segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Três expectativas para um líder cristão em 1 e 2 Timóteo

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É inquestionável para qualquer genuíno cristão que Paulo, depois de nascer de novo, exerceu uma vida cristã com a qualidade de um exemplar filho de Deus. Ele mesmo disse a Timóteo: Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé (2Tm 4.7). Paulo é indubitavelmente alguém a quem devemos olhar e imitar (cf. 1Co 11.1), visto que seus esforços, desde a compreensão dada por Deus sobre Ele e sobre si, foi prosseguir para o alvo de seu chamado celestial (Fp 3.14) de ser um ministro entre os povos: ...fui designado pregador e apóstolo (digo-lhes a verdade, não minto), mestre da verdadeira fé aos gentios (1Tm 2.7).
Enquanto entre os homens, o exemplar Paulo, apóstolo do Senhor Jesus Cristo, marcou sua vida e a de outros de diversas formas. Aliás, ele ainda faz isso através de seus preservados e inspirados escritos para diversas igrejas e pessoas de sua época. Ele foi incontestavelmente um eminente modelo, um exímio mestre e um espetacular mentor.


Paulo como modelo

Segundo dois dicionários virtuais da língua portuguesa, modelo significa aquilo que serve para ser imitado. Como figura de linguagem, é coisa ou pessoa que merece ser imitada, ou seja, exemplo.[1] De fato, Paulo era um exemplo de seguidor de Cristo, alguém que tinha a vida em total sujeição ao chamado celestial (At 20.24).

O pai

O apóstolo aos gentios tinha confiança em sua integridade. Ele apontava para si e dizia: suplico-lhes que sejam meus imitadores (1Co 4.16). Sua convicção era como a de um piedoso pai, que realmente era (cf. 1Co 4.15), e que reconhecia ser o melhor ter seus filhos o imitando do que a qualquer um outro. Ele suplicava (παρακαλ) aos seus filhos do Evangelho que fossem seus imitadores (μιμηταί), pois ele mesmo era imitador de Cristo: Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo (1Co 11.1).

O evangelista

À igreja de Tessalônica, Paulo disse: Pois vocês mesmos sabem como devem seguir o nosso exemplo, porque não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês (2Ts 3.7). Paulo vivia e pregava corriqueiramente acerca Reino de Deus: Irmãos, certamente vocês se lembram do nosso trabalho esgotante e da nossa fadiga; trabalhamos noite e dia para não sermos pesados a ninguém, enquanto lhes pregávamos o evangelho de Deus (1Ts 2.9 – grifo meu). Paulo é alguém que firmemente podemos ter como modelo de pessoa que administrava bem o seu tempo, especialmente no que tange a proclamação do Evangelho. Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitem ao máximo todas as oportunidades (Cl 4.5).
Para os tessalonicense Paulo também reafirma sua convicção de obreiro aprovado por Deus:
Irmãos, vocês mesmos sabem que a visita que lhes fizemos não foi inútil. Apesar de termos sido maltratados e insultados em Filipos, como vocês sabem, com a ajuda de nosso Deus tivemos coragem de anunciar-lhes o evangelho de Deus, em meio a muita luta. Pois nossa exortação não tem origem no erro nem em motivos impuros, nem temos intenção de enganá-los; ao contrário, como homens aprovados por Deus para nos confiar o evangelho, não falamos para agradar pessoas, mas a Deus, que prova o nosso coração (1Ts 2.2-4 – grifo meu; cf. 2Co 10.18).

