Não aconteceu nada específico
ou extraordinário que justificasse
um título tão dramático como
o usado neste artigo. Sou assim,
gosto de chamar a atenção dos
leitores, especialmente quando
o assunto é sério. Corrupção é
desses assuntos que me deixam
bastante irritado. Chateado, até.
Vejamos qual será sua reação
depois de alguns importantes
dados divulgados recentemente.
O André, leitor , decidiu nos enviar um resumo de uma recente pesquisa realizada
pelo Vox Populi/UFMG e publicada, com exclusividade pelo jornal Valor Econômico,
que trata da corrupção desde o ponto de vista dos brasileiros. Ao todo, foram
entrevistados 2421 cidadãos entre os dias 10 e 16 de maio de 2008, em todo o Brasil.
Uma conclusão óbvia, mas ao mesmo tempo chocante, me impressionou:
os brasileiros consideram mais graves os efeitos colaterais e problemas
causados pela corrupção quando esta é originada no governo ou nos empresários
de nosso país. Por outro lado, quando atitudes cotidianas dos brasileiros são
cercadas pelos "truques", o brasileiro se sente mais vítima que bandido.
Quadro simplificado da corrupção
A corrupção no Brasil é muito grave: 77% dos entrevistados concordam com
esta afirmação. Pois sabemos que ela existe, que ela prejudica o país e ainda
assim não tratamos de combatê-la de forma mais entusiasmada? Ai começa
minha indignação. Certo, 73% disseram ter percebido um aumento da corrupção
nos últimos cinco anos. A indignação aumenta.
No entanto, um número interessante muda um pouco o foco da discussão:
75% dos participantes dizem que, na verdade, o que aumentou não foi a
corrupção, mas a apuração de casos em que ela ocorre. A corrupção aumentou,
mas os casos investigados e que se tornam públicos também. Será que a exposição
é mesmo mostra de que os casos estão sendo levados mais a sério? A indignação
dá lugar a uma reflexão.
Fico com a sensação de que este "conforto" é, além de passageiro, ilusório e perigoso.
E, ufa, não estou sozinho: 82%, um dos maiores percentuais de concordância,
acreditam que novas leis, com penas maiores e mais duras, devem ser criadas
e aplicadas nos processos que envolvem a corrupção. Sinais de amadurecimento
vêm acompanhados de dados intrigantes:
"Quanto mais próximos os atos corruptos estiverem do cidadão, mais inversamente proporcional é a lógica. Daí por que pagar propina para obter uma licença ou invadir uma terra pública são atos mais aceitáveis do que o achaque por parte de um policial ou o abuso do poder econômico de um empresário que financia ilicitamente uma campanha eleitoral." (Maria Cristina Fernandes - Valor Econômico de 01/08/2008)O que eu acho da corrupção?
Acreditar que atos cotidianos deliberados e associados à corrupção merecem menor
destaque e importância que aqueles perpetrados pelas figuras públicas ou governo é
a prova das distorções sociais, de valores e de educação vivida pela população
brasileira. Sustento duas razões centrais para a questão da corrupção e seu
quadro crônico no país:
1. O governo ainda faz pouco para fazer chegar ao cidadão a transparência
necessária em suas decisões. Os inúmeros escândalos protagonizados pelo
governo, as sabidas falcatruas políticas e a demora em se promover importantes
reformas traduzem uma realidade cruel: a corrupção existe, assusta, mas não
mobiliza nem o governo, nem a população. Há que se combater a impunidade,
principal motor da corrupção.
2. Poucos brasileiros sabem explicar o que é o poder público, quais são
suas responsabilidades e em que esferas ele atua. A educação incipiente
contribui para formar superficiais indivíduos, cujos objetivos e interesses
pessoais passam a se basear apenas nos princípios éticos transferidos pela
nação durante sua formação. No país das filas duplas, das invasões de terra,
do "está tudo certo" e dos assaltos aos cofres públicos, justificar sem ser
punido ainda é mais fácil que trabalhar duro para conquistar algo. Ainda.
Odeio corrupção! A certeza da impunidade move muitas forças ocultas dentro
de cada um de nós. As mesmas forças que, de repente, mostram-se alarmadas
com informações como as publicadas pela pesquisa citada. Infelizmente, o
sentimento passa rápido demais. Não deveria, mas passa. !
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