segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Maldade do Homem: A causa do dilúvio

 




“Chegamos agora a uma parte profundamente importante e fortemente acentuada deste livro. Enoque tinha desaparecido de cena. A sua carreira, como estrangeiro na terra, tinha terminado na transladação para o céu. Ele fora levado antes que a maldade humana tivesse atingido o seu máximo, e, portanto, antes do julgamento divino ter sido desencadeado”


O desenvolvimento da humanidade diante dos nossos olhos não tem sido sem problemas: o aumento da desgraça, seja na natureza ou na humanidade, demonstra que a vida distante de Deus não pode produzir Vida com Deus, ainda que possa ser cercada de avanços tecnológicos, científicos, educacionais, artísticos etc. A narrativa da descendência de Caim deixou isso evidente, do mesmo modo que demonstrou que os descendentes de Sete não foram grandes homens de negócio, ou de referência na história da humanidade: o legado que deixaram foi o da santidade, vida com Deus e esperança em Deus. Esse legado não foi um grande legado para a humanidade, do ponto de vista da humanidade, mas certamente foi a razão pela qual esse mundo não fora destruído antes.
Por outro lado, que terrível mal poderia acometer a humanidade se os descendentes de Sete se misturassem com os de Caim? O que aconteceria se os filhos de Deus se juntassem com as filhas dos homens? O que aconteceria se aqueles que prezavam por Deus e o adoravam passassem a se envolver com as coisas do mundo? E se seus casamentos passassem a demonstrar que tipo de preferência eles tinham: apreço ao prazer pessoal em detrimento de uma vida centrada em Deus? Bom, em Gênesis 6 vemos que em função desse tipo de postura, o desenvolvimento da maldade da humanidade se desenvolveu a tal ponto que Deus resolveu dar cabo da humanidade. Essa história é um claro lembrete de quem Deus é e o que espera de seus filhos. Vamos ao texto.

A. Desgraça do homem:

O que temos percebido na narrativa de Gênesis é que o desenvolvimento da humanidade é seguido do crescimento e expansão da maldade do homem. Em Adão vimos a mentira, a terceirização da culpa, mas em Caim vemos o desgosto (inveja), a ira, o assassinato, a indiferença e o egoísmo. Entre seus descendentes ainda vemos a poligamia, o assassinato por retribuição desnecessária e a soberba e o auto-louvor por ser assim. Por isso, não é de surpreender o relato de Moisés na seqüência da história: a medida que o homem se multiplica a maldade cresce com ele. Esse aprendizado logo foi inserido na cultura e mentalidade judaica: “Quando os perversos se multiplicam, multiplicam-se as transgressões” (Pv.29.16).

1. Multiplicação:

O texto de Gênesis aqui é bem específico ao contar o desenvolvimento da humanidade, e o modo como retrata esse fato pode muito nos instruir sobre o modo como Deus permite o avanço do homem: Embora o rumo primário da humanidade caída foque a distância de Deus, Ele pacientemente trata com suas criaturas. Contudo, quando a perversão se torna insuportável, Ele graciosamente exerce Seu Justo Juízo, em destruição e devastação.

…se foram multiplicando os homens: O primeiro destaque a ser feito nessa sentença é o uso do termo hebraico adam, que já fora usado por Moisés em descrição de Adão o primeiro representante da humanidade. Nesse caso, o substantivo vem com o artigo prefixado o que sugere o uso genérico do termo: humanidade. As versões mais contemporâneas e em alguns casos mais parafraseadas já adotam esse uso aqui reforçando a extensão do crescimento numérico e imoral dos seres humanos. Portanto, desde seu início se percebe o foco abrangente que o texto apresenta os fatos narrados aqui: O pecado havia tomado toda a humanidade, exceto um homem identificado pouco a frente na narrativa – Noé (Gn.6.8).

…naquele tempo havia gigantes na terra: Embora nenhuma referência específica de tempo tenha sido oferecida na narrativa mosaica, temos por certo que trata-se de um tempo em que já existiam gigantes na terra (hb. nephilim). O termo é de significado incerto, muito embora quase todas as versões em português sigam a Vulgata na sua preferência por Gigantes. A LXX também traz um termo interessante aqui “gigantes”, usado para descrever na literatura clássica, homens valentes e poderosos que foram destruídos pelos deuses. Algumas versões inglesas optam por apenas transliterar o termo para tentar transmitir uma proximidade mais acurada do texto. Entretanto, a transliteração nesse sentido em nada ajuda, pois não conhecemos nenhum paralelo em inglês ou em nosso luso idioma.
Toda a tradição judaica, e posteriormente a cristã, entendeu a expressão como a descrição de homens poderosos e valentes. Aliás, o texto denota exatamente isso: “estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade”. Seja o termo uma referência ao tamanho físico ou da valentia deles, pouco importa, o fato é que tais homens já existiam antes da mistura racial entre os descendentes de Sete e Caim. Sobre isso Derek Kidner atesta: “Vale a pena observar que não se diz que os gigantes provieram exclusivamente dessa origem. Se alguns surgiram desse modo (e também depois), outros já existiam (naquele tempo)”. Sailhamer parece concordar com esse parecer quando diz: “O sentido da frase wegam ahare-ken aser não define os hannepilim como descendentes da união dos filhos de Deus e as filhas do homens. Além disso os estavam na terra (…) naqueles dias e (…) também depois do tempo da união dos filhos de Deus e as filhas dos homens”. Essa observação é importante na definição de quem são os filhos de Deus, pois aqueles que defendem que estes são seres angélicos defendem que a única origem para os Gigantes seria a união entre tais seres e as mulheres. Entretanto, o texto define que eles já estavam em existência antes da suposta união entre os filhos de Deus e as filhas dos homens, fragilizando o argumento em defesa de seres angélico.
É importante notar que a origem da tradução para “gigantes” em português provém de uma tardia e má compreensão influência da LXX, preservada na Vulgata, adotada na KJV e absorvida em diversas das versões em português. O termo grego nada tem a ver com pessoas de alta estatura, mas se refere a pessoas nascidas nessa terra, ou “earth-born”, como prefere Adam Clarke. A idéia é de pessoas terrenas, com hábitos dessa terra. O termo latino já tem certa proximidade com o usado pelas versões inglesas e portuguesas, entretanto, o termo hebraico não se define assim, na verdade a idéia e de pessoas caídas em sua moralidade e não gigantes. Esses homens depravados já existiam na terra e a marca da sua perversão se estendia por toda a terra.

2. Sedução:

Outro aspecto que podemos notar no desenvolvimento da humanidade é usa preferência pessoal pelo prazer. A descrição encontrada para descrever a humanidade é muito semelhante àquela encontrada para descrever a queda de Eva: ver, desejar, tomar. Deve ser por isso que João, em sua primeira carta, estabelece que as coisas que existem no mundo, que não devem ter nossa atenção (amor) são: desejo da carne e dos olhos e a soberba da vida (1Jo.2.16).

…vendo os filhos de Deus: A primeira descrição dos filhos de Deus aqui inclui a visão, mas a questão não era o que estava diante dos seus olhos, mas em que você coloca seus olhos. Certamente as escrituras não estão defendendo que nessa época apenas belas mulheres existissem, mas que os olhos dos filhos de Deus estavam focados nelas. Deve ser por isso que as escrituras constantemente nos ensinam a cuidar dos nossos olhos (Pv.3.21; 4.21; 16.30; 2Pe.2.12-15), pois são eles a lâmpada do corpo, e portanto, se forem bons os olhos, todo o corpo o será (Mt.6.22). Entretanto, se a luz do corpo se tornar em trevas, em densas trevas estarão (Mt.6.23).
O início do relato do dilúvio nos dá a impressão de que a humanidade não estava apenas destituída de uma visão saudável da vida com Deus, mas seus olhos estavam fitos no prazer pessoal. A preferência pelo eu, a marca registrada do pecado, havia se alastrado por todos os lados e havia atingido todos os seres humanos, até mesmo aqueles que professavam sua fé em Yahweh.
É importante lembrar o leitor que a expressão “filhos de Deus” aqui não é uma referência a seres angélicos, mas uma referência aos descendentes de Sete (para mais informações veja: Questões sobre o Dilúvio). Alguns comentaristas vêem nessa expressão uma referência aos seres angélicos em função do uso da mesma expressão (hb. bünê-hä|´élöhîm) no livro de Jó (Jó.1.6; 2.1; 38.7) e em outros lugares no VT (Sl.89.6; Dn.3.25) como uma referência a eles. Entretanto, todas as vezes que o termo é usado ele descreve “anjos” como seres espirituais a serviço de Deus e não como seres espirituais a serviço de paixões carnais. Parece muito improvável que Moisés usaria uma expressão tão nobre para descrever “demônios”, fato que não aconteceu em todo VT. Outro detalhe que merece nossa atenção é que Moisés usa outro termo para se referir a seres angélicos no Pentateuco, “ma’alk” usado 34x para descrever seres angélicos. Em nenhuma ocasião ele usou a expressão de Gn.6 para se referir a seres angélicos. Isso certamente demonstra que é muito improvável que Moisés tenha feito um uso diferenciado aqui.
Mais importante ainda é que Moisés usa uma expressão similar a encontrada em Gn.6.2 para descrever pessoas: “Filhos sois do SENHOR, vosso Deus” (Dt.14.1; cf. Dt.32.5). Nessa expressão “filhos do Senhor” (hb. banim YHWH) é uma clara descrição de seres humanos, e nenhuma razão há para se dizer que se trata de seres angelicais. Diversas vezes no AT a nomenclatura de “filho” de Deus faz referência ao povo de Deus (Sl 73.15; Is 43.6; Os 1.10, 22.1). Todas essas designações demonstram que a terminologia exige que o modo mais natural de ser entendido o texto é em referência a seres humanos.
Outro detalhe importante é que quando Moisés descreveu a vida de Enos, ele usou a seguinte expressão: “daí se começou a invocar o nome do SENHOR” (Gn.4.26). Adam Clarke sobre isso afirma que “os homens começaram a chamar-se pelo nome do Senhor, essas palavras demonstram que no tempo de Enos os verdadeiros seguidores de Deus começaram a distinguir-se, e serem distinguido por outros, pela denominação de filhos de Deus”. É bem verdade que tal expressão fala em primeiro lugar sobre a adoração do povo de Deus (Gn.12.8, 13.4; 16.13; 21.33; 26.25), mas também denota uma identidade pessoal de pertencimento a Yahweh. Segue-se que na descendência de Sete houve a manutenção da verdadeira adoração a Yahweh como Deus Salvador, e que tal identidade religiosa foi transmitida de geração em geração e grandes homens de Deus fizeram história nessa descendência (Enos, Enoque, Noé).
A tragédia desse texto, todavia, é a demonstração de que mesmo aqueles que invocavam o nome de Yahweh, seus verdadeiros adoradores, estavam se corrompendo e buscando uma vida centrada em seus próprios prazeres. A idéia aqui não é tanto de perversidade sexual, mas de jugo desigual: Os filhos de Deus estavam se casando com mulheres que não eram seguidoras de Yahweh. Ou seja, mesmo entre os verdadeiros adoradores, Yahweh passou a ser ignorado e a busca pelo prazer pessoal exaltada. Essa é a grande tragédia do pecado de Gênesis 6: ninguém na humanidade havia restado como representante da verdadeira adoração a Yahweh, exceto Noé, homem justo e íntegro.

…filhas dos homens eram formosas: As filhas dos homens aqui é uma referência a descendência de Caim, tratam-se de mulheres que não eram marcadas por uma vida piedosa diante de Yahweh: São mulheres que viviam segundo os padrões da humanidade, por isso “filhas dos homens”.

