sábado, 25 de fevereiro de 2012

O homem de Deus e o profeta velho


Eis que por ordem do Senhor veio de Judá a Betel um homem de Deus... Morava em Betel um profeta velho... E foi após o homem de Deus e, achando-o sentado debaixo dum carvalho, lhe disse: És tu o homem de Deus que vi­este de Judá? Ele respondeu: Eu mes­mo. Então lhe disse: Vem comigo a casa, e come pão. Porém ele disse: Não posso voltar contigo, nem entrarei contigo; não comerei pão, nem beberei água contigo neste lugar. Porque me foi dito pela palavra do Senhor: Ali não comerás pão, nem beberás água; nem voltarás pelo caminho por que foste. Tornou-lhe ele: Também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou por ordem do Senhor, dizendo: Faze-o voltar contigo a tua casa, para que coma pão e beba água. (Porém mentiu-lhe.) Então voltou ele, e comeu pão em sua casa e bebeu água ... Assim diz o Senhor: Porquanto foste rebelde à pa­lavra do Senhor e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te mandara, antes voltaste, e comeste pão e bebeste água no lugar de que te dissera: Não comerás pão nem beberás água; o teu cadáver não entrará ) no sepulcro de teus pais.... (Leia l Reis 13:1-32).

A história registrada em l Reis 13 é por demais trágica e solene. Aqui temos dois homens — um homem de Deus e um pro­feta velho. Estes dois homens têm sido usa­dos por Deus, mas o fim deles é demasiada­mente lamentável. A lição que podemos aprender de suas vidas é muito séria.

Este profeta velho de Betel foi um homem que no passado tinha sido usado por Deus, mas agora já não era usável. Quando Deus desejou prevenir a Jeroboão do seu pecado em Betel, não enviou o profeta velho que morava em Betel para lhe falar; em vez disso, enviou um homem de Deus, de Judá. Isto indica que o profeta velho já não era útil ao Senhor. A palavra "velho" com re­ferência ao profeta não refletia sua matu­ridade espiritual nem suas ricas experiên­cias espirituais; antes, revelava e descrevia o fato de ser espiritualmente velho e por­tanto inútil ao serviço do Senhor. Para fa­lar a Jeroboão, o Senhor somente poderia usar o homem de Deus, não o profeta velho. A frase "homem de Deus" denota que tal pessoa tem comunhão com Deus, e a co­munhão é a base para a luz de Deus. No momento em que cessa a comunhão, nesse mesmo instante cessa a luz. Este profeta velho já tivera uma história espiritual, pois fora em certo tempo profeta; entretanto, agora havia perdido a comunhão com o Se­nhor. Tornou-se um profeta velho quando o Senhor já não o podia usar. Esta é uma si­tuação muito séria.
Muitos irmãos e irmãs não fazem pro­gresso espiritual perante o Senhor. Seu es­tado espiritual é hoje o mesmo que foi há oito ou dez anos. Alguns que possuem boa mente parecem ter feito algum progresso, mas tal progresso não é espiritual. Falam palavras que eles mesmos não compreen­dem. Tudo o que possuem é conhecimento mental; não há luz verdadeira. Aprenderam muita fraseologia espiritual, entretanto não fazem nenhum progresso espiritual verda-deiro perante o Senhor. Pode ser que dez anos atrás você tenha encontrado alguém que possuía uma pequena luz, e então pen­sou que essa pessoa estava com boa saúde perante Deus. Mas hoje, dez anos mais tar­de, você descobre que ela não possui luz nova de modo algum e não fez nenhum pro­gresso espiritual. Essa pessoa é profeta, mas profeta velho a quem Deus é incapaz de comunicar qualquer coisa. Não nos es­queçamos aqui que Deus trabalha sem ces­sar: "Meu Pai trabalha até agora", diz o Senhor Jesus, "e eu trabalho também" (João 5:17). A luz que recebemos vinte, dez, ou até mesmo cinco anos atrás já não é adequada para guiar-nos hoje.
Em vista disto, devemos dar atenção a uma questão muito importante em nossa ca­minhada cristã — isto é, como não ser posto de lado por Deus, como não ser rejeitado ou permanecer sem ser usado. Nosso frescor perante Deus é um hábito mui vital. Deve ser estabelecido e mantido. Mas com muita frequência somos velhos demais ou pobres demais espiritualmente.


