Não devemos guardar a lei porque estamos na graça?
A verdade é que todos nós guardamos a lei, ou pelo menos nos esforçamos em fazê-lo, por exemplo:
Adoramos a Deus sobre todas as coisas, (ou pelo menos nos esforçamos em fazê-lo)
Não fazemos imagens de escultura, (ou pelo menos nos esforçamos em fazê-lo)
Não tomamos o nome do Senhor em vão, (ou pelo menos nos esforçamos em fazê-lo)
Honramos o nosso pai e a nossa mãe, (ou pelo menos nos esforçamos em fazê-lo)
Não matamos, (ou pelo menos nos esforçamos em fazê-lo)
Não adulteramos, (ou pelo menos nos esforçamos em fazê-lo)
Não furtamos, (ou pelo menos nos esforçamos em fazê-lo)
Não damos falso testemunho contra nosso irmão, (ou pelo menos nos esforçamos em fazê-lo)
Não cobiçamos nada que pertence ao nosso próximo, (ou pelo menos nos esforçamos em fazê-lo)
Sabe a que conclusão que chegamos?
Todas as discussões que até hoje se desencadeiam na Igreja sobre a lei e a graça é por causa de um único mandamento: a guarda do sábado, porque todos os outros 9 mandamentos procuramos obedecer sem nenhum problema de estarmos saindo da graça e voltando para a lei.
Testemunhei muitas pregações de preletores sangüíneos, que afirmavam com muita ênfase, que estamos debaixo da graça e não da lei e que a lei é para o Judeu que não aceitou a Jesus, porém todos estes pregadores guardavam os outros 9 mandamentos, (ou pelo menos se esforçavam em fazê-lo).
Os 10 mandamentos estão divididos em duas partes: Do primeiro até o quarto mandamento e do quinto até ao décimo.
Observe que os quatro primeiros mandamentos estão diretamente ligados a Deus enquanto os outros seis estão ligados ao nosso próximo.
Veja agora que interessante:
Jesus disse em Mateus 22:37 a 40: “Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.
Este é o grande e primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.”
Muitos se baseiam neste versículo para afirmar que agora só existem 2 mandamentos e que foi o próprio Senhor Jesus que disse, mas porque Jesus afirma que os dois grandes mandamentos são: amar a Deus de todo o seu coração e ao próximo como a ti mesmo e que deles depende toda a lei?
Porque se eu amo a Deus eu não tenho dificuldade em cumprir os quatro primeiros mandamentos e se amo ao meu próximo como a mim mesmo, não terei dificuldade de cumprir com os outros seis mandamentos. O cumprir a lei depende do meu amor a Deus e do meu amor ao meu próximo.
Muitos afirmam que a graça começou quando Jesus ressuscitou, porque antes era a lei. Isso dá a entender que a graça de Deus não existia na lei. Eu faço as seguintes perguntas:
O que abriu o mar vermelho foi a graça de Deus ou a lei?
O maná que desceu do céu foi graça ou lei?
A água sair da rocha foi graça ou lei?
As roupas e os calçados não envelhecerem durante os 40 anos de peregrinação no deserto foi graça ou lei?
Poderíamos seguir com outros exemplos, mas já podemos ver que a graça de Deus sempre existiu no meio do seu povo.
Vamos nos concentrar agora na lei e na graça.
A primeira vez que Jesus fala sobre a lei foi em Mateus 5:17: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir.” A palavra original em grego que foi traduzida como cumprir é “πληρωσαι” translitera-se como plêrôsai e significa completar, preencher ou encher, portanto a melhor tradução para este texto seria: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas completar (trazer o que faltava).”
Vejamos um outro texto onde aparece a palavra “plêrôsai”:
Romanos 15:13 “Ora, o Deus de esperança vos encha (plêrôsai) de todo o gozo e paz na vossa fé, para que abundeis na esperança pelo poder do Espírito Santo.”
Como vemos neste texto a palavra “plêrôsai” foi traduzida conforme seu significado apontado pelo dicionário.
