Viviane Castanheira*
Passava um pouco das 8h45 quando Nova Iorque foi pega de surpresa por um forte estrondo. De vários pontos da cidade, era possível ver a espessa coluna de fumaça que emanava de uma das torres mais altas do World Trade Center (WTC) – um complexo de prédios comerciais situados na parte sul do Distrito de Manhattan – logo depois de ter sido atingida por um avião. Em poucos minutos, os olhos do mundo inteiro já estavam voltados para o local, ainda em tempo de acompanhar, ao vivo, pelas redes de televisão, o momento em que outra aeronave se chocou contra a torre ao lado. Centenas de bombeiros e policiais foram deslocados para o salvamento das vítimas, muitas das quais, em desespero, jogaram-se pelas janelas. Os esforços, entretanto, não foram suficientes para evitar a morte de 2.602 pessoas nos prédios que desmoronaram cerca de uma hora e meia depois da primeira colisão. Além disso, todos os passageiros e tripulantes dos aviões – ao todo, 157 indivíduos – morreram nos atentados terroristas ao WTC.
Outros dois ataques semelhantes, nos quais também foram usados aviões comerciais, aconteceram naquela fatídica manhã de 11 de setembro de 2001. Um deles, da American Airlines, foi arremessado contra o Pentágono – quartel-general do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, na capital do país, Washington –, causando a morte de 184 pessoas. O outro, da United Airlines, que, segundo os investigadores, seria direcionado a um segundo alvo na mesma cidade – talvez o Capitólio, sede do Congresso Nacional, ou a Casa Branca, residência oficial do presidente norte-americano –, caiu em Shanksville, cidade de uma zona rural do Estado da Pensilvânia, deixando um saldo de 40 mortos.
Os autores da tragédia, de acordo com as investigações que sucederam ao ataque, foram integrantes suicidas da rede islâmica Al Qaeda, então comandada pelo saudita Osama bin Laden. Entretanto, o terrorista – morto em maio deste ano, no Paquistão – só assumiu a autoria intelectual do atentado em 2004, quando deixou claro que sua intenção era punir os Estados Unidos pelo apoio incondicional ao Estado de Israel.
Xenófobo e anti-islâmico - Ações extremadas motivadas por questões religiosas, porém, não são peculiares de alguns adeptos do islã, cujo livro sagrado, o Alcorão, promete, segundo os radicais islâmicos, grandes recompensas na vida futura àqueles que morrerem a serviço de Alá. Em julho de 2011, o norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, identificado pela mídia como um fundamentalista cristão ligado à extrema-direita, matou 76 pessoas em duas ações terroristas. A primeira, com uma bomba, que teve como alvo a sede do governo norueguês, em Oslo; a segunda, uma série de disparos contra jovens militantes do partido trabalhista (atualmente no poder), os quais participavam de um acampamento de verão na ilha de Utoeya, próxima à capital.
O objetivo de Breivik era usar os atentados para divulgar suas opiniões. “Estamos falando de um extremista de direita, antimarxista, ‘antimulticulturalista’, xenófobo, anti-islâmico, cristão fundamentalista. Li que ele alega que a ‘mistura de raças’ responde pelas dificuldades enfrentadas por seu país, inclusive a desigualdade social”, analisa o Pr. Emerson José de Souza, da Igreja Internacional da Graça de Deus em Aracati (CE). Para ele, as convicções do rapaz, partilhadas por grupos de extrema-direita da Europa, não trazem nada de novo. “Ele não passa de um sociopata que defende o terrorismo como instrumento de conscientização das massas. Isso não é cristianismo, mas, sim, ‘religiosismo’. Religião é um conjunto de convicções, e cristianismo é seguir os mandamentos de Cristo. É o que procuramos fazer”, pondera.
Para o Pr. Marcos Stier Calixto, autor do livro O cristão e o islamismo, toda crença pode manifestar-se de forma mais agressiva, dependendo da saúde mental e do caráter do indivíduo que a professa. “A defesa da fé por meio da violência, geralmente, procede da ignorância, não só de outros segmentos religiosos, mas, incrivelmente, da própria religião professada pelo agressor”, analisa o pastor, que atuou por mais de 15 anos evangelizando muçulmanos no Brasil e no exterior.
Em 1999, Calixto fundou a Igreja Evangélica Árabe Brasileira, em Foz do Iguaçu (PR). “Vivi 13 anos na fronteira de Foz do Iguaçu [região conhecida como Tríplice Fronteira, onde os limites de Brasil, Paraguai e Argentina se encontram]. O fanatismo pode estar presente em qualquer religião quando compreendemos de forma errada a proposta em questão”, argumenta. Ele assinala que Jesus é um anunciador da paz; por isso, aquele que tem a mente de Cristo é centrado e tem sabedoria para lidar com as diferenças. “Jesus sempre evidenciou o amor pelas pessoas à parte de seus pensamentos e suas propostas. Ele traz, pelo Espírito, o domínio próprio, que atinge diretamente o caráter, possibilitando a calma, a paz e a abertura para qualquer tipo de diálogo”, atesta o pastor, um dos líderes da Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba (PR).
