A Comissão Real para Respostas Institucionais ao Abuso Sexual Infantil, na Austrália, lançou, esta quinta-feira, um relatório que reúne mais de 1300 relatos de vítimas.
O grupo, criado em 2013 com o intuito de investigar casos de pedofilia, realizou mais de 8000 sessões privadas com as vítimas e recolheu testemunhos reais, numa investigação que durou cinco anos.
Depois de revelarem as experiências, os sobreviventes de abusos sexuais foram convidados a escrever sobre isso. Para muitos deles, esta foi a primeira vez que falaram, ainda que de forma anónima.
Ao relatório deram o título “Mensagem para a Austrália”.
Ao longo dos últimos anos, a comissão analisou situações de abuso sexual e violência contra crianças em várias instituições da Austrália, desde escolas e clubes desportivos até grupos religiosos.
O relatório contém notas escritas, muitas delas à mão, com a descrição do trauma e do sofrimento das vítimas. No entanto, os temas com uma presença mais forte em todas elas são o alívio e a gratidão pelo processo, que está atribuindo a todos os abusados uma voz.
Muitas das mensagens deixadas são agradecimentos aos membros da comissão por terem ouvido as histórias, com empatia e sem julgamento. Outras tantas ajudaram a encerrar este período de vida.
O presidente da comissão, Peter McClellan, agradeceu às vítimas por terem contado a sua experiência.
“Os sobreviventes são pessoas notáveis, com uma preocupação em comum de garantir que mais nenhuma criança é abusada. Eles merecem o agradecimento de todo o país”, disse McClellan, citado pela BBC.
A comissão recomenda à Igreja Católica que considere a exigência de celibato ao clero, de acordo com o relatório final.
O mesmo documento, com 189 recomendações e 17 volumes, indicou que deve também ser esclarecido até onde vai o segredo da confissão quando estão em causa provas de crimes contra menores.
A comissão real australiana sobre respostas institucionais ao abuso sexual de crianças está investigando desde 2012 como é que a Igreja Católica e outras instituições no país responderam a estes crimes ao longo de mais de 90 anos.
Na investigação da comissão, a mais alta forma de inquérito no país, foram ouvidos os testemunhos de mais de oito mil vítimas de abuso sexual em instituições religiosas. Dos testemunhos recolhidos, 62% eram católicos.
Vaticano promete estudar recomendações
O Vaticano reconheceu nesta sexta-feira que as medidas propostas no relatório da Real Comissão australiana para lutar contra a pedofilia “merecem ser estudadas em profundidade”, entre elas eliminar o segredo da confissão.
“O relatório final da Real Comissão sobre as respostas institucionais frente ao abuso sexual de crianças na Austrália é resultado de grandes esforços realizados pela mesma comissão nos últimos anos e merecem ser estudadas em profundidade”, escreveu o Vaticano em um comunicado oficial.
“A Santa Sé está com a Igreja Católica da Austrália – com seus fiéis, tanto laicos como religiosos – e escuta e acompanha as vítimas e os sobreviventes em um esforço pela cura e Justiça”, acrescentou.
O comunicado recorda que Francisco em um recente encontro com a Comissão Pontifícia para Proteção de Menores chamou a Igreja a ficar perto “dos que sofreram” e “garantir a proteção de todas as crianças e os adultos vulneráveis”.
O relatório indicou que 7% dos religiosos católicos australianos foram acusados de abusos sexuais de crianças entre 1950 e 2010 sem que as suspeitas desembocassem em investigações. Era de costume ignorar, ou até castigar, as crianças que denunciavam as agressões.
Fonte: TVI – Portugal
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