“O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
As linhas acima foram redigidas pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht há mais de meio século. Apesar disso, continua atual, como toda boa literatura.
Há, no Brasil e em boa parte do mundo democrático, um processo de demonização da política. Como se política fosse coisa de gente suja, corrupta, até mesmo malvada.
Não é para menos. O noticiário é dominado por denúncias e escândalos de todo o tipo. Só em 2011 já caíram seis ministros do Governo Federal.
Diante disso, não é de se espantar que as pessoas deixem de acreditar naqueles que, por meio do voto dessas mesmas pessoas, deveriam representá-las.
Daí a chegar a conclusão de que “político é tudo igual”, “não tem nenhum que preste”, “vou votar em qualquer um” é fazer uma generalização simplória e se abster da responsabilidade de agir para mudar. É abrir mão de um direito conquistado com o sangue de muita gente.
A questão da imprensa
Sim, existem políticos bons e honestos. Não se fala muito deles porque notícia boa não vende tanto quanto escândalos de corrupção. A imprensa, você sabe, vive da publicidade que consegue por conta da audiência que tem.Faça um paralelo com as notícias policiais. Você há de concordar que existem muito mais pessoas boas do que assassinos, estupradores e ladrões. Apesar de estes últimos serem minorias, são eles que dominam o noticiário.
A imprensa está certa em denunciar todos os escândalos de que tiver conhecimento. Essa é uma de suas funções. Pode-se discutir se deveria haver mais espaço para noticiar os feitos positivos dos diversos governos, mas essa é uma outra discussão.
Ferramenta de mudança
A política é uma ferramenta de mudança. Todas as conquistas de que desfrutamos foram feitas com base na política.Como fica claro nas linhas de Brecht, ignorar a importância da política é tornar-se cúmplice do nascimento de diversas mazelas. Platão foi genial ao dizer que “a desgraça de quem não gosta de política é ser governado por quem gosta”.
Nós temos o poder do voto, mas ele parece ser insuficiente quando olhamos as opções de candidatos disponíveis na maioria das eleições.
Só que nós temos um poder bem maior.
Não o de simplesmente votar a cada dois anos. Mas sim de acompanhar política em uma base diária, de pressionar por mudanças no sistema eleitoral e de governo, de lutar por itens importantes como reforma política, financiamento público de campanhas, voto distrital, aumento da democracia direta através da internet, limitação das indicações para cargos públicos e tantos outros.
De outra forma, seremos apenas analfabetos políticos. E não teremos moral para cobrar os analfabetos que representam os analfabetos.
Walmar Andrade
Walmar Andrade é jornalista com especialização em Comunicação Empresarial
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