A Fraternidade é meticulosa em seu planejamento passo a passo, primeiramente de tomar posse da alma do indivíduo e depois da família, do povo, da nação e da união de nações islâmicas, até que o Estado islâmico mundial seja uma realidade.
- A Fraternidade Muçulmana tem exercido um papel mais importante na organização dos protestos contra o regime político egípcio à medida que apresenta seu programa político independente. Rashad al-Bayumi, o segundo homem em importância na Fraternidade, anunciou em uma entrevista à televisão japonesa que o grupo se uniria a um governo transitório a fim de cancelar o tratado de paz entre Egito e Israel, uma vez que o mesmo "ofende a dignidade dos árabes e destrói os interesses do Egito e de outros Estados árabes". A seguir ele enfatizou que o Egito não precisa de ajuda americana.
- A Fraternidade Muçulmana participa, sim, de atividades políticas e defende o processo democrático. Todavia, isso não acontece porque ela tenha aceitado os princípios da democracia ocidental, mas porque o processo democrático pode ser explorado para estabelecer um regime islâmico que, então, tornará a democracia desnecessária.
- O Guia Supremo da Fraternidade Muçulmana, Muhammad Mahdi 'Akef informou ao jornal egípcio Al-Karama, em 2007, que apenas o islamismo era a expressão da verdadeira democracia. "O Islamismo e seus valores precederam o Ocidente fundando a verdadeira democracia, exemplificada pelo Shura [o conselho consultivo dos Califas]".
- O site oficial da Fraternidade observa que a jihad (guerra santa) é o instrumento mais importante do islamismo para efetuar uma conquista gradual, a começar com as nações islâmicas, prosseguindo para restabelecer o califado nos três continentes em preparação para uma conquista do Ocidente e, finalmente, para a instituição de um Estado islâmico mundial.
- O planejamento passo-a-passo da Fraternidade Muçulmana determina sua suposta "moderação", a qual irá desaparecer gradativamente à medida que suas realizações aumentem e sua aceitação da situação existente seja substituída por um rígido governo muçulmano ortodoxo, cuja política externa seja baseada na jihad.
O governo Obama discutiu com líderes egípcios uma proposta de renúncia imediata do presidente Hosni Mubarak e a entrega do poder a um governo transitório encabeçado pelo [então] vice-presidente Omar Suleiman, com o apoio do exército egípcio, de funcionários do governo e de diplomatas árabes, informou o New York Times no dia 3 de fevereiro de 2011. De acordo com a proposta americana, o governo transitório incluiria membros de uma ampla diversidade de grupos oposicionistas, inclusive da Fraternidade Muçulmana.
A Fraternidade Muçulmana, um movimento global que tem o Hamas como seu ramo palestino, tem exercido um papel mais importante na organização dos protestos contra o regime político egípcio à medida que apresenta seu programa político independente, desafiando tanto a administração americana quanto Israel. Rashad al-Bayumi, o segundo homem em importância na Fraternidade Muçulmana, anunciou em uma entrevista à televisão japonesa (e que foi citada pelo jornal al-Hayat) que o grupo se uniria a um governo transitório a fim de cancelar o tratado de paz entre o Egito e Israel, uma vez que ele "ofende a dignidade dos árabes e destrói os interesses do Egito e de outros Estados árabes". A seguir, ele explicou que sua animosidade com relação ao governo americano deriva do apoio que este dá a Israel, enfatizando que o Egito não precisa de ajuda americana.
A Democracia é o Caminho de Entrada do Islamismo ao Poder
A Fraternidade Muçulmana participa, sim, de atividades políticas e defende o processo democrático. Todavia, isso não acontece porque ela tenha aceitado os princípios da democracia ocidental, mas porque o processo democrático pode ser explorado para estabelecer um regime islâmico que, então, tornará a democracia desnecessária, como ficou evidente por meio de sua plataforma nas eleições parlamentares egípcias em 2007. A organização afirmou que estava participando das eleições porque "a Fraternidade Muçulmana prega o caminho de Alá (...) [e, portanto, está participando] para cumprir com os mandamentos de Alá, de maneira pacífica, usando as instituições constitucionais existentes e uma decisão determinada pelas urnas de votação secreta". Ou seja, a democracia é o caminho de entrada do islamismo ao poder.
