As diversas denominações no estado de Pernambuco querem aumentar o número de representantes nas casas legislativas
Respaldado
pelo gigantismo da Igreja Universal do Reino de Deus, o PRB, braço
político da instituição, quer duplicar a bancada federal e quadruplicar o
número de representantes na Assembleia Legislativa. Estendeu seus
tentáculos ao segmento sindical, abriu canal com outras denominações
evangélicas e investe na montagem de comissões provisórias no interior.
Para a Câmara dos Deputados, lançará o presidente estadual, Pastor
Carlos Geraldo – descartando nova candidatura do atual representante na
Casa, Pastor Vilalba – e Aldo Amaral, presidente da Força Sindical em
Pernambuco.
Já para a corrida ao Legislativo estadual, monta
chapa com um representante do Sertão – chamado apropriadamente de
Vaqueiro –, o cantor gospel Isaías, da Assembleia de Deus, um integrante
da Força, além do Bispo Ossésio, que atualmente exerce mandato como
suplente. A investida mostra que quando se trata de brigar pelo poder, o
segmento evangélico recorre ao mesmo arrojo que utiliza para conquistar
fiéis. E, faltando um ano e um mês para a eleição, as chapas estão
sendo delineadas (veja na página seguinte).
Essa determinação,
aliada ao constante crescimento da população evangélica, tornou comum a
presença de representantes do segmento nas casas legislativas. A
perspectiva de votos é tão positiva que mesmo os colocados de lado têm
chances. Pastor Vilalba, que perdeu a direção do PRB e não mais será o
candidato da IURD pernambucana, diz que concorrerá. “Fui convidado pelo
PEN e também pelo PP. Acho que vou para o PP de Eduardo da Fonte
(deputado federal), que formará uma boa chapa”.
O pastor informa
que foi destituído da presidência da sigla por ter decidido apoiar
Geraldo Julio na campanha para prefeito do Recife em 2012. “A um mês da
eleição, a igreja definiu que o PRB apoiaria Humberto Costa (PT), mas eu
já tinha dado minha palavra ao governador Eduardo Campos”, diz. Ele já
foi, inclusive, afastado da função de pastor e perdeu espaço na
Universal. “Mas só saio da igreja se não me quiserem mais”.
Vilalba
teve a mesma sina de outros que um dia tiveram apoio da igreja e, no
mandato seguinte, foram substituídos. Comenta-se que a IURD age assim
por não quer ninguém criando raízes na “politicagem Legislativa”. Foi
assim com Marcos de Jesus, na Câmara, com João de Deus, na Assembleia, e
Cordeiro de Deus, na Câmara do Recife.
Residindo em
Pernambuco há menos de um ano e, desde março, no comando do PRB
estadual, Carlos Geraldo foge da polêmica. “Fui chamado para organizar o
partido administrativamente. Não sabia que seria candidato a deputado
federal”, despista, acrescentando um currículo de longos anos na direção
da TV Record (Brasília e Rio), da Record News e da sede da rede em São
Paulo. Natural de Sergipe, mas com carreira “nacional” na IURD, está
empenhado a percorrer o estado. “Já rodei 55 mil quilômetros em quatro
meses”. Neste fim de semana, esteve ao lado de Ossésio, em Lagoa Grande,
Petrolina, Santa Maria da Boa Vista e Salgueiro.
Irmãos farão dobradinha
Assim
como outros segmentos representados no Legislativo, o evangélico também
tem suas redes familiares. Ligados à Assembleia de Deus, mas sem contar
com apoio oficial de alguma vertente da igreja, os
irmãos Ferreira farão dobradinha em 2014. Anderson (PR), atualmente no
primeiro mandato de deputado federal, tentará a reeleição tendo como
parceiro de campanha o irmão André (PMDB). Vereador mais votado do
Recife em 2008 e 2012, o peemedebista quer conquistar vaga na Assembleia
Legislativa. Vai tentar recuperar o espaço que foi do patriarca, Manoel
Ferreira, que esteve na casa por sete mandatos, mas não conseguiu êxito
em 2010.
Por questões de cunho interno, não totalmente
esclarecidos a leigos no tema, a Assembleia de Deus optou por respaldar
outros nomes (veja ao lado). Obviamente, a decisão gerou conflitos
internos que nada têm a ver com a harmonia e o equilíbrio entre corpo e
espírito pregados nos templos. No entanto, os Ferreira não alimentam
qualquer polêmica. Anderson inclusive trata de avisar que não representa
igreja A ou B.
“Minha atuação é interdenominacional. Sou contra
ser eleito por uma denominação específica, ser tratado como
representante de uma igreja”, ressalta, lembrando que já soma 26 anos
fazendo política ao lado pai. “Ele foi um dos primeiros a ter essa
representatividade e identidade com os evangélicos”.
Defensor de
bandeiras controversas, ele diz que seu empenho maior é combater o
aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo a legalização da
prostituição, tudo em “defesa da família”. Também condena a prática de
se usar o púlpito das igrejas para pedir voto ou recomendar candidatos.
“Isso é antiético e fere a lei eleitoral”.
André reitera as
declarações do irmão. “Os membros rejeitam essa transformação das
igrejas em propriedades de candidatos. As pessoas são livres”, frisa.
Ele conta que os dois percorrerão as bases que eram dos pai. “Iremos ao
interior”. Além dele e Adauto Santos, o deputado Pastor Cleiton Collins
(PSC), duas vezes o mais votado (em 2006 e 2010), é outro evangélico a
disputar cadeira na Assembleia.
Definição para reeleição
A
Assembleia de Deus – a tradicional, oriunda da “Convenção Belém” e com
sede estadual na Avenida Cruz Cabugá – já definiu os nomes que apoiará
oficialmente em 2014 para a corrida proporcional. Para a Câmara dos
Deputados, pretende reeleger Pastor Eurico. Para Assembleia Legislativa,
quer renovar o mandato de Adalto Santos. As demais vertentes da igreja
têm seus representantes. Mas apoiam gente de partidos diversos e não
fazem defesa exclusivista de nomes.
“Na última convenção da
igreja, foi definido que tentaremos mais um mandato”, conta Adalto, que é
presbítero (sacerdote, com atuação pastoral) da denominação. “Sabemos
que a eleição será muito concorrida. Não vai ser fácil. Mas Deus vai ter
misericórdia e com ajuda e o trabalho do povo seremos vitoriosos”,
observou.
Os dois candidatos são do PSB, sigla presidida
nacionalmente pelo governador Eduardo Campos e sem ligação histórica com
o segmento evangélico. Mas, segundo Santos, o partido deu pleno apoio e
acolheu propostas. “O governador nos tratou com respeito e soube nos
receber como aliados. Decidimos nos filiar (em 2010) por conta do bom
governo que ele tinha feito no primeiro mandato”, revela.
Fonte: Diário de Pernambuco
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