Centenas de radicais muçulmanos incendiaram duas igrejas e atacaram um tribunal nesta terça-feira na ilha de Java (Indonésia), exigindo punições rígidas a um cristão que está sendo julgado por blasfêmia, segundo a polícia.
Os ataques ocorreram dois dias depois do linchamento de três seguidores de uma seita islâmica minoritária que é considerada herege por outros muçulmanos, e no início da chamada "semana interreligiosa", em que a Indonésia deveria celebrar seu pluralismo.
Os incidentes podem agravar as preocupações de investidores estrangeiros que esperavam um aumento da tolerância religiosa na Indonésia, o maior país islâmico do mundo - embora com governo laico - e é a maior economia do Sudeste Asiático.
Entidades de direitos humanos e alguns analistas dizem que um decreto aprovado em 2008 pelo governo, interessado no apoio de influentes grupos muçulmanos, tem trechos ambíguos, que acabam por enfraquecer a harmonia entre as religiões.
Nesta terça-feira, centenas de homens, muitos deles usando toucas ou lenços típicos dos muçulmanos, apedrejaram um tribunal em Temanggung, cerca de 400 quilômetros a leste de Jacarta, ao saberem que a promotoria havia pedido uma pena de 5 anos de prisão para um católico acusado de distribuir material blasfemo.
A multidão também atirou pedras e outros objetos na tropa de choque e em seguida atacou três igrejas, incendiando duas delas, segundo o porta-voz policial Djihartono (que, como muitos indonésios, usa um só nome).
Um padre de Temanggung viu sua igreja ser incendiada e os vitrais estilhaçados pela multidão, relatou Windyatmoko Bernardus, pároco de uma cidade vizinha, pertencente à mesma ordem. "Meu amigo foi agredido pela multidão até ser resgatado e levado a um posto militar", disse Bernardus.
Djihartono disse que a polícia, com apoio do Exército, está vigiando a cidade, e que a situação vai gradualmente se normalizando.
Também na terça-feira a polícia informou ter detido dois suspeitos de ligação com o linchamento dos seguidores do movimento Ahmadi. A agressão foi filmada por dezenas de câmeras e mostrada na imprensa local e em redes sociais. As imagens mostram as vítimas sendo mortas a pauladas, enquanto os policiais, em menor número que a multidão, assistiam passivamente.
Os Ahmadis acreditam que Maomé não é o último profeta do Islã, e dizem que Mirza Ghulam Ahmad, que fundou a seita no século 19 na Índia, seria seu sucessor e messias.
Apenas seis religiões ou crenças são oficialmente reconhecidas na Indonésia - islamismo, cristianismo católico e protestante, hinduísmo, budismo e confucionismo.
REUTERS
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