…tomaram para si: É interessante Moisés usar essa expressão, pois tal expressão é usada para descrever relacionamentos matrimoniais e não perversões sexuais, observe: “Abrão e Naor tomaram para si mulheres; a de Abrão chamava-se Sarai, a de Naor, Milca, filha de Harã, que foi pai de Milca e de Iscá” (cf. Gn.4.19; Jz.21.18; Rt.1.4). A NIV já assumiu o uso do termo e traduziu assim o verso: “e os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram belas e então se casaram com qualquer quer uma que escolhessem”. Essa idéia é totalmente avessa a uma suposta ação demoníaca: Por que razão seres angelicais deixariam a presença de Deus para se casar? Por que valorizariam a oficialização de seus relacionamentos? Não faz o menor sentido encontrar nessa declaração a ação de seres angélicos, aliás, é contraditório ao testemunho das escrituras que afirma que anjos não sem casam nem se dão em casamento (Mc.12.25; cf. Mt.22.30; Lc.20.25). Além disso, se anjos foram responsáveis por tais acusações, por que razão ficaram impunes ante ao juízo de Deus, que destruiu todos os seres viventes, animais e homens, além de afirmar que tal juízo também era para a terra (Gn.6.13)?

3. Conquista:

Outra característica que acompanhava os seres humanos naquela ocasião era sua disposição para a conquista. É fato que tal disposição não parece tão clara, mas o modo como Moisés apresenta a humanidade nos dias de Noé nos faz pensar que o seu foco não era muito distinto daquele encontrado na humanidade do período da Torre de Babel: a idéia era ter o nome célebre. O texto mesmo dá a entender que a reputação de alguns desses homens era de homens valentes, pois eram varões de renome.

…também depois: Já notamos que essa sentença é a garantia da demonstração que tais Nephilins já existiam antes do encontro entre os filhos de Deus e as filhas dos homens, e também depois disso existiram. A idéia aqui é que tal união não preservou ou restaurou a verdadeira adoração a Yahweh, antes, manteve a depravação da humanidade. Ou seja, a linhagem que havia se dedicado no passado a andar com Deus e a invocar Yahweh já não mais prezava por sua identidade de filhos de Deus, nem mesmo para o culto prestado a Ele: agora até mesmo seus filhos eram seres humanos depravados.

…filhos de Deus possuíram: A expressão aqui é um pouco mais enfática que aquela encontrada no versículo 2: “tomaram para si”. Enquanto a primeira expressão fala de uma união matrimonial essa fala sobre relacionamento sexual. Em hebraico, Moisés usa o termo “bow’” que tem por sentido mais simples “entrar” como é visto nas mais antigas versões em português, inclusive nesse verso (ACF, ARC), mas é usado aqui como um eufemismo para o relacionamento sexual.

…valentes: O termo hebraico “gibbowr” é usado aqui e em mais 3 lugares no Pentateuco (Gn.10.8, 9) e todos tem a conotação de homens poderosos, exceto Dt.10.17: “Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno”.

…varões de renome: Eles eram homens famosos, ou melhor, infames, pois para alguns homens obter um nome no mundo, não por sua bondade, mas por sua grandeza, e às vezes por sua grande maldade, é o mais importante. Sua sede é a conquista, a superioridade, não importando o modo como se conquista o que se busca. Além de depravados esses homens eram reconhecidos por suas conquistas, seja na caça, nos múltiplos casamentos ou outras façanhas de baixa moral: Esses eram homens lembrados por suas conquistas, e por elas foram mortos pelo Senhor.


B. A Interação de Yahweh:

Aquela criatura que havia sido a coroação de toda a criação, feito apenas pouco menor que os seres angélicos, coroados de glória e honra pelo próprio Yahweh, a quem o próprio Deus havia concedido o privilégio de o representar ante toda a criação (Sl.8.4-6), agora estava distante de seu Criador, depravado em suas vontades e focado na maldade. A perversão havia atingido até mesmo aqueles que haviam andado no passado com Deus: agora eles viviam em busca de fama e reconhecimento, casando-se com as mais belas das mulheres apenas pela busca do prazer e demonstravam por fato que sua vontade era totalmente má. Entretanto, o Criador de toda a Terra não está ausente, nem dormindo para que não veja o que acontece. Na verdade, Ele vê, sofre e intervém. Esse é o relato de Gênesis 6 no que se diz respeito a Yahweh: Ele não é um Deus ausente, Ele é um Deus que Interage.

1. O Decreto de Yahweh:

O primeiro modo pelo qual vemos Yahweh interagir com a humanidade é a imposição de seu Decreto. Nesse texto vemos não apenas um Deus que sabe ou conhece a situação da humanidade; Yahweh é apresentado como Senhor Soberano sobre a terra, que exerce seu julgamento.

a. Abstenção Divina: A primeira manifestação do decreto divino é expressa pela manifestação de seu descontentamento com a humanidade. Suas palavras são fortes e claras: “Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para sempre no homem”. Mas, que quis dizer o Senhor com tal expressão?
Não agirá meu espírito: A primeira pergunta que temos que responder refere-se ao sentido do verbo em português “agir”: Em que sentido o Espírito de Deus não “agirá” mais no homem? O termo hebraico “duwn” pode significar “contender” ou até mesmo “permanecer”, sentido usado pela LXX (Gr. katamenö), embora normalmente seja usada com o sentido de “exercer julgamento”. Diferentes versões apresentam diferentes interpretações para essa expressão, por exemplo, a New Jerusalém Bible (NJB) opta por entender o termo com o sentido da responsabilidade divina sobre o homem: “Meu espírito não pode ser responsável por tempo indeterminado pela humanidade”. Esse sentido é visto na Bíblia na Linguagem de Hoje, cujo texto reflete a mesma idéia, embora prefira outros termos: “Não vou proteger o homem por muito tempo”. Já a Complete Jewish Bible prefere a idéia da permanência do Espírito de Deus eternamente no homem, idéia apoiada por diversas versões: “Meu espírito não viverá na humanidade para sempre”. A preferência da ARA pelo verbo “agir” é uma adaptação do sentido comumente encontrado nas versões portuguesas, “contender” que dá a idéia de interação divina, evitando a idéia de permanência do Espírito de Deus no homem.
Todas essas versões estão na verdade buscando um modo de verter o termo hebraico que normalmente está ligado ao juízo ou julgamento. Provavelmente Keil & Delitzsch estejam corretos quando traduzem o termo com o sentido de autoridade que o termo parece impor ao texto: “Meu Espírito não mais exercerá domínio no homem para sempre”. Com isso, a idéia não é que Deus deixaria de permanecer no homem, fato que, de acordo com o Novo Testamento seria impossível nessa ocasião, mas que Deus deixaria de exercer sua influência pessoal na humanidade. Ou seja, Deus deixaria de estar, ou até mesmo permanecer, entre os seres humanos.
Sendo assim, a humanidade fora largada à sua própria conduta, pois Deus julgou necessário se fazer ausente dessa humanidade que faziam de conta que Ele não existia. Em outras palavras, vemos Deus retribuindo ao homem sua apatia e desconsideração: Deus age, interage e responde ao homem à altura de suas ações. Aconteceu na sociedade de Noé, o que Paulo também atestou em outras palavras sobre a sua: “Deus entregou os homens tais homens à imundícia (…) paixões infames (…) e a uma disposição mental reprovável” (Rm.1.24, 26, 28).
Adam Clarke parece ter visto esse mesmo sentido no termo, e sobre o texto afirmou:

“É somente pela influência do Espírito de Deus que a mente carnal pode ser subjugada e destruída, mas aqueles que voluntariamente resistem e entristecem o Espírito devem ser finalmente deixados à dureza e a cegueira de seus corações”

Lutero parece ter encontrado sentido similar nessa passagem:

“Eu interpreto as palavras simplesmente para dizer, que o Senhor, como se tivesse cansado da teimosia obstinada do mundo, denuncia a vingança como o presente, que até então havia sido adiada. Quando o Senhor suspende a punição, Ele, em certo sentido, se contende com os homens, especialmente através de ameaças ou de exemplos de castigo suave e convida-os ao arrependimento. Entretanto, ele já o tinha feito há alguns séculos com o mundo, que, no entanto, estava perenemente se agravando. E agora, como se estivesse exausto, Ele declara que ele seu espírito não contedenderá com o homem mais”

Em outras palavras, percebemos que a primeira manifestação divina é oferecer ao homem o que ele parece buscar: Liberdade para realizar o que bem intentar. Tal liberdade oferecida pela abstenção da manifestação divina naquela sociedade fez com que a libertinagem crescesse irremediavelmente. A maldade se espalha, a humanidade se corrompe e tal sociedade merece receber de Deus seu Juízo. A abstenção divina de governo sobre o homem acresce neste o desejo da livre agência, e suas realizações carnais parecem agora fatais.

…para sempre no homem: A partir desse ponto aprendemos que a ação divina na humanidade não é constante, mas que Deus pode manifestar-se em sua abstenção. Essa decisão divina está em conformidade com seu caráter, que não tolera o erro e o pecado, mas que se permite oferecer ao pecador tempo antes de proferir seu juízo eliminatório, pois como Deus amoroso que é, sempre oferece oportunidade para arrependimento e perdão, como vemos nessa história.

b. Misericórdia: A segunda manifestação do decreto divino é vista em sua misericórdia, como lemos: “O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos”.

…pois este é carnal: A razão da abstenção divina na atuação entre os homens é que os tais são carnais. O sentido aqui parece supor tanto a mortalidade dos homens, como a NET e a NIV parecem ressaltar, como seu caráter. Essa conclusão parece clara quando entendemos o contraste entre o Espírito de Deus e a carnalidade do homem: É um claro paralelo entre eternidade divina e efemeridade humana, bem com da santidade de Deus e sacanagem do homem.

…os seus dias serão cento e vinte: Essa imposição divina não trata-se da estimativa de vida dos seres humanos, mas do tempo de manifestação de sua ira, como Pedro nos instrui: “os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca” (1Pe.3.20). Ao que esse texto indica, Deus além de se abster de convencer o homem de suas maldades, ofereceu tempo para sua ação disciplinadora. Ele poderia tê-los dizimado instantaneamente, mas optou por sua longanimidade oferecer ao homem oportunidade de arrependimento. Esse exercício da paciência de Deus testemunha sua paciência e longanimidade para com o homem, que embora mereça receber sua ira recebe ainda tempo para seu arrependimento.


c. Juízo: A terceira manifestação do Decreto Divino encontra-se na sua firme decisão de exercer juízo àquela geração pecadora. A decisão de Deus é clara: “Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus” (Gn.6.7)
Farei desaparecer: Até aqui vemos as escrituras apresentarem a morte do homem como natural ao curso de sua vida, com algumas exceções pelo caminho, como Abel, assassinado por seu irmão, e alguns dos possíveis ataques de Lameque. Contudo, a designação divina aqui se propõe a dizimar a humanidade, como nos lembra Albert Barnes: “Agora, uma geral e violenta destruição alfigirá toda a humanidade como um monumento da divina ira contra o pecado para todas as gerações futuras da única família salva”. Para tentar descrever o desprazer de Deus com o homem, John Gill oferece a seguinte ilustração:
“Apesar de serem eles minhas criaturas, fruto do trabalho de minhas mãos, Eu os fiz do pó da terra e os fiz senhores sobre toda terra; mas agora Eu decidi demonstrar minha desaprovação por sua perversidade, e pela honra da minha justiça vou destruí-lo da face da terra. Como um oleiro que pega um vaso que desgosta, um que ele mesmo tenha feito, e o quebra em pedaços, eu farei desaparecer o homem da terra”

Explicando o mesmo texto, Mathew Henry utiliza duas figuras para tentar expressar o sentido auferido pelo texto: (1) Como pó ou sujeira é varrida e jogada no monturo o ser humano será desaparecer da terra; (2) Como uma sentença de um livro apagado por seu autor, o ser humano terá sua existência apagada na terra, por seu próprio autor.

