quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Igrejas de Camarões lutam para conter o crescimento do Boko Haram


Igrejas de Camarões lutam para conter o crescimento do Boko Haram
O norte de Camarões está mais do que nunca na mira do Boko Haram, como demonstrado pelas atrocidades cometidas pela seita radical islâmica, oriunda da vizinha Nigéria, que continua a emergir.
A seita militante, que agora controla várias das principais cidades nigerianas, criou um califado com uma rigorosa aplicação da lei sharia ou código de leis do islamismo. Um legislador disse à BBC que corpos de civis mortos estão amontoados nas ruas de Bama, uma cidade chave da Nigéria no nordeste do estado de Borno – capturados por Boko Haram essa semana. Cristãos estão sendo perseguidos nas áreas ocupadas, conforme relatado. Os homens têm sido capturados e decapitados enquanto as mulheres têm sido forçadas à conversão e tomadas como esposas por alguns dos militantes.
Sua ofensiva tem forçado milhares de civis a fugirem para regiões próximas a Camarões. Fazendo escárnio da fronteira (que as autoridades de Camarões dizem que se viram obrigadas a fechar para prevenir o alastramento do vírus ebola), os militantes têm intensificado seus ataques nas vilas e cidades de Camarões. Assim como na Nigéria, os grupos cristãos são particularmente visados.
Isso é particularmente verdade no povoado de Cherif Moussary, onde uma igreja foi saqueada e a residência do pastor totalmente queimada. Várias famílias cristãs tiveram suas propriedades confiscadas; e 'até mesmo utensílios de cozinha não foram poupados', disseram fontes locais ao World Watch Monitor.
Um ato de profanação semelhante foi reportado no arraial de Mouldougoua. Em Assighassia (ocupada por dias pelos militantes antes de serem expulsos pelas forças do exército na quinta-feira, 28 de agosto) dois anciãos da igreja – Zerubbabel Tchamaya e Samuel Lada – foram decapitados. Na vila Djibrilli, um pastor foi sequestrado, ameaçado e interrogado acerca de sua fé por militantes antes de ser libertado no dia seguinte.
Em todo lugar a história é a mesma. Um líder de comunidade local disse: “Os assaltantes atacam à noite, quando o exército não está mais patrulhando os vilarejos. Eles invadem as casas dos cristãos e tomam destes suas propriedades… Muitas igrejas foram saqueadas e objetos de valor, tais como instrumentos musicais, foram destruídos ou levados…”
“A situação é alarmante”, lamenta o líder, que tem abrigado pessoas internamente deslocadas. “É difícil fornecer um número preciso dos cristãos que fugiram”. Em julho, pelo menos 25 pessoas foram mortas em Camarões, dentre elas um líder de igreja, no momento em que militantes realizaram dois impressionantes ataques na região. A esposa do Vice-Primeiro-Ministro foi raptada, elevando assim o medo de que o norte de Camarões, há muito visto como uma base de retaguarda para os militantes, tenha se tornado um novo campo de batalha para eles. Ela foi resgatada dois dias depois, após violenta batalha entre seus sequestradores e o exército.
Desde então, o governo de Camarões anunciou o reforço do exército na região. Também várias reuniões foram realizadas – com o fito de reunir recursos com os vizinhos – após o rapto de cerca de 300 meninas na escola de Chibok por islamistas. A Nigéria e seus aliados regionais clamaram por um maior apoio internacional para bloquearem o fornecimento de armas e suprimentos para o Boko Haram, no momento em que a preocupação é crescente com a rápida e recente apropriação de terras pelo grupo no nordeste da Nigéria.
A capacidade das igrejas está aquém da demanda
Por meses, as igrejas têm tentado conter o influxo de refugiados nigerianos e de pessoas internamente deslocadas. O Conselho das Igrejas Protestantes no extremo norte da região criou um comitê de crise. O Reverendo Samuel Heteck, um dos líderes regionais, disse: “A ação de nossas igrejas têm primariamente consistido em prover para os refugiados e às pessoas internamente deslocadas alimento, abrigo e medicamentos. Mas agora, a capacidade de nossas igrejas está muito aquém, visto que o número destes tem triplicado”.
