A União Europeia e os Estados Unidos aumentam a pressão e já estudam sanções contra o ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, pela violenta repressão dos protestos da oposição que deixou ao menos 300 mortos desde 15 de fevereiro.
Apesar do contra-ataque com armas de grosso calibre e até armamento antiaéreo, a oposição não cede e planeja nesta sexta-feira novas ofensivas em cidades próximas da capital Trípoli, reduto de Gaddafi.
A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, exigiu nesta sexta-feira sanções contra o regime do ditador líbio. "É hora de considerar o que chamamos de medidas restritivas, o que podemos fazer para garantir que estamos pressionando tanto quanto é possível para tentar interromper a violência na Líbia e ver o país seguir adiante", disse Ashton.
Um comitê de Segurança e Defesa da UE, assim como os ministros da Defesa, reunidos em Godollo (Hungria), analisarão as sanções o mais rápido possível, segundo Ashton.
As propostas incluem o congelamento dos bens no exterior e a proibição de viagens ao exterior para membros do regime de Gaddafi --o ditador já teve seus bens congelados na Suíça e no Reino Unido.
Durante esta semana, os Estados-membros já encarregaram seus especialistas em Bruxelas de estudar as possíveis medidas que podem ser adotadas contra as autoridades líbias.
Ashton afirmou, contudo, que "ninguém falou de uma ação militar" da UE na Líbia e que os países-membros se concentram por enquanto em coordenar esforços para retirar os milhares de europeus que continuam na Líbia.
Na véspera, a Casa Branca disse que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conversou com os líderes da França, Reino Unido e Itália para discutir o "conjunto de opções" que eles consideram como resposta à crise na Líbia.
Obama fez ligações separadas para o primeiro-ministro britânico, David Cameron; o presidente francês, Nicolas Sarkozy; e o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, segundo a Casa Branca.
"Os líderes discutiram o conjunto de opções que os Estados Unidos e os países europeus estão preparando para responsabilizar o governo líbio por suas ações, assim como o planejamento de assistência humanitária", disse a Casa Branca, sem mais detalhes.
CORTE E A OTAN
Também na quinta-feira França e Reino Unido apresentaram ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) um projeto de resolução para impor um embargo de armas à Líbia, assim como um recurso à Corte Penal Internacional (CPI) para que o país responda por "crimes contra a humanidade", informou a chanceler francesa Michèle Alliot-Marie.
O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta sexta-feira em Nova York (EUA).
"Há um projeto franco-britânico no qual pedimos que a resolução tenha a previsão de um embargo total de armas, assim como sanções, e de levar Muammar Gaddafi à CPI para que responda por crimes contra a humanidade", declarou a ministra.
"A situação é muito grave", completou, antes de afirmar que é necessário "dar um sinal muito forte". "A situação é absolutamente dramática. Não temos certeza sobre o número de vítimas, mas tudo indica que são centenas. Não pode haver impunidade".
A situação na Líbia será discutida também pelos países-membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O secretário-geral Anders Fogh Rasmussen convocou uma reunião de emergência com os embaixadores dos 28 países aliados.
"A situação da Líbia é uma grande preocupação. A Otan pode atuar para facilitar e coordenar qualquer ação, sempre e quando os Estados-membros quiserem tomar medidas", destacou.
O ex-primeiro-ministro dinamarquês ressaltou nesta quinta-feira durante sua visita à Ucrânia que a Otan não tinha planos de intervir na Líbia, já que por enquanto a situação não representa uma ameaça nem para a aliança nem para nenhum de seus membros.
No entanto, especificou que os eventos que estão ocorrendo na Líbia podem ter consequências negativas, em particular, podem gerar uma grande onda de refugiados procedentes desse país. Ele já criticara o indiscriminado uso da força que as autoridades líbias empregaram contra os manifestantes, apelando para que as autoridades de Trípoli "freiem a repressão contra os civis".
MILHARES DE VÍTIMAS
A Alta Comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direitos Humanos, Navi Pillay, denunciou nesta sexta-feira um crescimento "alarmante" da repressão à rebelião e estimou que pode ter deixado "milhares de mortos e feridos".
"Em aberta e contínua violação das leis internacionais, a repressão das manifestações pacíficas na Líbia se intensifica de forma alarmante, com notícias de massacres, detenções arbitrárias, detenções e torturas de manifestantes", declarou Pillay.
"De acordo com algumas fontes, podem ser milhares de mortos ou feridos", acrescentou, no início de uma sessão especial do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que vai examinar a situação na Líbia.
Os 47 membros do Conselho se pronunciarão ao fim da reunião sobre um projeto de resolução que pede a exclusão da Líbia deste organismo da ONU, do qual o país faz parte desde maio de 2010.
AVANÇO DA OPOSIÇÃO
As forças opositoras ao regime de Gaddafi mantêm nesta sexta-feira o controle sobre a região leste do país país --em cidades como Benghazi, Tobruk e Ajdabiya-- prometendo uma marcha para tentar tomar a capital Trípoli, bastião de resistência do regime.
A maior parte do leste da Líbia já está sob controle da oposição e aumenta a cada hora o número de diplomatas e ministros que abandonam o governo de 42 anos de Gaddafi. O ditador ainda está sob firme controle da capital, algumas cidades dos arredores, o desértico sul e partes esparsas do oeste.
Moradores em várias cidades dizem que a oposição pediu ao povo que vá às ruas protestar após as orações de sexta-feira. Alguns moradores de Trípoli disseram ter recebido mensagens de texto em seus celulares pedindo que protestem na praça Verde --local de intensos confrontos no começo da semana entre opositores e forças de segurança.
A violenta reação de Gaddafi permitiu até agora que mantivesse o controle sobre Trípoli, onde mora cerca de um terço da população de 6 milhões de líbios. Mas a oposição avança significativamente pelo leste do país, já controla importantes poços de petróleo e os rumores de uma guerra civil começam a ganhar força.
Os rebeldes tomaram controle de uma faixa de território que vai da fronteira com o Egito, passa por metade da costa de 1.600 km no Mediterrâneo ao porto de Breqa, a apenas de 710 km leste de Trípoli.
FONTE FOLHA.COM