Uma das maiores agências de jornalismo investigativo do mundo, a Associated Press (AP), divulgou com exclusividade a obtenção de uma lista com 629 nomes de mulheres e crianças que foram vendidas para casamentos forçados, além de outras formas de abuso sexual, na fronteira do Paquistão com a China.
Desde que a informação foi revelada por uma fonte anônima, autoridades do Paquistão se moveram para abafar o caso. “Ninguém está fazendo nada para ajudar essas garotas”, disse uma das autoridades.
“A mídia paquistanesa foi pressionada a reduzir suas reportagens sobre esse tipo de tráfico. Os funcionários falaram sob condição de anonimato porque temiam represálias”, informou a AP.
Mulheres e crianças cristãs são as principais vítimas do tráfico humano no Paquistão. Isso porque elas fazem parte do segmento populacional mais pobre do país. Pessoas em situação de vulnerabilidade social são os principais alvos e muitas vezes a venda é feita de maneira forçada. Os familiares também são ameaçados de morte pelos traficantes.
O valor médio que circula entre os traficantes é de 4 milhões e 10 milhões de rúpias (entre 25 mil e 65 mil dólares), dos quais apenas 200.000 rúpias (1,5 mil dólares) vão para as famílias. O valor serve para comprar o silêncio e também convencer os parentes diante da condição de miséria em que vivem. Até mesmo líderes cristãos foram acusados pelo tráfico, além de muçulmanos.
“As quadrilhas de tráfico são compostas por intermediários chineses e paquistaneses e incluem ministros cristãos, principalmente de pequenas igrejas evangélicas que recebem subornos para incentivar o rebanho a vender suas filhas”, diz a agência.
“Os investigadores também encontraram pelo menos um clérigo muçulmano que administra um departamento de casamentos de sua madrasta, ou escola religiosa”, destaca.
Apesar do absurdo praticado, o número de países que servem de celeiro para o tráfico humano de mulheres e crianças é cada vez maior, segundo um relatório da Human Rights Watch (HRW). O aumento pela procura de crianças também é algo que chama atenção.
“Uma das coisas mais impressionantes sobre esse assunto é a rapidez com que cresce a lista de países que são conhecidos por serem os países de origem no negócio de tráfico de noivas”, disse Heather Barr, autora do relatório da HRW.
Omar Warriach, diretor de campanhas da Anistia Internacional para o Sul da Ásia, condenou a venda de mulheres e crianças para casamentos forçados, assim como para a reeducação religiosa em centros muçulmanos, onde muitas são preparadas para o matrimônio na cultura islâmica.
“É horrível que as mulheres estejam sendo tratadas dessa maneira sem que nenhuma preocupação seja demonstrada pelas autoridades de ambos os países. E é chocante que isso esteja acontecendo nessa escala ”, disse ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário