A Portas Abertas teve acesso ao relato de uma brasileira que viajou recentemente para a Coreia do Norte. Número 1 na Classificação de países por perseguição, esse é o lugar onde é mais difícil ser cristão. Em meio às tensões políticas da atualidade, leia o testemunho de quem esteve lá e viu como as coisas funcionam realmente. Confira a segunda parte dessa experiência
3º dia – Hoje foi um dia muito pesado. Visitamos o museu da guerra. O passado ainda é muito vivo na memória do povo, um passado traumático que reflete em todas as ações nos dias atuais. Os guias sempre perguntam aos norte-americanos se eles estão bem, diante dos relatos das atrocidades cometidas no passado pelos Estados Unidos, eles dizem que não tem nada contra os cidadãos norte-americanos, apenas contra o governo.
Seguimos viagem para Kaesong, uma cidadezinha muito bonita, com muitas crianças em todo o caminho. Encontramos algumas crianças em seu primeiro dia de aula e nos foi permitido tirar foto com elas, cada pequeno contato é muito especial.
4º dia – Hoje visitamos o museu onde foi assinado o armistício. Um norte americano tirou uma foto apertando a mão de um soldado. Fomos acompanhados por soldados em nosso ônibus durante todo um trajeto onde há militares.
Passamos rapidamente por alguns pontos turísticos, a líder de nossa equipe nos indicou os lugares onde havia ocorrido o grande avivamento do passado, desse modo, oramos e cantamos nestes lugares. Nossos guias turísticos sempre esperavam e respeitavam estes momentos. Uma vez, um guia até disse que seria bom orar por paz em determinado lugar.
Após isso, fomos ao paralelo 38, na linha que divide as duas Coréias. Havia mais soldados do lado Sul do que o normal e uma movimentação de jornalistas. Afastamos-nos um pouco do local e oramos por paz, depois cantamos "He is Lord". Podia-se sentir a tensão e opressão no local.
No final da tarde retornamos a Pyongyang, fomos a um circo. O espetáculo foi muito bom, os coreanos são realmente disciplinados e engraçados como palhaços.
5 º dia - Assim como a chuva e a neve descem dos céus e não voltam para ele sem regarem a terra e fazerem-na brotar e florescer, para ela produzir semente para o semeador e pão para o que come, assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: Ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei. Isaías 55:10-11
Deus trouxe esse texto ao meu coração pela manhã. Cremos que o propósito para o qual viemos foi atingido, é preciso paciência para aguardar a colheita.
Visitamos uma grande biblioteca, um hospital maternidade e lá oramos pelas famílias e bebes. No período da tarde, fomos a uma escola. Assistimos as apresentações de música e dança das crianças, em certo momento elas nos convidaram a dançar com elas. Foi muito especial. No final cantamos "Yes, Jesus loves me", me senti muito encorajada em estar com as crianças e cantar sobre Jesus para elas, mesmo cantando em inglês. Sei que embora elas não tenham compreendido a letra, Deus agiu naquele lugar.
6º dia – Dia da partida. Tivemos nosso grupo de oração e me senti mal, com uma dor enorme no coração pelos norte-coreanos, choramos e oramos juntos, até que o mal estar foi passando. Senti uma um peso de batalha espiritual enorme nessa manhã. Mas Deus nos trouxe esperança para o futuro e compartilhou uma visão com o nosso grupo.
Retornamos a China de trem, enquanto que os norte-americanos tiveram que retornar de avião, pois assim era mais fácil para serem controlados.
Saio do país com o coração grato a Deus por ter nos trazido neste momento.
Tivemos acesso aos lugares que contribuíam para a boa imagem da nação, mas ao mesmo tempo não foi possível esconder a pobreza e sofrimento da população no trajeto para o interior. Deixo a Coréia do Norte, com a certeza de que um dia vou retornar para contribuir com a propagação do Reino de Deus neste lugar. Amo os norte coreanos e agora mais do que nunca me sinto parte deste povo, sinto as suas dores e as suas alegrias.
Através de um projeto da Portas Abertas, ajude refugiados norte-coreanos!
Fonte: I. Akemi
Para falar sobre a igreja, é preciso adentrar a história de duas mulheres que tiveram suas vidas completamente modificadas em 2002, quando se apaixonaram: Lanna Holder e Rosania Rocha.
EX-LÉSBICA E EX-HÉTERO
Lanna sempre soube sua orientação sexual e aos 17 anos teve sua primeira experiência com uma mulher. No entanto, acreditava que sendo lésbica seria condenada ao inferno. Aos 21 anos se converteu à religião evangélica e deixou de lado uma companheira. Pouco depois se casou com um pastor, teve um filho, e a religião passou a ser parte principal de sua vida. Pelas igrejas do Brasil, ela pregava sobre a “cura” a que havia sido submetida e passou a ser vista como um exemplo a ser seguido - e uma prova viva de que seria possível superar a homossexualidade.
Em vídeos disponíveis no YouTube, é possível ver longos sermões da pastora pregando sobre a maldição e o pecado da homossexualidade. Igrejas lotadas de fiéis aclamaram suas palavras e acreditaram estar diante de uma pessoa “regenerada” e “trazida de volta ao caminho do bem”.
Em 2002, no entanto, a história mudou quando Lanna conheceu Rosania em uma igreja evangélica em Boston, nos Estados Unidos. Rosania, que morava na cidade, onde era dirigente de louvor de uma igreja frequentada por brasileiros, era casada com um pastor, com quem teve um filho. Muito conhecida na comunidade evangélica por cantar músicas gospel, iniciou uma grande amizade com Lanna, de quem sempre estava perto nos cultos: onde Lanna pregava, Rosania cantava. Da amizade ao amor bastaram seis meses e suas vidas foram viradas de cabeça para baixo. De celebridades evangélicas adoradas, Lanna e Rosania viraram párias na religião que ajudavam a espalhar.
Confira abaixo a entrevista que o Virgula Lifestyle fez por telefone com as pastoras:
Como foi a sua conversão e o processo para se tornar uma ex-lésbica?
Lanna - Eu tinha 21 anos quando me converti à religião por achar que iria para o inferno por causa de minha orientação sexual. Eu usava drogas, era alcoólatra e quando me converti essa parte da minha vida deixou de existir. A religião funcionou como um processo de restauração na minha vida, mas a minha orientação sexual nunca foi alterada. Eu nunca vivenciei nenhum processo de cura, mesmo assim segui numa busca constante para deixar de ser lésbica. Eu pensava: ‘Deus me libertou das drogas e do alcoolismo e não consegue me libertar da homossexualidade?’. Na igreja, a homoafetividade é apresentada ou como uma possessão demoníaca ou como uma doença. Eu tentava lidar com as duas coisas. ‘Se é uma doença, Deus vai ter que curar e se eu estiver possessa de algum espírito maligno, Deus vai ter que me libertar’. Tentei por sete anos.
A religião faz uma lavagem cerebral contra a homossexualidade?
Lanna - Hoje eu cheguei à conclusão de que a religião demoniza tudo o que ela não explica e não entende. A homossexualidade é uma questão muito cheia de ramificações e interpretações. A própria igreja não chega a um consenso sobre o que pensa a respeito. Enquanto tem uma parte que garante que é uma possessão demoníaca, outra parte tem certeza de que é uma doença. Por mais que no fundo a igreja saiba que a homossexualidade não é abominável, ela se recusa a corrigir um erro. É difícil voltar atrás e reconhecer que errou depois de milênios condenando os homossexuais. É mais fácil manter como está.
Você escondia sua verdadeira orientação sexual ou estava convicta de que havia sido realmente “curada”?
Lanna - Eu divulgava essa tal cura havia sete anos e pregava contra a homossexualidade. As pessoas me conheciam como “A missionária Lanna Holder, ex-lésbica”. Quando fui pra Boston, eu já estava conformada, achando que teria que viver minha vida toda escondendo minha verdadeira orientação sexual. Eu mentia, pois tinha certeza de que a minha orientação sexual era imutável, ao contrário do que eu fazia as pessoas acreditarem. Fiz tudo o que a igreja mandou fazer para deixar de ser lésbica: quebra de maldição, cura interior, desligamento de alma, quebra de vínculo. Depois de tudo, minha orientação sexual não mudou e então cheguei à conclusão de que fazia parte da minha natureza. Esconder foi a minha única opção. Fiquei casada com um homem, não porque era o que eu queria, mas porque era o imposto para que eu não fosse para o inferno.
Como foi o momento em que você se viu diante da paixão por uma mulher após tantos anos garantindo ser ex-lésbica?
Lanna - Nos conhecemos e no começo nos tornamos grandes amigas. Tivemos uma associação total na religião e quando chamavam a Rosania para cantar, me chamavam para pregar. A vida nos uniu. Viajamos pelos Estados Unidos juntas e eu confidenciava a ela os problemas que tinha em meu casamento, pois como o “exemplo” que eu era, não podia contar para ninguém o que eu enfrentava. Não falava sobre minha orientação sexual, mas conversávamos sobre diversas questões. Quando me dei conta, tudo o que eu fazia era pensando na Rosania. Eu queria estar ao lado dela e percebi que aquilo que eu sentia não era apenas amizade. Eu chorei muito, orei muito e perguntava a Deus quando aquilo passaria. Minha paixão por ela começou a confrontar com tudo aquilo que eu dizia ser errado em minhas pregações.
Como você encarou a paixão pela Lanna já que nunca havia tido interesse em uma mulher antes?
Rosania – Eu percebi um sentimento diferente por ela e então conversamos e admitimos estar apaixonadas. Choramos muito, pedimos muito perdão a Deus e, como éramos casadas, nos sentíamos muito erradas, pois cometemos adultério. Nosso pecado na verdade não foi o nosso amor, mas sim o fato de sermos casadas e de adulterarmos por seis meses. Quando eu era criança, me sentia um pouco diferente das minhas amigas. Mas nunca tinha tido contato sexual com uma mulher até, de repente, me ver apaixonada pela Lanna. Nada foi planejado, deixei o barco me levar, tentei fugir, ficamos separadas, mas a vida nos uniu. Eu sempre digo que me apaixonei por um ser humano e não necessariamente por uma mulher.
Como foi a reação da igreja ao saber que vocês estavam juntas?
Rosania - Contamos aos nossos maridos e depois aos nossos líderes, que nos aconselharam a não contar nada a ninguém para preservar a imagem da igreja. Confiamos que tudo daria certo, eu pensei que voltaria para meu marido e que a Lanna seguiria a vida dela, já que estava decidida a se separar. Mas assim que viramos as costas, eles (os líderes) pegaram o telefone e começaram a ligar para toda a comunidade evangélica contando a novidade. Eu morei 20 anos nos Estados Unidos e convivi com pessoas na igreja a quem considerava parte de minha família. Quando tudo aconteceu, tudo mudou. Eu entrava no banheiro para passar um batom, e as mesmas pessoas que se diziam minhas amigas, saíam imediatamente. Se tivéssemos nos apaixonado por outros homens e cometido adultério do mesmo jeito, a reação teria sido completamente diferente. Passaríamos por um período de disciplina e nossos “amigos” continuariam por perto. Como me apaixonei por uma mulher, subi ao púlpito e pedi perdão por ser quem eu era, mas nunca mais consegui me encaixar na igreja. Me usavam para pregar sobre pecado e aquilo acabou se tornando um circo.
Muitos nos disseram que não tínhamos caráter por termos assumido nosso amor, mas para ter coragem de enfrentar tudo e todos, foi preciso muito caráter. Eu poderia ter ficado cantando e a Lanna pregando sem nunca ninguém imaginar que tínhamos algo. Muitas pessoas da igreja são hipócritas, pregam uma coisa e fazem outra. Tem gente casada que prega para multidões e sai para pegar as menininhas da cidade, tira a roupa na frente da câmera e coisas do gênero. São pessoas assim que nos massacram. Eu me sinto muito mais em paz com Deus sendo o que sou de verdade.
Lanna – Quando eu me converti, já comecei a pregar que eu era uma ex-lésbica e então me tornei uma referência da cura. Na minha época eu era um Silas Malafaia falando que homossexualidade era coisa do demônio, que os gays iam para o inferno. É interessante perceber como a gente cai do cavalo com as nossas convicções. Eu que tanto perseguia os gays, me tornei uma perseguida com o mesmo discurso que eu usava ao assumir minha homossexualidade.
Como é a relação com seus ex-maridos atualmente?
Rosania – Temos uma relação muito bacana. Ele se casou de novo e será pai mais uma vez. Ele mora nos Estados Unidos e sempre o vejo, pois meu filho mora com ele.