O orientador

Apesar de num primeiro momento a proclamação do Evangelho ter sido árdua em Filipos, a mensagem frutificou. Quando Paulo escreve sua carta à igreja dos filipenses (60-61 a.D), ele encoraja seus irmãos em Cristo à promoção do Evangelho, com algumas poucas palavras de correção, todavia gentis. Para tal promoção do Evangelho, Paulo mais uma vez se usa como exemplo a ser imitado: Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês. (Fp 4.9 – grifo meu).
Paulo, ao pedir que os filipenses pusessem em prática o que ele mesmo lhes ensinou, vai além da teoria. Ao contrário do canto do hipócrita “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço,” Paulo pede ao seu público que colocasse em prática a doutrina instruída, o que os corações e mentes absorveram, o que eles ouviram privada ou publicamente e o que eles observaram dele. Paulo se mostra como exemplo holístico, um orientador a ser seguido, ciente que se assim eles também fizessem, ou seja, se a Paulo eles imitassem, eles poderiam ter certeza da presença de Deus, a fonte da genuína paz no meio deles.
Sobre esta passagem Albert Barnes escreveu: “O pregador é o intérprete da vida espiritual e deveria ser um exemplo disso.”  Robertson questionou: “Quão poucas são as pessoas destes dias que podem encorajar outros a imitar tudo o que eles viram nelas, aprenderam delas, e ouviram delas?”  Paulo conhecia a Deus e conhecia a si mesmo. Seus ensinos não eram somente verdade em suas palavras. Ele era capaz e verdadeiro ao apontar para si mesmo e se mostrar como um professor irrepreensível. Ele conhecia seus esforços para ser como Jesus Cristo. Ele sabia que crescia em Deus. Sua convicção não se tornava verdade à medida que ele depositava mais fé nela, mas ela era a própria verdade: Paulo é um modelo de cristão a ser seguido!

Timóteo como modelo

Não foi por menos que ele também exigiu de Timóteo, seu verdadeiro filho na fé (1Tm 1.2), que fosse exemplo para que outros cristãos o imitassem: Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1Tm 4.12).
Ninguém sabe ao certo a idade exata de Timóteo neste momento de sua vida. Vincent acredita que ele tinha entre 38 e 40 anos.   O autor de The People’s New Testament escreveu que ele tinha entre 35 e 38 anos.    “Segundo Irineu, a primeira etapa da vida abarca trinta anos e se estende até os quarenta (Against Heresies, II.xxii). Segundo essa fonte, Timóteo ainda era ‘um jovem’.”  Fato é que o pupilo de Paulo era muito mais novo que o apóstolo, como também era em relação aos presbíteros da igreja. De qualquer forma, a ordem era para que Timóteo soubesse lidar com o desprezo que possivelmente sofreria pela sua idade no cargo em que ocupava.
A resposta de Timóteo ao possível desprezo não deveria se basear na autoridade que lhe era direito. Paulo ordena que seu verdadeiro filho na fé fosse um padrão (ARA), um exemplo (τύπος) para os fiéis, possivelmente para que sua liderança fosse ratificada pela sua maturidade em Cristo e não pela posição na igreja. Para isso, Paulo cita cinco áreas:
· Na palavra (λόγ): Timóteo deveria ser um exemplo na forma e conteúdo de suas conversas. Um bom líder deve manter sua língua sobre controle (Tg 3.2) e reconhecer que más conversações são perigosas (1Co 15.33). Adam Clarke argumenta que este item também faz referência à didática do jovem e tira como lição: “Ensine nada além da verdade de Deus, pois nada além salvará almas.”
· No procedimento (ναστροφ): a palavra grega pode ser traduzida por modo de vida, conduta, comportamento, ou postura.    Ela se refere às atitudes visíveis. Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria (Tg 3.13 – grifo meu). Pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento (1Pe 1.15 ARA, grifo meu; também 1Pe 2.12).
· No amor (γάπ): “no profundo apego pessoal a seus irmãos e uma genuína preocupação por seu próximo (inclusive seus inimigos), buscando sempre a promoção do bem-estar de todos”  (cf. 1Co 13).
· Na fé (πίστει): “Em todo tempo, em todas as provações, exponha-se aos incrédulos pelo seu exemplo, como eles devem manter uma firme confiança em Deus.”
· Na pureza (γνεί): a mesma palavra é usada por Paulo um pouco depois nesta mesma carta: Não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos; as mulheres idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza (1Tm 5.1-2). A ideia era para que Timóteo se mantivesse debaixo da lei moral de Deus, santo, imaculado, provável e especialmente no que tange a imoralidade sexual.
Enfim, Paulo tinha uma expectativa que Timóteo buscasse ser exemplo para os outros cristãos como o próprio apóstolo o era, com a convicção correta.

