domingo, 29 de julho de 2012

Igrejas do Rio de Janeiro estariam se transformando em “comitês eleitorais”

Igrejas do Rio de Janeiro estariam se transformando em “comitês eleitorais”
Igrejas do Rio de Janeiro estariam se transformando em “comitês eleitorais”O registro de candidaturas no TSE do estado do Rio indica que 40 “sacerdotes ou membros de ordem ou seita religiosa” disputarão cargos eletivos nas próximas eleições. É mais que o dobro da quantidade de pastores candidatos em São Paulo. De acordo com reportagem do jornal O Globo, publicada neste sábado, candidatos ligados a igrejas evangélicas vêm usando templos no Rio de Janeiro como comitês eleitorais.
O eleitorado evangélico é estimado em cerca de 20% dos 11,8 milhões de eleitores do estado. O IBGE indicou no último Censo que o Rio já possui menos de 50% de católicos. Além disso, o número de evangélicos em 11 dos 19 municípios da Região Metropolitana superam o de católicos.
De olho nesse potencial, alguns candidatos fazem nos templos religiosos propaganda política e assistencialismo, que parecem ou ação social.
Um dos casos mostrados pelo jornal carioca é a Igreja Primitiva do Amor, em Nova Iguaçu, e na Assembleia de Deus dos Últimos Dias, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
Instalada numa casa simples, em um dos bairros mais carentes do município, a Igreja Primitiva do Amor fez na quarta-feira uma “campanha” de ação, oferecendo o cadastramento de moradores no Bolsa Família, preenchimento de fichas para solicitação de aposentadoria, aplicação de flúor e outras vantagens. O problema é que, para ter acesso, os interessados deveriam apresentar comprovante de residência, carteira de identidade e título de eleitor.
O pastor da igreja, Raimundo Jesus, afirma que o evento foi realizado no templo a pedido da Secretaria de Assistência Social de Nova Iguaçu. Mas alguns moradores dizem que a ação estava ligada ao candidato a vereador pelo PT, Sebastião Wagner Berriel, aliado da prefeita Sheila Gama (PDT) que tenta a reeleição.
O pastor Raimundo nega intenção política e diz que apenas cedeu o espaço a pedido da prefeitura. Contudo, as regras do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, responsável pela gestão do Bolsa Família, afirmam que o cadastro só pode ser promovido em espaços da administração municipal e sob a responsabilidade das secretarias municipais de assistência social.
Perguntada sobre o motivo de ter usado a igreja, Márcia Vieira, secretaria de Assistência Social de Nova Iguaçu, informa que o atendimento foi realizado no templo para responder um pedido da Igreja Primitiva do Amor. Ou seja, o contrário da informação dada pelo pastor.
Enquanto isso, a Assembleia de Deus dos Últimos Dias, em São João de Meriti, sede da denominação criada pelo pastor Marcos Pereira, se assemelha a um comitê eleitoral. Há, no local fotos, veículos adesivados e carros de som usados para fazer propaganda de Waguinho, candidato a prefeito em Nova Iguaçu, e de Allan Pereira, candidato a vereador no Rio, que é irmão de sangue do pastor Marcos.
Os dois candidatos concorrem pelo PC do B e são membros da Assembleia de Deus dos Últimos Dias. Segundo testemunhas, durante os cultos, o pastor Marcos faz campanha aberta para eles.
Maurício da Rocha Ribeiro, o procurador regional eleitoral, afirma ser proibida a campanha política em templos religiosos. Se comprovado o descumprimento da lei eleitoral, o candidato terá de pagar multa entre R$ 2 mil e R$ 8 mil, além da retirada de cartazes e faixas.
Sobre o uso de templos religiosos para atividades veiculadas a programas sociais do governo, os responsáveis podem ser acusados de abuso de poder econômico e político. “Nesse caso, pode resultar até na cassação do registro do candidato”, explica o procurador.

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