Na plataforma da Fraternidade Muçulmana também constava que "o governo [no Egito] deverá ser republicano, parlamentarista, constitucional e democrático, de acordo com a Sharia Islâmica [código de leis do islamismo]", e que "a Sharia assegura liberdade para todos". A organização não aceita o princípio da separação entre Igreja [Religião] e Estado, e o governo islâmico a que aspira é, para ela, uma realização da democracia.
Entrevistado dia 17 de setembro de 2007 pelo jornal diário egípcio Al-Karama, o Guia Supremo da Fraternidade Muçulmana, Muhammad Mahdi 'Akef, disse que o slogan da campanha da organização seria: "A Sharia é a Solução", e que os direitos humanos e a democracia seriam incluídos no governo sob a Sharia. Ele devotou sua carta semanal de 12 de maio de 2007 a uma exposição sobre a democracia vista de acordo com os olhos da Fraternidade Muçulmana. Disse que apenas o islamismo, o qual foi dado aos homens por Alá, era a expressão da verdadeira democracia. 'Akef escreveu:
o islamismo precede [...] as doutrinas e ideologias inventadas pelos homens. A mensagem final e absoluta dos céus contém todos os valores que o mundo secular afirma ter inventado [...]. O islamismo e seus valores precederam o Ocidente fundando a verdadeira democracia, exemplificada pelo Shura [o conselho consultivo dos Califas], e o respeito do islamismo pela igualdade das outras religiões. [...] Com respeito à liberdade, o islamismo alcançou um objetivo que os pregadores seculares não alcançaram, pois a liberdade prometida pelo islamismo é genuína em todos os seus aspectos, mesmo quanto à fé e à religião. (...) Quanto à afirmação de que o islamismo não reconhece a autoridade civil, a autoridade do islamismo é democrática [....] ela é uma liberdade genuína, fornece igualdade na prática e é transparente; ela nunca oprime nem rouba ao homem seus direitos [...]. É sobre esse fundamento e com esses valores que a Fraternidade Muçulmana clama por justiça, igualdade e liberdade.
'Akef nunca utilizou expressões ambíguas para se referir à sua visão sobre a democracia ocidental. No dia 30 de abril de 2005, ele disse ao jornal diário egípcio Al-Ahram que a Fraternidade Muçulmana se opunha à democracia americana porque ela era "corrupta e servia aos programas americanos [...]. A Fraternidade Muçulmana tem realizado manifestações contra a intervenção estrangeira e contra qualquer democracia que sirva aos americanos [...]. A democracia [americana] é corrupta porque quer destruir a nação [islâmica], sua fé e tradição". Ele disse à BBC que a democracia ocidental "não era realista" e era "falsa".
Um dos exemplos de 'Akef sobre os "valores corruptos" da América é a tentativa de impedir a circuncisão feminina na África. No dia 12 de julho de 2007, ele escreveu que "[os americanos] gastam bilhões de dólares e ininterruptamente maquinam mudar o modo de vida dos muçulmanos, promovem a guerra contra os líderes muçulmanos, as tradições de sua fé e de suas idéias. Eles até mesmo promovem guerra contra a circuncisão feminina, uma prática comum em 36 países, que tem prevalecido desde os tempos dos faraós".
A Importância da Jihad
De acordo com a Fraternidade Muçulmana, a jihad, isto é, a guerra santa contra os infiéis, é um dos elementos fundamentais difundidos pela Fraternidade Muçulmana. A ideologia da organização, como aparece em seu site oficial, considera "o Profeta Maomé como seu líder e governador, e a jihad como seu caminho". A jihad possui uma estratégia global que vai além da auto-defesa; é o incessante ataque a todos os governos dos infiéis, com a intenção de ampliar as fronteiras do Estado islâmico até que a humanidade viva debaixo da bandeira islâmica.
