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Mas como lidar com este “bum” do mercado da fé? Como não cair em tentação em um mercado que envolve tanto dinheiro e glamour? E como manter os princípios de Deus em meio à esse novo turbilhão?
Sobre isso, conversamos com o jornalista e publicitário, Diretor de Marketing do Salão Internacional Gospel e do Grupo MR1, Marcelo Rebello, 39, que deu a sua opinião sobre o assunto.
Ele foi responsável pelo marketing e assessoria de imprensa de muitos cantores conhecidos. Se apaixonou por música aos 9 anos e nunca se desvinculou. Seu último trabalho de destaque foi como patrocinador do concurso “Tem um cantor gospel lá em casa”, veiculado no programa Eliana, do SBT,que foi vice-líder de audiência por 2 meses seguidos, em pleno horário nobre de um domingo a tarde.
Para ele, a profissionalização do setor está em momento de reestruturação. “Hoje um CD Gospel, quando feito por profissionais, não deixa nada a desejar para qualquer outro estilo. A própria linguagem tem sofrido uma modificação, as músicas estão mais leves, mais pop, mas sem perder a espinha dorsal, que é levar a mensagem transformadora, de fé e esperança que a Palavra de Deus traz”.
Rebello também está a frente da da Feira Oficial da Música Gospel na América Latina, o Salão Internacional Gospel, que também está se transformando com este novo mercado. Ele aproveitou a entrevista para anunciar seu mais novo projeto, com exclusividade ao The Christian Post.
CP: O que você acredita motivar este grande “bum” da música gospel?
Marcelo Rebello: Na minha opinião, é um processo natural. Uma questão de tendência: nas últimas décadas, o crescimento dos evangélicos no Brasil tem sido contínuo e grandioso. A uma taxa de 14% ao ano, seremos praticamente a metade da população em 2020. São 220.000 templos, 55 milhões de evangélicos em 2011. é um número substancioso, que mais cedo ou mais tarde seria notado pela grande mídia.
O perfil dos evangélicos favorece o segmento, em primeiro lugar pela própria questão cultural: desde criancinha, o envolvimento com a música na liturgia e no dia-a-dia dos cristãos é notório. Estima-se que 68% dos lares evangélicos tenham alguém que canta ou toca algum instrumento musical. Mais de 98% dos evangélicos ouvem frequentemente música cristã seja em casa, no carro ou no trabalho. O percentual de pirataria é de 16%, bem menor que o do mercado fonográfico em geral (em torno de 60%).
Fazer um concurso Gospel, em horário nobre, como produzimos em parceria com o SBT, era algo inimaginável há algumas décadas atrás. Passaram por lá Cassiane, Damares, Diante do Trono, Oficina G3, Fernandinho, Régis Danese, Marina de Oliveira, Fernanda Brum, Irmão Lázaro e muitos outros. Isto por si só já demonstra a força que o segmento tem.
à partir deste pontapé inicial, pudemos ver surgirem novas iniciativas, como o Troféu e o Festival Promessas que vai ser veiculado na Rede Globo e que é uma sequência do trabalho que começamos. Para nós, que estamos há tanto tempo semeando neste mercado é bom ver que finalmente estamos colhendo os frutos regados às lágrimas, esforço e dedicação.
CP: Um mercado que envolve tanto dinheiro pode acabar perdendo os valores religiosos?
Marcelo Rebello: Sem dúvida! Este é um perigo constante. Não são poucas as histórias que conhecemos de pessoas que eram humildes, centradas na fé e no amor de Cristo e que depois que fizeram um "pseudo-sucesso" deixaram-se corromper e começaram a ver-se no espelho como "estrelas". Digo pseudo-sucesso pelo simples fato de que a fama terrena é efêmera, independentemente do segmento. Ainda mais no caso do Gospel, em que, em tese, a tônica deveria ser primeiro o compromisso espiritual e, logo em seguida, o material.
é óbvio que existem em nosso meio muitas pessoas sérias, profissionais, comprometidas com o mercado e com Deus. Mas há também os que querem aproveitar a onda para mergulharem de cabeça nos santos lucros... No entanto, eu tenho consciência de que "Deus não divide a sua glória com ninguém". Quem for sério, vai permanecer e ter galardão. Quem estiver nessa só pelo dinheiro ou pela fama, com certeza, mais dia menos dia vai desaparecer assim como está escrito na Bíblia: "Não tenha inveja dos ímpios, pois um dia você vai olhar para o lado e já não existirão". Nesse meio em que atuamos existem muitos ímpios com pele de cristão, lobos com pele de ovelha.
