A única igreja cristã reconhecida até hoje na Argélia era a católica, cujos escassos fiéis são, entretanto, quase exclusivamente estrangeiros.
Há alguns anos o ministro argelino de Assuntos Religiosos, Buabdela Gulamala, não hesitava em equiparar "evangelização e terrorismo". Mas no final de julho o Ministério do Interior da Argélia convocou o pastor Mustafah Krim, presidente da Igreja Protestante da Argélia (IPA), para lhe anunciar o reconhecimento de sua instituição pelas autoridades.
"É uma boa notícia", declarou Krim dias depois a um site protestante na web. "Em princípio poderemos desenvolver nossas atividades com toda a normalidade", acrescentou.
A única igreja cristã reconhecida até hoje na Argélia era a católica, cujos escassos fiéis são, entretanto, quase exclusivamente estrangeiros, na maioria europeus ou estudantes subsaarianos matriculados nas universidades argelinas.
Fundada em 1974, a IPA conta com cerca de 30 templos, a maioria na região de Cabília, e vários milhares de fiéis, quase todos argelinos convertidos ao cristianismo. Constitui a principal corrente confessional depois do islamismo, a religião estatal.
A Argélia é, assim, o primeiro país do Magreb no qual uma igreja cristã autóctone consegue o reconhecimento oficial. É também onde há mais convertidos ao cristianismo, um fenômeno que se costuma explicar porque o terrorismo islâmico, que deixou cerca de 200 mil mortos nos anos 1990, incitou um pequeno setor da cidadania a buscar alternativas.
"A decisão significa uma mudança de atitude das autoridades", afirma satisfeito de Tizi Ouzou (Cabília) Tarek Berki, tesoureiro da Igreja Protestante, "mas agora é preciso ver como se concretiza em campo".
"Poderemos praticar nossa fé sem empecilhos, pôr nomes cristãos não muçulmanos em nossos filhos, construir igrejas ou abrir livrarias?", pergunta-se Berki. "Na teoria sim, mas queremos comprová-lo", salienta ao telefone.
Os protestantes também buscam a abolição de uma lei de 2006 que prevê penas entre dois e cinco anos de prisão e multas de 10 mil euros para todos os que incitarem, obrigarem ou recorrerem ao proselitismo para converter um muçulmano a outra religião.
Em virtude dessa lei, Siagui Krimo foi condenado em maio em Oran a cinco anos de prisão por entregar a seu vizinho, que o denunciou, um CD sobre cristianismo. A sentença foi recorrida.
Este mês, também, o governador de Beyaia mandou fechar sete igrejas. O pastor Krim denunciou "a truculência das autoridades" contra os protestantes e, afinal, a decisão não foi aplicada.
Fonte: El País
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