Paulo como mestre

Além de se apresentar como modelo a ser imitado, Paulo também reconhecia ser um mestre, “cujo trabalho é de instruir homens, particularmente os gentios, a quem ele especificamente foi enviado, para proclamar as doutrinas da vida eterna, a ressurreição e incorruptibilidade final do corpo humano. Em resumo, a salvação do corpo e alma dos homens por Cristo Jesus.”   O apóstolo reconhecia que era o próprio Deus quem lhe dera o ofício de mestre: Deste evangelho fui constituído pregador, apóstolo e mestre (2Tm 1.11 – grifo meu; cf. 1Co12.28).
Um genuíno mestre (διδάσκαλος) é alguém verdadeiramente capaz de ensinar a outros. No caso de Paulo, especialmente os gentios, mas não exclusivamente: Para isso fui designado pregador e apóstolo (Digo-lhes a verdade, não minto.), mestre da verdadeira fé aos gentios (1Tm 2.7 – grifo meu; cf. Ef 3.7-8). Sempre que o apóstolo chegava a uma nova cidade, ele visitava a sinagoga e lá ficava até que era expulso (ex.: At 18.4-8). Então sua atenção era focada no público não judeu.
Todo mestre tem sua área de domínio. O professor (ou mestre) Paulo especificou a sua: a Palavra de Deus.
Agora me alegro em meus sofrimentos por vocês, e completo no meu corpo o que resta das aflições de Cristo, em favor do seu corpo, que é a igreja. Dela me tornei ministro de acordo com a responsabilidade, por Deus a mim atribuída, de apresentar-lhes plenamente a palavra de Deus, o mistério que esteve oculto durante épocas e gerações, mas que agora foi manifestado a seus santos. A ele quis Deus dar a conhecer entre os gentios a gloriosa riqueza deste mistério, que é Cristo em vocês, a esperança da glória (Cl 1.24-27 – grifo meu).

Era tarefa do apóstolo apresentar todo o conteúdo do Evangelho. Isto é que significa plenamente (πληρσαι) no texto bíblico. Um bom professor sabe como administrar o conteúdo a ser ensinado e o tempo necessário para a boa explanação. Em alguns locais Paulo permaneceu mais tempo do que em outros, razão nem sempre explícita na Bíblia, mas que ele sabia o porquê.