O que é fato é que, independentemente da motivação do cantor, banda, bispo ou ministério, a mensagem da Palavra de Deus está sendo levada, e ela nunca volta vazia.
Quem acompanhou tudo desde o começo, sabe muito bem que para nós, que viemos da época em que nem bateria podia-se tocar em muitas igrejas, o atual estágio de visibilidade da Música Gospel é algo a se comemorar. A real missão da fé é o amor à Deus e ao próximo. é isso que Deus espera das pessoas e daqueles que levam o ministério musical.
Costumo dizer que a verdadeira liberdade só é alcançada quando obedecemos a vontade de Deus em nossas vidas, abrindo mão de nossos conceitos terrenos e priorizando o compromisso espiritual. O dinheiro é uma consequência de um bom trabalho, é um fim e nunca deve ser o motivo. Se é bom, fica. Se é fumaça, vai desaparecer com o tempo.
CP: Programas de TV que mostram a música gospel traz uma boa imagem para o estilo?
Marcelo Rebello: Tudo ajuda no que diz respeito a divulgação. No entanto, devemos ter cautela e bom senso. Principalmente com a forma que projetamos nossa imagem na mídia. A questão não é aparecer mas de que forma aparecer. Acho que nossos líderes e artistas precisam andar mais próximos de profissionais de comunicação que tenham responsabilidade com suas imagens. Sem esquecer também do espiritual, que estamos no mundo mas não pertencemos a ele. Somos a imagem e semelhança do nosso Criador e o que tem que prevalecer é a divulgação do evangelho.
CP: O que você pensa sobre o uso da mídia de tentar atrair o público “as custas” desta forma de espressão da fé?
Marcelo Rebello: Não gosto de pensar que o mercado de Deus seja utilizado desta forma. Usar a expressão de fé "apenas" para atrair o público é aproveitar-se da espiritualidade das pessoas para ter vantagem própria. O ideal seria que se pensasse em fazer um trabalho sério, bonito, profissional. Grandes produções com exposição midiática sempre atraem o público. A mão é inversa. Se perde muito tempo pensando em como "se aproveitar" da mídia, ao invés de se pensar em "aproveitar" a mídia com responsabilidade para expor a fé.
CP: Como poderia ser utilizada a exposição na mídia de forma positiva para a religião?
Marcelo Rebello: Como meio de se atingir a grande ordem de Cristo: levar a mensagem de fé e esperança para as pessoas. Veja bem, a mídia vive de publicidade, é isso que paga as contas das TVs, rádios, jornais, revistas, portais, etc. A audiência atrai a publicidade e justifica o investimento das empresas em determinados programas ou horários nos veículos. Se conseguirmos fazer com que novas programações, de qualidade, venham a fazer parte da grade das emissoras, o fim será atingido sem ter que perverter o meio. é uma questão de visão aliado à competência profissional. Eu glorifico a Deus e oro sempre pela vida dos diretores e donos de veículos de imprensa, pois eles estão sendo um canal de bênçãos para a disseminação da Música Gospel.
CP: Pode comparar os cantores evangélicos com os católicos? é o mesmo estilo? Quais as características que diferem, ou não?
Marcelo Rebello: Creio que existam diferenças e semelhanças. Existem muitas questões doutrinárias e dogmáticas que acabam em determinados momentos causando semelhanças e em outros diferenças.
A música, enquanto linguagem, é universal, atinge todas as camadas sem preconceito e nem distinção de cor, raça, posição social ou credo. O que convencionou-se chamar com mais ênfase de Gospel aqui no Brasil é a camada musical evangélica, mas para alguns a camada católica está inclusa neste contexto enquanto para outros não. Não ousaria fazer comparações. é um campo minado (risos). Preferiria me ater à premissa de dizer que gosto de uma boa música, com uma mensagem que traga consigo não a religiosidade, mas sim a possibilidade de comunicação com Deus, que está bem acima de nossas convicções terrenas.
Hoje em dia, com o crescimento do movimento carismático católico e o neo pentecostalismo evangélico muitas das obras musicais são executadas por ambas as vertentes. Tem muitos católicos que conheço que têm CDs evangélicos nos porta-luvas de seus carros.
CP: O que se espera do mercado gospel de hoje?
