Depois de assumirem o controlo do complexo do Alemão, as autoridades brasileiras vão agora virar-se para as favelas da zona sul do Rio de Janeiro: Rocinha e Vidigal são o próximo alvo das forças de segurança da cidade, anunciou ontem o secretário de segurança José Mariano Beltrame. A guerra aberta entre traficantes e polícia nas favelas da cidade não é mais do que uma primeira batalha que promete alterar a relação das duas maiores "forças" da cidade. Exército e polícias civil e militar assumiram o controlo do Complexo do Alemão, que abrange 13 favelas da zona norte do Rio de Janeiro e, em apenas nove dias, o cenário é ilustrador da violência: 50 mortes, 109 veículos incendiados, 223 detidos, 40 toneladas de canábis e mais de 50 espingardas apreendidas. Agora o governo do Rio de Janeiro já adiantou que as forças de segurança vão avançar em direcção às favelas da zona sul da cidade. A Secretaria de Segurança explicou ao i que a "acção" no Complexo do Alemão "estava planeada há dois anos". A zona composta por 13 favelas "era um dos lugares mais emblemáticos com convergência de marginais para todo o Rio de Janeiro". No entanto, o atraso da operação é justificado pelas "dificuldades de recursos humanos e tecnológicos", onde se inclui "a formação de polícias e licitações para a compra de blindados".
A colaboração das Forças Armadas foi preponderante na concretização do plano. "Em função dos ataques dos traficantes na cidade, as Forças Armadas suprimiram esta carência e a operação foi desencadeada", relata fonte oficial da Secretaria de Segurança. O i tentou ainda obter esclarecimentos sobre a próxima operação nas favelas da zona sul, mas a única resposta do governo do Estado dá conta que o "projecto de pacificação está em curso". O objectivo é transformar o Rio de Janeiro numa "metrópole com níveis criminais comparáveis a qualquer outra". Até porque a cidade vai receber jogos do Mundial de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. O primeiro passo foi dado ontem com o anúncio da instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Complexo do Alemão. A operação deverá levar pelo menos seis meses, mas a Secretaria de Segurança sublinha que "não é a ocupação desta favela que vai mudar uma realidade de 30 ou 40 anos, mas sim um trabalho de longo prazo que está a ser feito."
Segundo Round As favelas da Rocinha, entre a Gávea e São Conrado, e do Vidigal, próxima do Leblon, são o próximo alvo. "Vamos chegar à Rocinha e ao Vidigal." A frase do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, preocupou os cariocas, devido à proximidade com as áreas turísticas da cidade, explicou ao i Francisca Coelho, de 22 anos. Francisca é portuguesa e está a estudar no Rio. Pela primeira vez sente-se ameaçada no percurso entre o Leblon e a PUC (Pontifícia Universidade Católica) no bairro da Gávea: "O Rio está o caos, as pessoas não vão à praia e quase não se vê ninguém na rua, à noite", nota.
A estudante garante ainda que os media não estão a mostrar toda a gravidade da situação, porque "o Rio de Janeiro está em guerra declarada. A Rocinha é mesmo aqui ao lado, estou muito preocupada." Familiares e amigos da estudante estão preparados para uma possível mudança na cidade ou mesmo para passar um longo período sem sair de casa. "A minha prima vai sair do Brasil agora e já me indicou uma moradia (perto de Petrópolis), caso as coisas se compliquem. Na Universidade, as pessoas comentam que fizeram reservas em casa e isto começa a assustar-me."
Rocinha Na favela da Rocinha, os traficantes preparam-se para receber a polícia, mas os moradores já denunciaram às forças de segurança alguns dos principais criminosos da zona. Alguns dos traficantes já estariam a construir "trincheiras e barricadas" em vários pontos da favela e, segundo o "Globo", estão na posse de explosivos de dinamite que foram roubados à empresa Dinacon Indústria e Comércio, do Rio Grande do Sul. Os moradores da Rocinha informaram as autoridades que vários criminosos que fugiram do Complexo do Alemão estão escondido na favela da zona sul do Rio e a polícia já respondeu com agentes disfarçados que se instalaram há quatro dias no morro para investigar as denúncias.
Apesar do sentimento contraditório entre alguns habitantes do Rio, o governo brasileiro mantém o seu total apoio ao governo federal. A afirmação do presidente Lula da Silva é elucidativa. "O Brasil vai ganhar esta guerra." Lula da Silva disse ontem, em declarações a uma rádio brasileira, que a operação levada a cabo por cerca de 2600 agentes foi um sucesso.
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