..homem e animal: O pecado dos seres humanos tem conseqüências. Como já vimos, o pecado de Adão foi suficiente para amaldiçoar toda a terra, e agora, o pecado do homem trouxe juízo para toda a criação, afinal, a criação sofre (geme) na expectativa de sua libertação (Rm.8.22). Mas, qual a razão de um julgamento tão abrangente? João Calvino nos instrui:
“A terra era como uma casa rica, bem favorecida com cada tipo de disposição em abundância e variedade. Agora, assim que o homem contaminou a própria terra, com seus crimes, e tem vilmente corrompido toda a riqueza com que foi suprido, o Senhor determinou que o monumento de sua punição deveria ser colocado lá: como se um juiz, a punir um mais perverso e abominável crime, deve, em prol da maior infâmia, define que sua casa deve ser destruída desde a fundação. E tudo isso tende a inspirar-nos com um temor do pecado, pois podemos facilmente inferir quão grande é a sua atrocidade, quando a punição é estendida até mesmo para a criação natural”

2. A visão de Yahweh:

O segundo modo que vemos Yahweh interagir com a humanidade é sua constante atenção aos seres humanos. O texto usa a figura de um Deus que vê. É certo que Deus não tem olhos como nós, mas Aquele que criou os olhos estaria cego à desgraça da humanidade? Certo que não. Sobre esse fato, Barnes afirmou: “O curso do mundo primitivo foi uma grande experiência a passar diante dos olhos de Deus e de todos os observadores inteligentes, e manifestar a profunda depravação e a contínua degeneração da raça caída”.

Viu o Senhor: É interessante que esse texto comece a apresentar a Deus do modo como se entende uma pessoa. A intenção aqui não é defender a existência de olhos em Deus, como se este tivesse corpo, mas que o Yahweh não é um Deus ausente de sua Criação. Sua atenção está direcionada para sua Criação e de modo especial para o homem. Tenho a impressão que essa expressão usada aqui é uma forma de contrastar a ação de Deus no relato da Criação: Enquanto na criação Deus viu que era bom, aqui Deus viu que era mal o desígnio do coração do homem. Calvino também entende que essa expressão sugere a paciência de Deus, que antes de decretar qualquer ação contra o homem, pôs-se a observar e considerar sobre a existência humana. Em suas palavras: “Pela palavra viu, ele [Moisés] indica a longa e contínua paciência, ou seja, que Deus não tinha proclamado Seu juízo para destruir os homens, até bem depois de ter observado e considerado por muito tempo, o seu caso, Ele viu que eles haviam passado do ponto da recuperação”.

…maldade do homem: A descrição da maldade o homem foi dada por diversos autores, mas a visão de Adam Clarke merece ser observada:

“Eles eram carnais (Gn.6.3), totalmente sensuais, os desejos da mente confusa e perdida nos desejos da carne, sua alma já não discernia o seu destino do alto, mas sempre cuidando de coisas terrenas, de modo que eles se tornaram sensualizados, brutalizados e tornaram-se carnais, encarnado, para não reter Deus em seu conhecimento, eles viviam buscando a sua parte nesta vida. Eles estavam em um estado de perversidade. Todos estavam internamente corrompidos, e seu exterior em impiedade, nem a ciência nem a prática da religião existia. A Piedade se foi, e cada forma de sãs palavras havia desaparecido. Essa maldade foi grande, foi multiplicada, foi continuamente crescente, aumentando e multiplicando recorrentemente, de modo que toda a terra estava corrompida diante de Deus, e se encheu de violência, (Gn.6.11); libertinagem entre os oprimidos, e crueldade e opressão entre as classes mais altas, sendo apenas predominante”.

…continuamente mal o seu coração: Moisés já demonstrou a causa do dilúvio em função dos atos externos de iniqüidade, mas ele agora vai além e declara que os homens não eram apenas perversos pela prática e pelo costume de viver mal, mas que a maldade estava muito profundamente enraizadas em seus corações, de modo que não deixou qualquer esperança de arrependimento”. Sobre essa expressão, John Gill apresenta uma visão interessante:
O coração do homem é mau e perverso, desesperadamente perverso, sim, a maldade em si mesmo, uma fonte de iniqüidade, das quais a abundância do mal flui, pelo qual pode ser conhecido, em certa medida o que está nele, demonstra como ele é mau; mas Deus, que o vê, só conhece perfeitamente toda a sua maldade e o mal que há nele: os pensamentos de seu coração são maus, os maus pensamentos são formados no coração, e se desenvolvem a partir dele, por isso é vão , tolo, pecaminoso e abominável aos olhos de Deus, por quem eles são vistos, conhecidos e percebidos de longe: a “imaginação” de seus pensamentos é má, a formação deles, ele é mal enquanto é formado, o substrato do pensamento, o início da mesmo, o primeiro movimento a ele, sim, “cada um” dos pensamentos era mau, e “só” isso; não havia entre eles um homem bom, e nem uma coisa boa em seus corações, nenhum bom pensamento, nem uma boa imaginação do pensamento, e por isso era “continuamente” [mal o seu coração] desde o seu nascimento, a partir de cima sua juventude, em toda a sua vida, e todos os dias de suas vidas, dia e noite, e dia após dia, sem intervalo: isso representa a corrupção original da natureza humana, e mostra que ela é universal, por isso não foi verdade apenas dos homens do mundo antigo, mas de toda a humanidade, o mesmo se diz dos homens depois do dilúvio, como antes, e de todos os homens em geral, sem qualquer exceção (Gn8.21).
A idéia de que todos os aspectos do homem estavam corrompidos encontram nessas expressões seu estado máximo. Todos os aspectos da humanidade estavam, não apenas fadados ao pecado, mas intrinsecamente aprofundado nele. O problema não era apenas o que acontecia, ou o que faziam os seres humanos, mas também os aspectos internos do homem, seus pensamentos e desejos.

3. O Sentimento de Yahweh

O terceiro modo como vemos Deus interagir com a humanidade é sua expressão de resposta as ações humanas: Deus não apenas vê e exerce juízo, mas Ele também se entristece. Uma das características de Yahweh é que Ele sofre com os maus caminhos de suas criaturas, e observe que o texto fala da humanidade como um todo. Duas expressões são usadas nesse texto para apresentar esse fato: Seu arrependimento e seu pesar.
Em Gênesis vemos uma declaração interessante sobre Deus, observe: “então, se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o SENHOR: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito” (Gn.6.6, 7). Essa declaração de Moisés sobre as palavras de Deus em relação a humanidade é sem sombra de dúvidas interessante: Deus se arrepende.
Mas, isso significa que Deus muda? As escrituras são claras quanto ao fato de que Deus não muda, observe: “Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Ml.3.6); “Também a Glória de Israel não mente, nem se arrepende, porquanto não é homem, para que se arrependa” (1Sm.15.29); “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg.1.17). Mesmo Moisés apresenta Yahweh como um Deus que não se arrepender: “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” (Nm.23.19). Entretanto, em Gênesis lemos que Deus se arrependeu. Como compreender o arrependimento de Deus (Gn.6) e o fato que Ele não se arrepende (Nm23.19?) na visão do mesmo autor?
Em primeiro lugar, precisamos entender o que de fato significa a Imutabilidade divina: Imutabilidade de Deus é a perfeição que lhe é atribuída pelas escrituras que diz respeito à Sua capacidade intrínseca de nunca fazer-se apresentar sob outro aspecto. Essa perfeição é aplicada a Seu Caráter (Tg.1.17), Vontade (Is.46.9-10) e Propósitos (Hb.6.17). Imutabilidade por vezes é reconhecida como a perfeição absoluta, pelo fato de que Deus é completo, pleno em Seus atributos (Nm.32.19; Sl.33.11; Ml.3.6; Tg.1.17).
Em segundo lugar, devemos entender que o fato de Deus ser exaltado acima de toda sua Criação ele também se faz presente diante dela. Ou seja, o fato de que Deus não muda e que isso o diferencia essencialmente de toda sua criação, não gera impossibilidade de relacionamento entre Deus e suas criaturas, pois é um Deus pessoal pronto a interagir com os objetos do seu amor. Em outras palavras estamos afirmando que, a verdade sobre Deus compreende tanto Sua transcendência, o fato de que é exaltado acima de tudo e todos por que é o que é e que ninguém jamais poderá sê-lo, como Sua imanência, o fato de que Deus se faz presente no tempo, ativo, participativo, de modo que sua Transcendência não minimiza sua Pessoalidade nem sua Imanência sua Soberania. Deus é completamente Soberano e Pessoal, perfeitamente transcendente e imanente: “Acaso, sou Deus apenas de perto, diz o SENHOR, e não também de longe?” (Jr.23.23).
Em terceiro lugar, devemos lembrar que o termo hebraico por trás da tradução portuguesa para “arrependimento” é bem mais abrangente do que o que entendemos com o termo em português. O termo hebraico usado aqui é “nacham” e tem um dos três significados básicos dependendo do contexto:

1. Experimentar pesar ou sofrimento emocional: Esse sentido é relativamente comum e eventualmente é demonstrado no texto hebraico no passado: “Então, o povo teve compaixão de Benjamim, porquanto o SENHOR tinha feito brecha nas tribos de Israel” (Jz.21.15; cf. Jz.21.15; 1Sm.15.11,35; Jó.42.6; Jr.31.19).

2. Consolar ou ser consolado: Esse uso é relativamente freqüente no AT e claramente encontrado na literatura Mosaica: “E Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe” (Gn.24.67; cf. 27.42; 37.35; 50.21; 38:12; 2Sm.13.39; 77.3; Sl.1.24; Is.1.24; Jr.31.15; Ez.14.22; 31.16; 32.31)

3. Arrepender-se ou mudar de mente: Em alguns textos não teologicamente discutidos a idéia de mudança de mente é encontrado, mas com alguma dificuldade: “Tendo Faraó deixado ir o povo, Deus não o levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto, pois disse: Para que, porventura, o povo não se arrependa, vendo a guerra, e torne ao Egito” (Ex.13.17; cf.Dt.32.36; )

