Provérbios dizem verdades de modo
breve e incisivo. O livro de Provérbios, escrito na sua maioria pelo sábio
homem Salomão, está repleto de teses tratando da vida diária. Um tema do
livro, freqüentemente ressaltado, é a necessidade de se evitar a pressa.
Muitos de nós lutam com a impulsividade, por isso precisamos refletir sobre os
provérbios que nos ensinam a não sermos apressados. Considere estas áreas:
Nos atos
Salomão advertiu: "Não
é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado" (19:2).
Ele também advertiu: "Os planos do diligente tendem à abundância,
mas a pressa excessiva, à pobreza" (21:5). Pensamento e
planejamento cuidadosos funcionam melhor. Carpinteiros hábeis medem três vezes
e cortam uma; carpinteiros apressados medem uma vez e cortam três. Em nossa ânsia
por completar a tarefa, podemos correr para cumpri-la, mas seria melhor
prepararmo-nos deliberadamente antes de agirmos: "Se o ferro está
embotado, e não se lhe afia o corte, é preciso redobrar a força; mas a
sabedoria resolve com bom êxito" (Eclesiastes 10:10). Não
ter pressa, e afiar o machado antes de começar a derrubar as árvores pode
parecer perda de tempo; contudo, no fim, muito mais pode ser feito, com menos
esforço, quando se dedica tempo a deixar as ferramentas prontas antes de se
apressar ao trabalho. Atalhos parecem atraentes, mas desempenhar bem tarefas
exige esforço persistente, perseverante. Mesmo que leve mais tempo para fazer
algo do modo certo, isso é freqüentemente melhor.
Abundam as aplicações na vida;
considere algumas aplicações no reino espiritual. Œ Muitos
buscam soluções apressadas para o aprendizado da Bíblia. Eles querem alguns
apontamentos fáceis que resumam o ensinamento da Bíblia e os capacitem a
aprendê-la com pouco esforço. Na verdade, não há substituto para o exame
cuidadoso, que leva tempo, do texto bíblico se quisermos um entendimento
profundo da vontade de Deus. Quando
estamos ensinando a não cristãos, é tentador experimentar encontrar alguma
abordagem fácil, infalível que envolva algumas poucas e simples lições. E,
é possível batizar uma porção de pessoas com fórmulas preparadas. Porém não
faremos nem amadureceremos discípulos de Jesus Cristo sem um trabalho de
ensinamento mais lento, mais tedioso, de ensinar todas as partes da Bíblia e de
ajudar a pessoa a aplicar seus princípios na vida. Ž
Quando estamos trabalhando para amadurecer cristãos e lidar com seus problemas,
é fácil sucumbir à tentação de olhar por uma solução apressada. Podemos
salientar umas poucas regras e concentrar em mudar algum comportamento sem
realmente lidar com os problemas fundamentais e sem guiar a pessoa ao
amadurecimento. Os fariseus tentavam corrigir todos os problemas espirituais com
regras pré-fabricadas, mas tinham-se descuidado também dos princípios mais
profundos: amor, fé e misericórdia. Não se pode reduzir o cristianismo a um
conjunto de regulamentos facilmente memorizados, que sejam bons para tudo. O
desenvolvimento espiritual leva bastante tempo e esforço.
No enriquecer
Métodos para enriquecer parecem
nunca perder seu atrativo. Facilmente acabamos sendo presas de qualquer
plano para ganhar dinheiro fácil. Mas Salomão advertiu: "A
posse antecipada de uma herança no fim não será abençoada" (20:21),
e "O homem fiel será cumulado de bênçãos, mas o que se apressa a
enriquecer não passará sem castigo" (28:20). Há diversos
princípios agindo aqui. Œ Coisas
que parecem boas demais para serem verdade, usualmente não são mesmo. Se tanto
dinheiro pudesse ser ganho com tão pouco esforço, por que todos não o estão
ganhando? Quando
estamos apressados demais para ganhar dinheiro, fazemos usualmente coisas que não
deveríamos fazer para encurtar o processo. A ganância perverte a consciência.
Ž As
riquezas que são facilmente adquiridas são facilmente gastas. Pessoas que
ganham subitamente e sem esforço uma grande quantidade de dinheiro (através de
herança, ao ganhar um prêmio, no jogo, etc.) usualmente acabam gastando esse
dinheiro em muito pouco tempo. Bens que não foram adquiridos por meio de esforço
sério não são apreciados.
