte, anunciando a Palavra".
Vemos até aqui como os membros da igreja em seus primórdios obedeceram ao que o Senhor Jesus havia comandado:
    • Saíram como Ele havia feito (João 20:21 - Atos 8:1,4).
    • Venderam seus bens, dando-os aos pobres (Lucas 12:33, 18:22 - Atos 2:45, 4:34).
    • Deixaram pai, mãe, casas e terrenos para ir pregar a Palavra em outros lugares (Mateus 10:37 - Atos 8:1,4).
    • Fizeram discípulos e os ensinaram a trabalhar e obedecer (Mateus 28:18-20 - Atos 8:4).
    • Tomaram a sua cruz e seguiram Cristo (Mateus 10:38 - Atos 4:1-3).
    • Exultaram na tribulação e perseguição (Mateus 5:11-12 - Atos 16:25 , 1 Tessalonicenses 1:6-8).
    • Deixaram os mortos enterrar os mortos e foram pregar o Evangelho (Lucas 9:59-60 - Atos 8:2).


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