Precisamos entender o que Jesus quer dizer com completar, primeiro porque é a tradução correta da palavra, depois porque faz muito mais sentido Ele dizer que veio completar do que cumprir. Vejamos: A Torah são os cinco primeiros livros da Bíblia escritos por Moisés e muitos se referem a estes livros como “lei”, quando na verdade a palavra Torah não significa lei o significado real é ensino ou instrução, mas o que a Torah veio nos ensinar? Veio nos ensinar a sermos melhor pai, melhor filho, melhor esposo, melhor patrão, melhor funcionário, vivermos uma vida mais saudável, lembram do que Paulo disse em sua segunda carta à Timóteo 3:16 e 17? “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” De que Escritura Paulo se refere? Ao que chamamos de Velho Testamento, pois o novo testamento ainda não estava escrito e ele diz que a escritura é proveitosa para ensinar, repreender, corrigir, instruir, evidentemente ela era e ainda é boa para todas essas coisas, porém ela não trazia salvação em si, por isso Jesus disse que Ele veio completar, Ele veio trazer aquilo que faltava na “lei”: SALVAÇÃO. Somente por Jesus somos salvos e nisto não há discussão, Ele rasgou o véu que nos separava e através dEle todos temos acesso ao Santo dos Santos, mas e os ensinamentos da Torah? Porque não continuam sendo aplicados e ensinados nos nossos dias? Porque as pessoas não gostam nem de conversar sobre o assunto insistindo que a Torah é só para o Judeu? Muitos ensinam que somos participantes de todas as bênçãos de Abraão, mas que bênçãos? As bênçãos contidas na Torah que virão sobre àqueles que a cumprem. Existe um versículo que é o predileto dos pregadores adeptos à teologia da prosperidade: “E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás por cima, e não por baixo;” agora veja isso: Se ao analisarmos um versículo isoladamente já estamos cometendo um erro que pode comprometer toda a interpretação do texto, que dirá pegar somente a metade de um versículo e criar uma nova teologia, a da prosperidade, que se baseia na metade deste versículo, vejamos então o versículo por inteiro: Deu 28:13 “E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás por cima, e não por baixo; se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que eu hoje te ordeno, para os guardar e cumprir,” Todas as benção de Deus são condicionais, até mesmo a benção da salvação que todos dizem ser de graça, está condicionada em crer e confessar, veja o que diz romanos 10:9 e 10: “Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo; pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.” Portanto, ser cabeça e não cauda, estar por cima e não por baixo, está condicionado em obedecer aos mandamentos do Senhor e cumpri-los, agora se você for curioso, leia todo o capítulo 28 de Deuteronômio e você verá que as bênçãos que são hoje reivindicadas pela Igreja, estão todas condicionadas ao cumprimento dos mandamentos e o interessante é que dos 68 versículos deste capítulo, somente 14 se referem as bênçãos pelo cumprimento dos mandamentos, os outros 54 são de maldição para quem não cumprir.
Analise por este lado: que direito tenho eu de reivindicar as bênçãos, quando eu não cumpro os mandamentos ou as condições impostas para que eu seja participante de tais bênçãos? Porque Deus abriria as janelas do céu para fazer cair sobre mim bênçãos sem medida se eu não fosse fiel nos dízimos e nas ofertas?
A lei (Torah) ensina o homem a viver na terra, Jesus garante ao homem vida eterna no céu.
Transformando isso em matemática temos o seguinte resultado: Lei + Jesus = vida abundante na terra e esperança de vida eterna no céu. Se tirarmos a Torah das nossas vidas, estaremos tirando os parâmetros que o homem precisa para acertar o alvo.
Muitos insistem em ensinar que existe separação entre Judeus e gentios, apesar de Romanos 11 dizer que os gentios foram enxertados em Israel e não separados de Israel.
Analisando a palavra lei (Torah)
A palavra Torah (תורה) vem da raiz (ירה) que significa “apontar”. O pai aponta o caminho para o filho ensinando a ele o caminho correto a tomar na vida. O sentido literal de (תורה) é o ato de apontar ou ensinar de um pai. Esta palavra é quase sempre traduzida na Bíblia como lei, entretanto isso não é uma boa tradução. A Torah de Deus são seus ensinamentos aos seus filhos, da mesma maneira que um pai ensina seus filhos. Jesus como um filho obediente disse que não veio abolir os ensinamentos de seu pai e nós que também somos filhos que diremos? A Torah é só para os filhos Judeus? O gentio não tem direitos aos ensinamentos do pai ou os gentios rejeitam os ensinamentos do pai?
Onde na Torah, ou nos livros proféticos diz que O Messias virá para “desintegrar” a Tora?
Vamos continuar no tema da lei, mas vamos parar um pouco para pensar em algo importante: a Bíblia não é contraditória, os escritores não se contradizem uns com os outros, pois quem os inspirou foi o mesmo Espírito de Deus, portanto, se JESUS diz que Ele não veio destruir a lei, mas sim completá-la, Paulo estaria contradizendo a Jesus caso ele afirmasse que a lei acabou, não é verdade? Mas se em algum momento, a leitura de um texto leva você a entender que Paulo está dizendo que a lei acabou, lembre-se do que Jesus disse: “Não penseis que vim abolir a lei ou os profetas; não vim abolir, mas completar.” você ficaria com a afirmação de Paulo ou com a afirmação de Jesus?
Vejamos um texto de Paulo que tem sido interpretado como se ele estivesse afirmando que Jesus eliminou a “lei”:
Efésios 2:14 e 15 – “Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos contidos em ordenanças, para criar, em si mesmo, dos dois um novo homem, assim fazendo a paz,”
Parece haver aqui uma contradição: Jesus diz que Ele não veio desfazer, mas Paulo diz que Ele desfez. Como sabemos que na Bíblia não há contradições, devemos recorrer ao original para esclarecer esta aparente contradição.
A palavra mandamento está escrita no grego como “nomos” enquanto que a palavra ordenança está escrito como “dogmas”. Buscamos no dicionário e na enciclopédia o significado destas duas palavras, vejamos:
Nomos – Na mitologia grega, nomos significa lei espiritual, ou seja: imposta por Deus.
Dogmas – Um dogma, no campo filosófico, é uma crença/doutrina imposta, que não admite contestação, No catolicismo os dogmas surgem das Escrituras e da autoridade da Igreja Católica, ou seja: imposta pelo homem.
Desfez os mandamentos “nomos” em forma de “dogmas”. Desfez os mandamentos de Deus que foram criados em forma de dogmas ou doutrinas de homens.
Concluimos então que o que Jesus desfez foram as ordenanças impostas pelo homem e as interpretações do homem dos mandamentos da Torah.
Para entendermos melhor, vamos analisar a história: No início do versículo, Paulo diz que Jesus derrubou a parede que separava Judeus de Gentios, esta perede era literal, ela existia no templo de Jerusalém para fazer separação, existia o pátio dos sacerdotes, dos homens Judeus, dos gentios e das mulheres e o pátio dos Judeus ficava mais próximo do templo, e os gentios separados, ficava mais distante. Agora fazemos a seguinte pergunta: onde é que está escrito na Bíblia que Deus mandou fazer um muro para separar os Judeus dos gentios que temiam a Deus? Em nenhum lugar, muito pelo contrário veja o que diz Levítico 19:34 “Como um natural entre vós será o estrangeiro que peregrinar convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos; pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus.” Esta parede de separação foi uma ordenança imposta pelo homem um dogma que afastava os não-Judeus da Torah e da presença de Deus, foi exatamente esta distinção que Jesus veio desfazer Para que dos Judeus e gentios fizesse apenas um povo, nEle.
Vamos citar outro exemplo de interpretação tendenciosa no esforço de provar que o velho testamento, conforme o próprio nome dado já diz, é velho e obsoleto. Vale a pena ressaltar que o velho testamento na verdade se chama Tanach, que é um acrônimo das três divisões da Bíblia: Torah, Nevi'im e Ketuvim.
Torah – Instrução (5 livros de Moises), Nevi’im – Profetas e Ketuvim – Escritos (Salmos, Esdras...).
Em Gal. 4:10 e 11 diz assim: “Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Temo a vosso respeito não haja eu trabalhado em vão entre vós.”
Este texto é constantemente citado com o intuito de provar que não devemos guardar dias (shabbat) ou as festas bíblicas. A versão Ferreira de Almeida Atualizada no título que inicia este texto diz "O valor transitório dos ritos judaicos" enquanto que a Ferreira de Almeida Revista e Corrigida diz: “O evangelho isenta-nos da lei”.
Interessante é que eu já ouvi tantos pregadores afirmarem o seguinte: “não podemos pegar um texto isolado da Bíblia e dar a nossa própria interpretação, temos que analisar o contexto para sabermos o que exatamente o autor está querendo dizer”. Certas vezes fico atônito de ver que a teoria nem sempre é posta em prática, mas vamos colocá-la em prática neste texto. Para que este texto estivesse se referindo as festas “Judaicas” e ao sábado judaico, ele deveria estar sendo escrito aos Judeus que outrora observavam datas e festas e ao conhecer Jesus se libertaram destas práticas e que agora estavam voltando a praticá-las. Primeiramente esta carta é dirigida aos gálatas gentios, nao-Judeus, que outrora não conheciam ao Deus de Israel e agora convertidos ao Deus de Israel e ao seu Messias e libertos dos cultos pagãos estavam voltando a praticá-los, veja os versículos anteriores e comprove que Paulo não se refere aos Judeus nem tão pouco às praticas Judaicas: Gálatas 4:8 e 9 “Outrora, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses; agora, porém, que já conheceis a Deus, ou, melhor, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?”
Como esse texto pode estar se referindo aos Judeus? Está se referindo a um povo que outrora era pagão que serviam aos que por natureza não era deuses, mas que agora já conheciam ao Deus verdadeiro e eram conhecidos por Ele, porém estavam querendo voltar às práticas que serviram anteriormente, é como se uma pessoa que observava e festejava os dias santos e acompanhava as procissões, e agora conhecedora da verdade a cerca dos santos e crente em um único Deus, resolve agora voltar a celebrar as festas juninas e participar de procissões em dias santos.
Paulo, de modo algum, está afirmando que "Os Ritos Judaicos são Transitórios" conforme a "ARA" (Almeida Revista e Atualizada). Mas, sim exortando os crentes recém convertidos do paganismo “galaciano”, para que não voltem às suas festividades demoníacas e cheias de misticismo pagão.
Precisamos entender isso com muita clareza, é de extremo interesse do inimigo de nossas almas, que acreditemos nestas coisas, pois a não observância e cumprimento dos mandamentos favorece a ele de duas formas estratégicas: primeiro não somos participantes das bênçãos pelo cumprimento dos mandamentos, segundo, sem os Parâmetros que a lei (Torah) nos ensina fica fácil para ele nos induzir ao pecado.