Timóteo podia testificar da realidade e da eficácia do ensino de Paulo

Timóteo era companheiro de Paulo. Estavam juntos em várias cidades para pregar a respeito de Jesus, o Filho de Deus (1Co 1.18-19): Filipos, Tessalônica, Beréia e Corinto, por exemplo. O jovem sem dúvida passou tempo suficiente com seu mestre para observar e internalizar suas virtudes. O próprio apóstolo, convicto de seu bom caminhar com Deus, reconhece ter tido Timóteo como testemunha de seu proceder em prol do Reino de Deus: Mas você tem seguido de perto o meu ensino, a minha conduta, o meu propósito, a minha fé, a minha paciência, o meu amor, a minha perseverança as perseguições e os sofrimentos que enfrentei, coisas que me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra (2Tm 3.10-11a). Todos estes bons valores de Paulo eram diametralmente opostos ao que homens como descritos no início de 2Tm 3 são apresentados. São estes os valores:
· Ensino (διδασκαλί): Paulo, como todo bom mestre, era um exímio expositor da Palavra de Deus. Timóteo sabia que de sua boca saía apenas o conteúdo do genuíno Evangelho, sem escoriações no conteúdo soteriológico.
· Conduta (γωγ): Paulo era eticamente correto; vivia o que pregava. Ele inclusive sabia que Timóteo podia testemunhar seu proceder aos coríntios (1Co 4.17).
· Propósito (προθέσει): O apóstolo aos gentios disse: Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus (At 20.24).
· (πίστει): Paulo caminhava com Deus de acordo com sua fé, que também era ensinada aos gentios e judeus: Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo para levar os eleitos de Deus à fé e ao conhecimento da verdade que conduz à piedade (Tt 1.1).
· Paciência (μακροθυμί): Paulo ensinava que longanimidade devia ser parte da essência do cristão, como fruto do Espírito (Gl 5.22) e vestimenta do novo ser (Cl 3.12).
· Amor (γάπ): Paulo sabia que um genuíno amor é sem hipocrisia (Rm 12.9).
· Perseverança (πομον): um sinônimo de paciência, cuja compreensão de Paulo não ficava somente em palavras: mas se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente (Rm 8.25).
· Perseguições (διωγμος): Paulo suportou diversas perseguições e Timóteo era testemunha disso.
· Sofrimentos (παθήμασιν): Paulo, o apóstolo, sofreu singularmente pela causa do Reino (2Co 11.16-33).
· (Coisas) quais me aconteceram (οα μοι γένετο): Como exemplos, ...provocando perseguição contra Paulo e Barnabé, os expulsaram do seu território (At 13.50b) e ...apedrejaram Paulo e o arrastaram para fora da cidade, pensando que estivesse morto (At 14.19).
Timóteo pôde observar o ministério paulino de muito perto. Ao falar sobre a palavra grega (um verbo) que traduz tem seguido de perto (παρηκολούθησας) Hendriksen afirma que “o verbo implica que Timóteo havia realmente tomado Paulo como um modelo, e que, além disso, o havia ouvido com grande interesse quando relatava suas experiências, em algumas das quais (por exemplo, as ocorrido em Listra) o próprio jovem estivera intimamente envolvido.”
O mestre Paulo, que vivia o que pregava, o real conteúdo da mensagem bíblica, também orientou seu pupilo Timóteo que agisse assim.

Timóteo como mestre

Paulo exige que Timóteo ordene e ensine estas coisas  (1Tm 4.11; veja também 1Tm 6.2,17).
Ele deve ordenar coisas tais como: ‘rejeitar mitos profanos e de velhas senis’, ‘Exercite-se [e a outros] para o viver piedoso’ (v.7). Ordens tais como essas se aplicam não só a Timóteo pessoalmente, mas a todos os presbíteros, sim, e ainda a todos os cristãos. É provável que a expressão ‘essas coisas’, em conexão com ‘ordene’, se refira também a mandamentos implícitos, tais como: ‘nunca rejeite o que Deus destinou ao uso, mas participe dele com ações de graça’ (vv.3,4); ‘Nutra-se [e a outros] das palavras da fé e da sã doutrina’ (v.6); ‘Confie no Deus vivo e em sua promessa a todos os eu vivem piedosa e o aceitam com fé genuína” (vv. 8,9). Timóteo deve ensinar coisas como ‘a apostasia está chegando na forma de ascetismo’ (vv.1-3); ‘esse erro é um insulto a Deus e à sua criação’ (vv.4,5); ‘um ministro excelente é aquele que se alimenta da sã doutrina que ele transmite a outros’ (v.6); ‘o benefício que advém da vida piedosa transcende aquele que resulta do treinamento físico’ (vv.8-10).”

Todo mestre deve se empenhar em ordenar e ensinar em ordem de se fazer conhecido, com a autoridade de Cristo, o conteúdo da Palavra de Deus para o procedimento de uma vida santa. Paulo também disse: até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino (1Tm 4.13):
· Leitura pública (ναγνώσει): A palavra grega pode ser tanto uma leitura privada quanto pública, mas parece mais lógico que seja uma referência à leitura pública, como sugere a tradução portuguesa. Numa época onde os textos impressos eram escassos, a leitura pública era a melhor forma de propagar o ensino. Um mestre deve ser capaz de pregar.
· Exortação (παρακλήσει): A palavra grega não tem o sentido de repreensão,  mas de aconselhar, animar e encorajar. Todavia, isso inclui a advertência, como por exemplo, num erro moral. Um bom mestre igualmente sabe conduzir propriamente as pessoas ao sentimento e a atitude correta, de acordo com a Palavra de Deus.
· Ensino (διδασκαλί): Paulo, como todo bom mestre, era um exímio expositor da Palavra de Deus. Timóteo sabia que de sua boca saía apenas o conteúdo do genuíno Evangelho, sem escoriações no conteúdo soteriológico.
Aos olhos de Paulo, Timóteo era capaz de, como ele, ser um bom mestre, alguém apto de pregar, exortar e ensinar o conteúdo bíblico, a verdade para a compreensão do propósito divino ao criar homens e mulheres segundo à Sua imagem e semelhança.

Paulo como mentor

Segundo o dicionário virtual Dicio, Mentor é um “autor intelectual; responsável pela idealização ou pelo planejamento de alguma coisa, para cuja execução influencia o comportamento de outrem.”   Paulo sem dúvida foi alguém notório na arte do mentoreamento.
Paulo e Barnabé formavam uma dupla digna de muito elogio. Eles trabalharam juntos e foram capazes de conduzir muitas pessoas ao conhecimento do Messias. Lucas, autor de Atos, escreveu: durante um ano inteiro Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e ensinaram a muitos (At 11.25). Os dois comissionados, Paulo e Barnabé, também indicaram crentes aptos à liderança em várias igrejas: Paulo e Barnabé designaram-lhes presbíteros em cada igreja; tendo orado e jejuado, eles os encomendaram ao Senhor, em quem haviam confiado (At 14.23). Depois da separação de Marcos no time missionário, Paulo era reconhecidamente o líder da equipe, visto a forma como Lucas descreve a equipe: Paulo e seus companheiros... (At 13.13). Como líder e companheiro de equipe, Paulo possivelmente foi um ótimo mentor a Barnabé, que inclusive exortou este último quando necessário: os demais judeus também se uniram a ele nessa hipocrisia, de modo que até Barnabé se deixou levar (Gl 2.13).
Barnabé foi apenas uma das várias pessoas mentoreadas por Paulo. São muitos os nomes que Paulo cita em algumas de suas cartas, possivelmente vários deles tiveram o privilégio de ser influenciados pelo grande mentor Paulo: Epêneto, Maria, Andrônico, Júnias, Amplíato, Urbano, Estáquis, Herodião, Narciso, Trifena, Trifosa, Rufo, Filólogo, Júlia, Nereu e muitos outros. Estes são exemplos somente da carta aos romanos (cap. 16).
Timóteo indubitavelmente foi mentoreado por Paulo. Ele trilhou juntamente do apóstolo por muitos lugares e pôde observar muito bem o proceder do mentor. Paulo, quando reconheceu que Timóteo estava pronto, enviou-o para que o jovem fosse mestre na igreja de Corinto: Por essa razão estou lhes enviando Timóteo, meu filho amado e fiel no Senhor, o qual lhes trará à lembrança a minha maneira de viver em Cristo Jesus, de acordo com o que eu ensino por toda parte, em todas as igrejas (1Co 4.17). Mas Paulo não queria que Timóteo fosse apenas mestre.

Timóteo como mentor

A segunda epístola de Paulo a Timóteo nos dá indícios de que o apóstolo sabia que sua vida estava próxima do final (cf. 2Tm 4.6). Ele não podia deixar nada fora de sua carta que não fosse extremamente importante ao jovem mestre Timóteo, mas que antes ainda, fosse extremamente importante à Igreja: E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros (2Tm 2.2)
O depósito (παραθήκην) que Paulo havia somente dito para Timóteo antes guardar (cf. 1Tm 6.20; 2Tm 1.14),    agora ele pede para confiar (παράθου) a homens fiéis (πιστος νθρώποις), pessoas capazes (κανο) de também continuar o ciclo de ensinar a outros. Sobre estes homens fiéis, John Gill disse:
“tais não apenas receberam a graça de Deus e são simplesmente verdadeiros crentes em Cristo, mas são homens de grande retidão e integridade, que em posse da Palavra de Deus, falarão corajosa e fielmente, não retendo nada que os impeça de lucrar, mas declara todo o aconselhamento de Deus, sem qualquer mistura nem adultério.”

