Quase mil integrantes de uma seita que pregava o fim do
mundo em 21 de dezembro de 2012 foram presos na China por pregarem o
Apocalipse. O grupo tem mais de um nome, os mais conhecidos são Dōngfāng Shǎndiàn
[Relâmpago Oriental], “seguidores do Segundo Salvador”, “verdadeira
Luz” e “Igreja de Deus Todo-poderoso”. Fundada em 1989, na província
chinesa de Henan, foi proibida de atuar pelo governo desde 1995. Seu
fundador, Zhao Weishan, alegando perseguição religiosa, fugiu para os
Estados Unidos.
Desde então tem se espalhado entre comunidades de imigrantes chineses
em todo o mundo. Sua crença central é que Jesus Cristo reencarnou em
uma mulher chinesa de meia-idade chamada “Relâmpago” Deng, que vive hoje
no bairro Chinatown, em Nova York. Eles defendem que seus membros devem
derrubar o Partido Comunista chinês, a quem chamam de “Satanás
encarnado” e “o grande dragão vermelho”.
Suas principais tentativas de recrutar fiéis são nas comunidades
rurais chineses e incluem métodos bizarros. Desde o aparecimento de
cobras vivas pintadas com versículos, até luzes com brilho neon nas
casas das pessoas que de alguma forma acreditam na segunda vinda de
Cristo. Embora não esteja claro como eles fazem isso, tais medidas
causam temor naqueles que os rejeitam.
Líderes de grupos evangélicos e católicos advertiram seus membros
repetidas vezes sobre os perigos desse grupo. Mas a seita continua se
infiltrando nas chamadas “igrejas subterrâneas” da China, grupos de
cristãos que seguem a Bíblia e por isso são proibidos pelo governo
comunista.
As táticas de aliciamento de membros incluem sedução, sequestro,
suborno e chantagem. A Relâmpago Oriental já cooptou mais de um milhão
de membros, de acordo com estimativas próprias. Com isso, é a primeira
vez que o Partido Comunista da China e os líderes da igreja subterrânea
parecem estar do mesmo lado.
O inimigo em comum é apenas mais um capítulo na longa e sangrenta
história dos cristãos que vivem na China e sofrem constante perseguição
interna e externa. Historicamente, os líderes dos cristãos “não
registrados” pelo governo estão presos ou são “reeducados através do
trabalho”, termo técnico para escravidão.
Líder cristão sequestrado pela seita com a orelha cortada.
Quando o fundador da seita, Zhao Weishan, conheceu uma mulher chamada
“Relâmpago Deng”, ela mostrou a ele o livro que tinha escrito, chamado
“Relâmpago do Oriente”, que reescrevia a Bíblia usando elementos
culturais chineses. Desde então os dois têm divulgado vários
ensinamentos que unem versículos bíblicos e técnicas de guerrilha.
A revista Vice entrevistou Wei Guangzheng, imigrante chinês que teve
contato com a seita nos EUA. “A maioria dos seus seguidores vive na zona
rural, têm pouca educação formal, e estão em sua maioria
desempregados”, contou.
Também ouviu Dennis Balcombe, um pastor americano que vive na China.
Ele ficou em prisão domiciliar por alguns meses por pregar ilegalmente o
Evangelho. O pastor conta que os membros da seita “são extremamente
violentos e usar o sexo para tentar converter as pessoas”. “Eu já ouvi
histórias de cristãos sendo queimados, espancados, e ameaçados que seus
filhos seriam mortos. Quando a Relâmpago sequestra alguém, a pessoa fica
detida por seis meses, e ele passam a fazer lavagem cerebral nela”,
lamenta.
Para o pastor americano, eles são “como a Máfia”, e já “extorquiam
mais de um milhão e meio de dólares dos seguidores”. Extremamente bem
treinados, estão se infiltrando cada vez mais nas igrejas cristãs
chinesas, alcançando posições de liderança depois de um tempo. Quando
saem, levam consigo muitos membros para seita, o que atrapalha muito o
trabalho em um país tão avesso ao cristianismo.
Em 2002, a seita sequestrou os 34 principais líderes de uma das mais
importantes redes de igrejas subterrâneas, a China Gospel Fellowship.
Eles ficaram em cativeiro por dois meses.
Alguns tiveram suas pernas quebradas e outros, as orelhas cortadas.
Mulheres nuas tentaram seduzi-los a entrar para o grupo. Como não
tiveram sucesso, tiraram fotos comprometedoras que seriam usadas para
chantageá-los. Desde então, as atividades da seita são detectadas em
diversos lugares da China, seguindo sempre a mesma estratégia. Mais um
grande desafio para um país onde a perseguição aos cristãos aumentou
125% no ano passado, segundo dados de missões que trabalham no país.
GP