 Como diz a história, o profeta velho vivia em Betel. Qual era a situação aí nessa época? Em Betel, Jeroboão oferecia sacrifício ao bezerro que ele próprio havia fundido. Ordenava sacerdotes que não eram da tribo de Levi e arbitrariamente escolhia meses e dias para queimar incenso sobre o altar (veja 1 Reis 12:28-33). Além disso, esta­beleceu lugares de adoração além do pres­crito por Deus, que era Jerusalém, porque temia que o povo do Reino do Norte conti­nuasse indo a Jerusalém a oferecer sacri­fícios no santo templo ali, e desta forma seu reino seria enfraquecido. Embora ele não adorasse outros deuses mas ainda ado­rasse ao Deus que havia tirado os filhos de Israel do Egito, entretanto adorava fora de Jerusalém por sua própria vontade. Isto fora condenado pelo Senhor. Portanto, to­das as suas ações eram pecados e transgres­sões contra Deus. O que é mais, ele não somente pecou mas também influenciou outros reis depois dele a cometerem o mes­mo pecado (veja, por exemplo, l Reis 16:19, 31; 22:52; 2 Reis 13:2). Por isso os pe­cados de Jeroboão em Betel eram muito sérios.
Agora lembre-se de novo que o profeta velho vivia em Betel; e o que Jeroboão havia feito e continuava a fazer era feito perante os olhos deste profeta velho; e mesmo as­sim o profeta velho falhou em reconhecer o seu caráter pecaminoso. Tal estado, deve­mos reconhecer, era deveras sério. Ora, um profeta só pode falar por Deus porque co­nhece a mente de Deus. E aqui estava um profeta velho que não tinha nenhum conhe­cimento da mente de Deus, pois é óbvio que aquele que não pode ser enviado por Deus para falar por ele não conhece a mente de Deus. De modo que o Senhor teve de enviar em seu lugar o homem de Deus.
O profeta velho falhou em perceber que a adoração que se prestava em Betel era pecaminosa. Este fato provou conclusivamente que já havia alguma coisa errada com ele. Se chegarmos à conclusão de que tudo está muito bem — que o culto de Je­rusalém é bom e que a adoração de Betel também é boa — é prova de que não per­cebemos o erro e que algo está radicalmente errado conosco.
Há muitos iguais ao profeta velho. Seus olhos estão embaçados e defeituosos. Não vêem o que é pecaminoso à vista de Deus. Presumem que enquanto o Senhor estiver recebendo adoração, que diferença faz que o culto seja em Betel ou Jerusalém? Será que podemos com toda a sinceridade acre­ditar que tal atitude é manifestação de amor? Oxalá não pensemos que agradar a todos seja sinal de amor. Não existe tal coisa. O médico pode amar seu paciente e ter por ele grande simpatia, mas não pode dizer ao enfermo que está bem. Se disser ao doente que não tem nada, demonstrará com isto sua incompetência como médico: seus olhos não podem ver. Da mesma forma, o profeta velho — embora vivesse em Betel — não podia ver que havia pecado em Betel. O pecado estava perante seus olhos, mas ele não tinha sensibilidade. A que ponto che­gara sua incompetência! E quão trágica e terrível foi!