É notório que Paulo especifica muito bem o público para o qual Timóteo deveria confiar (transmitir na ARA) o que havia ouvido de seu mentor. O crescimento saudável da igreja também depende disso e Paulo reconhecia que Timóteo tinha as virtudes de um mentor.

As exigências de Paulo a Timóteo

Paulo sabia que Timóteo caminhava na trilha de Deus e tinha potencial, talentos e dons, para se estabelecer na igreja como modelo, mestre e mentor. Não foi por menos que essas foram algumas das exigências do apóstolo ao seu filho na fé, com quem tem duas cartas de orientação canônicas.
Tais exigências vão além de Timóteo, fazendo-nos, leitores das cartas 2.000 anos depois, questionar se também não devemos acatar as exigências de Paulo às nossas vidas, com especial atenção àqueles que lideram ou desejam liderar. É a visão deste autor que nos atentemos ao texto e extraiamos o que deve ser observado pelo crente do século XXI sem que distorçamos a verdade do texto bíblico.
Fato é que há valores inegociáveis expressos diversas vezes nas cartas a Timóteo. Competência, caráter e compaixão são bons exemplos disso.

Expectativas de Paulo em relação à liderança cristã

Paulo compreendia que Timóteo era um jovem capaz de exercer a liderança cristã à semelhança de si mesmo. Paulo almejava que Timóteo desempenhasse papéis que são fundamentais para o crescimento da igreja. De uma forma semelhante, o escritor de tantas cartas neotestamentárias também deixa no texto sagrado suas expectativas para com as pessoas que exerceriam liderança no seio da igreja. Entre estas expectativas, reconhecidamente ele buscava crentes com competência, caráter e compaixão.

Competência

Uma pessoa competente, na prática, é alguém que desempenha algum encargo com excelentes eficiência e eficácia. No campo das ideias, é alguém altamente conhecedor de um assunto. Em várias passagens, Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, mostra que um bom líder deve buscar ser sempre competente.
Todo líder deve ter características básicas para exercer tal posição. Ter a disposição de hospedar, aptidão para ensinar e administração familiar são fundamentais (1Tm 3.2,4) para aquele que almeja o episcopado (1Tm 3.1). Todas essas são características visíveis para que a igreja perceba se a pessoa tem condições, ou seja, competência para o cargo que deseja. Não obstante, o candidato não deve ser recém-convertido (1Tm 3.6), sendo antes experimentado (1Tm 3.10). A razão é clara e expressa no texto bíblico: para que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação em que caiu o Diabo (1Tm 3.6).
São várias as passagens que o escritor foca as competências do ensino, ordem e exortação: ordene e ensine estas coisas (1Tm 4.11); dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino (1Tm 4.13); Dê-lhes estas ordens, para que sejam irrepreensíveis (1Tm 5.7); Ensine e recomende essas coisas (1Tm 6.2); Ordene... Ordene-lhes... (1Tm 6.17-18); Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina (2Tm 4.2); roguei-lhe que permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas... (1Tm 1.3); obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade (2Tm 2.15). Todo líder deve saber ensinar, repreender e dar ordens sempre que necessário. Estas são características inegociáveis para liderar os filhos de Deus à santidade.
O ensino de um bom líder não tem conteúdo qualquer. Seja diligente nessas coisas; dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam o seu progresso. Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina, perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem (1Tm 4.15,16). O próprio ensino está intrínseco à vida do pregador, que guarda a sã doutrina imaculada em seu coração, mas também a confia a homens que saberão igualmente compartilhá-las: Guarde este mandamento imaculado e irrepreensível, até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (1Tm 6.14); Timóteo, guarde o que lhe foi confiado (1Tm 6.20); E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros (2Tm 2.2); Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu (2Tm 3.14).
Paulo combateu o bom combate (2Tm 4.7) e diz para Timóteo fazer o mesmo: Timóteo, meu filho, dou-lhe esta instrução, segundo as profecias já proferidas a seu respeito, para que, seguindo-as, você combata o bom combate (1Tm 1.18); Combata o bom combate da fé (1Tm 6.12). Na realidade, todo cristão que zela por este título (cristão) e especialmente por esta função (líder), deve estar ciente da batalha e preparado para a guerra que tem como cabeça e vencedor Jesus Cristo. Nesta peleja todo crente deve buscar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão (1Tm 6.11). Essa busca é mais uma competência do homem, devendo ser ela notória na vida dos líderes.
A busca também deve ser por conhecimento:   Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis (2Tm 3.1). Sem a informação que a Palavra de Deus dá, haverá pouca eficiência tanto no ensino, como no proceder do líder. No caso, não haverá reconhecimento do tempo de Deus e o proceder do homem que em nada é capaz de agradar a Deus (Rm 3.11-12) Ademais, como ele será capaz de exortar seus irmãos na fé se não poderá distinguir entre o certo e errado que a Palavra de Deus revela? Não pode haver negligência nos estudos, tampouco no dom ou dons que Deus dá àqueles que são dEle: Não negligencie o dom que lhe foi dado por mensagem profética com imposição de mãos dos presbíteros (1Tm 4.14).
Em suma, tudo que for da alçada do cristão, que seja feito (Ec 9.10). Deus sem dúvida tem uma direção específica para cada um de seus filhos. Se assim não fosse, não seríamos diferentes membros no Corpo. 2Timóteo 4.5 conclui a competência que um cristão deve exercer: Você, porém, seja moderado em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.

Caráter

A bíblia portuguesa traduz δοκιμν algumas vezes como “caráter aprovado” (cf. Fp 2.22-ARA; Rm 4.5-NVI). O dicionário da Bíblia Almeida diz que caráter é o “conjunto de qualidades boas.” Segundo o dicionário Webster, caráter “é as qualidades peculiares, impressas por natureza ou hábito em uma pessoa.”  O caráter de uma pessoa torna-se visível por suas corriqueiras ações, especialmente aquelas tomadas sobre estresse. Se o dicionário Webster estiver certo quanto ao caráter ser algo da natureza, podemos concluir que sem a mão de Deus no processo de edificação ele dificilmente pode ser mudado.
Entretanto Deus quer que tenhamos o caráter dEle e Paulo, através de seus inspirados escritos nos mostra muitas vezes o que Ele espera e contribui em nós.
Reconhecer a própria identidade é o primeiro passo para o agir de Deus na transformação do caráter. Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior (1Tm 1.15). Se não nos vemos como agentes passíveis de pecado, mesmo que já justificados, acabamo-nos por desperdiçar bênçãos e motivos para orar e desfrutar da comunhão com Deus.
O crente deve ser aprovado por Deus: Procure apresentar-se a Deus aprovado (2Tm 2.15). O líder tem que preencher certos requisitos de caráter para desempenhar a função de liderança: É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável, não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro. Também deve ter boa reputação perante os de fora, para que não caia em descrédito nem na cilada do Diabo (1Tm 3.2,3,7). A diaconia, que também exerce liderança na igreja, não deve ser nem mais nem menos santa do que os bispos ou presbíteros: Os diáconos igualmente devem ser dignos, homens de palavra, não amigos de muito vinho nem de lucros desonestos. Devem apegar-se ao mistério da fé com a consciência limpa (1Tm 3.8-9). Tal exigência de caráter não se restringe ao homem, mas é também especificada em alguns detalhes à mulher: As mulheres igualmente sejam dignas, não caluniadoras, mas sóbrias e confiáveis em tudo (1Tm 3.11). Suas vestimentas são levadas em conta: da mesma forma, quero que as mulheres se vistam modestamente, com decência e discrição, não se adornando com tranças e com ouro, nem com pérolas ou com roupas caras (1Tm 2.9). Sua compreensão no papel de mulher e esposa também reflete seu caráter, que não deve ser machista, tampouco feminista: A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição (1Tm 2.11). Num culto público ela deve reconhecer seu lugar e importância: Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio (1Tm 2.12).
Um crente de (bom) caráter sabe que brigar não é uma opção: Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente (2Tm 2.24). Isso não torna o crente um covarde, pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio (2Tm 1.7), tampouco parcial, como quem a si próprio se beneficia: procure observar essas instruções sem parcialidade; e não faça nada por favoritismo (1Tm 5.21). Ele sempre se destacará como um exemplo em áreas relevantes dentro do Reino de Deus: Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1Tm 4.12). Ao mesmo tempo que ele se afasta da imoralidade, ele se aproxima do Ser moral.
O caráter de alguém que busca a Deus demonstra respeito aos chefes, todos os que estão sob o jugo da escravidão devem considerar seus senhores como dignos de todo o respeito (1Tm 6.1) e suporta os mais variados sofrimentos em detrimento do rei Jesus: Suporte comigo os meus sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus (2Tm 2.3). Gratidão transborda no coração de uma pessoa de (bom) caráter: tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos (1Tm 6.8), mesmo quando aos olhos de muitos ele parece miserável.
Enfim, tais homens de caráter são dignos de levantar suas mãos aos céus e dizer a Deus: “estou limpo.” Eles oram por seus adversários e se preocupam com a condição de seus corações: Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões (1Tm 2.8). As próprias palavras de Paulo concluem a utilidade e necessidade de uma condição pura perante Deus e os homens, num reino onde, enquanto aqui na terra, há cidadãos celestes de bom e mau caráter: Numa grande casa há vasos não apenas de ouro e prata, mas também de madeira e barro; alguns para fins honrosos, outros para fins desonrosos. Se alguém se purificar dessas coisas, será vaso para honra, santificado, útil para o Senhor e preparado para toda boa obra (2Tm 2.20-21).

Compaixão

Ninguém nunca teve mais compaixão que o próprio Cristo. Tendo Jesus como alvo inequívoco, Paulo também sugere que todos os crentes sejam compassivos e apresentem misericórdia, mesmo quando diante, por exemplo, de instruções exortativas: o objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera (1Tm 1.4).
Ser misericordioso, ou demonstrar compaixão é, à priori, refletir a misericórdia do próprio Deus que por razões exclusivas de Sua parte, escolheu-nos à vida eterna: Mas por isso mesmo alcancei misericórdia, para que em mim, o pior dos pecadores, Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza da sua paciência, usando-me como um exemplo para aqueles que nele haveriam de crer para a vida eterna (1Tm 1.16). A escolha divina não nos libertou de dificuldades na terra, mas nos garantiu que quando vivêssemos piedosamente seríamos perseguidos: fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (2Tm 3.12). Todo crente deve orar por toda gente, isso significa os parentes, amigos, adversário, chefes e reis! Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens (1Tm 2.1).
A compaixão que Deus espera do crente, especialmente do líder cristão, também reflete no zelo pelo idoso, não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos (1Tm 4.1) e pureza pelas idosas e moças, as mulheres idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza (1Tm 4.2). As viúvas que tem real necessidade não podem ser negligenciadas e neste quesito, Paulo chama à atenção das mulheres: Se alguma mulher crente tem viúvas em sua família, deve ajudá-las (1Tm 5.16); Trate adequadamente as viúvas que são realmente necessitadas (1Tm 4.3).
A falta de compaixão aos próprios familiares é visto como algo pior que a apostasia, tamanha falta que é: Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente (1Tm 5.8). Um coração insensato à necessidade humana alheia desqualifica a fé do cristão e por consequência, prejudica o ministério da Igreja em proclamar as virtudes do Reino de Jesus Cristo.
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