quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Igreja denuncia execução de moradores de rua em Alagoas

Na capital de Alagoas, praticamente 1 em cada 10 moradores de rua, de uma população estimada entre 300 e 400 pessoas, foi morto em 2010 - o 31.º assassinato foi registrado no último fim de semana São três casos em média por mês, ante dois casos em todo o ano passado, e até o governo acredita na ação de um esquadrão da morte, com a possível participação de policiais.

Até agora, ninguém foi preso e o Brasil pode ser denunciado à Organização das Nações Unidas (ONU).
 
 O alerta é do governo federal, mais especificamente da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, que já pediu ao Ministério da Justiça a entrada no caso da Polícia Federal. No fim de semana, a Arquidiocese de Maceió tornou púbica carta em que cobra providências das autoridades e pede auxílio aos católicos e pessoas de boa vontade para que "contribuam, com suas atitudes, para criar um clima de verdadeira fraternidade e de efetiva justiça". "Exortamos todos a defender a vida", disse, comovido, o arcebispo d. Antônio Muniz.
 
Segundo o promotor de justiça Alfredo Gaspar de Mendonça, do Grupo de Combate às Organizações Criminosas (Gcoc), a morte ontem do homem chamado Timbalada está relacionada ao assassinato de outro morador de rua, o Cotó, que foi executado a tiros em circunstâncias parecidas na semana passada. "Ele foi ouvido e disse que estava ameaçado de morte, mas dispensou a proteção oferecida pela instituição. Preferiu continuar nas ruas", lamentou o promotor. "Nós sabíamos que alguma coisa ia acontecer com ele. Terminou tombando."
 
 "O modo como morreram essas pessoas chama a atenção por si só. Bastava o primeiro caso para que uma solução fosse apresentada pelas autoridades, mas é evidente que há alguma carência para as investigações serem concluídas", observou o coordenador do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional da População em Situação de Rua, Ivair Augusto dos Santos. O governo informou que esperava o fim do período eleitoral para realizar prisões - e se recusa a dar números oficiais. A reportagem conseguiu confirmar 23 casos, antes de a Igreja divulgar há três dias uma lista com 30 casos.
 
O diretor-geral da Policia Civil de Alagoas, delegado Marcílio Barenco, revelou hoje que já tem os nomes de alguns matadores de moradores de rua na , mas aguarda passar o período eleitoral para iniciar as prisões. Barenco disse ainda que o relatório da instituição sobre o caso foi entregue ao representante da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, na semana passada, mas não sabe como as informações chegaram à imprensa.

Ele não sabe também como os números de moradores de rua e outras informações contidas no relatório chegaram ao conhecimento da Igreja Católica, que divulgou nota recentemente pedindo providências para as mortes de 30 moradores de rua no Estado.
 
"Nós estamos investigando como essas informações vazaram para a imprensa e a Igreja Católica", afirmou Barenco, admitindo também que o documento pode ter vazado a partir da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, já que o relatório foi entregue em mãos ao coordenador do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional da População em Situação de Rua, Ivair Augusto dos Santos.

 Até aquele momento, a imprensa noticiava as mortes de 22 moradores de rua, no início desta semana esse número subiu para 30, com a divulgação dos dados de relatório da Polícia Civil de Alagoas. "Desses 30 casos registrados no relatório, um deles não se trata de morador de rua. A vítima trabalhava na rua, mas tinha moradia fixa", garantiu Barenco.
 
Para ele, o ex-presidiário conhecido por Timbalada, que foi assassinado ontem à tarde, no bairro de Ponta Verde, também não era morador de rua. "Ele trabalhava como flanelinha, mas tinha família e residia na periferia. A gente não pode classificar de morador de rua, todo esse pessoal que trabalha na rua e eventualmente não volta para casa e termina dormindo debaixo das marquises", comentou o delegado.
 
Para Marcílio Barenco, além do trabalho repressivo da polícia, para combater os assassinatos, o poder público, principalmente a Prefeitura Municipal de Maceió, precisa ser mais eficiente no atendimento social às pessoas que moram nas ruas da cidade e vivem em constante situação de risco. "É preciso que seja feito o trabalho preventivo, no campo social, para evitar que essas pessoas continuem jogadas à própria sorte, sofrendo as consequências das drogas, do alcoolismo, da pobreza extrema e da delinquência", acrescentou o delegado.

Fonte: AE

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