Sobre a perda de fiéis para evangélicos, dom Odilo diz que a Igreja Católica falhou em sua missão de aprofundar a fé das pessoas.
Para dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, o Bolsa Família ajuda as famílias pobres, mas transformou-se numa ferramenta eleitoral que distorce o sistema político.
Essa avaliação, feita em outubro de 2007 ao então cônsul-geral dos EUA em São Paulo , Thomas White, consta de telegrama diplomático obtido pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch).
A organização teve acesso a milhares de despachos.
A Folha e outras seis publicações têm acesso antecipado à divulgação no site do WikiLeaks.
Quando questionado sobre o Bolsa Família, dom Odilo afirmou que o programa tem efeitos contraditórios.
Do lado positivo, ajuda concretamente os pobres e faz com que mais dinheiro circule nas comunidades. Se as famílias observarem as regras, mantendo as crianças na escola e as vacinando, o programa pode trazer benefícios de longo prazo.
Do lado negativo, o cardeal ressalta o risco de os beneficiários desenvolverem dependência da bolsa e diz que a associação do programa com o governo federal e o PT o transformou num instrumento eleitoral que distorce o sistema político.
Na mesma conversa, dom Odilo afirma que a Teologia da Libertação perdeu força nos últimos anos, deixando de ser um "problema sério".
Ao referir-se à perda de fiéis para evangélicos, dom Odilo diz que a Igreja Católica falhou em sua missão de aprofundar a fé das pessoas.
O desafio agora é fazer com que a igreja seja ouvida, mas, segundo ele, isso é difícil, pois a mídia tradicional não dá muita atenção a mensagens de caráter moral.
Elas não vendem, diz o cardeal, que aproveitou para fazer críticas à Record, do líder evangélico Edir Macedo.
Para dom Odilo, a televisão opera como uma empresa comercial, mas também serve aos interesses dos evangélicos pentecostais.
Num outro despacho, este de março de 2006, o então cônsul-geral em São Paulo , Christopher McMullen, relata a conversa que teve com o então arcebispo da região metropolitana, dom Cláudio cardeal Hummes.
Nela, o religioso avalia a gestão de Lula, a quem conhece desde a ditadura.
Dom Cláudio diz que o governo foi bem na macroeconomia. Ele vê o Bolsa Família com mais simpatia do que dom Odilo. Para ele, porém, o que faltava até 2006 era crescimento econômico.
Em relação ao escândalo do mensalão, dom Cláudio diz que Lula "não o merecia". Para o religioso, o presidente foi mal servido por pessoas de seu entorno. Nomeia especificamente o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.