terça-feira, 5 de março de 2013

Dilma confessa: “Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição”. Entendi!

Dilma Rousseff, todo mundo se lembra, não tinha lá muito traquejo, não é? Refiro-me àqueles tempos em que ia a programas de televisão e se dizia devota de uma certa “Nossa Senhora de Forma Geral”. Chegou a chamar a santa de “deusa”. Não tendo, então, o que dizer, dizia o que lhe dava na telha, fundando, no limite do desespero, um cristianismo politeísta… Mas ela aprendeu. Somou àquele desassombro do vale-tudo discursivo o repertório lulista. E aí escapam falas encantadoras como a desta segunda, em João Pessoa, na Paraíba, segundo leio na Folha OnlineEla estava entregando um conjunto residencial no âmbito do programa “Minha Casa Minha Vida” quando atirou:

“Nós podemos disputar eleição, nós podemos brigar na eleição, nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição. Agora, quando a gente está no exercício do mandato, nós temos que nos respeitar, porque fomos eleitos pelo voto direto do povo brasileiro”.
Em tempo: Ricardo Coutinho, governador do estado, presente à solenidade, é do PSB, partido de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, que tenta viabilizar a sua candidatura à Presidência e que já enfrenta a máquina petista de destroçar reputações.
Como? O que será que quer dizer “fazer o diabo quando é hora de eleição”? Não sei exatamente, mas posso imaginar.
– Preparar dossiês recheados de falsidades contra adversários? É, isso pode ser incluído em “fazer o diabo”.
– Mobilizar arapongas para espionar a vida alheia? É, isso pode ser incluído em “fazer o diabo”.
– Pagar pistoleiros morais para manchar a reputação alheia? É, isso pode ser incluído em “fazer o diabo”.
– Mentir descaradamente sobre a  biografia dos adversários e sobre a sua própria? É, isso pode ser incluído em “fazer o diabo”.
O “diabo” aliás é pau para toda obra. O coisa-ruim — o rabudo, o cão-miúdo, o futrico, o pé  de gancho, o cramulhão, o zarapelho, o tinhoso e os outros 130 sinônimos que o dicionário reserva para o sarnento (incluindo este) — pode fazer qualquer coisa. A única ética do sapucaio é não ter ética nenhuma. Ou melhor: ele costuma cumprir a sua palavra com quem faz acordo com ele — desde, é claro, que se pague o preço. Nesse particular, convenham, o diabo é que precisa ter cuidado se quiser estabelecer um pacto com certos políticos, não é mesmo?
É evidente que se trata de uma frase escandalosa. Não que pudesse acontecer — porque não é de seu estilo —, mas imaginem se o governador Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, numa inauguração qualquer, discursasse: “Podemos fazer o diabo para vencer eleições, mas, depois, governamos para todos”. Seria satanizado (ooops! O mofento contaminou minha linguagem!) para sempre. Não o deixariam mais em paz. Os cronistas isentos-a-serviço-do-PT se encarregariam de martelar a frase dia após dia.
Mas não será assim com Dilma. Seja por ideologia, seja em razão da metafísica influente, dá-se destaque à parte, digamos, virtuosa de sua fala. O lead da reportagem da Folha, por exemplo, é este: “Em meio a um clima de campanha eleitoral antecipada, a presidente da República, Dilma Rousseff, disse nesta segunda-feira (4) que seu governo respeita os políticos de partidos adversários, apesar das paixões eleitorais.
Viram só? Dilma diz que “faz o diabo” para vencer uma eleição, e o que se destaca em sua fala é o fato de que ela assegura que não discrimina ninguém. Levada a fala a sério, e convém que se leve, a presidente está dizendo que, no processo eleitoral, vale tudo — a menos que ela diga quais são os limites do… maligno. “Ah, Reinaldo, era só força de expressão…”  Entendo! Não haveria, então, pergunto eu, outra “expressão”, outra metáfora, que designasse com mais propriedade o que faz o PT para vencer uma disputa?
Resposta: não! O PT faz o diabo. E acabou! E acha legítimo que se faça o diabo.  No poder, o mensalão já o demonstrou, também impera o espírito do grão-tinhoso. Ou será que a pessoa que faz “o diabo” para se eleger renuncia ao excomungado na hora de governar? Por que o faria? A menos que caia de joelhos no altar dedicado à Nossa Senhora de Forma Geral, a “deusa”… Eis a Dilma que cobriu o “Chalitinha” de beijinhos (ver post a respeito).
As casas do “Minha Casa Minha Vida” saem em nome da mulher, uma prática inaugurada por Mário Covas, mas que, no discurso de Dilma, virou obra de Lula — que foi quem deu a Deus a ideia de fazer cair maná do céu para pacificar o povo e lhe matar a fome. Ninguém sabe disso, e revelo aqui a autoria em primeira mão. Disse Dilma ao explicar por que tanto as casas como os benefícios do Bolsa Família saem em nome da mulher:
“O presidente Lula disse o seguinte: ‘se não for assim, vai aumentar o consumo de cerveja. [Já] a mulher vai dar [o dinheiro do benefício] para o filho”.
Ela disse isso e sorriu!
Lula é mesmo um fatalista. Também ele deve acreditar que os homens são incapazes de resistir às tentações do demônio e de um copo de cachaça.
Com um PSDB minimamente organizado, já haveria um batalhão atrás dessa fala de Dilma para lançar no YouTube: “Nós fazemos o diabo…”. Mas quê… No Brasil, satanás não precisa nem ser muito esperto nem ser muito velho para dar as cartas.
PS – Dilma discursava num estado governado pelo PSB. E disse que o PT faz, sim, “o diabo”. Eduardo Campos que se cuide caso decida levar a sério esse negócio de disputar a Presidência. Terá de enfrentar, Dilma, o pé-cascudo e Lula, na ordem das periculosidades.
Texto publicado originalmente
Folha ONLINE / Por Reinaldo Azevedo

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