A palmada não é mais vista com a mesma inocência de décadas atrás, mas ainda assim não é difícil encontrar pais e mães adeptos das “palmadinhas corretivas”. A discussão veio à tona novamente com o projeto de lei 7672, enviado em julho do ano passado ao Congresso Nacional.
Ontem, terça-feira (13), a Comissão Especial da Câmara dos Deputados começou uma votação em caráter conclusivo sobre a Lei da Palmada. O projeto foi adiado pois os deputados evangélicos não entraram em acordo com os defensores da proposta.
O objetivo do documento é alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que atualmente condena maus-tratos contra a criança e o adolescente, mas não define o que pode ser considerado como maus-tratos. Se aprovado, o projeto seguirá para análise do Senado.
Entenda a proposta:
- Atualmente, a lei que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) condena maus-tratos contra a criança e o adolescente, mas não define o que pode ser considerado como maus-tratos.
- Com o projeto de lei, “castigo corporal” passa a ser definido como “ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou ao adolescente”.
- Se for aprovada a lei, como está no projeto, os infratores poderão receber penas como advertência, encaminhamento a programas de proteção à família e orientação psicológica.
O pedido dos parlamentares evangélicos é que o texto seja alterado para especificar o que seria os maus-tratos, que não está claro na lei. O deputado, Pastor
Marco Feliciano disse que os parlamentares evangélicos pediram alteração no texto.
“Retiramos a palavra dor, pois não se sabe a extensão de uma dor, e trocamos a palavra ‘castigo’ por ‘agressão’, protegendo assim a educação familiar”, disse ele em entrevista ao Gospel Prime.
Marisa Lobo, ‘Psicóloga Cristã’, autora do livro “Como de Seu Filho Uma Criança Feliz”, falou ao ‘O Verbo’ sobre o assunto.
Leia o que a psicóloga pensa sobre o tema:
Michael Caceres – Na cabeça da criança, qual é a diferença entre uma palmada pedagógica e uma surra?
Marisa Lobo - O que vai mediar esta educação efetiva é sempre a tentativa de dialogo, mas entendo que muitas vezes não é possível, a diferença essencial , é a motivação que está no ato da palmada, e o sentimentos empregados. A criança sabe avaliar quando a raiva no ato e quando há amor. Ela deve saber que só está levando umas palmadas porque de alguma forma todos os argumentos já foram esgotados.
Estamos na dispensação da graça, do amor e do perdão. Não devemos ameaçar a criança todo tempo com castigos físicos e principalmente emocionais, do tipo “Jesus não vai mais gostar e olhar pra você”. Esse tipo de ameaça causa frustração e medo. São esses castigos de conotação afetiva que se tornam mais nocivos ao desenvolvimento afetivo. Devem ser excluídos os castigos corporais, é fato. Mas não serão umas palmadas que perturbarão o equilíbrio afetivo da criança. Por outro lado, violência gera uma criança com educação deficiente.
Michael Caceres – Pais sabem que impor limites e educar são tarefas demoradas. As palmadas não seriam um recurso muito fácil?
Marisa Lobo - O adulto deve saber que para educar, não precisará exercer uma autoridade excessiva e sim, deve desenvolver um clima de empatia, uma atmosfera de confiança. Não deve agir pela força constrangedora, pois assim eliminará alguns comportamentos, porém não resolverá nenhum problema afetivo, nenhum conflito interno. Não basta apenas censurar, devemos identificar os motivos de determinado comportamento e/ou sentimento, para podermos auxiliar a criança na compreensão e eliminação dos mesmos. “A criança não deve aprender a obediência pela obediência, com a velha mentalidade militaresca e automática do dever, mas há de aprender a conformar-se, do melhor modo possível, à lei moral e religiosa. A obediência é um exercício, logo, um meio, não um fim”, Para ter efeito pedagógico toda censura, deve ser dialogada. Ainda que seja um tapa.
Michael Caceres – As crianças de hoje estão mais mal-educadas do que décadas atrás?
Marisa Lobo - Toda regra tem exceção porém o que vemos hoje são crianças mais “birrentas” que as crianças de antigamente , mas isso não é via de regra, mas é fácil perceber esta disparidades de vontades entre os filhos de hoje, é difícil mesmo educar, porque quando repreendemos um filho muitas vezes, exageramos sem perceber, ou percebendo, o que é pior. E por outras, deixamos correr solta a mal-criação, porque estamos cansados e/ou não queremos nos incomodar, ou ainda por não nos sentirmos capazes de fazê-lo.
Devemos ter em mente que a criança precisa de disciplina e de limite, assim como precisa de amor, atenção, cuidado, carinho. Todas essas coisas – atitudes – devem caminhar juntas
Michael Caceres – Existem pesquisadores que apontam que crianças que apanharam na infância tornam-se adolescentes problemáticos. Qual é sua opinião sobre isso?
Marisa Lobo - Muitos comportamentos agressivos de jovens hoje podem vir de uma infância de maus tratos por exemplo Hitler foi espancado na sua infância, humilhado e envergonhado por um pai sádico. Hitler repetiu a forma mais extrema dessa crueldade em milhões de pessoas inocentes. O comportamento agressivo pode ser o resultado da violência na infância e da mágoa e da dor não resolvidas. A criança impotente e ferida pode se transformar no adulto agressor. Isto é verdade especialmente em casos de maus-tratos físicos, de abuso sexual e de severo castigo emocional. Para sobreviver à dor, perde-se toda noção de identidade, identificando-se com o agressor.
Porém a maioria do comportamento agressivo nem sempre é resultado de maus-tratos. Em alguns casos, crianças que foram “mimadas” pelos pais aprenderam a se considerar superiores aos outros, fazendo-as acreditar que merecem um tratamento especial de todos. Perdem toda a noção de responsabilidade, certas de que seus problemas são sempre de outras pessoas, não assumindo a responsabilidade por seu comportamento.
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