Ao clicar nos links "The Goals of the Muslim Brotherhood" [Os Objetivos da Fraternidade Muçulmana] e "Muslim Brotherhood Measures" [Medidas da Fraternidade Muçulmana] chega-se a explicações sobre a jihad baseadas nos escritos do fundador da Fraternidade Muçulmana, Hassan al-Banna. É observado ali que a jihad é o instrumento mais importante do islamismo para efetuar uma tomada gradativa de poder, começando pelos países muçulmanos, seguindo para o restabelecimento do Califado sobre três continentes em preparação para a conquista do Ocidente e, finalmente, instituindo um Estado islâmico mundial. O site da organização declara:
Queremos um indivíduo muçulmano, um lar muçulmano, um povo muçulmano, um governo e um Estado muçulmanos que liderem os países islâmicos e que tragam ao sagrado aprisco a diáspora muçulmana e as terras que foram roubadas do islamismo, e que depois ergam o estandarte da jihad e o chamado [da'wah] a Alá. [Então, o] mundo aceitará alegremente os preceitos do islamismo [...]. Os problemas para conquistar o mundo apenas terminarão quando a bandeira do islamismo estiver tremulando e a jihad tenha sido proclamada.
O objetivo é estabelecer um Estado islâmico de países islâmicos unidos, uma nação debaixo de uma liderança cuja missão será reforçar a aderência à lei de Alá [...] e o fortalecimento da presença islâmica na arena mundial [...]. O objetivo [...] é o estabelecimento de um Estado islâmico mundial.
E, se a oração é o pilar da fé, então a jihad é o seu cume [...] e a morte no caminho de Alá é o auge da aspiração.
A Fraternidade Muçulmana não esconde suas aspirações globais e o caminho violento que pretende seguir a fim de alcançá-las. A Fraternidade é meticulosa em seu planejamento passo a passo, primeiramente de tomar posse da alma do indivíduo e depois da família, do povo, da nação e da união de nações islâmicas, até que o Estado islâmico mundial seja uma realidade. O princípio dos estágios dita a suposta "moderação" da Fraternidade Muçulmana. Todavia, essa "moderação" irá desaparecer gradativamente à medida que as realizações da Fraternidade Muçulmana aumentem e sua aceitação da situação existente seja substituída por um rígido governo muçulmano ortodoxo, cuja política exterior seja baseada na jihad.
Para a Fraternidade Muçulmana, a jihad está no centro do conflito contra os Estados Unidos, o Ocidente, Israel e outros regimes políticos de infiéis. O supremo líder da Fraternidade Muçulmana considera que o islamismo está deflagrando "uma batalha de valores e identidade" contra as forças do "imperialismo" e os "anglo-saxões" que estão atacando o mundo árabe-islâmico "com o pretexto de difundir a democracia, de defender os direitos das minorias, e de se opor ao que eles chamam de terrorismo". Ele aconselha os muçulmanos a adotarem "a cultura da resistência contra a invasão", explicando que Alá deu "a jihad e a resistência às nações ocupadas e oprimidas como meios para alcançarem a liberdade". Ele acrescentou que "a cultura da resistência à invasão e à ocupação têm aspectos intelectuais, militares e econômicos. A experiência na Palestina, no Iraque e no Afeganistão provou que a resistência não é imaginária ou fictícia ou impossível, mas que, em vez disso, é possível quando a nação [islâmica] apresenta uma frente unida e usa suas armas e sua fé para encarar um imperialista, quer ele venha com armas, quer nos inunde com suas idéias, seus valores ou sua moralidade obsoleta". O sucessor de 'Akef, Mohammad Badi', mantém a mesma plataforma.
(Jonathan D. Halevi -- Jerusalem Center for Public Affairs -- www.jcpa.org - www.Beth-Shalom.com.br)
O tenente-coronel (da reserva) Jonathan D. Halevi é pesquisador-sênior sobre o Oriente Médio e sobre o islamismo radical do Jerusalem Center for Public Affairs (Centro de Assuntos Públicos de Jerusalém). É co-fundador do Orient Research Group (Grupo de Pesquisas Sobre o Oriente) e ex-consultor da Divisão de Planejamento de Políticas do Ministério de Relações Exteriores de Israel.
Nota:
Uma análise abrangente dos programas da Fraternidade Muçulmana pode ser encontrada em "The Muslim Brotherhood: A Moderate Islamic Alternative to al-Qaeda or a Partner in Global Jihad?" [A Fraternidade Muçulmana: Uma Alternativa Islâmica Moderada para a Al-Qaeda ou uma Parceira na Jihad Mundial?], de Jonathan D. Halevi.
Publicado em português na revista Notícias de Israel 3/2011 - www.Beth-Shalom.com.br
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