“Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos”
Apocalipse 20:2
A “antiga serpente”, o segundo animal deste versículo, aparece pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 3:1... “Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”
A serpente, víbora, áspide, basilisco ou cobra que conhecemos hoje é mencionada quarenta e nove vezes na Bíblia, inclusive alegoricamente. É ainda comum em todo o mundo, em um surpreendente número de variedades, e é usada como objeto de adoração ou simples símbolo, figura na mitologia através dos tempos, nas lendas e nas estórias. São poucos os que nunca viram ou ouviram falar sobre uma serpente. Figura na grande maioria dos vocabulários falados e escritos.
Em hebraico a serpente é chamada “naás”, “nashak”, “tsefa”, “tsifone” e em grego é “ophis”, “herpeton”. Mais de quarenta espécies são encontradas na Síria e Arábia. Isaías fala de uma “serpente voadora” (“saraf uf”) (Isaías 14:29, 30:6). Simbolicamente um inimigo mortal, sutil e malicioso é chamado de "serpente" (Lucas 10:19).
A “antiga serpente” tomou uma posição que a destacou de todos os animais que Deus havia criado: “era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito” (Gênesis 3:1). Assim ela influiu decisivamente sobre a natureza e destino dos seres humanos, e, com eles, toda a criação. Tudo era muito bom antes dessa serpente intervir, mas depois veio a maldição de Deus sobre ela e a sua descendência, junto com toda a criação.
A Bíblia não descreve como era a “antiga serpente” quando se apresentou a Eva. É provável que fosse semelhante a um grande lagarto, pois é chamada dragão não só em Apocalipse 20:2, mas também em Isaías 27:1, e um dos castigos que recebeu de Deus foi andar sobre o seu ventre e comer pó todos os dias da sua vida. Em vista dos magníficos desenhos em cores existentes sobre o corpo da maioria das serpentes encontradas hoje, suas descendentes, não é improvável que a “antiga serpente” fosse também um animal vistoso, coberto com escamas coloridas formando lindos desenhos.
Bela e cativante, essa “antiga serpente” não teve dificuldade em se comunicar com Eva no jardim do Éden, e de convencer Eva da mentira que lhe disse. Um animal falante? Salvo o papagaio, que sabe repetir o que ouve, mas sem saber do que se trata, nenhum outro animal que conhecemos atualmente pode se comunicar conosco assim. Não obstante, naquela ocasião a “antiga serpente” falou e Eva entendeu. Ao ser castigada e transformada no animal que hoje conhecemos, ela perdeu essa habilidade e ao que saibamos o único som que ela e seus descendentes produzem desde então não passa de um sibilo e, no caso da cascavel, um chocalho na extremidade da sua cauda.
Depois do acontecimento relatado no capítulo 3 de Gênesis a palavra “serpente” e as outras aplicáveis ao mesmo animal aparecem várias vezes, algumas em conexão com suas mordidas, seu veneno e sua língua bifurcada, ilustrando o cumprimento do destino que Deus deu ao relacionamento entre ela e a mulher: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3:15). A primeira vez que aparece novamente é em Gênesis 49:17... “Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os calcanhares do cavalo, de modo que caia o seu cavaleiro para trás”: nesta profecia de Jacó a serpente é usada como símbolo dos que indiretamente praticam ações maléficas para prejudicar alguém. Foi a tribo de Dã que introduziu a idolatria que eventualmente destruiu a nação de Israel.
Deus algumas vezes fez uso de serpentes: transformou a vara de Arão em uma serpente para impressionar o faraó do Egito com um milagre (Êxodo 7:10); mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que o mordiam e morreu muita gente em Israel (Números 21:6), depois mandou Moisés fazer uma serpente de bronze e levantá-la numa haste para que quem fosse mordido pudesse olhar para ela e fosse curado (Números 21:8).