Pela imposição - Os cristãos, que, em sua maioria, primam pela tolerância, raramente recebem o mesmo tratamento cordial em países onde são minoria. Verifica-se que os casos de perseguição àqueles que professam a fé em Jesus são bastante recorrentes, principalmente, no mundo muçulmano. “Nos países de governo islâmico, é comum ver cristãos sendo mortos por grupos de radicais, os quais cresceram assustadoramente logo após o 11 de setembro”, lembra o Bp. Roberto Torrecilhas, 46 anos, do Ministério Geração Graça e Paz , em Jaguariúna (SP). “Esses governos tentam abafar e esmagar todas as outras crenças pela imposição. Ao mundo, porém, buscam mostrar o contrário, mas nossos missionários são testemunhas disso e sofrem muito por causa das perseguições”, afirma ele, que é professor de Teologia no seminário de sua igreja e autor do blog Gritos de Alerta.
No diário virtual, o bispo, que costuma publicar textos em que analisa a fé islâmica, denuncia que há grupos extremistas de muçulmanos em formação em pleno solo brasileiro. “No Norte, já existem células em funcionamento; na região da Tríplice Fronteira, também, embora eles se dividam entre os três países. O próprio Osama bin Laden esteve lá e passou alguns dias na região, escolhida como base de suas operações na América do Sul. São ações para a implantação do islamismo”, conta Torrecilhas, que acredita plenamente na possibilidade de alvos brasileiros estarem na lista de muçulmanos radicais.
O editor da Obra Missionária Chamada da Meia Noite, Ingo Haake, cujas publicações defendem e promovem apoio ao Estado de Israel, ressalta que o Brasil pode ser um alvo fácil para os fundamentalistas da fé, especialmente, aqueles oriundos do islamismo. “Não há legislação antiterrorista nem um controle mais efetivo em relação à entrada e ao estabelecimento de pessoas vinculadas a movimentos radicais no país, as quais podem usar a nação como base de operações. A presença de extremistas islâmicos e o envio de simpatizantes brasileiros para treinamento no Afeganistão ou no Paquistão têm sido noticiados”, afirma o editor, que, ao contrário do Bp. Torrecilhas, não acredita que possam ocorrer atentados terroristas no Brasil. “Por esse clima simpático e favorável aos movimentos islamitas, provavelmente, eles não praticariam atos de terrorismo aqui, exceto, talvez, contra alvos da comunidade judaica”, intui.
Voto de pobreza - O radicalismo religioso, no entanto, não se manifesta apenas com atos de violência, mas pode ser caracterizado por ações extremadas em que o autor é a vítima principal. Essa foi a experiência vivida pela vendedora Edinalda Tironi Block, hoje com 29 anos, a qual, aos 12, deixou a casa dos pais para viver em um convento. Ela conta que, ainda menina, tinha um desejo muito forte de servir ao Senhor, mas não sabia direito como deveria fazê-lo. “Morava na cidade de Liberato Salzano (RS), onde, até hoje, não há uma igreja evangélica. Então, a única forma que conhecia de servir a Deus era tornar-me freira. Foi o que fiz. Saí da casa de meus pais, que ficaram extremamente felizes com a minha decisão, e segui rumo ao convento em uma cidade vizinha à nossa”, relata Edinalda, hoje casada e membro da Igreja Internacional da Graça de Deus em Gravataí (RS).
Lá, ela fez voto de pobreza, e só lhe era permitido comer o que sobrava das refeições servidas no hospital administrado pelo convento. “Não podia usar xampu ou qualquer coisa que fosse considerada vaidade. Também não utilizávamos absorventes e, [durante o período de menstruação], nós nos protegíamos com papel higiênico. Havia dias em que eu só comia arroz, mas estava feliz, pois queria servir a Deus e achava que, para isso, precisava fazer tal sacrifício”, conta a vendedora, que, embora tenha vivido no convento dos 12 aos 16 anos, não chegou a se tornar, efetivamente, uma freira.
Após quatro anos, ela foi morar com uma irmã em Porto Alegre (RS), a fim de dar continuidade aos estudos. “Não havia Ensino Médio na cidade onde ficava o convento; por isso, afastei-me momentaneamente; porém, mantive meus votos de pobreza e servidão, e ainda sonhava tornar-me uma freira”, relembra. No entanto, Deus tinha outros planos para a menina, pois sua irmã se convertera ao Evangelho e conseguira convencê-la a ir a um culto jovem de sua igreja. Foi o suficiente para Edinalda começar a questionar suas convicções religiosas. “Fiquei uma semana sem dormir, em uma batalha espiritual. Minha irmã teve de viajar a trabalho, mas eu não conseguia parar de frequentar aquela igreja, até que me converti ao Evangelho e abandonei o hábito”, testemunha.
Ela conta que, por conta de sua decisão de deixar o sonho de tornar-se freira, enfrentou grande resistência da família. “Minha mãe ficou muito triste, e meu pai cortou relações: por um ano, ele recusou-se a falar comigo. Hoje, apesar de meus pais ainda não conhecerem o Senhor, tudo está bem entre nós. Não sabia que servir a Jesus poderia ser tão prazeroso”, finaliza ela, que descobriu, por experiência própria, quão prejudiciais e desnecessários são os atos extremos em nome da fé. (*Colaborou Marcelo Santos)
Fonte: Revista Graça/Show da Fé - Edição nº146 -