É importante dizer que o sentido básico do termo, e certamente mais freqüente no AT é o de “consolar”. Das 108x que é usado no AT pelo menos em 66x a idéia está relacionada com o consolo. Apesar de o termo ter conotações de arrependimento, mesmo que aplicado a seres humanos, esse não é o termo normalmente utilizado para isso. Normalmente o AT usa o termo “shuwb”, que tem por idéia básica o voltar-se (Gn.3.19; 8.12; 18.14), para descrever a idéia do arrependimento como mudança de comportamento e atitude (Gn.27.45; Ez.14.6).
Tendo observado isso, é verificável que o sentido de “consolo” não é contextualmente aceitável em Gn.6 ao passo que a idéia de arrependimento e pesar são as mais indicadas para o texto e a primeira certamente tem sido favorecida largamente nas versões modernas das escrituras, seja em inglês (ASV, KJV) ou em português (ACF, ARA, ARC, NVI), entretanto, não tem sido a opção unânime. Por exemplo, a NIV, versão inglesa da Nova Versão Internacional, optou por assim verter o texto: “O Senhor se afligiu por ter feito o homem na terra”. A NET Bible, por sua vez, preferiu: “O Senhor se lamentou de ter feito o homem sobre a terra”. Essas duas leituras além de serem lexicograficamente possíveis, parecem contextualmente mais aceitáveis.
É bem provável que toda essa discussão tenha nascido na má compreensão do termo hebraico e do termo latino visto na Vulgata. De modo muito interessante, a Vulgata usou o termo “paeniteo” que também carrega a idéia de “pesar” e “arrependimento”. Entretanto, nem o inglês nem o português têm um termo que lhe seja equivalente e por isso, sempre que passamos por esse texto precisamos investir na explicação do termo. Considerando que o termo hebraico pode ser entendido como uma expressão de caráter emocional, e que o contexto é favorável a essa leitura, entendo que tanto a NET Bible como a NIV são representações mais acertadas para se descrever esse texto.
Aliás, é importante notar que Moisés também usa o termo “’atsab” traduzido por pesar em português. A idéia do termo é claramente a demonstração de dor e sofrimento, que em Gn.6.6 descreve o coração (hb. leb) do próprio Deus. Sobre isso, Sailhamer afirma:

“Ao tornar Deus o sujeito dessa do verbo no verso 6, o autor nos demonstra que o pesar e o sofrimento sobre os pecados dos seres humanos não era algo que apenas os homens sentiam. O próprio Deus lamentou pelo pecado do homem (v.7)”

Derek Kidner sobre esse texto afirma:

“Esta é a maneira de falar do Velho Testamento, em que emprega as expressões mais ousadas, contrabalanceadas em outros lugares, se necessário, mas não enfraquecidas. A palavra pesou tem afinidades com as palavras aflição e fadiga de 3.16, 17. Agora Deus sofre por causa do homem
Ernest Kevan quando fala sobre seu entendimento desse texto, afirma:

“O Deus revelado pelas escrituras é capaz de sentir tristeza e de ser entristecido. Ele tem reações reais para com a conduta humana. Não obstante, é impossível conceber o Deus onisciente a lamentar-se por algum falso movimento por ele feito. O arrependimento de Deus não é uma alteração quanto aos propósitos, e sim, uma mudança de atitude”

David Merkh acrescenta:

“Deus é uma PESSOA, e sendo assim tem emoções. Talvez sejam diferentes do que nós entendemos, mas Deus não é uma máquina. A palavra “arrependeu-se” tem duas conotações. Primeiro, Deus se entristeceu. Segundo, significa que haveria um ajuste no plano dEle. Mas a mudança em Deus é mais uma mudança do nosso ponto de vista

Diante dessas considerações fica evidente que a Imutabilidade do Propósito de Deus foi preservado na história do dilúvio sem que isso excluísse a idéia de Interação de Deus com Sua Criação por seu sofrimento emocional e pesar, e, isso é plenamente verificável pelos termos hebraico utilizados no próprio texto.
Com isso, afirmamos que Deus nunca está ausente de sua criação nem a tem deixado à mercê de suas próprias criaturas: Como Criador poderoso e benevolente, Deus se limita a estar disponível para suas criaturas com o propósito de demonstrar sua graça incondicional e amor pleno. Entretanto, quando Seu limite é atingido, Ele mesmo se responsabiliza em disciplinar suas criaturas de modo a honrar sua Santidade e Fidelidade. A história do dilúvio é exatamente isso: Por um lado Justiça em jus a Sua Santidade; Por outro Fidelidade para com sua promessa de um libertador descendente da mulher e amor e graça para com Noé, homem com quem dividia um relacionamento especial.

C. Provisão Futura

A descrição desse texto até aqui traça a rota do pecado do homem de encontro com Justiça de Deus. Entretanto, o texto não fica assim, pois ainda encontramos um pequeno porém: “Porém, Noé achou graça diante de Deus”. Ao observar esse termo, Merkh afirma:

“Depois desta nota sombria, mais uma vez ouvimos uma melodia de graça. Vs. 8 apresenta um contraste muito forte com os outros 7 vss. “Porém Noé achou graça diante do Senhor.” Nas palavras de Romanos, onde o pecado abundou, a graça superabundou. Sou grato a Deus pela palavra “mas” ou “porém” nas Escrituras

A história da humanidade não havia terminado, pois Deus havia reservado para si um remanescente fiel a quem Ele prontamente oferece sua graça. Sobre essa graça, Barnes atesta:

“Noé e sua família são as únicas excepções a esta destruição arrebatadora. Até agora nós nos encontramos com insinuações distante e indireta do favor divino, e atos significativos de respeito e aceitação. Agora a graça pela primeira vez se encontra uma língua para expressar o seu nome. A Graça tem a sua fonte no ser divino”.

Sobre ela, ainda Merkh afirma:

“A palavra “graça” aqui não é o termo muitas vezes traduzido como “graça” ou “misericórdia” no VT. A palavra significa, literalmente, “favor”. Noé foi abençoado pelo favor de Deus. Entre todos os homens, Deus separou esse homem para uma atuação divina especial”

A relação entre o favor divino e a vida piedosa de Noé são questões a serem observadas, e mesmo Merkh admite que a vida piedosa de Noé foi resultado da graça manifesta de Deus em sua vida. Tal visão é claramente favorecida pelas escrituras, sobretudo no Novo Testamento onde encontramos com facilidade a idéia de que a piedade é fruto da ação divina no homem (2Pe.1.3). Entretanto, mesmo Calvino reconhece que a vida íntegra de Noé favoreceu o favor divino em sua vida, observe:

“Reconheço, aliás, que aqui Noé é declarado ter sido agradável a Deus, porque, vivendo em retidão e humildade, ele se manteve puro das contaminações comum do mundo”

É verdade, entretanto, que Calvino também entende que mesmo a origem e princípio fundamental da retidão de Noé como obra do Senhor, mas não podemos com isso minimizar a história da vida de Noé, que é descrito como homem justo e íntegro. O que isso significa então? Será que esforço humano e favor divino se contrapõem? Claro que não! Com isso reconhecemos os dois lados da história de Noé, que por um lado foi favorecido por Deus, mas era também um homem justo e íntegro mesmo entre uma geração perversa. O equilíbrio dessa aparente contradição encontra-se no fato de que Noé andava com Deus, ou seja, com Ele desfrutava de relacionamento, e nesse ambiente de intimidade, com Deus crescia e de Deus recebia favor. Ou seja, eles se davam bem.
VIA GRITOS DE ALERTA.
INF. PENSE BIBLIA

Cristão é demitido por se negar a usar o número “666″ no uniforme da empresa


Com medo de ser condenado ao inferno, preferiu perder o emprego a negar sua fé         

Um operário de uma fábrica de plásticos da cidade de Dalton, Estado da Geórgia, afirma em um processo federal que foi demitido após se recusar a usar uma etiqueta com o número ’666′.
Billy E. Hyatt afirma que foi sumariamente despedido por motivos religiosos da Berry Plastics Corp., empresa onde trabalhava desde junho de 2007. Ele alega que se recusou a usar uma espécie de adesivo no uniforme, anunciando que a fábrica estava sem acidentes de trabalho havia 666 dias.
Hyatt disse ser um cristão devoto e que todos os funcionários usavam adesivos no uniforme mostrando por quanto tempo a fábrica não registrava um acidente. Ele começou a ficar preocupado no início de 2009, quando o número colocado nos uniformes chegou na casa dos 600. Quando a contagem do departamento de segurança da empresa se aproximava de 666, número considerado a “marca da besta” pelo livro de Apocalipse, o cristão devoto tomou uma decisão.
Ele alega que se aproximou do seu gerente e explicou que aquilo ia contra sua fé, pois seria forçado “a aceitar a marca da besta e ser condenado ao inferno.” O gerente garantiu que ele não precisaria usar o número se não quisesse. Além disso, seu chefe pediu para não se preocupar com isso, pois talvez alguém teria um acidente, ou talvez decidissem mudar o calendário “como usar o adesivo com o número 665 por dois dias, ou alguma outra manobra para evitar a exibição do 666”.
Quando chegou o dia 12 de março de 2009, Hyatt chegou ao trabalho e recebeu uma etiqueta com o número 666. Imediatamente procurou o gerente para explicar novamente sua recusa. Naquela ocasião foi informado de que suas crenças eram “ridículas” e que se não usasse o adesivo teria uma suspensão de três dias. Hyatt voltou para casa e levou a suspensão de três dias. Mas ele acabou sendo demitido depois de cinco dias, quando uma reunião do departamento de recursos humanos considerou sua justificativa inaceitável.
Ele entrou então com uma queixa junto ao Comitê por Oportunidades Igualitárias de Emprego, órgão da Secretaria Estadual de Indústria e Comércio da Geórgia. Contratou também o advogado Stephen Mixon, o qual conseguiu que o Comitê lhe garantisse o direito de processar a empresa.
O processo agora chegou a sua parte final e Hyatt está reivindicando indenizações e salários atrasados, além de dano moral, por afirma que a empresa o obrigou a passar por uma terrível situação.
Para ele, o caso se qualifica como perseguição religiosa, uma vez que foi constrangido a “abandonar suas crenças religiosas.” A empresa, que perdeu em primeira instância não retornou as várias ligações e e-mails pedindo comentários. Apenas justificou que só precisará responder à reclamação em juízo.
Traduzido e adaptado por Gospel Prime de Courthouse News e CBS News

Adultescentes: uma igreja preparada para eles

Por John Piper

Christian Smith, professor de sociologia na Universidade de Notre Dame, escreveu, no livro Books and Culture, uma crítica sobre o novo fenômeno da “adultescência” - que é o prolongamento da juventude até a casa dos trinta anos. Quero relacionar esse fenômeno com a igreja. Mas antes segue um resumo do artigo de Smith, sobre que fenômeno é esse e como ele surgiu.

Definição
O que é “adultescência”?
Smith diz: “Adolescência” enquanto uma representação de um estágio de vida é uma invenção do século 20, criada em função das mudanças ocorridas pela educação em massa, leis sobre o trabalho infantil, urbanização, consumo em massa e mídia. Dessa maneira, um novo e importante estágio na vida, situado entre a adolescência e uma vida plenamente adulta, surgiu em nossa cultura nas últimas décadas – remodelando o significado do ser, da juventude, dos relacionamentos e dos comprometimentos da vida, assim como uma variedade de comportamentos e tendências entre os jovens.

O que resultou dessa nova situação tem recebido vários nomes como “adolescência tardia”, “adultescência” e “adultos emergentes”.

Causas
Um modo de descrever esse grupo é destacar a tendência em retardar a maturidade ou em permanecer com uma mentalidade imatura por mais tempo do que o esperado. Smith sugere as seguintes causas que contribuíram para a demora em alcançar a maturidade e a vida adulta responsável.

1. A primeira causa está no aumento da procura pelo ensino superior. As mudanças na economia Americana, o programa GI Bill1, e os subsídios governamentais para as universidades levaram, na segunda metade do século passado, a um aumento dramático na procura por cursos universitários pelos jovens formados no ensino médio. Mais recentemente, muitos sentem-se pressionados – por causa do sonho americano – a fazer outros cursos além da faculdade. Como resultado disso, uma grande parte da juventude americana não encerra os estudos para iniciar uma carreira aos 18 anos, mas estão prolongando a vida acadêmica até a casa dos vinte anos. E aqueles que almejam uma especialização – os que concentram o poder para moldar nossa cultura e sociedade – continuam estudando até a faixa dos trinta anos.

