terça-feira, 27 de novembro de 2012

A multiplicação das igrejas na capital


Em julho, o microempresário e pastor Adriano Júlio Ferreira, de 29 anos, alugou uma pequena garagem no Jaraguá, Zona Norte, para abrir uma igreja, denominada Restauração em Cristo. Quatro meses depois, o local, com espaço para 30 pessoas, lota nos cultos.Não há estatística oficial, mas o crescimento dessas pequenas comunidades evangélicas é visível em toda a cidade, onde casas, garagens, oficinas, lojas e outros ponto de comércio dão lugar a igrejas nanicas.Num raio de um quilômetro de onde fica a igreja de Adriano, há pelo menos outras cinco do mesmo tamanho. São denominações pouco conhecidas, geralmente independentes, fundadas por pastores que já pertenceram a igrejas maiores. “Isso é normal porque nem todo mundo concorda o tempo todo com a mesma direção. É como pessoas que saem de um partido e formam outro”, afirma o vereador Carlos Apolinario (PMDB), membro da Assembleia de Deus há 53 anos.Ele fez um levantamento em sua última campanha, em 2008, e identificou 18 mil igrejas evangélicas na capital. Hoje, estima que existam cerca de 20 mil. “Todo dia surgem igrejas na capital inteira. Cada favela tem mais de uma”, afirma.Segundo o vereador, não há concorrência entre as igrejas. “Não importa a placa nem a denominação, mas sim servir ao mesmo Deus”, comenta.Apolinario não acredita que igrejas sejam abertas com interesse de tirar dinheiro dos fiéis. “Talvez aconteça de alguns pastores não administrarem bem o dízimo, mas quem vai para o inferno é ele”, afirma o vereador.
Segundo pastor, diferencial está na acolhida aos fiéis
A Comunidade Restaurando Vidas, na região do Butantã, Zona Oeste, não tem apenas o nome parecido com a do Jaraguá. Fundada há três anos pelo pastor Joel Correia dos Santos, de 59 anos, também fica em uma pequena sala, alugada por R$ 650, onde já funcionou uma oficina. A igreja tem CNPJ, mas ainda está sem registro na Prefeitura. “Falta o Habite-se, mas estamos conversando. Preservo funcionar dentro da lei”, afirma o pastor.
Joel nasceu na Batista e foi também da Carisma antes de abrir a própria igreja, que começou com 15 e hoje tem cerca de 50 seguidores. Para ele, as pequenas comunidades evangélicas estão em alta porque os fiéis se sentem mais acolhidos nelas. “Na nossa igreja, a gente se vê mais, todos se conhecem bem e têm uma comunhão”, comenta o pastor, que trabalha  na área de compras de uma empresa paralelamente à missão.     
 
A Igreja Batista Aviva, na Avenida Lins de Vansconcelos, na Vila Mariana, na Zona Sul, já é um pouco maior, mas funciona há um ano e meio em um espaço bem inusitado. A comunidade fica dentro de um posto de combustíveis, ao lado da loja de conveniência. Às quartas e domingos, os fiéis enchem a sala para os cultos e chamam atenção de quem para para abastecer ou passa na rua.
As igrejas seguem os mesmos rituais, com  música, pregação e pedido de dízimo. “Quem dá o melhor receberá o melhor”, repetia o pastor da Aviva, num culto da semana passada.
Prefeitura não sabe quantas existemA Prefeitura não tem estatística de igrejas, pois elas são registradas como “locais de reunião”. Muitas nem possuem registro, como é o caso da Restauração em Cristo. “Já estamos nos regularizando. Está tudo com o contador”, garante  o pastor Adriano, ex-traficante de drogas e ex-dependente químico. Para funcionar, um templo, em tese, precisa de um certificado de conclusão da obra, chamado de Habite-se, e licença de funcionamento. É preciso abrir firma em um cartório como associação sem fins lucrativos, seguindo algumas exigências. 

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