O estado do profeta velho era realmente patético mas o que foi mais patético e trá­gico foi o fato do homem de Deus ter sido prejudicado pelo profeta velho. O Senhor havia ordenado ao homem de Deus: "Ali não comerás pão, nem beberás água; nem voltarás pelo caminho por que foste" (l Reis 13:17). O homem de Deus lembrou-se deste mandamento e rejeitou o primeiro convite do profeta velho e também o convite do rei. Mas o homem de Deus foi enganado pelas palavras do profeta velho quando este úl­timo lhe disse: "Também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou por ordem do Senhor, dizendo: Faze-o voltar contigo a tua casa, para que coma pão e beba água" (v. 18). O homem de Deus pensou que se o profeta velho fosse profeta certamente tinha mais experiência do que ele; portanto devia obedecer-lhe. E assim, ele voltou com o profeta velho e comeu e bebeu água na casa deste. Desta forma o homem de Deus violou o mandamento do Senhor por causa das palavras do profeta velho. Resultado: o homem de Deus foi morto por um leão. A princípio as palavras de Deus lhe eram perfeitamente claras; mas tornou-se con­fuso depois de ouvir as palavras: "Também eu sou profeta." Desta passagem podemos tirar um ensinamento mui solene: depois que a pessoa que serve ao Senhor recebe um mandamento claro, não deve dar ouvidos a nenhum profeta velho cujas palavras não estejam de acordo com o mandamento de Deus.
As palavras que Paulo ordenou aos cren­tes Gálatas seguem o mesmo princípio: "Ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema" (Gálatas 1:8). O evangelho que ele pregava não era segundo os homens mas veio da revela­ção de Jesus Cristo (veja 1:11-12). Mas chegaram alguns à Galácia que tentavam perverter o evangelho. Estes homens pregavam outro evangelho aos crentes Gálatas. Pelo que Paulo advertiu aos cristãos daí a não serem seduzidos por eles. Paulo viu que estes enganadores apresentavam-se com o pseudónimo de "servos de Deus" e que de fornia inteligente usavam uma fraseologia espiritual para confundir os santos. De mo­do que ele, usando palavras duras, advertiu as igrejas da Galácia.
Mas note que Paulo também disse "ainda que nós" — o que significava: ainda que eu, Paulo, viesse e lhes pregasse um evan­gelho diferente do que sempre preguei, não devem crer nesse evangelho. Vocês devem crer somente no evangelho vindo mediante a revelação de Jesus Cristo; não devem crer em nome tal como Paulo; porque no caso de eu, Paulo, mais tarde pregar-lhes um evan­gelho que contradiz a revelação de Deus que lhes dei antes, vocês não devem crer em tal evangelho. Ele sabia muito bem que muitos são facilmente influen-ciados pela fama dos homens. E com que ligeireza criam na fama do homem em vez de crerem na palavra de Deus. Portanto, Paulo aqui expressou a ati­tude de que ficaria absolutamente do lado da verdade de Deus, sem deixar nenhuma oportunidade para outros, nem sequer para ele mesmo. Ele queria que eles cressem to­talmente na verdade de Deus e não na fama do homem. Ele lutava valorosamente pela verdade — tudo para Deus e nada para si mesmo. O que ele mantinha era a verdade de Deus: ele não preservaria sua própria fa­ma. Sua oposição aos sedutores tinha como motivo o fato de eles confundirem a palavra do Senhor e levarem os crentes para o erro. Desta forma Paulo mostrou-nos que deve­mos ficar do lado da verdade de Deus para que possamos distinguir que palavra de­vemos aceitar ou rejeitar. Se qualquer pes­soa pregar o que é contrário à verdade de Deus, devemos não dar-lhe ouvidos — não importa quem essa pessoa seja.
Paulo prossegue dizendo: "ou um anjo do céu", e assim lembrou-lhes que nem sequer a palavra de um anjo deveriam ter como certa. Ao falar de falsos apóstolos em 2 Coríntios 11, Paulo disse: "Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transfor-mando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar; porque o próprio Sa­tanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras" (vv. 13-15). "Um anjo de luz" usa uma máscara de hipocrisia que facilmente faz com que as pessoas deixem de vigiar. Como podiam os crentes Gálatas, que uma vez tinham ouvido o evangelho do Senhor, ser engodados por estes homens? Porque estes homens diziam que o que pregavam também era o "evangelho" e que pretendiam guar­dar com zelo a lei de Deus. Tinham algu­mas palavras de grande apelo com as quais engodaram os Gálatas que anteriormente haviam ouvido a verdade. Desgraça-damente esta espécie de sedutores muitas vezes pe­netra na igreja e destrói a fé dos homens. Tais sedutores tentam separar as pessoas da palavra de Deus. Precisamos estar sem­pre vigilantes e sempre em guarda. O mo­tivo pelo qual podem engodar as pessoas é porque também podem fingir-se espirituais, também podem falsificar um amor pelo Se­nhor, e usar expressões como "a revelação de Deus" e "a vontade de Deus" e assim por diante. São capazes de pregar mensa-gens com tal ambiguidade que é extremamente difícil para as pessoas distinguirem a fal­sidade da verdade.
Quão realmente precisamos ter um espí­rito alerta e um poder de discernimento pa­ra que possamos ser totalmente fiéis à pa­lavra de Deus, guardando a fé que uma vez nos foi dada! Devemos resistir a todo e qual­quer assim chamado "evangelho" que tenta confundir a palavra do Senhor, sem levar em conta quem o pregue.

Este profeta velho não tinha nenhuma sensibilidade ao pecado enorme que Jeroboão havia cometido, e mesmo assim usava a palavra e título de "profeta" para enga­nar os outros. Tinha perdido, havia muito, a comunhão com Deus, mas falsamente ainda reivindicava que "um anjo falou-me pela palavra do Senhor" (l Reis 13:18). O fracasso do homem de Deus foi em não guardar p palavra que havia recebido pes­soalmente de Deus; em vez disso, foi sacu­dido pelo pretensioso nome do profeta velho e aceitou a mentira proferida pelo velho. Desta forma ele caiu e seu fim foi muito trágico.

O profeta velho tinha caído ao ponto de mentir para enganar o homem enviado de Deus. Enquanto estavam à mesa, a palavra do Senhor lhe veio. Mas isto não aconteceu porque o profeta velho havia-se tornado espiritual de novo. De modo algum. Esta sim­plesmente foi a maneira do Senhor corrigir o homem de Deus que havia desobe-decido ao seu mandamento. O Senhor não tinha mais nada que fazer com o profeta velho; colocara-o à parte por completo. E quando o homem de Deus foi morto por um leão, o profeta velho o enterrou em sua própria se­pultura. Logo encarregou a seus filhos que quando ele morresse o enterrassem com o homem de Deus. Ele cria que a palavra que o homem de Deus havia pronunciado contra o altar de Betel se cumpriria, mas ele não podia fazer outra coisa senão esperar a morte.


Aprendamos desta solene e patética his­tória os seguintes ponto: (1) que no mo­mento em que o homem perde a comunhão com Deus, fica velho, perde o frescor e não pode ver; (2) que uma pessoa que antes fora usada por Deus, mas que agora está longe do Senhor, não deve fazer-se passar por "autoridade antiga" para enganar os ou­tros; (3) que o homem que viola a palavra do Senhor e se encontra em um lugar onde não deve, morrerá: a morte espiritual; e (4) que tudo o que se anuncia de forma espiritual deve estar de acordo com a pala­vra de Deus; se assim não for, deverá ser firmemente rejeitado, sem se levar em con­ta quem o esteja anunciando, quer seja um profeta "velho" ou um anjo.

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