Marcelo Rebello: Que aproveite da forma certa o momento favorável para levar o nome de Cristo às pessoas que precisam de uma mensagem de fé, esperança e transformação de valores e atitudes.
O momento atual é bem peculiar, com todos os holofotes e esforços voltados à esta grande fonte de santos lucros. A necessidade de um investimento no aprimoramento das estratégias de gestão de comunicação, de marketing e administrativa são notórias. Um mercado que incha rapidamente a tendência é que se torne, se não for bem gerido, uma grande "bolha". Mais exposição na mídia e muita movimentação é o que se espera do mercado Gospel de hoje.
Espero, ainda, que as grandes gravadoras e empresas do ramo artístico ligadas ao mercado de Música Gospel invistam em ações que sejam inovadoras e diferenciadas. Isso é possível, tomo como exemplo recente a nossa feira que em apenas quatro meses de mídia conseguiu ter mais citações exclusivas no Google do que todas as outras feiras evangélicas e musicais somadas. Isto é resultado de um trabalho sério, profissional, focado e reflexo de ações pioneiras, como o quadro Gospel que fizemos na TV e a maneira de levar de forma equilibrada a informação com responsabilidade e transparência.
Hoje temos a honra de anunciar em primeira mão para o The Christian Post que em nosso Salão Internacional Gospel, que acontece de 12 a 14 de Abril de 2012 em São Paulo, no Centro de Exposições Imigrantes, vamos fazer o primeiro grande Festival para a descoberta de novos talentos musicais, o SING FESTIVAL, em três categorias simultâneas (dança, cantores e bandas), e o melhor: com inscrições GRáTIS. Não vamos cobrar um real sequer de quem quiser participar, pois foi a maneira que encontramos de investir no mercado em que atuamos, servindo como uma vitrine viável para que possam florescer novas pérolas e diamantes musicais. Os 10 finalistas de cada categoria vão se apresentar no Auditório Principal. E isto é apenas mais uma das grandes coisas que Deus tem colocado no nosso coração para ajudar a fortalecer a Música Gospel e a Igreja de Cristo na Terra. Ano que vem tem muita coisa boa ainda por acontecer, mas ainda não tenho autorização para contar (risos).
CP: Quais os cuidados a serem tomados pelos artistas e pelos ouvintes?
Marcelo Rebello: Na palavra de Deus, existe um ensinamento interessante: "Ouça, analise e retenha o que é bom". Ou seja, os principais cuidados a serem tomados tanto pelos que fazem a Música Gospel quanto pelos que a escutam é ouvir atentamente a mensagem, procurar discernir o que é bom do que é ruim e, principalmente, confrontar a mensagem que está sendo cantada com a verdade absoluta, que é a Palavra de Deus.
O ritmo, neste caso, é o que menos importa. Creio que existem momentos para se fazerem shows evangelísticos, onde a tônica é o entretenimento saudável. E isto não é pecado, se for feito da maneira correta, pois é muito melhor nossos jovens estarem se divertindo de forma saudável ouvindo a mensagem de Deus do que estar em ambientes onde reina a música vulgar, as drogas e o álcool, que geralmente levam às brigas e demais problemas sociais contemporâneos na nossa juventude e adolescência. Assim como existem momentos para se congregar os irmãos, no templo, e juntos louvar e adorar a Deus, bem como é importante a presença da boa Música Gospel nos momentos em família e com os amigos e pessoas que amamos. Enfim, tudo que é feito com equilíbrio é sempre muito bem-vindo!
Gostaria de agradecer pela oportunidade de tecer comentários sobre assuntos tão relevantes e parabenizar o The Christian Post pelo trabalho excelente. Em segundo lugar, gostaria de dizer que fazer parte desta história da Música Gospel no Brasil, colaborando ativamente para o crescimento e expansão da fé cristã por meio da mensagem musicada é muito mais do que poderia imaginar para a minha vida.
O Salão Internacional Gospel, o Museu da Música Gospel, nossa agência MR1 e a nossa nova gravadora, que têm priorizado a descoberta e a geração de oportunidades para os novos talentos deste segmento se tranformou numa grande causa: glorificar o nome de Jesus Cristo com tudo isso. Costumo dizer que Deus é o compositor, Jesus o grande Maestro, o Espírito Santo a orquestra e nós, os intrumentos que de vez em quando precisam ser devidamente afinados para produzir o som das melodias celestes que saem do coração de nosso amado Pai de Amor.
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