Lanna – Só falo com meu ex-marido sobre assuntos relacionados ao nosso filho.
Como é a relação com seus filhos (Rosania tem um filho de 15 anos e Lanna tem um filho de 11 anos)
Rosania – De toda essa história, a coisa mais legal é a nossa relação com nossos filhos. Somos uma família incrível, agimos de maneira muito natural. Meu filho ama a Lanna e adora conversar com ela. Aliás, ele conta mais coisas pra ela do que pra mim. Não tem como uma pessoa afirmar que uma família constituída por gays não é coisa de Deus. Somos uma família feliz que vive em harmonia.
Como surgiu a ideia da igreja inclusiva?
Lanna – Tentamos frequentar outras igrejas, mas sempre ouvíamos as mesmas afrontas dos pastores no púlpito contra os gays. Começamos a fazer amizade com uma série de ex-evangélicos que também não eram aceitos na igreja por conta de sua orientação sexual. Pensamos em fazer algo em nossa casa mesmo, mas em 2011 inauguramos a igreja com 15 pessoas, hoje temos cerca de 500 membros.
Tirando o fato da igreja inclusiva aceitar os homossexuais, o que mais a diferencia das outras?
Lanna – Nada, se alguém entrar aqui sem saber que é uma igreja inclusiva vai achar que é uma igreja evangélica como qualquer outra. Sexo é só depois do casamento, temos dízimos e ofertas, louvamos a palavra de Deus... A bíblia do gay é a mesma do hétero, a única diferença é que interpretamos diferente a questão da homossexualidade. Não somos ativistas gays, mas acreditamos na inclusão.
Como vocês conquistam novos fieis?
Lanna - O evangelismo mais difícil é o de um gay. Primeiro que você já tem que entregar o folheto da igreja dizendo que ele é aceito como é, caso contrário eles rasgam o papel na nossa cara, jogam no chão... Na abordagem, eles logo acham que somos da igreja do pastor que fala mal, então já nos apresentamos como pastoras casadas antes de fazer o convite. Vamos nos pontos de maior concentração do público gay em São Paulo, que é a região da avenida Paulista, a rua Vieira de Carvalho e outras. Paramos nas portas das boates e fazemos flashmobs, cantando e dançando. Com isso, geramos curiosidade e eles se aproximam para saber de onde somos. Sempre vêm várias pessoas à igreja depois dessas abordagens. Vamos também à Parada Gay, à Feira da Diversidade e à Caminhada Lésbica entregar nossos folhetos.
O que os evangélicos convencionais acham da Comunidade Cidade de Refúgio?
Lanna - Tem pessoas que vêm aqui na porta para nos afrontar, teve uma senhora que quase me agrediu aqui na frente. Nos xingam, dizem que a nossa igreja é Sodoma e Gomorra, que é coisa do diabo. Há quem ligue e fale desaforos, deixe recadinhos mal-educados nas redes sociais... Tem quem pense, obviamente não é todo mundo, que aqui tem imoralidade, promiscuidade, que é um ponto de encontro para achar parceiros sexuais.
O que vocês acham do Silas Malafaia?
Lanna - Não temos nada contra o Silas Malafaia, mas achamos que ele só cresceu na religião baseado em polêmicas, a bola da vez são os homossexuais. Ele tem um discurso prepotente de dono da verdade e usa de muita ira para se referir aos gays. Lamentamos muito isso, porque o Silas Malafaia afasta todos os gays da igreja, pois eles acabam achando que todos os pastores pensam dessa forma. Mas ele não representa a maioria dos pastores. Ele não sabe o que ele fala (se referindo à comparação feita por Malafaia de gays a bandidos). Pregue a palavra de Deus, Malafaia! Pare de fazer polêmica!
E Marco Feliciano?
Rosania - A única coisa que temos a dizer ao Feliciano é: “cresça”! Ele é uma pessoa narcisista e tudo o que ele faz é para ganhar holofotes. Infelizmente ele está conseguindo isso da pior maneira possível.
FONTE . http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/lifestyle/2013/04/25/324508-pastora-que-pregava-cura-gay-revela-fiz-tudo-o-que-a-igreja-mandou-fazer-para-deixar-de-ser-lesbica-nao-deu-certo#0