2. A segunda causa crucial para o aumento do número dos “adultescentes” é o atraso do casamento na sociedade americana nas últimas décadas. Entre 1950 e 2000, a idade média para o primeiro casamento era entre 20 a 25 anos para as mulheres. Para os homens da mesma época, a média era entre 22 e 27 anos. O aumento mais significativo dessa média aconteceu depois de 1970. Há 50 anos atrás a maioria dos jovens estavam ansiosos para sair do ensino médio, casar e sossegar, ter filhos e iniciar uma carreira longa. Mas hoje, especialmente os homens esperam pelo menos uma década entre a saída do ensino médio e o casamento, período em que exploram as muitas opções de vida oferecidas por uma liberdade sem precedentes.

3. A terceira transformação social que contribuiu para a maturidade tardia como uma fase distinta de vida, diz respeito a mudanças na economia americana e global. Esse cenário minou a estabilidade das longas carreiras, transformando-as em empregos inseguros e altamente rotativos que exigem novos treinamentos. A maioria dos jovens hoje sabe a importância de iniciar a vida profissional com diferentes habilidades, muita flexibilidade e capacidade de adaptação. Isso por si só já pressiona a juventude a aumentar a escolaridade, atrasar o casamento e a ter uma tendência psicológica discutível de maximizar as oportunidades e procrastinar compromissos.

4. Finalmente, e em parte como uma resposta a todas as mudanças acima, os pais da juventude atual, cientes dos recursos necessários ao sucesso, parecem estar cada vez mais desejosos de prolongar a ajuda e suporte financeiro aos filhos por mais tempo, até os trinta anos.


Características
As características dos jovens entre 18-30 anos produzidas pelas mudanças acima, incluem:
1. Exploração da identidade;
2. Instabilidade;
3. Foco em si mesmo;
4. Sensação de estar no limbo, em constante transição;
5. Senso de possibilidades e oportunidades, e esperança sem paralelos;
6. Tudo isso vem, é claro, acompanhado de grandes doses de confusão, ansiedade, melodrama, conflito, decepção e senso de efemeridade.

Resposta da igreja
Como a igreja deve responder a isso? Como a igreja pode responder a esse fenômeno cultural? Aqui seguem algumas sugestões:

1. A igreja deve encorajar a maturidade e não o contrario. “Não sejam como meninos no juízo, na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos” - 1 Co 14:20. A igreja enfatizará que a maturidade não significa estar fora da escola, mas que é possível desenvolvê-la enquanto se estuda.

2. A igreja apoiará aqueles que tem o chamado para permanecerem solteiros, da mesma maneira que não encorajará uma espera longa para aqueles que desejam se casar, mesmo que ainda estejam estudando. A igreja incentivará uma vida com flexibilidade e fé e resistirá a ideia de que a flexibilidade profissional só é possível após longos anos de experimentação.

3. A igreja ajudará os pais a prepararem seus filhos para serem financeiramente independentes por volta dos 22 anos (ou menos), desde que estes não sejam pessoas com deficiência. A igreja proverá segurança e estabilidades para os jovens que se identificam com ela.

4. A igreja providenciará semanalmente um ensino abrangente, inspirador e formador que leve ao amadurecimento da mente. A igreja encorajará uma rede de relacionamentos sérios e maduros. A igreja será uma comunidade de pessoas que acreditam em Deus, em Sua Palavra e ordenanças e motivará experiências regulares de significância universal.

5. A igreja será como um farol da verdade para ajudar os jovens adultos a atravessarem o mar revolto e nebuloso das incertezas culturais. A igreja ressaltará o senhorio de Cristo na vida dos jovens, pois eles não devem dependem somente do “papai e da mamãe” para receberem orientação.

6. A igreja proverá oportunidades para liderança e serviço que levem à responsabilidade e maturidade de seus jovens adultos. A igreja continuamente encorajará uma perspectiva centrada em Deus, tanto na vida acadêmica como na vida profissional.

7. A igreja incentivará a importância da castidade na vida de solteiro, bem como a fidelidade e santidade na vida conjugal. A igreja engrandecerá incansavelmente a maturidade e força resultantes de um caráter jovem fundamentado nas Escrituras Sagradas.

Assim, oro para que o Senhor Jesus, através de sua igreja, traga uma alternativa cultural atraente e poderosa para os adultos emergentes. Essa opção de contracultura trará mais estabilidade, clareza de identidade, sabedoria profunda e flexibilidade dependentes de Cristo. Além disso, incentivará o jovem adulto a não pensar somente em si mesmo, estar pronto para a responsabilidade ao invés de somente fazer exigências, e ter consciência de que eles podem vir a sofrer e mesmo assim não retribuir o mal com o mal. E finalmente, nunca perder a alegria em Deus, reconhecendo que a vida é curta e que depois disso haverá o julgamento, fazendo o bem e permanecendo firmes até a recompensa celeste.

Por: John Piper. © Desiring God. Website: www.desiringGod.org.
Traduzido e adaptado por: Eliane Peraza Costa Mendes.

SER LIDER NÃO É MANDAR , É SERVIR .


O objetivo desse manual de treinamento não é levantar discussão sobre liderança , mas sim, reforçar a necessidade de que os líderes  recebam treinamento e oportunidades para atuar nas congregações. A partir da estratégia básica proposta , cresce muito a necessidade de despertar e treinar novos líderes, envolvendo-os em funções específicas, de acordo com as cinco áreas de ação da Igreja.

Nesse sentido o manual do líder de grupos quer oferecer alguns subsídios para o despertamento e treinamento de líderes de grupos e departamentos, e também, chamar atenção para algumas oportunidades no exercício de liderança.

2 - Como Jesus vê o líder Selecionamos dois textos bíblicos que mostram Jesus treinando líderes, seus próprios discípulos. Não são textos que falam especificamente de liderança, mas textos que mostram como Jesus aproveita situações do dia a dia do seu ministério para incutir em seus discípulos alguns princípios, alguns conceitos que seriam vitais na sua liderança, presente e futura, na Igreja.

2.1 - Mateus 20.20-28:
a) Liderar não significa ocupar postos importantes (v 21)
b) Liderar não significa dominar, ser maior, ser servido (v 25)
c) Liderar significa servir (vv 26-28)

2.2 - Lucas 22.24-27
a) O líder cristão não busca aplausos (v 25)
b) O líder cristão serve (v 26)
c) A grandeza e a importância estão no servir.


Em resumo: Liderança é uma humilde atitude de serviço! Jesus vê o líder como alguém que serve!


3 - Filosofia de Liderança Cristã

O texto que segue foi elaborado a partir de afirmações extraídas do livro Como Se Forma Um Líder Cristão, de Ted W. Engstrom.

A pergunta diretiva é: Como formar líderes e envolvê-los no trabalho da igreja?

3.1 - O que é um líder?
- Nicholas Murray Butler disse: "Há três tipos de pessoas no mundo - as que não sabem o que está a acontecer, as que observam o que está a acontecer e as que fazem com que as coisas aconteçam". Estes são os líderes!
- Líderes são aqueles que mexem com os outros. Que mexem com a cabeça e o coração dos outros.
- Líderes são aqueles que influenciam o pensamento e a atitude das pessoas, não em torno de si mesmos, mas em direção a um objetivo, a uma meta claramente definidos.

3.2 - O que é um líder cristão?
- Não é aquele que faz todo o trabalho na igreja. Não é aquele que diz como o trabalho deve ser feito. Mas é aquele que envolve as pessoas no trabalho.
- É aquele que influencia o pensamento, as palavras e as atitudes das pessoas de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo.
- É aquele que por suas palavras, atitudes e exemplo de vida influencia, desperta, encoraja, envolve e orienta a vida e o serviço cristão dos outros.

3.3 - Como identificar um líder cristão?
- A estrutura funcional de uma igreja (congregação) é muito importante na identificação dos líderes. Se a vida de uma igreja apenas gira em torno do culto, a reunião do grande grupo, é muito provável que os líderes permaneçam escondidos.
- Por outro lado, é no pequeno grupo que o líder desponta. É lá que ele tem a oportunidade de falar, de fazer orações publicamente, de conhecer melhor as necessidades e programas da igreja e participar. É no pequeno grupo que ele recebe as primeiras tarefas. Também é no pequeno grupo que ele se sente mais encorajado para agir .
- Ajudar as pessoas a descobrir seus dons é outro passo importante neste processo de identificar os líderes dentro da igreja.
- Prestar atenção aos diversos tipos de liderança.

3.4 - Como se forma um líder cristão?
- Liderança também é um dom de Deus (1 Co 12.4,11).
- O líder não se forma em grandes cursos ou treinamentos de finais de semana. Estes cursos e treinamentos são ótimos para despertar, motivar, encorajar e ampliar a visão dos líderes. (Normalmente, os que participam de cursos e treinamentos já exercem algum tipo de liderança na igreja).
- O líder cristão é formado no dia a dia da vida da igreja, mediante:

a) Associação. O grande exemplo foi Jesus. Ele decidiu "andar com seus discípulos". Ele não apenas ensinou leis, regras, dogmas, mas os discípulos assimilaram tudo o que ouviram dele e tudo o que viram no seu modo de agir. Líderes cristãos são formados na medida em que ouvem, na medida em que observam a ação de outros e na medida em que recebem oportunidades para agir.

b) Delegação. Em muitos casos, há cristãos que têm o dom de liderança. No entanto, falta-lhes a iniciativa no exercício de algum tipo de liderança. Eles precisam receber a delegação de tarefas. Alguém precisa dizer-lhes onde, como e quando atuar. Jesus também "chamou doze e passou a enviá-los de dois em dois..."(Mc 6.7).


A delegação contém quatro idéias básicas:
1º - Transferência de trabalho
2º - Transferência de autoridade
3º - Aceitação da responsabilidade
4º - Acompanhamento e prestação de contas.

c) Formação e informação: Formar líderes precisa ser visto como um processo. E este é um processo que não termina. Ele se renova. Este processo de formação de líderes precisa acontecer na congregação, com objetivos e metas claramente definidos. Cursos e treinamentos distritais também são muito importantes, mas estes precisam ser completados por um programa de formação de líderes em cada congregação.

Muitos líderes não despontam, por falta de informações, por desconhecerem os objetivos
da Igreja Cristã e de sua congregação. Muitos não sabem o que fazer na igreja. Cristãos bem informados se envolvem com mais determinação.

d) Treinamento prático: Não se forma líderes sem o treinamento prático. O novo líder aprende fazendo, apoiado e amparado por alguém.

3.5 - Que líderes(coordenadores) necessita hoje?

a) - Líderes de grupos menores.
- Coordenadores de departamentos (não só presidentes de reuniões).

b) - Líderes que atuam segundo as cinco funções da Igreja:
- Líderes no ensino (Escola Dominical, instrução, grupos de estudo bíblico...)
- Líderes no serviço social (coordenadores).
- Líderes na evangelização (que possam evangelizar e treinar outros).
- Líderes na comunhão (que reúnem e aproximam os cristãos)
- Líderes na adoração (música, cultos, Portas Abertas)

c) - Líderes que atuam segundo os dons que receberam de Deus (Rm 12.6-8).

3.6 - Características do líder cristão:
a) Humildade e espírito de serviço (não apenas comandante).
b) Responsabilidade (que se possa confiar nele)
c) Sinceridade (transparente, leal, honesto)
d) Coragem (pronto para correr riscos)
e) Visão (que saiba olhar para frente; que saiba planejar)
f) Atitude (que seja coerente)
g) Entusiasmo ( para motivar e transmitir vida)

3.7 - Visão do líder cristão:
- Conduze-te de tal maneira que te tornes dispensável!


