segunda-feira, 5 de março de 2012

Exploração de tumba revela sinais mais antigos do Cristianismo


Exploração de tumba revela sinais mais antigos do Cristianismo
Pouco mais de 30 anos atrás, uma equipe de arqueólogos encontrou uma câmara de ossuários em Jerusalém. Havia a expectativa de que os vestígios ali guardados fossem do início da Era Cristã. Uma caixa com restos mortais foi removida para uma coleção do governo israelense; as demais, porém, não puderam ser estudadas. Um grupo de judeus ultraortodoxos conseguiu impedir o prosseguimento dos trabalhos. O sítio arqueológico foi esquecido, pelo menos até agora. Munido de duas câmeras, um robô conseguiu chegar ao local e filmou registros que, se confirmados, seriam os mais antigos do Cristianismo — no máximo do ano 70. O que mais impressionou os pesquisadores foi a imagem de um peixe em uma das urnas, desenho proibido pelo Judaísmo e que tornou-se uma marca da nova religião.

Em julho de 1981, quando a presença dos cientistas na área já era vetada, um prédio residencial começou a ser construído sobre o sítio arqueológico. O assunto fora esquecido, até poucos anos atrás. Simcha Jacobovici, cineasta e professor do Departamento de Religião da Universidade de Huntington, nos EUA, resolveu trazê-lo de volta à tona. Israelense naturalizado canadense, ele acredita que a câmara mortuária está localizada naquela que, um dia, foi a propriedade de José de Arimateia, homem rico que, segundo a Bíblia, enterrou o corpo de Jesus Cristo, de quem era discípulo.

Jacobovici conseguiu, após muitas negociações, o aval necessário de todas as partes — autoridades governamentais, religiosos, moradores do prédio. Com uma condição: que nenhum membro de sua equipe fosse pessoalmente à câmara.

— Não queriam que levássemos qualquer distúrbio aos mortos. Por isso, construímos um robô especialmente para este trabalho — contou, em entrevista por telefone ao Globo. — Foi a primeira vez que um material como este foi usado em escavações arqueológicas em Jerusalém, o que já seria uma grande conquista. Com ele conseguimos dados precisos sobre os ossuários, como suas medidas: cada um tem, em média, 50 centímetros de extensão e 30 de largura.

Os sinais encontrados, porém, tornaram o feito ainda maior. Com base em uma planta da câmara, traçada antes de ela ser coberta com cimento, o robô foi guiado pela tumba. Em uma delas, há um peixe cuspindo o que parece ser uma figura humana.

— É uma imagem clássica de Jonas, que, segundo a Bíblia, passou três dias dentro de um peixe gigante, até ele vomitá-lo — explica Jacobovici. — A história foi lembrada pelo próprio Jesus Cristo, segundo o Evangelho de Mateus, quando lhe pediram um sinal realizado por Ele.

Nos primeiros séculos da Era Cristã, o peixe foi a imagem mais popular da nova religião — superando, inclusive, a cruz. Foi também este o animal multiplicado por Jesus em um de seus milagres. Além disso, a palavra “peixe” em grego clássico, “ichthys”, é um acrônimo para “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”.

Segundo Jacobovici, ele mesmo um judeu, sua religião proibia o desenho de elementos da terra, do céu ou da água. Encontrar esta figura em um ossuário, portanto, já “quebra uma tradição, é revolucionário”.

Um segundo ossuário trazia uma inscrição de quatro linhas, em grego. Seu significado ainda divide os pesquisadores, porque algumas letras estão apagadas. A hipótese mais provável é a tradução “Deus, Jeová, ascenda, ascenda”. Outras possibilidades seriam “O Divino Jeová sobe ao lugar sagrado” e “O Divino Jeová se ergue”.

O cineasta sabe que sua descoberta é controversa. Se estiver certo, pode ter encontrado os restos mortais de cristãos contemporâneos de Jesus, anteriores aos Evangelhos que contam Sua vida. Mesmo após as difíceis negociações para que seu robô chegasse lá, tem esperanças de que, agora, os próprios pesquisadores consigam chegar à câmara.

— Os primeiros cristãos acreditam que Jesus foi para o paraíso, mas não que levou o Seu corpo. Ele foi enterrado, e pode estar naquela região. Procurá-Lo, ou mesmo os restos mortais de Seus seguidores, faz sentido — avalia. — O robô já nos fez grandes revelações, mas ainda há muito a ser dito.
A câmara, para Jocobovici, tem potencial para mudar a teologia. Além de fornecer amplo material para grupos como o Jesus Seminar, fundado nos Estados Unidos em 1985 para reestudar, usando fatos históricos, o que pode ou não ter sido feito por Cristo. Suas investigações sobre a Bíblia tornaram-se populares. Ontem, porém, um de seus membros, procurados pelo Globo, assegurou que, por enquanto, a tática adotada por seus pares é o silêncio.

— Normalmente não lidamos com descobertas arqueológicas, embora tenhamos profissionais deste ramo no seminário — destaca Laurel Gray, um dos representantes do grupo na Califórnia. — Além disso, é impossível conferir a autenticidade do estudo, e, portanto, fazer comentários sensatos sobre seu valor para o Cristianismo.

Fonte: Exame.com

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