quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Rabinos ortodoxos reconhecem o cristianismo como parte do “plano de Deus”

Judeus e cristãos têm mais em comum do que aquilo que os divide. (Foto: Chabad)Judeus e cristãos têm mais em comum do que aquilo que os divide. (Foto: Chabad)
Pela primeira vez, desde que o Concílio Vaticano II alterou os ensinamentos cristãos em relação ao povo judeu há 50 anos, um grupo de rabinos ortodoxos fizeram uma declaração pública em defesa do cristianismo.
Publicada no site do Centro de Entendimento e Cooperação Judaico-Cristão (CJCUC), a declaração intitulada como "Para fazer a vontade do nosso Pai Celestial: Rumo a uma parceria entre judeus e cristãos" foi assinada pelos 25 principais rabinos ortodoxos de Israel, Estados Unidos e Europa, que apelaram pela cooperação entre judeus e cristãos diante dos desafios morais e religiosos deste tempo.
"Reconhecemos que o cristianismo não é um acidente ou um erro, mas é resultado da divina vontade e um presente para as nações. Ao separar o judaísmo e o cristianismo, Deus quis a separação entre parceiros com diferenças teológicas significativas, e não uma separação entre inimigos", diz o texto da declaração, emitida na última quinta-feira, 3 de dezembro.
"Nós, judeus e cristãos, temos mais em comum do que aquilo que nos divide: o monoteísmo ético de Abraão; a relação com O Único Criador do Céu e da Terra, que ama e cuida de todos nós; as Sagradas Escrituras judaicas; a crença em uma tradição que nos liga; e os valores da vida, da família, da justiça, da liberdade, do amor universal e da paz mundial final", relata outro trecho do texto. 
Dentre os signatários estão figuras ortodoxas que fazem parte de uma ala liberal no ramo mais tradicional do judaísmo e já haviam iniciado esforços para um diálogo inter-religioso. "Nós entendemos que há espaço no judaísmo tradicional para enxergar o cristianismo como parte do plano da aliança feita por Deus com a humanidade, como um desenvolvimento do judaísmo que foi desejado por Deus", disse o rabino Irving Greenberg, um dos signatários da declaração.
Resistência
Ainda assim, Greenberg admitiu que a maioria dos rabinos ortodoxos não irá assinar a declaração por rejeitarem a ideia de que é da vontade de Deus chegar aos gentios através do cristianismo.
Segundo o rabino Mark Dratch, vice-presidente do Conselho Rabínico da América, a relutância em se envolver com essa teologia está enraizada no ensino do rabino Joseph Soloveitchik, um líderes ortodoxos mais estimados do século 20, que proibiu o envolvimento com outras religiões nessas questões.
"Soloveitchik disse muito claramente que cada comunidade de fé é única e tem direito à integridade de suas próprias posições, que não são nem negociáveis, nem capazes de serem plenamente compreendidas por pessoas de outras tradições de fé", disse Dratch, acrescentando que Soloveitchik entendia que os judeus eram um grupo pequeno e vulnerável.
Perdão
A declaração rabínica começa com uma referência ao Holocausto como "o clímax de séculos de desrespeito, opressão e rejeição aos judeus, que trouxe a consequente inimizade que se desenvolveu entre judeus e cristãos". Em seguida, elogiou Nostra Aetate, uma declaração de 50 anos onde o Vaticano repudiou a comum idéia que existia entre os cristãos de que os judeus mataram Cristo e foram merecedores dos séculos de perseguição que sofreram.
"Hoje, os judeus têm sincero amor e respeito a muitos cristãos que se expressam em muitas iniciativas de diálogo, em reuniões e conferências por todo o mundo", prossegue o texto. "Agora que a Igreja Católica reconheceu a aliança eterna entre Deus e Israel, os judeus podem reconhecer a validade construtiva em curso do cristianismo como nosso parceiro na redenção do mundo, sem qualquer medo de que isso seja explorado para fins missionários".
A declaração ortodoxa não inclui qualquer referência ao islamismo que, assim como o judaísmo e o cristianismo, também tem origem no patriarca bíblico Abraão. Greenberg acredita que o Islã não está maduro para tal afirmação, porque muito da cultura islâmica atualmente é rica em anti-semitismo e uma "hostilidade quase genocida contra Israel."

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