Os sistemas de defesa antiaérea da Síria derrubaram neste sábado um caça-bombardeiro F-16 de Israel que participava de uma missão de represália em território sírio. Os dois pilotos puderam abandonar o aparelho, foram resgatados no norte de Israel e levados ao hospital de Haifa, segundo informou um porta-voz das Forças Armadas. Trata-se do mais grave incidente no qual se envolveu o Estado judaico nos quase sete anos de guerra civil no vizinho país árabe, e da primeira aeronave israelense derrubada desde 2006. O F-16 e outros sete aviões de combate haviam destruído as instalações perto de Palmira de onde partiu um “drone iraniano” interceptado poucas horas antes por um helicóptero Apache quando se dirigia a Beit Shean, no vale do Jordão, norte de Israel.
O Exército sírio afirma que disparou mísseis terra-ar em resposta à “agressão contra uma base militar no centro do país às 4h30 e que “mais de um avião” israelense foi atingido, de acordo com um comunicado divulgado pela agência estatal de notícias SANA. Uma nova incursão israelense conta postos militares sírios na província de Damasco foi registrada pouco depois. Um porta-voz militar israelense declarou que sua aviação havia lançado uma operação em grande escala, que afetou uma dúzia de instalações: oito baterias antiaéreas sírias e quatro objetivos iranianos na Síria. Nesta segunda incursão não foram registrados danos nem baixas, apesar de os aparelhos terem sido atacados com cerca de vinte foguetes terra-ar SA-17 e SA-5
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o chefe do Estado-Maior, general Gadi Eisencot, mantêm reuniões com um gabinete de emergência para avaliar uma nova resposta à crise. “Irã e Síria estão brincando com fogo”, advertiram as Forças Armadas. “Israel não busca uma escalada, mas fará com que os inimigos que fizerem isso paguem um alto preço”, acrescentou o porta-voz militar, que especificou que apenas a Síria disparou contra os aviões israelense, sem intervenção de seus aliados russos e iranianos. Um comunicado conjunto da aliança síria-iraniana, citado pela Reuters, advertiu Israel de que prepara uma reação “séria e grave” a suas ações de “terrorismo". A mesma fonte desmentiu que o drone tivesse penetrado no espaço aéreo israelense e afirmou que o aparelho não tripulado participava de uma missão comum contra milícias do Estado Islâmico.
Israel bombardeou no território sírio em mais de uma centena de ocasiões, arsenais e comboios de transporte de armas da guerrilha pró-iraniana do Hezbollah – em 2006 o país travou uma guerra de grande escala no Líbanocontra os combatentes desse grupo. Também derrubou anteriormente aviões não tripulados que seu Exército considerava iranianos e destruiu instalações militares sírias, sobretudo radares e sistemas de defesa aérea.
A interceptação do drone, cujos restos foram capturados pelo Exército, e o ataque israelense de represália dispararam os alarmes antibombardeio nas Colinas de Golã (planalto sírio ocupado por Israel desde 1967), no vale do Jordão e na Alta Galileia israelense, onde a população civil se abrigou em refúgios. O espaço aéreo do norte de Israel permaneceu fechado e o aeroporto Bem Gurion, a principal via de acesso ao Estado judaico, suspendeu suas operações de decolagem e limitou as aterrissagens durante 20 minutos.
O F-16 regressava a sua base com sua esquadrilha depois de ter destruído o caminhão do centro de controle do drone iraniano, perto de Palmira, e suas instalações de lançamento quando foi alcançado por uma enxurrada de foguetes da defesa antiaérea síria. O caça caiu ao lado de uma estrada situada no vale de Jezreel, no norte de Israel, segundo as imagens mostradas pela mídia digital israelense. Os dois pilotos se salvaram depois de terem usado os sistemas de ejeção e foram removidos para um hospital de Haifa. Um deles, gravemente ferido, está na Unidade de Terapia Intensiva, e o outro apresenta lesões leves.
No último incidente registrado, aviões de combate de Israel lançaram na madrugada de quarta-feira um ataque contra uma unidade de mísseis situada perto de Damasco. O regime do presidente Bashar al-Assad afirmou que a maioria dos foguetes – disparados por aparelhos israelenses da fronteira libanesa– foi interceptada pelos sistemas de defesa antiaérea.
Sirenes de alarme a estado de alerta
A região central da capital da Síria e grande parte do norte e leste de Israel se encontram sob estado de alarme, em razão da previsão de novos enfrentamentos entre ambos os países. O Exército israelense confirmou também que a região de Golã está em alerta máximo por possíveis impactos de foguetes, afirmou o porta-voz das forças israelenses Jonathan Conricus em sua conta no Twitter.
Netanyahu visitou as Colinas de Golã com os principais integrantes de seu Governo. “Estamos preparados para enfrentar qualquer situação; não recomendo a ninguém que nos ponha à prova”, advertiu na fronteira o chefe do Governo judaico, em alusão às crescentes ameaças que percebe no Líbano e na Síria. A milícia xiita do Hezbollah dispõe de mais de 100.000 foguetes de curto e médio alcance, segundo informações da inteligência militar israelense. O Governo israelense teme que o Irã, aliado do regime de Damasco e do Hezboillah, consolide sua posição militar em ambos os países vizinhos depois de ter contribuído para o avanço territorial do regime na guerra síria.
Israel responde sistematicamente com represálias contra o Estado sírio ante qualquer queda acidental de projéteis procedentes de combates no país árabe. No incidente considerado até agora o mais grave entre Israel e a Síria, as forças de Assad dispararam em março um foguete balístico depois de uma incursão aérea israelense. O escudo antimísseis Arrow o interceptou no ar quando ia cair em uma área ao norte de Jerusalém.
Israel continua tecnicamente em estado de guerra com a Síria desde que em 1949 selou um armistício com os países árabes que tentaram impedir pela força a criação do Estado judaico. A situação do conflito sem hostilidades se manteve depois das guerras de 1967 (dos Seis Dias) e de 1973 (do Yom Kippur), em que a Síria tentou recuperar sem êxito o Golã, posteriormente anexado por Israel sem aprovação internacional.