VIA GRITOS DE ALERTA

O perfil de um líder cristão exemplar


 
O livro de Atos dos apóstolos faz uma síntese da vida de Barnabé, um dos maiores líderes da igreja cristã, nos seguintes termos: “Porque era homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé…” (At 11.24). Há três verdades sobre Barnabé que devemos aqui destacar:

1. Um líder cristão deve investir sua vida na vida dos outros.

Ser líder é ser servo; ser grande é ser pequeno; ser exaltado é humilhar-se. Barnabé é o único homem da Bíblia chamado de bom. E por que? É porque quase sempre, ele está investindo sua vida na vida de alguém. Em Atos 4.36,37 ele está investindo recursos financeiros para abençoar pessoas. Em Atos 9.27 ele está investindo na vida de Saulo de Tarso, quando todos os discípulos fecharam-lhe a porta da igreja não acreditando que ele fosse convertido. Em Atos 11.19-26, a igreja de Jerusalém o vê como o melhor obreiro a ser enviado para Antioquia e quando ele vê a graça de Deus prosperando naquela grande metrópole, mais uma vez ele investe na vida de Saulo e vai buscá-lo em Tarso. Em Atos 13.2 o Espírito o separa como o líder regente da primeira viagem missionária. Em Atos 15.37-41 Barnabé mais uma vez está investindo na vida de alguém; desta feita na vida de João Marcos. Precisamos de líderes que sejam homens bons, homens que dediquem seu tempo e seu coração para investir na vida de outras pessoas.

2. Um líder cristão deve esvaziar-se de si para ser cheio do Espírito Santo.

Barnabé era um homem cheio do Espírito Santo. Sua vida, suas palavras e suas atitudes eram governadas pelo Espirito de Deus. Um líder cheio do Espirito tem o coração em Deus, vive para a glória de Deus, ama a obra de Deus e serve ao povo de Deus. Barnabé é um homem vazio de si mesmo, mas cheio do Espírito Santo. A plenitude do Espírito não é uma opção, mas uma ordem divina. Não ser cheio do Espírito é um pecado de negligência. Precisamos de líderes que transbordem do Espírito, homens que sejam vasos de honra, exemplo para os fiéis, bênção para o rebanho de Deus. Quando os líderes andam com Deus, eles influenciam seus liderados a também andarem com Deus. Por isso, a vida do líder é a vida da sua liderança. Deus está mais interessado em quem o líder é do que no que o líder faz. Vida com Deus precede trabalho para Deus. Piedade é mais importante do que performace.

3. Um líder cristão deve colocar seus olhos em Deus e não nas circunstâncias.

Barnabé era um homem cheio de fé. Ele vivia vitoriosamente mesmo diante das maiores dificuldades, porque sabia que Deus estava no controle da situação. A fé tira nossos olhos dos problemas e os coloca em Deus que está acima dos problemas. A fé é certeza e convicção. É certeza de coisas e convicção de fatos (Hb 11.1). É viver não pelo que vemos ou sentimos, mas na confiança de que Deus está no controle, mesmo que não estejamos no controle. A fé sorri diante das dificuldades, não porque somos fortes, mas porque embora sejamos fracos, confiamos naquele que é onipotente. Barnabé é um exemplo de um líder que deve ser seguido. Precisamos de líderes que vejam o invisível, creiam no impossível e toquem o intangível. Precisamos de líderes que ousem crer no Deus dos impossíveis e realizar coisas para ele. Precisamos de líderes que olhem para a vida na perspectiva de Deus, que abracem os desafios de Deus e realizem grandes projetos no reino de Deus.

VIA GRITOS DE ALERTA

Três expectativas para um líder cristão em 1 e 2 Timóteo

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É inquestionável para qualquer genuíno cristão que Paulo, depois de nascer de novo, exerceu uma vida cristã com a qualidade de um exemplar filho de Deus. Ele mesmo disse a Timóteo: Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé (2Tm 4.7). Paulo é indubitavelmente alguém a quem devemos olhar e imitar (cf. 1Co 11.1), visto que seus esforços, desde a compreensão dada por Deus sobre Ele e sobre si, foi prosseguir para o alvo de seu chamado celestial (Fp 3.14) de ser um ministro entre os povos: ...fui designado pregador e apóstolo (digo-lhes a verdade, não minto), mestre da verdadeira fé aos gentios (1Tm 2.7).
Enquanto entre os homens, o exemplar Paulo, apóstolo do Senhor Jesus Cristo, marcou sua vida e a de outros de diversas formas. Aliás, ele ainda faz isso através de seus preservados e inspirados escritos para diversas igrejas e pessoas de sua época. Ele foi incontestavelmente um eminente modelo, um exímio mestre e um espetacular mentor.


Paulo como modelo

Segundo dois dicionários virtuais da língua portuguesa, modelo significa aquilo que serve para ser imitado. Como figura de linguagem, é coisa ou pessoa que merece ser imitada, ou seja, exemplo.[1] De fato, Paulo era um exemplo de seguidor de Cristo, alguém que tinha a vida em total sujeição ao chamado celestial (At 20.24).

O pai

O apóstolo aos gentios tinha confiança em sua integridade. Ele apontava para si e dizia: suplico-lhes que sejam meus imitadores (1Co 4.16). Sua convicção era como a de um piedoso pai, que realmente era (cf. 1Co 4.15), e que reconhecia ser o melhor ter seus filhos o imitando do que a qualquer um outro. Ele suplicava (παρακαλ) aos seus filhos do Evangelho que fossem seus imitadores (μιμηταί), pois ele mesmo era imitador de Cristo: Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo (1Co 11.1).

O evangelista

À igreja de Tessalônica, Paulo disse: Pois vocês mesmos sabem como devem seguir o nosso exemplo, porque não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês (2Ts 3.7). Paulo vivia e pregava corriqueiramente acerca Reino de Deus: Irmãos, certamente vocês se lembram do nosso trabalho esgotante e da nossa fadiga; trabalhamos noite e dia para não sermos pesados a ninguém, enquanto lhes pregávamos o evangelho de Deus (1Ts 2.9 – grifo meu). Paulo é alguém que firmemente podemos ter como modelo de pessoa que administrava bem o seu tempo, especialmente no que tange a proclamação do Evangelho. Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitem ao máximo todas as oportunidades (Cl 4.5).
Para os tessalonicense Paulo também reafirma sua convicção de obreiro aprovado por Deus:
Irmãos, vocês mesmos sabem que a visita que lhes fizemos não foi inútil. Apesar de termos sido maltratados e insultados em Filipos, como vocês sabem, com a ajuda de nosso Deus tivemos coragem de anunciar-lhes o evangelho de Deus, em meio a muita luta. Pois nossa exortação não tem origem no erro nem em motivos impuros, nem temos intenção de enganá-los; ao contrário, como homens aprovados por Deus para nos confiar o evangelho, não falamos para agradar pessoas, mas a Deus, que prova o nosso coração (1Ts 2.2-4 – grifo meu; cf. 2Co 10.18).

O orientador

Apesar de num primeiro momento a proclamação do Evangelho ter sido árdua em Filipos, a mensagem frutificou. Quando Paulo escreve sua carta à igreja dos filipenses (60-61 a.D), ele encoraja seus irmãos em Cristo à promoção do Evangelho, com algumas poucas palavras de correção, todavia gentis. Para tal promoção do Evangelho, Paulo mais uma vez se usa como exemplo a ser imitado: Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês. (Fp 4.9 – grifo meu).
Paulo, ao pedir que os filipenses pusessem em prática o que ele mesmo lhes ensinou, vai além da teoria. Ao contrário do canto do hipócrita “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço,” Paulo pede ao seu público que colocasse em prática a doutrina instruída, o que os corações e mentes absorveram, o que eles ouviram privada ou publicamente e o que eles observaram dele. Paulo se mostra como exemplo holístico, um orientador a ser seguido, ciente que se assim eles também fizessem, ou seja, se a Paulo eles imitassem, eles poderiam ter certeza da presença de Deus, a fonte da genuína paz no meio deles.
Sobre esta passagem Albert Barnes escreveu: “O pregador é o intérprete da vida espiritual e deveria ser um exemplo disso.”  Robertson questionou: “Quão poucas são as pessoas destes dias que podem encorajar outros a imitar tudo o que eles viram nelas, aprenderam delas, e ouviram delas?”  Paulo conhecia a Deus e conhecia a si mesmo. Seus ensinos não eram somente verdade em suas palavras. Ele era capaz e verdadeiro ao apontar para si mesmo e se mostrar como um professor irrepreensível. Ele conhecia seus esforços para ser como Jesus Cristo. Ele sabia que crescia em Deus. Sua convicção não se tornava verdade à medida que ele depositava mais fé nela, mas ela era a própria verdade: Paulo é um modelo de cristão a ser seguido!

Timóteo como modelo

Não foi por menos que ele também exigiu de Timóteo, seu verdadeiro filho na fé (1Tm 1.2), que fosse exemplo para que outros cristãos o imitassem: Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1Tm 4.12).
Ninguém sabe ao certo a idade exata de Timóteo neste momento de sua vida. Vincent acredita que ele tinha entre 38 e 40 anos.   O autor de The People’s New Testament escreveu que ele tinha entre 35 e 38 anos.    “Segundo Irineu, a primeira etapa da vida abarca trinta anos e se estende até os quarenta (Against Heresies, II.xxii). Segundo essa fonte, Timóteo ainda era ‘um jovem’.”  Fato é que o pupilo de Paulo era muito mais novo que o apóstolo, como também era em relação aos presbíteros da igreja. De qualquer forma, a ordem era para que Timóteo soubesse lidar com o desprezo que possivelmente sofreria pela sua idade no cargo em que ocupava.
A resposta de Timóteo ao possível desprezo não deveria se basear na autoridade que lhe era direito. Paulo ordena que seu verdadeiro filho na fé fosse um padrão (ARA), um exemplo (τύπος) para os fiéis, possivelmente para que sua liderança fosse ratificada pela sua maturidade em Cristo e não pela posição na igreja. Para isso, Paulo cita cinco áreas:
· Na palavra (λόγ): Timóteo deveria ser um exemplo na forma e conteúdo de suas conversas. Um bom líder deve manter sua língua sobre controle (Tg 3.2) e reconhecer que más conversações são perigosas (1Co 15.33). Adam Clarke argumenta que este item também faz referência à didática do jovem e tira como lição: “Ensine nada além da verdade de Deus, pois nada além salvará almas.”
· No procedimento (ναστροφ): a palavra grega pode ser traduzida por modo de vida, conduta, comportamento, ou postura.    Ela se refere às atitudes visíveis. Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria (Tg 3.13 – grifo meu). Pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento (1Pe 1.15 ARA, grifo meu; também 1Pe 2.12).
· No amor (γάπ): “no profundo apego pessoal a seus irmãos e uma genuína preocupação por seu próximo (inclusive seus inimigos), buscando sempre a promoção do bem-estar de todos”  (cf. 1Co 13).
· Na fé (πίστει): “Em todo tempo, em todas as provações, exponha-se aos incrédulos pelo seu exemplo, como eles devem manter uma firme confiança em Deus.”
· Na pureza (γνεί): a mesma palavra é usada por Paulo um pouco depois nesta mesma carta: Não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos; as mulheres idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza (1Tm 5.1-2). A ideia era para que Timóteo se mantivesse debaixo da lei moral de Deus, santo, imaculado, provável e especialmente no que tange a imoralidade sexual.
Enfim, Paulo tinha uma expectativa que Timóteo buscasse ser exemplo para os outros cristãos como o próprio apóstolo o era, com a convicção correta.

