Quando policiais hastearam as bandeiras do Brasil e do Estado do Rio de Janeiro em uma das estações de teleférico no Complexo do Alemão, no último dia 28, uma sensação de alívio tomou conta da cidade. “Agora, o pensamento é começar uma nova fase nas nossas vidas. A violência acabou. Vamos viver com dignidade e cidadania. Os moradores da Vila Cruzeiro sonham com isso há muito tempo. Todos querem trabalhar e voltar para suas casas em paz, longe do pesadelo das drogas”, resumiu a balconista R.T., de 33 anos, moradora da comunidade. O otimismo se explica depois de dias de carros queimados, tiroteios e muito medo, que a balconista e os filhos de 2 e 7 anos foram obrigados a presenciar e que ela descreve de forma direta: “Parecia o inferno.” O maior complexo de favelas do Rio de Janeiro estaria finalmente livre dos traficantes de droga.
O motivo apontado para o início da onda de violência foi a implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em morros da zona sul, que tiraram rendimentos dos traficantes. “Alguma reação das facções era esperada, mas essa forma desafiadora de confronto com o poder público eu não esperava. O próprio Estado, acredito, não esperava. Mas reagiu bem”, elogia Paulo César Amêndola, coronel reformado da PM/RJ e um dos idealizadores do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), criado na década de 70.
O sociólogo José Augusto Rodrigues, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista em violência urbana, destaca que a polícia foi bem recebida, e que diversas prisões puderam ser feitas por meio de ligações para o disque-denúncia. “Mas as pessoas têm bons motivos para ter cautela. Estamos vivendo um momento diferente na vida da cidade, mas não é a primeira vez que o estado entra no Alemão ou na Vila Cruzeiro”, recorda.
Pelo Brasil
Se há dúvidas sobre o futuro da região observada por todos, a situação é ainda mais incerta em locais que sofrem com problemas semelhantes ao do Complexo do Alemão. “Em todo o País, com intensidades diferentes, existe esse tipo de domínio territorial do crime. Toda vez que alguém deixa de ir a um lugar depois de um certo horário, ou deixa de estacionar o carro com medo de ser roubado, está presenciando o começo do poder territorial do crime. O Rio atingiu o nível extremo disso”, analisa Julio Jacobo, autor do Mapa da Violência do Brasil.
Na maior cidade do País, São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) mostrou sua força, em maio de 2006, com ataques a agências bancárias, delegacias e postos da polícia militar. Desde então o Estado tem vivido dias melhores. “Há 10 anos havia um manda-chuva aqui, mas hoje não existe essa figura. Existe a criminalidade, mas quem não está envolvido diretamente com ela nem sabe que ela existe”, afirma Gilson Rodrigues, presidente da associação de moradores de Paraisópolis, comunidade na zona sul da capital paulista. Para ele, cobrar o poder público foi fundamental. “Conforme os investimentos aumentaram, as pessoas passaram a ter mais oportunidades e ficaram menos dependentes do poder marginal”, completa.
A região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, está entre as mais violentas do País. “Observamos o domínio de um tráfico organizado parecido com o do Rio, mas bem menos pesado. Aqui, os traficantes usam pistolas e revólveres”, observa Marcelo Gomes, presidente da Central Única de Favelas (Cufa) no estado. A Cufa é uma organização nacional que intervém em favelas oferecendo cursos e atividades para manter os jovens longe das drogas. Eugênia Raizer, coordenadora do núcleo de estudos da violência da Universidade Federal do Espírito Santo, acrescenta que há domínio territorial em cidades como Cariacica, na Grande Vitória: “Em alguns bairros, como Flechal e Serra, criminosos decretam feriados.” O motivo apontado para o início da onda de violência foi a implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em morros da zona sul, que tiraram rendimentos dos traficantes. “Alguma reação das facções era esperada, mas essa forma desafiadora de confronto com o poder público eu não esperava. O próprio Estado, acredito, não esperava. Mas reagiu bem”, elogia Paulo César Amêndola, coronel reformado da PM/RJ e um dos idealizadores do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), criado na década de 70.
O sociólogo José Augusto Rodrigues, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista em violência urbana, destaca que a polícia foi bem recebida, e que diversas prisões puderam ser feitas por meio de ligações para o disque-denúncia. “Mas as pessoas têm bons motivos para ter cautela. Estamos vivendo um momento diferente na vida da cidade, mas não é a primeira vez que o estado entra no Alemão ou na Vila Cruzeiro”, recorda.
Pelo Brasil
Se há dúvidas sobre o futuro da região observada por todos, a situação é ainda mais incerta em locais que sofrem com problemas semelhantes ao do Complexo do Alemão. “Em todo o País, com intensidades diferentes, existe esse tipo de domínio territorial do crime. Toda vez que alguém deixa de ir a um lugar depois de um certo horário, ou deixa de estacionar o carro com medo de ser roubado, está presenciando o começo do poder territorial do crime. O Rio atingiu o nível extremo disso”, analisa Julio Jacobo, autor do Mapa da Violência do Brasil.
Na maior cidade do País, São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) mostrou sua força, em maio de 2006, com ataques a agências bancárias, delegacias e postos da polícia militar. Desde então o Estado tem vivido dias melhores. “Há 10 anos havia um manda-chuva aqui, mas hoje não existe essa figura. Existe a criminalidade, mas quem não está envolvido diretamente com ela nem sabe que ela existe”, afirma Gilson Rodrigues, presidente da associação de moradores de Paraisópolis, comunidade na zona sul da capital paulista. Para ele, cobrar o poder público foi fundamental. “Conforme os investimentos aumentaram, as pessoas passaram a ter mais oportunidades e ficaram menos dependentes do poder marginal”, completa.
No estado, vizinho ao Rio de Janeiro, até a cultura ligada ao tráfico de drogas é
importada. “Temos herdado a cultura carioca do morro, de fazer funks ‘proibidões’ (estilo de funk que exalta a violência e o tráfico) e o crime tem se assemelhado também”, destaca.
Ermínio Soares, coordenador da Cufa de Goiás, relata o crescimento do tráfico no estado, em especial no entorno de Brasília (DF). “A região é negligenciada porque nem o Governo do Estado nem o Governo do Distrito Federal querem assumir o problema. Vemos crianças de 12, 13 anos morrendo por causa do tráfico. Se nada começar a ser feito, acreditamos que, entre 5 a 10 anos, estaremos iguais ao Rio de Janeiro”, afirma Soares.
O Nordeste e o Norte também têm seus representantes na triste galeria da violência, como mostram os coordenadores da Cufa na Bahia, Analu Franca, e no Pará, Luciana Hage. “Temos em Salvador uma das favelas mais perigosas do mundo, a Baixa do Soronha. O tráfico aqui tem muito poder. Meninos de 14 anos andam armados e resolvem suas brigas na bala. Itapuã é um bairro abandonado e, por isso, muito vulnerável”, diz Analu. As ações espetaculares também são corriqueiras. “É comum que helicópteros sobrevoem as casas e atirem contra os bandidos, que fogem em direção às dunas”, relata.
A ausência do poder público é uma constante. “As faltas de oportunidades são as mesmas do Rio: os jovens estão ociosos e a presença do poder público nas periferias é minima, mas a organização do crime é menor”, conta Luciana, da Cufa de Belém do Pará. “Sabemos que, em bairros como Guamar e Terra Firme, certos serviços básicos só são executados sob escolta de viaturas”, completa. Segundo ela, o problema da violência nessas localidades está mais ligado ao consumo do que ao tráfico de drogas, mas o futuro não é animador: “Não temos ainda um crime organizado, mas acredito que seja uma questão de tempo até ser assim, infelizmente.”
Por Gisele Brito, Kátia Mello, Edir Lima,
Maurício Tambasco e Margareth Varella
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