Independentemente da confissão religiosa, espera-se que os sacerdotes
precisem guiar os outros nos momentos difíceis. Um novo estudo
descobriu que a natureza deste trabalho pode colocar os pastores em
maior risco de desenvolver depressão e ansiedade.
Pesquisadores da Iniciativa de Saúde do Clero da Escola de Divindade
na Universidade Duke entrevistaram mais de 1.700 pastores por telefone e
através de pesquisas on-line. Eles constataram que os casos de
depressão foram de 8,7% e 11,1%, respectivamente. Isso indica uma grande
diferença na comparação com a taxa média nacional de 5,5%.
“É preocupante que uma elevada percentagem dos pastores podem estar
deprimidos, enquanto tentam inspirar suas congregações e tentando fazer o
aconselhamento dos fieis”, explica Jean Rae Proeschold-Bell, diretora
de pesquisas da Iniciativa de Saúde do Clero. “Esse tipo de
responsabilidade é um desafio para aqueles que vivem com altas taxas de
depressão”.
Outras profissões que envolvem cuidar das pessoas, como as da área de
saúde e assistência social também possuem taxas de depressão acima da
média.
De acordo com Proeschold-Bell, vários fatores deixam o clero mais
vulnerável à depressão e à ansiedade. O principal é que os pastores
sentem que foram chamados para o trabalho por Deus, e por isso ignoram
alguns riscos do trabalho à sua própria saúde. A ansiedade aumenta
quando se estabelecem objetivos e a depressão surge quando esses alvos
não foram alcançados.
“Se eu tiver um dia ruim fazendo minhas pesquisas, posso ir para
casa, relaxar e começar de novo amanhã”, disse a pesquisadora. “Um
pastor vai para casa, depois de um dia longo e difícil e se questiona:
“Será que eu tomei as decisões certas e fiz o que Deus queria que eu
fizesse?”
Além disso, toda semana eles estão propensos a experimentar vários
altos e baixos emocionais, muito mais do que a média. “Eles estão,
literalmente, se alternando entre casamentos e funerais”, disse
Proeschold-Bell.
Pastores também podem ter expectativas altas sobre seu próprio
trabalho, o que pode fazê-los continuar ativos mesmo quando estão
doentes ou muito cansados. Uma vez que os fiéis também têm expectativas
elevadas sobre aqueles que conduzem suas igrejas, a pressão sobre o
clero acaba vindo de várias fontes.
“É provável que, quando os pastores sentem que seu ministério está
indo bem, eles experimentam emoções positivas que os ajudam a se
proteger do sofrimento mental. Claro que o inverso também é verdadeiro”,
ressalta.
Steven Scoggin, presidente da CareNet, uma rede de centros de
aconselhamento pastoral nos Estados Unidos, disse que esses resultados
não são surpresa.
“Há uma sensação de que eles devem ser capazes de lidar com mais
problemas que os outros, pois são pessoas de fé”, disse Scoggin. “A
maioria das congregações não aceita bem quando o pastor se mostra
vulnerável e transparente com suas lutas internas”.
A organização de Scoggins dedica-se a ajudar especialmente os
sacerdotes. Ele ressalta que, muitas vezes, a depressão e a ansiedade
surgem quando o pastor não é capaz de separar o sucesso ou fracasso de
sua igreja com o sucesso ou fracasso pessoal. Um passo importante para
ajudá-los a liderar, destaca, seria os pastores estarem melhor
preparados para separar sua vida do seu ministério. “Eu acho que é muito
mais uma questão de autoconhecimento”.
Proeschold-Bell destaca que os membros das igrejas podem ajudar a
aliviar as tensões sobre seus pastores, lembrando que os membros do
clero já recebem muita pressão. “Eu acho que os fieis deveriam ser muito
cuidadosos com suas críticas”, disse ela.
O estudo completo, publicado na última edição do Journal of Primary
Prevention, indica que os participantes eram predominantemente do sexo
masculino (75%) e brancos (91%) e com uma média de 52 anos de idade. Os
índices das pessoas que responderam as questões pela internet é maior
por causa da tendência a sermos mais diretos quando não há um contato
com o entrevistador. Cerca de 7% dos pastores sofrem simultaneamente de
depressão e ansiedade.
Essa pesquisa é parte de um estudo que fez entrevistas em 2008, 2010 e
2012, e deverá continuar em 2014 e 2016. Os dados são tabulados para
identificar tendências com o passar do tempo. O material pode ser
consultado em www.clergyhealthinitiative.org. Com informações de Huffington Post e Divinity.
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