As duas
palavras estão intimamente ligadas. O crime é a porta aberta para a corrupção,
sendo esta um dos crimes. A ligação fica mais próxima quando se trata do agente
público que o comete. O principal é que se tenha em mente que o crime não é só
uma disfunção social. É produto e resultado da má execução de políticas
públicas. Estas são as inúmeras formas de o Estado interagir com a sociedade,
levando às comunidades, indistintamente, bem-estar, lazer, cultura, saúde e
educação. O Estado é o grande responsável pela situação caótica em que se
encontra o país e suas maiores cidades.
Irresponsabilidade, perda do conteúdo familiar, insensibilidade do
governante, ausência de paradigmas, falta de religiosidade e, o último e o mais
importante, a frustração do amor. É o filho que não sente o amor dos pais,
abandonado por estes e vivendo vida marginal. É a escola que não substitui as
atenções dos pais e se encontra em seus piores momentos de deterioração.
Não há, como
se vê, uma causa. É a ausência de um complexo de ações que recebe o nome de
políticas públicas. A sentida ausência do Estado e o desamparo familiar conduzem
o jovem a perder os valores sociais. Outrora os paradigmas eram pessoas do mais
alto coturno, cheias de responsabilidade pessoal e pública. Hoje, as referências
são o PCC, os políticos mal-intencionados que assaltam os cofres públicos, as
traições sem fim, o destempero verbal, os padres pedófilos, as autoridades
envolvidas em todo tipo de crime etc. Tudo leva à perda do exemplo. As palavras
dos pais responsáveis e dos professores dedicados caem ao vento. A violência se
agiganta e a perseguição a marginalizados chega às raias do absurdo.
Prostitutas
são agredidas, mulheres são violentadas, gays e homossexuais são discriminados.
É a sociedade em franco descontrole. Os desvios de comportamento passam a ser
constantes. Quase obrigatórios, a ponto de se entrever a famosa frase de Rui
Barbosa, de que se chega a ter vergonha de ser honesto. A retidão de caráter é
vista como defeito. O comportamento sério constitui-se em obstrução a que todos
se aproximem da libertinagem. O que vale é o mundo dos espertos.
O jovem que se
vê desamparado pelo Estado se aproxima do crime, que lhe fornece melhores meios
de vida, em que, pelo menos, pode levar à sua mãe um pouco de conforto. A
sedução pela vida mais fácil, ainda que perigosa, é o que arrebata o jovem sem
expectativas.
Daí a perda de
valores que deveriam imperar. Pátria e família passam a ser artigos de luxo.
Justiça nem sonhar. É mais fácil e rápida a solução do "tresoitão". Para que
perder tempo com futilidade, se ele pode resolver tudo de forma rápida e
eficiente? Por quanto tempo se pode aguardar soluções do Estado? Ainda mais
deste Estado corrupto e que protege os mais iguais, à imagem de George Orwell
("A Revolução dos Bichos").
A vida certa
não compensa. A senda criminosa oferece mais conforto, melhor situação perante
os iguais, uma vez que dá respeito. Se não tem o respeito do Estado como
cidadão, irá ter o dos outros, seus asseclas. A conseqüência da perda de valores
se equipara ao bandido oficial que desvia recursos públicos.
Quem é mais
culpado? Ambos agridem a sociedade. Um, pela perda do paradigma; outro, por
desvio de comportamento. Um é pobre e foi violentado pela sociedade; o outro é
rico e desconhece limites.
Ambos são criminosos. O
periférico agride a sociedade em que vive porque não é por ela respeitado. O
central impede que o outro possa ter recursos para dignificar sua vida. Um tira
a chance do outro. Ambos são culpados. Um leva o perdão da cruz. O outro deve
ser crucificado.