O deserto foi bem ligado com o início
do ministério de Jesus. No livro de Marcos, a palavra 'deserto' é usada quatro
vezes nos primeiros treze versículos (Versículos
3, 4, 12, 13 no original. Em diversas traduções portuguesas a palavra
'deserto' não aparece no v. 13, mas aparece nos textos gregos), mas não é
usada mais nenhuma vez depois. Qual tipo de lugar era o deserto?
Lugar de infertilidade
João pregou no deserto, que segundo
a profecia de Isaías 40:3-5, foi mal preparado para a chegada da glória do
Senhor. O deserto foi o lugar lógico para o trabalho de João porque
simbolizava os corações do povo, corações secos e mortos. Ele veio para
tirar as barreiras espirituais do povo que poderiam impedir a vinda do Messias.
Foi uma tarefa formidável: "Todos os vales serão levantados,
todos os montes e colinas serão aplanados; os terrenos acidentados se tornarão
planos; as escarpas serão niveladas" (Isaías 40:4). Para
realizar esta transformação João veio para este povo árido pregando
arrependimento (Mateus 3:2, 7-10). O arrependimento em que João insistiu não
era nada despreocupado, mas envolveu uma reorientação radical da vida (note
Lucas 3:10-14). Tornar este deserto num lugar frutífero exigiria mudanças em
todo aspecto do dia-a-dia do povo. Pessoas hoje estão em situações parecidas
e para qualquer pessoa estar preparada para Cristo na sua vida, tem que estar
disposta a mudar sua vida em todo sentido.
Lugar de simplicidade
A vida de João combinava bem com o
deserto em que habitava. Ele usava roupas feitas de pêlos de camelo com um
cinto de couro e se alimentava com gafanhotos e mel silvestre. Evidentemente, João
não tinha outro alimento nem outra roupa à sua disposição no deserto. É
claro que João não valorizou nem bens, nem conforto, nem honra. Nós estaríamos
dispostos a sermos chamados para o deserto? Diversos discípulos tiveram que
passar por severas aflições; Paulo, por exemplo: "Até agora
estamos passando fome, sede e
necessidade de roupas, estamos sendo tratados brutalmente, não temos residência
certa e trabalhamos arduamente com nossas próprias mãos....Até agora nos
tornamos a escória da terra, o lixo do mundo" (1 Coríntios
4:11-13). O escritor de Hebreus cita outros exemplos: "Outros
enfrentaram zombaria e açoites; outros ainda foram acorrentados e colocados na
prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da
espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados,
afligidos e maltratados. O mundo não era digno deles. Vagaram pelos desertos e
montes, pelas cavernas e grutas" (Hebreus 11:36-38). Nem todo
servo de Deus sofre tudo isso na vida, mas para servir ao Senhor temos que estar
dispostos a passar por severas tribulações, colocar as necessidades dos irmãos
acima das próprias luxúrias (Lucas 3:11; 12:33; 14:33), colocar o reino acima
de todas as coisas (Mateus 6:33; 8:20), e deixar de nos preocupar com questões
de comida e roupa (Mateus 6:25-34; Lucas 10:7-8). A simplicidade de João no
deserto serve como desafio para nós.
Lugar de libertação
Talvez a idéia do deserto esteja
mais ligada com a idéia da libertação e da salvação do que com qualquer
outra idéia. Lembramo-nos de como o Senhor soltou os israelitas das garras dos
senhores egípcios e providenciou-lhes redenção no deserto: "O
povo que escapou da morte achou favor no deserto" (Jeremias
31:2). Do mesmo jeito, nós, ao ficarmos libertados da escravidão do pecado,
passamos para o deserto (Oséias 2:14; Apocalipse 12:6, 14). O deserto vem a
simbolizar um lugar de salvação da servidão cruel. Que bênção!
Infelizmente, a geração dos israelites reclamou do deserto. Repetidas vezes,
os israelites se queixaram das dificuldades no caminho e queriam retornar à
escravidão egípcia (veja Êxodo 14:11-12; 16:3; 17:3; Números 11:4-6;
14:1-4). Não fazia sentido que eles quisessem voltar para a angústia do Egito.
Será que cristãos às vezes passam pelos mesmos sentimentos e almejam a vida
que levavam antes de seguir Cristo, a vida do pecado? Quando olhamos para trás
ou tentamos ficar com as coisas do passado arriscamos nossa alma: "Naquele
dia, quem estiver no telhado de sua casa, não deve descer para apanhar os seus
bens dentro de casa. Semelhantemente, quem estiver no campo, não deve voltar
atrás por coisa alguma. Lembrem-se da mulher de Ló!" (Lucas
17:31-32).
