Em janeiro, Valdemiro Santiago quase recebeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu altar. A ocasião era um culto no Paço Municipal de São Bernardo do Campo, com público estimado em 50 mil pessoas. Lula chegou a confirmar presença, mas não apareceu, porque teve uma crise de hipertensão. Para representá-lo, compareceram dois petistas: o prefeito Luiz Marinho e o senador Aloizio Mercadante. “Eu não conhecia Valdemiro”, disse Mercadante. “É mesmo impressionante. Ele prega de forma muito direta, autêntica e popular. Lembra as manifestações que a gente fazia aqui neste mesmo lugar com os trabalhadores, um movimento forte, espontâneo e que incomoda as elites.” Mercadante prometeu articular um encontro de Valdemiro com Lula. Até a semana passada, nenhuma reunião tinha sido agendada.
Valdemiro procura cultivar contatos com políticos de diversas tendências. Mantém boas relações com o tucano Marconi Perillo, senador por Goiás, e com Ivo Cassol (PP), governador de Rondônia. “Imagine uma pessoa íntegra, boa, verdadeira. É ele, Valdemiro. Ele faz coisas que só Deus pode fazer”, diz Cassol. Ele costuma recebê-lo em sua fazenda, em Rondônia, para pescar. Entre os políticos de destaque, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), é o único com quem Valdemiro tem relacionamento dúbio. Em 2008, Valdemiro pediu votos para Kassab. No ano passado, quando a sede da Mundial no Brás, centro de São Paulo, foi lacrada por falta de segurança e excesso de barulho, Kassab passou a ser tratado como inimigo.
A sede do Brás é um galpão enorme e antigo, que funcionava como fábrica da família Matarazzo. Ocupa uma área de 43.000 metros quadrados e foi comprado pela igreja por R$ 60 milhões em 60 parcelas. O embargo ocorreu porque o imóvel tinha fiação exposta, piso e teto comprometidos e não contava com saídas de emergência, além de produzir muito barulho. Enquanto providenciava reformas, Valdemiro dizia que o fechamento era uma “perseguição dos poderosos à obra de Deus”. Várias vezes ameaçou retaliar Kassab nas urnas. A sede, que ficou 53 dias lacrada, é a principal fonte de renda da Mundial. “O fechamento da nossa igreja provocou um prejuízo de milhões e milhões de reais”, disse Valdemiro num culto em fevereiro, enquanto pedia mais ofertas aos seguidores.
De todos os assuntos relacionados à vida de Valdemiro, um dos mais polêmicos e misteriosos é sua saída da Universal. Valdemiro é o único dissidente de Edir Macedo que prosperou criando sua própria igreja. Depois de ocupar posições de destaque em São Paulo, Paraíba, Pernambuco e em Moçambique, Valdemiro rompeu com a Universal em 1997. Sua importância pode ser medida pelas participações societárias que acumulou. No último ano de Universal, tinha em seu nome duas TVs e três rádios FM da igreja. Há várias versões para a ruptura. Alguns dizem que Valdemiro foi expulso por desviar dinheiro da Universal. Outros dizem que ele discordou de Edir Macedo na nomeação de um bispo. Há quem diga que ele caiu em desgraça porque brigou com autoridades de Moçambique e atrapalhou a expansão da igreja por lá. Sua saída não foi amigável. “Sabe o que o Macedo fez com ele? Deu R$ 50 mil e um Gol velho. Jogou na mesa. Foi assim que o Macedo fez, ó: ‘Se você ficar, vou te dar uma liderança forte, um Audi, tudo. Se sair, leva R$ 50 mil e um Gol velho’”, afirma Didini, que deixou a Universal na mesma época. “Ganhei R$ 100 mil quando saí. O cara (Valdemiro) foi um líder, trabalhou 18 anos lá, deu a vida pela igreja e só levou R$ 50 mil.”
Desde a criação da Mundial, Edir Macedo nunca manifestou nenhum tipo de temor sobre a concorrente. Dias atrás, ele publicou um post em seu blog em que cita pela primeira vez a Mundial. Edir Macedo reproduziu a carta de uma fiel que teria passado pela igreja de Valdemiro. Ela diz que na Mundial viu sua vida espiritual “caindo a cada dia”. Os parceiros de Valdemiro comemoraram. Para eles, Edir Macedo passou um atestado de preocupação.
Fonte: Época
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