Paulo como mestre

Além de se apresentar como modelo a ser imitado, Paulo também reconhecia ser um mestre, “cujo trabalho é de instruir homens, particularmente os gentios, a quem ele especificamente foi enviado, para proclamar as doutrinas da vida eterna, a ressurreição e incorruptibilidade final do corpo humano. Em resumo, a salvação do corpo e alma dos homens por Cristo Jesus.”   O apóstolo reconhecia que era o próprio Deus quem lhe dera o ofício de mestre: Deste evangelho fui constituído pregador, apóstolo e mestre (2Tm 1.11 – grifo meu; cf. 1Co12.28).
Um genuíno mestre (διδάσκαλος) é alguém verdadeiramente capaz de ensinar a outros. No caso de Paulo, especialmente os gentios, mas não exclusivamente: Para isso fui designado pregador e apóstolo (Digo-lhes a verdade, não minto.), mestre da verdadeira fé aos gentios (1Tm 2.7 – grifo meu; cf. Ef 3.7-8). Sempre que o apóstolo chegava a uma nova cidade, ele visitava a sinagoga e lá ficava até que era expulso (ex.: At 18.4-8). Então sua atenção era focada no público não judeu.
Todo mestre tem sua área de domínio. O professor (ou mestre) Paulo especificou a sua: a Palavra de Deus.
Agora me alegro em meus sofrimentos por vocês, e completo no meu corpo o que resta das aflições de Cristo, em favor do seu corpo, que é a igreja. Dela me tornei ministro de acordo com a responsabilidade, por Deus a mim atribuída, de apresentar-lhes plenamente a palavra de Deus, o mistério que esteve oculto durante épocas e gerações, mas que agora foi manifestado a seus santos. A ele quis Deus dar a conhecer entre os gentios a gloriosa riqueza deste mistério, que é Cristo em vocês, a esperança da glória (Cl 1.24-27 – grifo meu).

Era tarefa do apóstolo apresentar todo o conteúdo do Evangelho. Isto é que significa plenamente (πληρσαι) no texto bíblico. Um bom professor sabe como administrar o conteúdo a ser ensinado e o tempo necessário para a boa explanação. Em alguns locais Paulo permaneceu mais tempo do que em outros, razão nem sempre explícita na Bíblia, mas que ele sabia o porquê.

Timóteo podia testificar da realidade e da eficácia do ensino de Paulo

Timóteo era companheiro de Paulo. Estavam juntos em várias cidades para pregar a respeito de Jesus, o Filho de Deus (1Co 1.18-19): Filipos, Tessalônica, Beréia e Corinto, por exemplo. O jovem sem dúvida passou tempo suficiente com seu mestre para observar e internalizar suas virtudes. O próprio apóstolo, convicto de seu bom caminhar com Deus, reconhece ter tido Timóteo como testemunha de seu proceder em prol do Reino de Deus: Mas você tem seguido de perto o meu ensino, a minha conduta, o meu propósito, a minha fé, a minha paciência, o meu amor, a minha perseverança as perseguições e os sofrimentos que enfrentei, coisas que me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra (2Tm 3.10-11a). Todos estes bons valores de Paulo eram diametralmente opostos ao que homens como descritos no início de 2Tm 3 são apresentados. São estes os valores:
· Ensino (διδασκαλί): Paulo, como todo bom mestre, era um exímio expositor da Palavra de Deus. Timóteo sabia que de sua boca saía apenas o conteúdo do genuíno Evangelho, sem escoriações no conteúdo soteriológico.
· Conduta (γωγ): Paulo era eticamente correto; vivia o que pregava. Ele inclusive sabia que Timóteo podia testemunhar seu proceder aos coríntios (1Co 4.17).
· Propósito (προθέσει): O apóstolo aos gentios disse: Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus (At 20.24).
· (πίστει): Paulo caminhava com Deus de acordo com sua fé, que também era ensinada aos gentios e judeus: Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo para levar os eleitos de Deus à fé e ao conhecimento da verdade que conduz à piedade (Tt 1.1).
· Paciência (μακροθυμί): Paulo ensinava que longanimidade devia ser parte da essência do cristão, como fruto do Espírito (Gl 5.22) e vestimenta do novo ser (Cl 3.12).
· Amor (γάπ): Paulo sabia que um genuíno amor é sem hipocrisia (Rm 12.9).
· Perseverança (πομον): um sinônimo de paciência, cuja compreensão de Paulo não ficava somente em palavras: mas se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente (Rm 8.25).
· Perseguições (διωγμος): Paulo suportou diversas perseguições e Timóteo era testemunha disso.
· Sofrimentos (παθήμασιν): Paulo, o apóstolo, sofreu singularmente pela causa do Reino (2Co 11.16-33).
· (Coisas) quais me aconteceram (οα μοι γένετο): Como exemplos, ...provocando perseguição contra Paulo e Barnabé, os expulsaram do seu território (At 13.50b) e ...apedrejaram Paulo e o arrastaram para fora da cidade, pensando que estivesse morto (At 14.19).
Timóteo pôde observar o ministério paulino de muito perto. Ao falar sobre a palavra grega (um verbo) que traduz tem seguido de perto (παρηκολούθησας) Hendriksen afirma que “o verbo implica que Timóteo havia realmente tomado Paulo como um modelo, e que, além disso, o havia ouvido com grande interesse quando relatava suas experiências, em algumas das quais (por exemplo, as ocorrido em Listra) o próprio jovem estivera intimamente envolvido.”
O mestre Paulo, que vivia o que pregava, o real conteúdo da mensagem bíblica, também orientou seu pupilo Timóteo que agisse assim.

Timóteo como mestre

Paulo exige que Timóteo ordene e ensine estas coisas  (1Tm 4.11; veja também 1Tm 6.2,17).
Ele deve ordenar coisas tais como: ‘rejeitar mitos profanos e de velhas senis’, ‘Exercite-se [e a outros] para o viver piedoso’ (v.7). Ordens tais como essas se aplicam não só a Timóteo pessoalmente, mas a todos os presbíteros, sim, e ainda a todos os cristãos. É provável que a expressão ‘essas coisas’, em conexão com ‘ordene’, se refira também a mandamentos implícitos, tais como: ‘nunca rejeite o que Deus destinou ao uso, mas participe dele com ações de graça’ (vv.3,4); ‘Nutra-se [e a outros] das palavras da fé e da sã doutrina’ (v.6); ‘Confie no Deus vivo e em sua promessa a todos os eu vivem piedosa e o aceitam com fé genuína” (vv. 8,9). Timóteo deve ensinar coisas como ‘a apostasia está chegando na forma de ascetismo’ (vv.1-3); ‘esse erro é um insulto a Deus e à sua criação’ (vv.4,5); ‘um ministro excelente é aquele que se alimenta da sã doutrina que ele transmite a outros’ (v.6); ‘o benefício que advém da vida piedosa transcende aquele que resulta do treinamento físico’ (vv.8-10).”

Todo mestre deve se empenhar em ordenar e ensinar em ordem de se fazer conhecido, com a autoridade de Cristo, o conteúdo da Palavra de Deus para o procedimento de uma vida santa. Paulo também disse: até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino (1Tm 4.13):
· Leitura pública (ναγνώσει): A palavra grega pode ser tanto uma leitura privada quanto pública, mas parece mais lógico que seja uma referência à leitura pública, como sugere a tradução portuguesa. Numa época onde os textos impressos eram escassos, a leitura pública era a melhor forma de propagar o ensino. Um mestre deve ser capaz de pregar.
· Exortação (παρακλήσει): A palavra grega não tem o sentido de repreensão,  mas de aconselhar, animar e encorajar. Todavia, isso inclui a advertência, como por exemplo, num erro moral. Um bom mestre igualmente sabe conduzir propriamente as pessoas ao sentimento e a atitude correta, de acordo com a Palavra de Deus.
· Ensino (διδασκαλί): Paulo, como todo bom mestre, era um exímio expositor da Palavra de Deus. Timóteo sabia que de sua boca saía apenas o conteúdo do genuíno Evangelho, sem escoriações no conteúdo soteriológico.
Aos olhos de Paulo, Timóteo era capaz de, como ele, ser um bom mestre, alguém apto de pregar, exortar e ensinar o conteúdo bíblico, a verdade para a compreensão do propósito divino ao criar homens e mulheres segundo à Sua imagem e semelhança.

Paulo como mentor

Segundo o dicionário virtual Dicio, Mentor é um “autor intelectual; responsável pela idealização ou pelo planejamento de alguma coisa, para cuja execução influencia o comportamento de outrem.”   Paulo sem dúvida foi alguém notório na arte do mentoreamento.
Paulo e Barnabé formavam uma dupla digna de muito elogio. Eles trabalharam juntos e foram capazes de conduzir muitas pessoas ao conhecimento do Messias. Lucas, autor de Atos, escreveu: durante um ano inteiro Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e ensinaram a muitos (At 11.25). Os dois comissionados, Paulo e Barnabé, também indicaram crentes aptos à liderança em várias igrejas: Paulo e Barnabé designaram-lhes presbíteros em cada igreja; tendo orado e jejuado, eles os encomendaram ao Senhor, em quem haviam confiado (At 14.23). Depois da separação de Marcos no time missionário, Paulo era reconhecidamente o líder da equipe, visto a forma como Lucas descreve a equipe: Paulo e seus companheiros... (At 13.13). Como líder e companheiro de equipe, Paulo possivelmente foi um ótimo mentor a Barnabé, que inclusive exortou este último quando necessário: os demais judeus também se uniram a ele nessa hipocrisia, de modo que até Barnabé se deixou levar (Gl 2.13).
Barnabé foi apenas uma das várias pessoas mentoreadas por Paulo. São muitos os nomes que Paulo cita em algumas de suas cartas, possivelmente vários deles tiveram o privilégio de ser influenciados pelo grande mentor Paulo: Epêneto, Maria, Andrônico, Júnias, Amplíato, Urbano, Estáquis, Herodião, Narciso, Trifena, Trifosa, Rufo, Filólogo, Júlia, Nereu e muitos outros. Estes são exemplos somente da carta aos romanos (cap. 16).
Timóteo indubitavelmente foi mentoreado por Paulo. Ele trilhou juntamente do apóstolo por muitos lugares e pôde observar muito bem o proceder do mentor. Paulo, quando reconheceu que Timóteo estava pronto, enviou-o para que o jovem fosse mestre na igreja de Corinto: Por essa razão estou lhes enviando Timóteo, meu filho amado e fiel no Senhor, o qual lhes trará à lembrança a minha maneira de viver em Cristo Jesus, de acordo com o que eu ensino por toda parte, em todas as igrejas (1Co 4.17). Mas Paulo não queria que Timóteo fosse apenas mestre.

Timóteo como mentor

A segunda epístola de Paulo a Timóteo nos dá indícios de que o apóstolo sabia que sua vida estava próxima do final (cf. 2Tm 4.6). Ele não podia deixar nada fora de sua carta que não fosse extremamente importante ao jovem mestre Timóteo, mas que antes ainda, fosse extremamente importante à Igreja: E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros (2Tm 2.2)
O depósito (παραθήκην) que Paulo havia somente dito para Timóteo antes guardar (cf. 1Tm 6.20; 2Tm 1.14),    agora ele pede para confiar (παράθου) a homens fiéis (πιστος νθρώποις), pessoas capazes (κανο) de também continuar o ciclo de ensinar a outros. Sobre estes homens fiéis, John Gill disse:
“tais não apenas receberam a graça de Deus e são simplesmente verdadeiros crentes em Cristo, mas são homens de grande retidão e integridade, que em posse da Palavra de Deus, falarão corajosa e fielmente, não retendo nada que os impeça de lucrar, mas declara todo o aconselhamento de Deus, sem qualquer mistura nem adultério.”

É notório que Paulo especifica muito bem o público para o qual Timóteo deveria confiar (transmitir na ARA) o que havia ouvido de seu mentor. O crescimento saudável da igreja também depende disso e Paulo reconhecia que Timóteo tinha as virtudes de um mentor.

As exigências de Paulo a Timóteo

Paulo sabia que Timóteo caminhava na trilha de Deus e tinha potencial, talentos e dons, para se estabelecer na igreja como modelo, mestre e mentor. Não foi por menos que essas foram algumas das exigências do apóstolo ao seu filho na fé, com quem tem duas cartas de orientação canônicas.
Tais exigências vão além de Timóteo, fazendo-nos, leitores das cartas 2.000 anos depois, questionar se também não devemos acatar as exigências de Paulo às nossas vidas, com especial atenção àqueles que lideram ou desejam liderar. É a visão deste autor que nos atentemos ao texto e extraiamos o que deve ser observado pelo crente do século XXI sem que distorçamos a verdade do texto bíblico.
Fato é que há valores inegociáveis expressos diversas vezes nas cartas a Timóteo. Competência, caráter e compaixão são bons exemplos disso.

Expectativas de Paulo em relação à liderança cristã

Paulo compreendia que Timóteo era um jovem capaz de exercer a liderança cristã à semelhança de si mesmo. Paulo almejava que Timóteo desempenhasse papéis que são fundamentais para o crescimento da igreja. De uma forma semelhante, o escritor de tantas cartas neotestamentárias também deixa no texto sagrado suas expectativas para com as pessoas que exerceriam liderança no seio da igreja. Entre estas expectativas, reconhecidamente ele buscava crentes com competência, caráter e compaixão.

Competência

Uma pessoa competente, na prática, é alguém que desempenha algum encargo com excelentes eficiência e eficácia. No campo das ideias, é alguém altamente conhecedor de um assunto. Em várias passagens, Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, mostra que um bom líder deve buscar ser sempre competente.
Todo líder deve ter características básicas para exercer tal posição. Ter a disposição de hospedar, aptidão para ensinar e administração familiar são fundamentais (1Tm 3.2,4) para aquele que almeja o episcopado (1Tm 3.1). Todas essas são características visíveis para que a igreja perceba se a pessoa tem condições, ou seja, competência para o cargo que deseja. Não obstante, o candidato não deve ser recém-convertido (1Tm 3.6), sendo antes experimentado (1Tm 3.10). A razão é clara e expressa no texto bíblico: para que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação em que caiu o Diabo (1Tm 3.6).
São várias as passagens que o escritor foca as competências do ensino, ordem e exortação: ordene e ensine estas coisas (1Tm 4.11); dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino (1Tm 4.13); Dê-lhes estas ordens, para que sejam irrepreensíveis (1Tm 5.7); Ensine e recomende essas coisas (1Tm 6.2); Ordene... Ordene-lhes... (1Tm 6.17-18); Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina (2Tm 4.2); roguei-lhe que permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas... (1Tm 1.3); obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade (2Tm 2.15). Todo líder deve saber ensinar, repreender e dar ordens sempre que necessário. Estas são características inegociáveis para liderar os filhos de Deus à santidade.
O ensino de um bom líder não tem conteúdo qualquer. Seja diligente nessas coisas; dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam o seu progresso. Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina, perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem (1Tm 4.15,16). O próprio ensino está intrínseco à vida do pregador, que guarda a sã doutrina imaculada em seu coração, mas também a confia a homens que saberão igualmente compartilhá-las: Guarde este mandamento imaculado e irrepreensível, até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (1Tm 6.14); Timóteo, guarde o que lhe foi confiado (1Tm 6.20); E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros (2Tm 2.2); Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu (2Tm 3.14).
Paulo combateu o bom combate (2Tm 4.7) e diz para Timóteo fazer o mesmo: Timóteo, meu filho, dou-lhe esta instrução, segundo as profecias já proferidas a seu respeito, para que, seguindo-as, você combata o bom combate (1Tm 1.18); Combata o bom combate da fé (1Tm 6.12). Na realidade, todo cristão que zela por este título (cristão) e especialmente por esta função (líder), deve estar ciente da batalha e preparado para a guerra que tem como cabeça e vencedor Jesus Cristo. Nesta peleja todo crente deve buscar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão (1Tm 6.11). Essa busca é mais uma competência do homem, devendo ser ela notória na vida dos líderes.
A busca também deve ser por conhecimento:   Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis (2Tm 3.1). Sem a informação que a Palavra de Deus dá, haverá pouca eficiência tanto no ensino, como no proceder do líder. No caso, não haverá reconhecimento do tempo de Deus e o proceder do homem que em nada é capaz de agradar a Deus (Rm 3.11-12) Ademais, como ele será capaz de exortar seus irmãos na fé se não poderá distinguir entre o certo e errado que a Palavra de Deus revela? Não pode haver negligência nos estudos, tampouco no dom ou dons que Deus dá àqueles que são dEle: Não negligencie o dom que lhe foi dado por mensagem profética com imposição de mãos dos presbíteros (1Tm 4.14).
Em suma, tudo que for da alçada do cristão, que seja feito (Ec 9.10). Deus sem dúvida tem uma direção específica para cada um de seus filhos. Se assim não fosse, não seríamos diferentes membros no Corpo. 2Timóteo 4.5 conclui a competência que um cristão deve exercer: Você, porém, seja moderado em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.

Caráter

A bíblia portuguesa traduz δοκιμν algumas vezes como “caráter aprovado” (cf. Fp 2.22-ARA; Rm 4.5-NVI). O dicionário da Bíblia Almeida diz que caráter é o “conjunto de qualidades boas.” Segundo o dicionário Webster, caráter “é as qualidades peculiares, impressas por natureza ou hábito em uma pessoa.”  O caráter de uma pessoa torna-se visível por suas corriqueiras ações, especialmente aquelas tomadas sobre estresse. Se o dicionário Webster estiver certo quanto ao caráter ser algo da natureza, podemos concluir que sem a mão de Deus no processo de edificação ele dificilmente pode ser mudado.
Entretanto Deus quer que tenhamos o caráter dEle e Paulo, através de seus inspirados escritos nos mostra muitas vezes o que Ele espera e contribui em nós.
Reconhecer a própria identidade é o primeiro passo para o agir de Deus na transformação do caráter. Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior (1Tm 1.15). Se não nos vemos como agentes passíveis de pecado, mesmo que já justificados, acabamo-nos por desperdiçar bênçãos e motivos para orar e desfrutar da comunhão com Deus.
O crente deve ser aprovado por Deus: Procure apresentar-se a Deus aprovado (2Tm 2.15). O líder tem que preencher certos requisitos de caráter para desempenhar a função de liderança: É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável, não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro. Também deve ter boa reputação perante os de fora, para que não caia em descrédito nem na cilada do Diabo (1Tm 3.2,3,7). A diaconia, que também exerce liderança na igreja, não deve ser nem mais nem menos santa do que os bispos ou presbíteros: Os diáconos igualmente devem ser dignos, homens de palavra, não amigos de muito vinho nem de lucros desonestos. Devem apegar-se ao mistério da fé com a consciência limpa (1Tm 3.8-9). Tal exigência de caráter não se restringe ao homem, mas é também especificada em alguns detalhes à mulher: As mulheres igualmente sejam dignas, não caluniadoras, mas sóbrias e confiáveis em tudo (1Tm 3.11). Suas vestimentas são levadas em conta: da mesma forma, quero que as mulheres se vistam modestamente, com decência e discrição, não se adornando com tranças e com ouro, nem com pérolas ou com roupas caras (1Tm 2.9). Sua compreensão no papel de mulher e esposa também reflete seu caráter, que não deve ser machista, tampouco feminista: A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição (1Tm 2.11). Num culto público ela deve reconhecer seu lugar e importância: Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio (1Tm 2.12).
Um crente de (bom) caráter sabe que brigar não é uma opção: Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente (2Tm 2.24). Isso não torna o crente um covarde, pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio (2Tm 1.7), tampouco parcial, como quem a si próprio se beneficia: procure observar essas instruções sem parcialidade; e não faça nada por favoritismo (1Tm 5.21). Ele sempre se destacará como um exemplo em áreas relevantes dentro do Reino de Deus: Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1Tm 4.12). Ao mesmo tempo que ele se afasta da imoralidade, ele se aproxima do Ser moral.
O caráter de alguém que busca a Deus demonstra respeito aos chefes, todos os que estão sob o jugo da escravidão devem considerar seus senhores como dignos de todo o respeito (1Tm 6.1) e suporta os mais variados sofrimentos em detrimento do rei Jesus: Suporte comigo os meus sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus (2Tm 2.3). Gratidão transborda no coração de uma pessoa de (bom) caráter: tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos (1Tm 6.8), mesmo quando aos olhos de muitos ele parece miserável.
Enfim, tais homens de caráter são dignos de levantar suas mãos aos céus e dizer a Deus: “estou limpo.” Eles oram por seus adversários e se preocupam com a condição de seus corações: Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões (1Tm 2.8). As próprias palavras de Paulo concluem a utilidade e necessidade de uma condição pura perante Deus e os homens, num reino onde, enquanto aqui na terra, há cidadãos celestes de bom e mau caráter: Numa grande casa há vasos não apenas de ouro e prata, mas também de madeira e barro; alguns para fins honrosos, outros para fins desonrosos. Se alguém se purificar dessas coisas, será vaso para honra, santificado, útil para o Senhor e preparado para toda boa obra (2Tm 2.20-21).

Compaixão

Ninguém nunca teve mais compaixão que o próprio Cristo. Tendo Jesus como alvo inequívoco, Paulo também sugere que todos os crentes sejam compassivos e apresentem misericórdia, mesmo quando diante, por exemplo, de instruções exortativas: o objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera (1Tm 1.4).
Ser misericordioso, ou demonstrar compaixão é, à priori, refletir a misericórdia do próprio Deus que por razões exclusivas de Sua parte, escolheu-nos à vida eterna: Mas por isso mesmo alcancei misericórdia, para que em mim, o pior dos pecadores, Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza da sua paciência, usando-me como um exemplo para aqueles que nele haveriam de crer para a vida eterna (1Tm 1.16). A escolha divina não nos libertou de dificuldades na terra, mas nos garantiu que quando vivêssemos piedosamente seríamos perseguidos: fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (2Tm 3.12). Todo crente deve orar por toda gente, isso significa os parentes, amigos, adversário, chefes e reis! Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens (1Tm 2.1).
A compaixão que Deus espera do crente, especialmente do líder cristão, também reflete no zelo pelo idoso, não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos (1Tm 4.1) e pureza pelas idosas e moças, as mulheres idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza (1Tm 4.2). As viúvas que tem real necessidade não podem ser negligenciadas e neste quesito, Paulo chama à atenção das mulheres: Se alguma mulher crente tem viúvas em sua família, deve ajudá-las (1Tm 5.16); Trate adequadamente as viúvas que são realmente necessitadas (1Tm 4.3).
A falta de compaixão aos próprios familiares é visto como algo pior que a apostasia, tamanha falta que é: Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente (1Tm 5.8). Um coração insensato à necessidade humana alheia desqualifica a fé do cristão e por consequência, prejudica o ministério da Igreja em proclamar as virtudes do Reino de Jesus Cristo.
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