O amor cristão é a imagem refletida do amor de Deus por nós. A perseverança em amar é a prova de que uma pessoa é nascida de Deus e conhece a Deus. Caso contrário, a simples afirmativa de que se ama a Deus, acompanhada da falta de amor para com um irmão, é uma mentira (I João 2:9-11). A razão é que o amor procede de Deus.
Esse ensino vem em seguida à advertência sobre os falsos espíritos, ou ensinadores: estes não devem ser amados, nem devemos orar pelo seu bem-estar, porque são filhos do diabo. Quanto ao pecador perdido, nosso amor consiste em orar para que ele venha ao conhecimento do Evangelho do Senhor Jesus, e levar ou providenciar para que seja levado o Evangelho até ele.
Os crentes devem amar uns aos outros com a mesma espécie de amor com que Deus nos ama: não é atração física, nem amor sentimental ou social. É sobrenatural, tornado real apenas pelo Espírito de Deus, e só Ele nos habilita a estender esse amor aos outros irmãos. Não é a espécie de amor que temos para com amigos com quem gostamos de conviver. Existem alguns irmãos pouco amáveis do ponto de vista humano, mas apesar disso, o amor de Deus em nós nos impelirá a nos preocupar com o seu bem-estar.
Quando encontramos uma pessoa que se diz crente, e percebemos que ele nos ama e ama outros crentes, então podemos concluir que ele é um filho de Deus nascido de novo. Por outro lado, uma pessoa que não mostra amor por nós e por outros crentes nunca veio a conhecer o amor de Deus, porque Deus é amor.
O amor de Deus foi manifestado em nós (não "entre nós" ou "para conosco" como em algumas traduções): porque Ele mandou Seu unigênito Filho, para que pudéssemos viver por meio dele; Jesus Cristo é a vida (João 14:6), e Ele vive em nós (Gálatas 2:20). Esta vida começa quando nós O recebemos como nosso Senhor e Salvador.
Quando Jesus Cristo é chamado de "unigênito Filho" a referência é ao Seu relacionamento singular com o Pai. Assim como um homem não é verdadeiro pai se não tiver prole da sua própria semente, também não podemos ter um Pai eterno sem que Ele tenha um Filho eterno participando da sua essência divina. O Filho não foi criado. Deus chamou os anjos que Ele criou de Seus "filhos", e Ele adota os que confiam em Cristo como "filhos", mas somente o Senhor Jesus é chamado pelo Pai de "Meu Filho unigênito", porque Ele é exatamente como o Pai em todos os seus atributos, caráter e substância. Essa também é a qualificação usada para Isaque com relação a Abraão, porque ele foi singular e o seu nascimento foi milagroso; quando ele nasceu Abraão já tinha um filho, Ismael (Hebreus 11:17), mas Isaque tinha um relacionamento especial com Abraão do qual os outros filhos de Abraão não participavam: ele era o "filho da promessa", através do qual Deus iria realizar o Seu desígnio de trazer ao mundo a Semente através de quem todas as nações do mundo seriam abençoadas.
Há um grande contraste: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou, e provou isto enviando seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Cristo é chamado de "propiciação pelos nossos pecados" que significa que Ele é o "propiciatório" dos nossos pecados: Ele foi entregue à morte por nossos pecados, e ressuscitado para nossa justificação (Romanos 4:25). Ele fez expiação pelos nossos pecados para que possamos vir com plena confiança ao trono de graça de Deus, chamado trono de graça porque ali há misericórdia para nós.
O amor de espécie divina não se acha na natureza, mas no Calvário. O amor de espécie humana retribui amor, mas o amor divino toma a iniciativa. Deus demonstrou o Seu amor por nós ao morrer Cristo em nosso favor quando ainda éramos pecadores (Romanos 5:8), a fim de nos dar vida mediante a Sua morte, e esta é a prova do Seu amor. Esse é o tipo de amor a ser revelado em nós, se formos Seus filhos.