O Senhor Jesus mencionou serpentes várias vezes: recomendou aos discípulos que fossem prudentes como as serpentes (Mateus 10:16), chamou os escribas e fariseus do Seu tempo de “serpentes, raça de víboras” por causa da sua hipocrisia e iniquidade (Mateus 23:29-33). Talvez mais famosamente Ele usou a figura da serpente de bronze feita por Moisés e levantada numa haste como exemplo de como Ele seria também levantado para que todo aquele que nEle crê tenha a vida eterna (João 3:14).
Essas observações sobre esse animal nos levam à conclusão que, embora seja nocivo por causa da sua natureza agressiva, seus ataques inesperados e seu veneno mortal, resultantes da maldição pronunciada sobre ele no Éden, ele não personifica o Diabo ou Satanás.
Também a “antiga serpente”, uma espécie de “dragão”, foi apenas um instrumento usado por aquele inimigo de Deus para enganar Eva fazendo com que ela, e seu marido depois dela, desobedecessem à ordem que Deus lhes havia dado. Que Satanás foi o tentador e usou a antiga serpente apenas como seu instrumento é evidente:
Embora a serpente fosse “o mais astuto dos animais do campo”, capaz até de falar, ela não tinha as elevadas faculdades intelectuais requeridas para ser o tentador. De toda a criação na terra, só o homem foi feito à imagem de Deus e assim dotado de intelecto, bem como espírito.
No Novo Testamento somos informados, ou é assumido de várias maneiras, que o responsável direto pela sedução dos nossos primeiros antepassados foi o próprio Satanás (João 8:44; Romanos 16:20; 2 Coríntios 11:3, 11:14;Apocalipse 12:9, 20:2).
A “antiga serpente” era “o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito”. Era apenas um animal do campo, mas o mais astucioso de todos e fez a obra do adversário tentando prejudicar a obra-prima da criação. (A palavra “adversário” é a tradução correta para o português do original hebraico “satã”. Esta continua figurando nas traduções da Bíblia para o português como no original ou modificado ligeiramente para “satanás”, para indicar o maior adversário de Deus, que é um anjo rebelde).
Eva inutilmente procurou justificar-se pela sua desobediência ao mandado de Deus, dizendo: “A serpente enganou-me, e eu comi.” (Gênesis 3:13). Contudo Deus não eximiu a “antiga serpente” totalmente de culpa. O castigo que a “antiga serpente” recebeu de Deus foi a humilhação de se arrastar pelo chão, de ser maldita dentre todos os animais domésticos e selvagens, e de sua descendência ser inimiga da descendência da mulher.
O relato bíblico sobre a “antiga serpente” não é apenas uma parábola, ou ficção alegórica como querem alguns. A Bíblia nos diz nas palavras de Paulo, em 2 Coríntios 11:3... “Mas temo que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos e se apartem da simplicidade e da pureza que há em Cristo”. Se o relato não fosse um fato, não serviria como exemplo.
Toda mentira e engano, é fazer a obra do Adversário, que é “o pai da mentira” como nos ensina o Senhor Jesus (João 8:44). A Bíblia nos diz: “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor” e “quanto a... todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte”. (Provérbios 12:22 e Apocalipse 21:8).
A experiência que Eva teve com a malignidade da “antiga serpente” nos serve de alerta contra as “serpentes humanas”, que também se apresentam formosas e persuasivas e nos desviam dos caminhos de Deus para desobedecer a Sua vontade. Será um desastre para nós se forem corrompidos os nossos entendimentos por uma delas para nos apartarmos da simplicidade e da pureza que há em Cristo.
Estejamos sempre apegados à verdade, a Palavra de Deus, para escapar à possibilidade de sermos utilizados pelo Adversário para divulgar suas mentiras, teorias sem fundamento na realidade e falsas interpretações do que a Bíblia diz. Estas são tão abundantes atualmente e concorrem para que os incrédulos não alcancem a salvação das suas almas mediante o único Caminho que Deus nos abriu: a fé na obra redentora do nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo.