Do G1, em Brasília O presidente Lula posa para foto durante cerimônia
de inauguração simultânea de obras, no Palácio do
Planalto nesta quinta-feira (30).
(Foto: Wilson Dias/ABr)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista à TV Brasil que foi ar na noite desta quinta-feira (30), que a imprensa foi “desrespeitosa” com a Presidência da República durante seu período no cargo. Lula defendeu a regulamentação da mídia, proposta que ficou para o governo Dilma Rousseff. Segundo ele, durante os oito anos do seu governo, a imprensa exagerou nas críticas, fazendo acusações sem provas.
“Não é possível a imprensa achar que ela pode fazer crítica e, ao mesmo tempo, ela não aceitar a crítica. Eu, sinceramente, acho que temos de fazer a regulamentação. Acho que a imprensa foi desrespeitosa com a instituição Presidência da República. Eu não posso dizer alguma coisa de pessoas que eu não tenho prova. Temos de criar mecanismos de proteção para a própria imprensa”, disse.
Não é possível a imprensa achar que ela pode fazer crítica e, ao mesmo tempo, ela não aceitar a crítica. Eu, sinceramente, acho que temos de fazer a regulamentação. Acho que a imprensa foi desrespeitosa com a instituição Presidência da República. Eu não posso dizer alguma coisa de pessoas que eu não tenho prova. Temos de criar mecanismos de proteção para a própria imprensa"
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
O presidente afirmou ainda que, durante muitas vezes, preferiu não ler reportagens publicadas pela imprensa. “Eu, sinceramente, acho que em alguns momentos, setores da imprensa brasileira exageraram, e eles fingem que não aconteceu nada. Eu tomei uma atitude que é não ficar com a raiva que eles pensam que eu vou ficar. Eu vou parar de ler, assim eu não fico com azia”, disse.
Lula recordou os investimentos feitos em programas sociais, como o ProUni e o Minha Casa, Minha Vida, além das linhas de financiamento abertas pelo BNDES, Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil.
Prestes a deixar a Presidência, Lula afirmou que despedida é “sempre desagradável”. “Despedida é uma coisa sempre desagradável, mesmo quando você vai partir para uma coisa melhor. A despedida é sempre uma coisa triste. Você não se sente confortável. O que me deixa confortável é saber que cumprimos com o que propomos no nosso mandato”, afirmou o presidente.
Segundo ele, um dos momentos mais difíceis dos seus oito anos de mandato foi o ajuste fiscal feito em 2003.
“Para mim foi muito sofrido tomar a decisão de fazer o ajuste fiscal que eu fiz, foi como cortar na própria pele. Eu resolvi trocar o capitão político por uma política mais dura na perspectiva de ganhar o futuro. Eu não esqueço nunca da famosa frase que eu falei do espetáculo do crescimento, mas aqueles que tentaram me ridicularizar não tiveram nenhuma humildade de me pedir desculpas depois, quando vieram os resultados”, disse.
O José Dirceu é um dos políticos mais competentes que o Brasil tem. Aliás, tem pouca gente no Brasil com a competência política que o José Dirceu tem"
Luiz Inácio Lula da Silva
Ao lembrar os episódios das crises políticas que atingiram o governo, Lula defendeu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que perdeu o mandato no auge do escândalo do mensalão, sendo substituído pela presidente eleita Dilma Rousseff.
“O José Dirceu é um dos políticos mais competentes que o Brasil tem. Aliás, tem pouca gente no Brasil com a competência política que o José Dirceu tem”, afirmou.
Lula afirmou que, durante o seu governo, sentiu necessidade de trabalhar mais a política de alfabetização para adultos. Ele disse que quer ser lembrado como o presidente “que fez a maior política social já feita no Brasil”. “Eu vou esperar passar o tempo, eu não vou escrever livro, porque ninguém lê livro de ex-presidente. Eu tenho consciência de que nós fizemos muito e de que temos muito por fazer. A Dilma vai ter quatro anos de trabalho muito forte e eu só vou rezar para que ela consiga fazer.”
Mais liberdade
Ainda nesta quinta-feira (30), a Presidência da República divulgou entrevista concedida por Lula à TV Cidade de Fortaleza, do Ceará. À emissora, o presidente disse que, a partir da próxima semana, quando não estará mais no cargo, sentirá falta dos amigos, mas terá "mais liberdade".
"Eu não vou sentir falta de muita coisa, eu vou sentir falta das pessoas que eu ligo de manhã para cobrar algumas coisas. Mas é o seguinte: eu estive oito anos na Presidência, em que eu nunca fui a um restaurante, eu nunca fui a um aniversário, eu nunca fui a um casamento, eu nunca fui a um jantar, eu fiquei exercendo a Presidência. Saía do Palácio e ia para casa com a Marisa, saía do Palácio, ia para São Bernardo, de vez em quando. Eu vou continuar fazendo essa vida. Obviamente que tem uma coisa que eu acho que vai ser boa para mim, eu vou ter mais liberdade. Eu, por exemplo, vou poder chegar em um bar, encontrar um amigo, tomar um chopinho", afirmou Lula.
Lula também afirmou, na entrevista, que está saindo da função com o sentimento de "missão cumprida". Disse que Dilma vai herdar o governo em "situação maravilhosa".