A Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF) decidiu converter um
procedimento preliminar de investigação, em procedimento investigatório
criminal (PIC), para investigar suposto envolvimento do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em tráfico de influência no Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para induzir a instituição a
financiar obras da Odebrecht no exterior. Com a medida, a procuradoria abre uma
investigação formal contra o ex-presidente.
Em abril, o GLOBO revelou que o ex-diretor de Relações
Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar levou o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em um périplo por Cuba, República Dominicana e
Estados Unidos, em janeiro de 2013. A viagem foi paga pela construtora e,
oficialmente, não tinha relação com atividades da empresa nesses países.
A Procuradoria já recebeu informações solicitadas ao Itamaraty e
de outros órgãos sobre o caso. Segundo a assessoria, os dados são sigilosos.
Está sendo apurado se Lula pode ser responsabilizado por tráfico de influência
internacional junto a agentes políticos estrangeiros, com o objetivo de
beneficiar a construtora Odebrecht. Além da abertura de uma investigação, foi
solicitado o compartilhamento de informações da Operação Lava-Jato.
O prazo para o procedimento preliminar aberto pela procuradora
Mirella Aguiar, responsável pelo caso, estava perto do fim e havia duas
possibilidades: arquivar o caso ou convertê-lo em PIC. A Procuradoria optou
pela segunda opção. Ainda não há ação na Justiça.
Durante o procedimento preliminar, foi investigado se Lula exerceu
tráfico de influência no BNDES para induzir a instituição a financiar obras da
Odebrecht no exterior. Com a instauração do PIC, é possível recorrer a
procedimentos comuns numa investigação, como a quebra de sigilo.
Investigado na Operação Lava-Jato, que apura principalmente
irregularidades em contratos da Petrobras, Alexandrino foi preso em 19 de
junho, por determinação do juiz federal Sérgio Moro. Ele é acusado por três
delatores de ser operador de pagamento de propinas para a empresa no exterior.
A relação oficial de passageiros do voo, obtida pelo GLOBO, mostra que ele era
o único que não fazia parte do círculo de convivência de Lula.
O documento de solicitação do serviço, da Líder Táxi Aéreo, mostra
também que o contratante exigiu discrição. No campo “passageiro principal” do
formulário, o funcionário da Líder escreveu: “voo completamente sigiloso”. Para
evitar que fosse vinculada ao fretamento, a Odebrecht usou uma de suas
parceiras para pagar a despesa: a DAG Construtora, da Bahia.
Na viagem paga pela Odebrecht, Lula foi a um evento da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre o
clima, visitou o presidente da República Dominicana e falou no congresso de
trabalhadores da indústria nos EUA.
GLOBO VIA GRITOS DE ALERTA