Depois do Complexo do Alemão, governo fluminense planeja invadir a Mangueira
Foto: Reinaldo Marques/Terra
Foto: Reinaldo Marques/Terra
A Secretaria de Segurança Pública já montou a nova estratégia para ocupação nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte, quartel-general de traficantes da facção criminosa Comando Vermelho. O conjunto de favelas ficará ocupado por dois mil militares do Exército, quando as polícias Federal, Civil e Militar e os fuzileiros navais deixarem a região semana que vem.
A retirada dará início ao planejamento da invasão à próxima favela, para instalação de futura UPP: a Mangueira, também reduto da mesma facção criminosa. Nesta terça-feira, no Alemão, a polícia encontrou um dos túneis usados por cerca de 50 bandidos bandidos para escapar da favela.
A saída da polícia e permanência do Exército foi acertada em reunião, segunda-feira à noite, em Brasília, entre o governador Sérgio Cabral, a presidenta eleita Dilma Rousseff, e o atual ministro da Defesa, Nelson Jobim. Os militares ficarão lá por 11 meses - até outubro - a tempo de novos 7 mil PMs serem formados. A maior parte dos soldados do Exército que atua no Complexo do Alemão já passou pelas forças de paz da ONU no Haiti. O patrulhamento na área ocorrerá de forma semelhante ao trabalho realizado naquele país.
O cerco aos 58 acessos às favelas - hoje feito por 1.100 PMs de 16 batalhões - ficará a cargo dos homens e de 28 patrulhas do Exército. A Polícia Militar terá apenas 300 homens, em três batalhões especiais de campanha que serão criados. As novas unidades serão comandadas pelo coronel Edivaldo Camelo. Elas ficarão responsáveis pelas revistas em casas e incursões nas ruas e vielas.
"As forças federais fazem trabalho de contenção solicitado por nós. Outra coisa é o patrulhamento. Por força do efetivo que precisamos para isso, nós teremos nesse processo de transição, até a chegada da nossa UPP, no fim do primeiro semestre (de 2011), efetivo do Ministério da Defesa em torno de dois mil homens", afirmou o governador, durante inauguração da UPP do Morro dos Macacos, em Vila Isabel.
A maior preocupação do ministro Nelson Jobim, com a expansão do prazo de apoio à política de segurança do Rio, é a de que o Exército não substitua a atuação da polícia. Para resolver essa questão, o acordo com o governo estadual será fundamentado no conceito de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que está sendo feito pela assessoria jurídica do Ministério da Defesa. Foi com base no GLO que Jobim bateu o martelo para a primeira participação do Exército na retomada de território no Alemão.
A Secretaria de Segurança Pública espera que, com o apoio do Exército nos complexos da Penha e do Alemão, seja possível arquitetar novas ofensivas contra os criminosos. Um dos principais alvos estudados é a Favela da Mangueira, que terá também uma UPP. No planejamento da Subsecretaria de Inteligência estão sendo monitorados ainda os morros que cercam o bairro de Santa Teresa, como Falett e Fogueteiro.
Com o apoio das Forças Armadas e Polícia Federal, a Secretaria de Segurança vai reavaliar as ações com vistas à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016, como ocorreu com o próprio complexo de favelas da Penha e Alemão. Pelo planejamento, as ocupações policiais estavam previstas para ocorrer em 2012. Isso pode incluir, por exemplo, invasões em favelas da Zona Sul.
50 bandidos fogem por tubulação de esgoto
Policiais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente encontraram nesta terça a galeria de águas pluviais e esgoto por onde teriam fugido mais de 50 criminosos do Complexo do Alemão. Entre os foragidos estariam os traficantes Fabiano Atanázio da Silva, o FB; e Paulo Roberto de Souza Paz, o Mica. Eles teriam roubado uniformes de funcionários de obras do PAC, mas a polícia ainda investiga se a galeria foi ampliada por ordem dos traficantes.
"Testemunhas viram os criminosos deixando este buraco, alguns com fuzis, para, inclusive, proteger os chefões do grupo. Eles teriam fugido para o Morro do Adeus e, de lá, para outras comunidades", contou um dos policiais responsáveis pela investigação. Os traficantes acessaram a galeria por trás de uma creche, na Estrada do Itararé. Após percorrer cerca de 600 m dentro da canalização, o bando saiu na altura da Rua Arapá, próximo à UPA do Complexo do Alemão.
Seis barras de ouro em troca de escapada A Corregedoria Geral Unificada, da Secretaria Estadual de Segurança, vem recebendo denúncias sobre a fuga dos traficantes do Complexo do Alemão durante as ações militares e policiais. Uma das informações investigadas é a de que três policiais teriam recebido seis barras de ouro dos bandidos para facilitar a fuga. Ainda não há confirmação se isso ocorreu. "A denúncia está um pouco vaga, mas já iniciamos a apuração. Procuramos reunir provas para punir os autores ou autor do desvio de conduta", afirmou o corregedor, desembargador Giuseppe Vitagliano.
A polícia já sabe que um dos túneis subterrâneos, que dão acesso às galerias de águas pluviais, foi usado pelo assaltante Emerson Ventapane da Silva, o Mão, investigado pelas mortes de dezenas de policiais na Zona Norte do Rio e preso na ação de domingo. Ele teria descido num buraco próximo à Favela Nova Brasília e, por lá, teria caminhado até chegar a um rio que desemboca próximo ao PAM de Del Castilho.
Violência
Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis incendiaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer). Na terça-feira, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal se juntaram às forças de segurança no combate à onda de violência que resultou em mais de 180 veículos incendiados.
Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tomaram a vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que foi cercado no sábado. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do Complexo do Alemão, praticamente sem resistência dos criminosos, segundo a Polícia Militar. Entre os presos, Zeu, um dos líderes do tráfico, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes em 2002.
Desde o início dos ataques, pelo menos 39 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.
A retirada dará início ao planejamento da invasão à próxima favela, para instalação de futura UPP: a Mangueira, também reduto da mesma facção criminosa. Nesta terça-feira, no Alemão, a polícia encontrou um dos túneis usados por cerca de 50 bandidos bandidos para escapar da favela.
A saída da polícia e permanência do Exército foi acertada em reunião, segunda-feira à noite, em Brasília, entre o governador Sérgio Cabral, a presidenta eleita Dilma Rousseff, e o atual ministro da Defesa, Nelson Jobim. Os militares ficarão lá por 11 meses - até outubro - a tempo de novos 7 mil PMs serem formados. A maior parte dos soldados do Exército que atua no Complexo do Alemão já passou pelas forças de paz da ONU no Haiti. O patrulhamento na área ocorrerá de forma semelhante ao trabalho realizado naquele país.
O cerco aos 58 acessos às favelas - hoje feito por 1.100 PMs de 16 batalhões - ficará a cargo dos homens e de 28 patrulhas do Exército. A Polícia Militar terá apenas 300 homens, em três batalhões especiais de campanha que serão criados. As novas unidades serão comandadas pelo coronel Edivaldo Camelo. Elas ficarão responsáveis pelas revistas em casas e incursões nas ruas e vielas.
"As forças federais fazem trabalho de contenção solicitado por nós. Outra coisa é o patrulhamento. Por força do efetivo que precisamos para isso, nós teremos nesse processo de transição, até a chegada da nossa UPP, no fim do primeiro semestre (de 2011), efetivo do Ministério da Defesa em torno de dois mil homens", afirmou o governador, durante inauguração da UPP do Morro dos Macacos, em Vila Isabel.
A maior preocupação do ministro Nelson Jobim, com a expansão do prazo de apoio à política de segurança do Rio, é a de que o Exército não substitua a atuação da polícia. Para resolver essa questão, o acordo com o governo estadual será fundamentado no conceito de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que está sendo feito pela assessoria jurídica do Ministério da Defesa. Foi com base no GLO que Jobim bateu o martelo para a primeira participação do Exército na retomada de território no Alemão.
A Secretaria de Segurança Pública espera que, com o apoio do Exército nos complexos da Penha e do Alemão, seja possível arquitetar novas ofensivas contra os criminosos. Um dos principais alvos estudados é a Favela da Mangueira, que terá também uma UPP. No planejamento da Subsecretaria de Inteligência estão sendo monitorados ainda os morros que cercam o bairro de Santa Teresa, como Falett e Fogueteiro.
Com o apoio das Forças Armadas e Polícia Federal, a Secretaria de Segurança vai reavaliar as ações com vistas à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016, como ocorreu com o próprio complexo de favelas da Penha e Alemão. Pelo planejamento, as ocupações policiais estavam previstas para ocorrer em 2012. Isso pode incluir, por exemplo, invasões em favelas da Zona Sul.
50 bandidos fogem por tubulação de esgoto
Policiais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente encontraram nesta terça a galeria de águas pluviais e esgoto por onde teriam fugido mais de 50 criminosos do Complexo do Alemão. Entre os foragidos estariam os traficantes Fabiano Atanázio da Silva, o FB; e Paulo Roberto de Souza Paz, o Mica. Eles teriam roubado uniformes de funcionários de obras do PAC, mas a polícia ainda investiga se a galeria foi ampliada por ordem dos traficantes.
"Testemunhas viram os criminosos deixando este buraco, alguns com fuzis, para, inclusive, proteger os chefões do grupo. Eles teriam fugido para o Morro do Adeus e, de lá, para outras comunidades", contou um dos policiais responsáveis pela investigação. Os traficantes acessaram a galeria por trás de uma creche, na Estrada do Itararé. Após percorrer cerca de 600 m dentro da canalização, o bando saiu na altura da Rua Arapá, próximo à UPA do Complexo do Alemão.
Seis barras de ouro em troca de escapada A Corregedoria Geral Unificada, da Secretaria Estadual de Segurança, vem recebendo denúncias sobre a fuga dos traficantes do Complexo do Alemão durante as ações militares e policiais. Uma das informações investigadas é a de que três policiais teriam recebido seis barras de ouro dos bandidos para facilitar a fuga. Ainda não há confirmação se isso ocorreu. "A denúncia está um pouco vaga, mas já iniciamos a apuração. Procuramos reunir provas para punir os autores ou autor do desvio de conduta", afirmou o corregedor, desembargador Giuseppe Vitagliano.
A polícia já sabe que um dos túneis subterrâneos, que dão acesso às galerias de águas pluviais, foi usado pelo assaltante Emerson Ventapane da Silva, o Mão, investigado pelas mortes de dezenas de policiais na Zona Norte do Rio e preso na ação de domingo. Ele teria descido num buraco próximo à Favela Nova Brasília e, por lá, teria caminhado até chegar a um rio que desemboca próximo ao PAM de Del Castilho.
Violência
Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis incendiaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer). Na terça-feira, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal se juntaram às forças de segurança no combate à onda de violência que resultou em mais de 180 veículos incendiados.
Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tomaram a vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que foi cercado no sábado. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do Complexo do Alemão, praticamente sem resistência dos criminosos, segundo a Polícia Militar. Entre os presos, Zeu, um dos líderes do tráfico, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes em 2002.
Desde o início dos ataques, pelo menos 39 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.