Lugar de prova
Para Jesus, o deserto foi o lugar em
que encontrou o Tentador e foi testado. Para os israelitas, o deserto foi o
lugar de provação também. Os resultados eram totalmente opostos. Jesus
derrotou Satanás em tudo. No caso dos israelitas, todos eles passaram pelo mar
e participavam da alimentação providenciada por Deus no deserto; porém, "Deus
não se agradou da maioria deles; por isso os seus corpos ficaram espalhados no
deserto" (1 Coríntios 10:5). É uma lição forte, porque
603.550 homens saíram do Egito, mas apenas dois deles entraram na terra
prometida! No deserto onde 99,99% dos israelitas fracassaram, Jesus venceu. Qual
era a diferença? Jesus confiou no Senhor e na Palavra. Ele citou a escritura: "Não
só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de
Deus" (Mateus 4:4; veja Deuteronômio 8:3), e mostrou a
importância da palavra citando-a cada vez que o diabo se aproximou. Os
israelitas, por causa da incredulidade causada por duro coração, caíram "durante
o tempo da provação no deserto" (Hebreus 3:8). Como os
israelitas, cristãos hoje passaram pelo mar do batismo e participam da ceia do
Senhor. Há um sério perigo de que a mesma coisa aconteça hoje: "Essas
coisas ocorreram como exemplos para nós ... Essas coisas aconteceram a eles
como exemplos e foram escritas como advertência para nós" (1
Coríntios 10:6, 11). No deserto da provação, confiaremos na scritura e
venceremos a tentação ou seremos autoconfiantes e cairemos?
Lugar de bênção
João, voz que clamava no deserto,
anunciou Jesus como aquele que batiza com o Espírito Santo. Vários textos proféticos
mostram uma visão do deserto transformado por Deus num lugar bem frutífero
(Isaías 35:1, 6; 41:18-19; 43:19-21; 51:3). Especialmente interessantes são os
trechos que ligam o novo vigor do deserto com a provisão do Espírito. "A
fortaleza será abandonada, a cidade barulhenta ficará deserta ... até que
sobre nós o Espírito seja derramado do alto, e o deserto se transforme em
campo fértil, e o campo fértil pareça uma floresta" (Isaías
32:14-15). "Pois derramarei água na terra sedenta, e torrentes
na terra seca; derramarei meu Espírito sobre sua prole, e minha bênção sobre
seus descendentes" (Isaías 44:3). As maravilhosas bênçãos
que estão disponíveis em Cristo vêm por causa do trabalho do Espírito Santo
que tem sido derramado sobre o povo de Deus (Ezequiel 39:29).
Infelizmente, há muitos equívocos
quando pessoas começam a tratar o assunto do Espírito Santo porque elas deixam
de distinguir entre as várias responsabilidades do Espírito Santo e as épocas
certas em que faz estas obras. Considere este paralelo: No primeiro século
Jesus andou na terra em corpo humano, morreu na cruz e apareceu a várias
pessoas após sua ressurreição. No século XXI, Jesus não faz nenhuma destas
coisas. Mas Jesus ainda existe, opera nas vidas dos seus discípulos, e trabalha
hoje. Pelo mesmo jeito, o Espírito Santo no primeiro século operou na vida de
Jesus (Mateus 3:16; 12:18, 28), inspirou a autoria dos livros do Novo Testamento
(1 Coríntios 2:13; 14:37), e deu dons especiais para várias pessoas (1 Coríntios
12-14). No século XXI, O Espírito Santo não faz nenhuma destas coisas. Mas o
Espírito Santo ainda existe, opera nas vidas dos seus discípulos, e trabalha
hoje.
Através de Ezequiel, o Senhor
profetizou sobre nossa época dizendo: "Darei a vocês um coração
novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra
e lhes darei um coração de carne. Porei o meu Espírito em vocês e os levarei
a agirem segundo os meus decretos e a obedecerem fielmente às minhas leis"
(Ezequiel 36:26-27). Precisamos refletir para verificar que temos
o Espírito do Senhor em nós. Nosso coração é macio e sensível à palavra
de Deus, ou nossa receptividade à vontade do Senhor parece pedra--fria, dura e
petrificada? Andamos nos decretos do Senhor; observamos fielmente as suas leis?
Até que ponto o Espírito reside em nós? "...No qual todo o
edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor.
Nele vocês também estão sendo edificados juntos, para se tornarem morada de
Deus por seu Espírito" (Efésios 2:21-22). Um cristão
cresce para ser cada vez mais santuário do Senhor deixando a palavra do Espírito
habitar cada vez mais ricamente no seu coração, dominar cada vez mais
fortemente seu andar (Efésios 5:18; Colossenses 3:16), e produzir cada vez mais
o fruto apropriado (Gálatas 5:22-23). Demonstramos a presença do Espírito em
nós?
Temos muita coisa para aprender no
deserto. Jesus conquistou o diabo ali e transformou a aridez em jardim.
Aproveitamos esta bênção?
Nenhum comentário:
Postar um comentário