No falar
Palavras ditas com pressa freqüentemente
ferem. "Alguém há cuja tagarelice é como pontas de espada, mas a língua
dos sábios é medicina" (12:18). Precisamos sempre pensar antes de
falar, porque quando falamos impulsivamente metemo-nos em apuros e criamos
conflitos. Precisamos não ser apressados na discussão: "Não te
apresses a litigar, pois, ao fim, o que farás, quando o teu próximo te puser
em apuros?" (25:8). E temos que ser cuidadosos em não fazer
promessas apressadas ao Senhor uma vez que ele espera que todos os nossos
compromissos sejam cumpridos: "Laço é para o homem o dizer
precipitadamente: É santo! É só refletir depois de fazer o voto"
(20:25). É tão fácil comprometermo-nos sem refletir seriamente no que será
exigido para cumprir o voto! Há poucas coisas mais perigosas do que uma língua
solta. Em Provérbios, o cúmulo da estupidez é o insensato. Mas até o
insensato é superado por duas classes de pessoas: o homem orgulhoso (veja
26:12) e o falador impulsivo: "Tens visto um homem precipitado nas
suas palavras? Maior esperança há para o insensato do que para ele"
(29:20). Que o Senhor nos ajude a medir nossas palavras!
No irar-se
Aira é uma das mais fortes emoções
do homem, e por tanto, é difícil de dominar. Quando sentimos ira, a tendência
natural é exprimir nossos sentimentos em palavras e atos ásperos.
Por isso Salomão nos advertiu fortemente sobre ficarmos facilmente irados: "O
que presto se ira faz loucuras, e o homem de maus desígnios é odiado"
(14:17); "O longânimo é grande em entendimento, mas o de ânimo
precipitado exalta a loucura" (14:29). Tiago ofereceu, no
Novo Testamento, a mesma exortação: "Todo homem, pois, seja pronto
para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não
produz a justiça de Deus" (Tiago 1:19-20). O maior desafio
não é enfrentar a ira com a ira. O melhor caminho é responder à ira com paciência
e gentileza: "A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura
suscita a ira" (15:1). Precisamos exercitar nosso domínio
próprio e não permitir que nossa ira nos domine.
No responder
Dois provérbios resumem as advertências
sobre responder apressadamente: "Responder antes de ouvir é estultícia
e vergonha" (18:13), e "O que começa o pleito parece
justo, até que vem o outro e o examina" (18:17). Precisamos ouvir
antes de responder e precisamos ouvir ambos os lados antes de responder.
Precisamos fazer isto quer estejamos respondendo a uma pessoa sobre a situação,
quer estejamos considerando o que a Bíblia diz sobre um tópico em particular.
Há diversas razões porque as
pessoas tendem a responder apressadamente. Œ
Orgulho. Algumas pessoas pensam que podem formar opinião desde o início,
que podem tirar as conclusões adequadas sem examinar os fatos. Mas as primeiras
impressões são freqüentemente inexatas. José pareceu ser culpado de tentar
estuprar a mulher de Potifar mas, se Potifar tivesse investigado mais
meticulosamente, ele teria desmascarado as acusações mentirosas de sua esposa.
Impaciência.
Algumas pessoas não podem suportar qualquer coisa que exija atenção por um
longo período de tempo. Elas ficam agitadas e nervosas. É esta a razão por
que as pessoas freqüentemente não conseguem entender a Bíblia. Elas não estão
dispostas a se concentrar por muito tempo. Aprender pode ser um processo
tedioso, por isso podemos preferir saltar a conclusões e encurtar o tempo e o
esforço exigidos para estudar seriamente. Ž
Parcialidade. Quando queremos acreditar numa certa pessoa, ou num certo
ensinamento, podemos intencionalmente ouvir só um lado. Podemos não querer ser
influenciados por coisas que poderiam nos encorajar a chegar a uma conclusão
diferente. Os pais defendem apressadamente seus filhos porque querem que eles
estejam certos; freqüentemente, eles não analisam todos os fatos do caso.
Preguiça. Muitos não querem gastar a
energia mental necessária para aprender a verdade. Quando se trata de discernir
a verdade do evangelho no meio da babel de confusão no mundo religioso, o esforço
sério é imperativo.
Confiança nos sentimentos. Os sentimentos são um dos piores modos de
determinar a verdade (Jeremias 17:9; Provérbios 28:26). Mas muitos acham muito
mais fácil deixar que seus sentimentos os guiem do que buscar realmente
encontrar a verdade objetiva na palavra de Deus.
As Escrituras mostram muitos
exemplos de decisões apressadas. Quando Davi ouviu Ziba, acreditou nele e
deu-lhe a terra de Mefibosete. Ele agiu apressadamente porque ainda não tinha
ouvido os dois lados. Mais tarde, quando ele ouviu o que Mefibosete tinha a
dizer, ele reverteu parcialmente sua decisão (2 Samuel 16:1-4; 19:24-30).
Quando Nicodemos questionou: "Acaso, a nossa lei julga um homem sem
primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez?" (João 7:51), ele
estava certo. Somos incapazes de julgar minuciosamente sem ouvir completamente.
Aplicar esses princípios práticos
de Provérbios nos ajudará a evitar atos, palavras e respostas impulsivos, e a
levar-nos a tomar decisões muito melhores.