Pelo menos dois padres da Arquidiocese da Paraíba estão afastados por suspeitas da prática de pedofilia, em João Pessoa.
A
revelação foi feita ontem pelo arcebispo da Paraíba, dom Aldo Pagotto,
durante entrevista por telefone concedida ao JORNAL DA PARAÍBA. Os casos
estão sendo investigados pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) e os
padres podem ser suspensos definitivamente da Igreja Católica caso as
denúncias se confirmem. Os nomes e as paróquias dos padres não foram
revelados.
“Não posso dizer os nomes nem dar mais detalhes porque
posso expor demais essas pessoas, de forma indevida. As denúncias podem
ser infundadas. Vamos esperar a apuração do MP”, disse o arcebispo.
Segundo ele, atualmente há cinco padres afastados de suas funções, o que
não quer dizer que são todos por denúncias de pedofilia. O afastamento
dura o tempo necessário para esclarecer os fatos. A pedofilia é a
prática sexual realizada com crianças ou adolescentes.
De acordo
com o arcebispo, quando um padre tem um comportamento inadequado, pode
ser afastado ou mesmo suspenso. “A suspensão acontece quando é uma falta
grave, que implica em crime ou escândalo, como pedofilia, por exemplo”,
declarou. “Temos pelo menos dois padres afastados por denúncias de
pedofilia. Os casos foram comunicados imediatamente ao Ministério
Público, eu não poderia jamais ficar omisso”, disse Pagotto.
Segundo
ele, as decisões dentro da Igreja Católica não são unilaterais. Quando
há um desvio de comportamento, a situação é julgada pelo conselho, que
vai decidir a punição para o padre.
“O conselho tem o papel de
orientar, não é uma camisa de força, mas não podemos admitir nenhum
comportamento que vá contra a moral ou a doutrina do Catolicismo”,
afirmou. “Diante disso ele é convidado a se afastar de suas funções,
podendo ou não retornar ao cargo”, explicou.
Mas em casos de
pedofilia, segundo o arcebispo, a consequência prevista é a suspensão do
sacramento da Ordem. Ao decidir se tornar padre, o homem deve renegar
todo e qualquer desejo sexual. Pela doutrina católica, os padres têm que
abraçar o celibato, lei que os proíbem casar e ter filhos. O celibato,
inclusive, é uma questão polêmica que atravessa séculos.
O
arcebispo reforçou que, ao escolher ser padre, as pessoas devem ter a
absoluta clareza do papel de um sacerdote e voltou a falar do crime de
pedofilia. “Em todos os escândalos que já estouraram pelo Brasil afora
envolvendo pedofilia na Igreja Católica os padres foram afastados e
suspensos da Ordem. É inadmissível”, comentou. A expulsão do sacerdócio é
feita pela Congregação para a Doutrina da Fé, órgão da Santa Sé.
Pagotto
informou também que esporadicamente chama a atenção de alguns padres,
por questões diversas. “Se observamos algum comportamento que deve ser
reorientado de acordo com o que manda a Igreja, certamente o faremos.
Temos que aceitar as opiniões diferentes, mas não podemos nunca fugir ao
que rege a igreja”, afirmou do Aldo Pagotto.
DENÚNCIAS ENCAMINHADAS AO MP
De
acordo com dom Aldo, as denúncias foram encaminhadas ao conhecimento do
Ministério Público. No entanto, apesar da pedofilia ser um crime
envolvendo crianças e adolescentes, a denúncia não será apurada pela
Promotoria da Juventude e da Infância de João Pessoa, como explicou o
titular do órgão, Arley Escorel.
“A Promotoria é protetiva, ou
seja, se identificarmos qual criança ou adolescente que foi vítima da
violência, iremos prestar assistência a essa vítima”, afirmou.
A
coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Criança e do Adolescente,
promotora Soraya Escorel, também acrescentou que as denúncias sobre
práticas de crimes são encaminhadas à Promotora Criminal, onde o
inquérito judicial é instalado e, para em seguida, ser remetido à
justiça.
Através da assessoria de imprensa, o Ministério Público
da Paraíba informou que não localizou o processo em que aparecem as
denúncias contra os padres. O setor ainda explicou que, caso as
investigações estejam correndo em segredo de justiça, não aparecem no
sistema eletrônico do MPPB.
Papa pede ação contra abusos. Em
abril deste ano, o papa Francisco pediu publicamente uma ação decisiva
contra abusos sexuais de crianças e adolescentes cometidos por membros
da Igreja Católica. Na ocasião ele disse que a Igreja precisa agir com
determinação para ajudar os menores e adotar os procedimentos
necessários para os culpados. O papa anterior, Bento XVI, quando assumiu
prometeu combater a pedofilia clerical, mas críticos o acusaram de
acobertar abusos no passado e de não ter protegido as crianças da ação
de padres pedófilos.
Fonte: Folha do Sertão
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