Mas, enquanto isso, as incursões transfronteiriças e atrocidades continuaram, elevando mais ainda o número de pessoas que fogem. "Toda semana nós acolhemos nova onda de refugiados vindo de todos os lados. Mais do que 9.600 pessoas deslocadas foram registradas em duas semanas. Algumas são acolhidas dentro das instalações das igrejas e outras no campo de refugiados das Nações Unidas Minawao em Moloko”, observa Reverendo Heteck.
A igreja em Camarões sozinha não pode lidar com as demandas espirituais, físicas e financeiras que podem oferecer uma vida melhor às milhares de pessoas deslocadas, enfatiza Reverendo Heteck.
“Depois de mais de um ano de ação social, nós agora enfrentamos um esgotamento de nossos recursos. Infelizmente, a ajuda e a generosidade de nossos irmãos no exterior têm demorado muito a aparecer.”
Além disso, a deteriorização da segurança tem forçado missionários e expatriados, alocados principalmente no trabalho social, a deixar a área. Sua partida tem reduzido significativamente a capacidade de resposta das igrejas, já que as equipes locais não estão preparadas para encarar tamanha crise.
Atividades voltadas para a captação de recursos ou para convocação de momentos de oração são realizadas pelas igrejas locais. Um dia para levantamento de fundos e doações voluntárias está agendado para o dia 19 de outubro em todas as igrejas protestantes de Camarões.
No dia 19 de julho, um dia de oração pela paz foi levantado pela igreja católica. “Nós queremos incumbir Camarões assim como a todos os outros países a guerrear no Senhor. A terrível insegurança em nossas fronteiras, em particular com a Nigéria, tem criado uma psicose em nossa população. Nessas situações, você deve colocar-se a si mesmo nas mãos do Todo Poderoso”, disse o Arcebispo de Douala e Presidente da Conferência Episcopal, Samuel Kleda.
Atividades de prevenção de conflitos são também realizadas em conjunto entre líderes cristãos e muçulmanos no norte de Camarões, temerosos de que sua região venha a se tornar outra área de violência sectária. Cerca de 40 líderes cristãos e muçulmanos se reuniram em abril para promover uma cultura de paz e tolerância entre diferentes comunidades religiosas, e isso resultou no Fórum da Juventude, em 7 de agosto, em Maroua.
Sob o tema “Jovens Cristãos e Muçulmanos Juntos pela Paz e Desenvolvimento”, o fórum permitiu às autoridades locais chamarem os jovens a se tornarem 'um agente da inteligência' e a reportar qualquer atividade suspeita. (Dizem que centenas de jovens camaroneses se juntaram às fileiras do Boko Haram). Em sua declaração de encerramento, jovens cristãos e muçulmanos expressaram seu compromisso “para promover a tolerância religiosa, a não cederem ao engodo dos sequestradores e a permanecerem fiéis aos ideais da República”.
Situação humanitária preocupante
Ao contrário das regiões no sul, o extremo norte de Camarões é um vasto semi-deserto, área muito pobre. Alguns acusam os consecutivos líderes políticos de abandonar o norte, o qual se encontra em grande necessidade de infra-estrutura básica, e onde o banditismo e todo tipo de operações de tráfico têm sido desenvolvidas. Ao longo de anos, a produção de alimento e o cultivo agrícola tem declinado por causa da escassez de terras agrícolas e áreas de pastagem.
O atual influxo de refugiados colocou ainda mais pressão sobre os escassos recursos naturais. Some-se a isso, a destruição de fazendas e da pecuária por militantes Boko Haram, que elevou a perspectiva de fome generalizada na região. Em julho, o World Food Programme (WFP) começou a prestar assistência humanitária aos refugiados nigerianos em Camarões, e soou o alarme.
“Autoridades locais têm feito o melhor que podem para ajudar, mas estes refugiados estão em urgente necessidade de alimento e assistência. Nós encontramos níveis alarmantes de desnutrição, particularmente entre as crianças. Esta é uma prioridade para a WFP e seus parceiros humanitários”, declarou Jacques Roy, representante da WFP em Camarões.
A chegada da estação chuvosa complica ainda mais o acesso para as áreas: enchentes mortais foram reportadas, e também um surto de cólera tem ceifado um número indeterminado de vidas.

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