Duas vezes neste capítulo João nos dá a definição "Deus é amor" (vs. 8 e 16), e podemos também dizer "Deus é santo" porque isso é o que "Deus é luz" significa. Nunca vamos encontrar na Bíblia as palavras "Deus é misericórdia", ou "Deus é graça" ou mesmo "Deus é justiça", e o amor de Deus por si próprio não nos salva. Ele é amor, mas nem por isso Ele pode abrir as portas do céu para nos deixar entrar, nem mesmo encontrar uma passagem ao lado para que entremos às escondidas … Ele não pode fazer isso porque é um Deus justo e santo, e todos os pecadores têm que pagar a penalidade do seu pecado, que é a perdição eterna. O seu amor não pode fazer vistas grossas a isso. Esse é o motivo porque Deus deu o Seu Filho para morrer na cruz por nós: para pagar a penalidade do nosso pecado. Isso abre o caminho para nós, se concordarmos que o santo Deus venha nos alcançar e nos salvar, porque Ele só o pode fazer dessa forma (João 3:16, 14:6, Romanos 5:8). É tolice pensar que, porque Deus é amor, tudo nos sairá bem e todos afinal irão para o céu. Quem preferir não tomar conhecimento daquilo que Deus tem feito, e não confiar em Cristo, permanece debaixo da penalidade do seu pecado, que é a perdição eterna.
Deus já demonstrou a natureza do Seu amor por nós, portanto devemos amar nossos irmãos e irmãs da mesma maneira. Vai além de retribuir o amor que os outros têm por nós, e o amor egoísta não vale nada. Não é uma questão de dar um abraço, de chamar alguém de "irmão", de se comportar agradavelmente na igreja, mas significa ter uma verdadeira preocupação pelo bem-estar dos outros crentes, tanto quanto de transmitir a Palavra de Deus e de servi-lo. Somos capazes de perdoar aqueles que nos entristeceram, nos feriram e ainda se dizem filhos de Deus?
Embora Deus tenha se manifestado de alguma forma a várias pessoas no Velho Testamento, Ele nunca se revelou em toda a Sua plenitude. Aquelas pessoas viram o Filho de Deus antes de Sua vinda ao mundo, traduzido como "O SENHOR" em nossas Bíblias no idioma português, no que é chamado de teofania, freqüentemente vista na forma de "O Anjo do Senhor". Deus é um espírito invisível aos olhos humanos, e essa é a maneira em que O adoramos. O Senhor Jesus disse a Filipe: " Quem me vê, vê o Pai …" (João 14:9), mas Ele estava coberto em carne humana, tanto assim que as multidões que O viram não O reconheceram. Deus hoje pode manifestar-se através do amor entre os crentes. O mundo em geral pode não ver o Senhor Jesus como Ele é revelado na Palavra de Deus, mas saberão do amor de Deus através das vidas dos crentes. É assim que o amor de Deus é manifestado em nós. O mundo pode não saber nada sobre o amor de Deus, mas o Seu amor é desenvolvido em nós, e o mundo O tem visto nas vidas de muitos crentes.
O crente é cônscio do fato que Deus vive nele devido ao Espírito Santo que Deus lhe deu. O dom do amor de Deus é prova da nossa comunhão com Deus: não é amor humano, mas é fruto do Espírito (Gálatas 5:22-23). Alegria e paz surgem do amor (1 Coríntios 13). Se estamos sendo enchidos pelo Espírito de Deus que está em nós, vamos manifestar essa espécie de amor e o mundo o verá.
João estava habilitado a testemunhar do Evangelho, como o Senhor Jesus havia ordenado aos Seus discípulos fazer (Atos 1:8), e essa é a mensagem que temos a dar. É o objetivo do nosso amor, que se revela quando levamos Cristo a um mundo perdido de pecadores. Para eles é difícil compreender porque crentes lhes levam uma mensagem de amor, e muitas pessoas a quem testemunhamos são difíceis de amar.
A confissão da divindade de Jesus Cristo implica em rendição e obediência também, não só palavras (cf. 1 Coríntios 12:3; Romanos 10:6-12). Também, se genuína, é prova da comunhão com Deus (1 João 1:3; 3:24). Se amamos a Deus, amamos ao Senhor Jesus, e também amamos uns aos outros como irmãos e irmãs na fé, nosso amor é tornado "perfeito" (completo) e isso nos dará confiança e nada teremos que temer no dia do juízo. Somos como o Senhor Jesus, e somos aceitos na Sua pessoa.
Mas se não amamos nosso irmão, então também não amamos a Deus porque Ele nos instruiu a nos amarmos aos outros como prova de que O amamos.
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